Leana Silver;

Ao sair do meu quarto eu dei uma olhada no estado dele, devo ter trocado de roupa umas cinco ou seis vezes. Essa é a pior parte de estar nervosa, você nunca consegue se decidir que roupa usar. Mas, porque eu estava nervosa afinal? Estava parecendo uma garota de quinze anos em seu primeiro encontro com o seu primeiro namorado de verdade. Mas isso não era nem um encontro. Estava me sentindo constrangida. O que será que a gente vai conversar? O que será que ele vai me perguntar? Será que ele vai perguntar da tatuagem, ou se nós dormimos juntos? E como eu fico pra responder? Ai Deus, agora só me resta esperar. 

James Sullivan;

Ao chegar na casa de Leana, me esforcei para não ficar boquiaberto com a beleza dela. Estava linda, com um vestido vermelho cor de sangue sem alça e meia calça rasgada com um salto da mesma cor do vestido. Seu cabelo castanho meio loiro, nunca sei identificar, estava solto e um pouco para trás, mostrando um enorme brinco da mesma cor do salto e do vestido. Porra, como ela gosta de vermelho. E é claro, aquele perfume. Quando sai do carro dei uma olhada para baixo. Eu estava com um jeans preto com um sinto de caveira e um sobretudo aberto, mostrando um pouco da minha tatuagem do peito, mas somente dava para enxergar as letras “FIC” de “FICTION”. 

- Entre - abri a porta do carro para ela.

- Obrigada. 

A ida para o bar foi silenciosa, e era um silencio que estava desconfortável para ambos, mas ao chegar no bar resolvi puxar um pouco de assunto. 

- O que você gosta de beber? - perguntei.

- Eu posso beber o que você for beber. 

Chamei o garçom e pedi duas Heineken. 

Até que a conversa fluiu bem com cervejas e cigarros, até que eu percebi que era minha obrigação tocar naquele assunto.

- A quanto tempo você toca bateria?

- Ah, desde que eu era pequeno. - deu uma pausa para pensar. - Espera, não me lembro de ter te falado que eu toco bateria.

- Ah, você não falou. Eu vi uma foto no seu quarto, você era bem pequeno. - Leana começou a corar e então eu fiquei confuso. É obvio que ela foi até o meu quarto. 

- Então, eu não sei o que você vai achar quando eu te falar isso, mas… Eu não lembro absolutamente nada daquela noite. As vezes me vem uns flash’s na minha cabeça, mas eu nunca sei se realmente aconteceu aquilo de verdade ou é somente meu subconsciente brincando comigo. Então, me conte tudo. Por favor.

- Bom, eu estava sentada em um bar, eu não estava me sentindo bem, tinha acabado de descoberto que o meu marido tinha me traído, e vinha fazendo isso a muito tempo. E então você sentou do meu lado, no início você não falou nada, depois você foi começando a ficar muito bêbado e começou a puxar assunto comigo. E então da bebida você passou para as drogas, e eu resolvi tomar um ecstasy com você. Você falou que ia me levar para todos os lugares de Los Angeles, até que teve uma hora que estávamos sentados na calçada as duas horas da manhã e você começou a me falar sobre os problemas que você tem com a sua família, principalmente com a sua mãe. Você começou a chorar, mas ninguém nunca chorou igual a você. Você chorava com a cabeça baixa, mesmo bêbado, não fez escândalo, e eu nunca fiquei tão mal por alguém que eu conheci a algumas horas. Você falava algo sobre querer ser livre, algo sobre como se sentia sempre preso com algemas invisíveis, então tive a ideia dessa tatuagem, fui até a loja que a minha amiga trabalha e ela fez em você. Depois… Bom, depois alugamos um quarto. E, bom. Depois você não acordava mais, então procurei qualquer coisa na sua carteira que indicasse onde você morava, e achei um endereço, e pensei que você poderia deixar alguma chave reserva embaixo do tapete e… Bingo! - Leana teve uma risada de alguns segundos - alguém pode te roubar, sabia? E então te encontrei no café de manhã. 

- Eu te falei sobre a minha vida, sobre a minha família e depois eu dormi com você? Eu te beijei?

- Se você dormiu comigo…

- Ah, pode ser que… - parei no meio da minha frase. A expressão da Leana mudou completamente, sinto que ela se sentiu ofendida. Bosta, eu sempre tenho que estragar tudo. Eu vi ela pegando a bolsa e pagando a conta.

- Leana, não foi isso que eu quis dizer, para de drama. Chega. 

E então ela fez uma coisa que eu não acredito que ela teve coragem. Ela pegou minhas chaves do carro e saiu com o meu carro. Fudeu.