Always escrita por Chocotan Yuu


Capítulo 3
Chapter Two - Wrong Word


Notas iniciais do capítulo

Perdoem-me pela demora demasiada LONGA ao extremo...
Vestibulando, problemas familiares, acontecimentos inesperados que me deixou muito abatida... Entre outros. Muitas aconteceram nesses últimos meses.
Mas cá estou eu, com nova postagem, com novo capítulo.
O trecho da música pertence ao Caetano Veloso (TODO ERRADO).
Uma boa leitura...!



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Chapter Two

“Wrong Word”



“Psicótico, neurótico, todo errado.

Só porque eu quero alguém que fique

Vinte e quatro horas do meu lado.

No meu coração eternamente colado.”





Entre arbustos era um lugar frio, silencioso. Coberta de sombras, um lugar perfeito para um ser como eu. Já você...


– Lílian!


Pertencia em um mundo cheio de vida, reluzente. Quente e confortante. Coberta com fragrância do sol, onde ventos podiam brincar com os seus cabelos cor de acaju.

Como nossos mundos eram diferentes. E era tão nítido de se ver.

– Lílian, não faz isso!

Não importava o quanto Petúnia guinchasse ou gritasse, você continuava a balançar para frente e para trás. Cada vinda mais rápido, cada ida mais alto, até que você se soltou. Ao invés de levar uma queda feia, você voava no ar, pairando e girando com movimentos cheios de energia, e como soltava risos altos. Talvez para a sua irmã soassem irritantes, mas para mim eram as melhores melodias que eu já ouvi em toda a minha vida. Harmoniosos como as cantorias dos pássaros, suaves como a brisa. E a diversão transparecida em sua face parecia transbordar ao seu redor, pois pareciam me contagiar, fazendo-me cometer uma atitude que eu ainda desconhecia – sorrir.

Lá estava você novamente, rodopiando pelos ares como a primeira vez que a vi. Braços erguidos aos ares em formato de arco, nas pontas dos pés para poder executar movimentos como uma dançarina. Não sabia se ela praticava aquela dança que os humanos chamavam de... balé. Nem sei se ela estava fazendo direito, mas o único que soube é que os seus movimentos me encantavam. Acompanhei a sua descida, lembrou-me uma pousada de um dente-de-leão, suave, leve, e as suas risadas ainda não haviam cessado.

Aquele mundo de a sete metros de mim era tão perto, mas ao mesmo tempo distante demais. Era somente esticar os meus braços, ter forças para erguer-me até caminhar até você, mas a claridade era tanto que senti que talvez isso poderia lesionar a minha pele. O meu maior medo não era de sentir dores. Não era nada disso. Eu temia em sentir uma repulsa daqueles olhos verdes, uma face enojada, de ouvir palavras que me destruíssem ainda mais, somente para perder essa pequena esperança que finalmente pude encontrar.

– Para com isso! - um grito agudo rasgou os meus ouvidos, cortando o meu silêncio interno em duas. Deixei escapar um suspiro aborrecido enquanto olhava para a tal da Petúnia, e lá estava ela novamente, se contorcendo e piando feito um pássaro. Como ela consegue ser tão insuportável a esse ponto? É inacreditável... Os olhos dela estavam tão arregalados que pareciam sair das órbitas. Completamente fixos para os movimentos das pétalas de flores que Lílian segurava. A cada abertura mais um guincho, e a cada fechada uma contorção na face. Mas pelo menos essas reações desagradáveis valem à pena, pelo menos está a fazendo rir.

Quando ela voltou a movimentar os lábios cheguei a me rastejar um pouco mais para frente, o máximo que eu pude para poder escutar a sua voz, mas não foi suficiente, a distância era grande demais. A curiosidade corroia-me por dentro, e sem conseguir aguentar-me, já estava de pé, andando sorrateiramente para a moita mais próxima dela. Curvei as minhas costas para que não me enxergassem, talvez nem fosse preciso, porque os meus cabelos e os meus trajes já eram tão escuros que se camuflavam perfeitamente. Os meus olhos te seguiram desde a minha saída, e agora que estão mais próximos, sinto que eles estão nadando de tanto nervosismo. A minha respiração estava baixa, mas muito abafada pelos batimentos rápidos, a minha mão suava um pouco frio, e tive de segurar o capim para poder me acalmar, mas inconscientemente estava arrancando uma dúzia dele que estava ao meu alcance.

– Não é direito. – mas o som que pude captar não era aquela que mais desejava no momento. Infelizmente não. Era apenas mais um piar da Petúnia, acompanhado pela descida suave da flor, das mãos da Lílian até o chão. – Como é que você faz isso? – o tom da voz dela mudou da tonalidade irritante para uma mais neutra. Pude notar um desejo faminto saindo da boca da Petúnia, uma mistura grosseira de inveja e cobiça.

Já era óbvio de perceber nisso, Petúnia invejava os poderes que a irmã dela possuía, mas ela não. O mesmo poder que eu também possuo. Mas a pergunta dela soara-me tão ridícula, tão mal elaborada, tão... estúpida que não consegui me agüentar.

– É óbvio, não é? – não sei de onde consegui armazenar a tamanha força para poder saltar de trás da moita. A claridade ofuscou a minha visão como o de esperado, fazendo-me cerrar um pouco os olhos. Outro grito irritante debatia dentro da minha cabeça, não sei se foi pela minha aparição, ou se foi por ela ter me visto, mas aquilo me frustrou ainda mais. Antes mesmo de matar essa minha expressão, congelei-me literalmente ao ver a sua face assustada.

Mais uma vez a mesma pergunta pairava em minha mente.


Ela se assustou com a minha aparição repentina, ou por ter me visto?


Eu, com aquele traje desproporcional, inadequado para uma criança, enrugado e escuro dos pés a cabeça. Para piorar essa palidez natural da minha pele, era impossível de não notar um ar fantasmagórico na minha face ainda mais com essas olheiras pintadas nos meus olhos. Meus cabelos oleosos e mal penteados deveriam ter dado a impressão de ser mal cuidado, o que infelizmente era um fato. Juntei todos os meus dedos dos pés, dentro desses sapatos de couro já sem brilho e quase sem solos. Enquanto continuava sentindo o seu olhar sob mim, com olhos arregalados e quase sem piscar, senti uma queimação borbulhante subindo desde o meu pescoço até a minha testa. Remexeu o meu estômago por completo, com uma pequena sensação desesperadora, implorando para que eu saísse correndo daqui.

Mas eu não poderia, de forma alguma. Eu cheguei tão longe... Eu estou tão perto dela...

– O que é óbvio? – a sua pergunta quase me fez engasgar. Engoli todo o ar que estava ao meu redor, e lá nos pulmões eu os deixei presos. O nervosismo foi se transformando para uma inquietação, uma mistura esquisita de agonia e prazer.

Ela está falando comigo... Ela está falando comigo...!

Rapidamente desviei o meu olhar dos seus hipnotizantes olhos verdes para a imagem parada da Petúnia, a qual estava ao lado do balanço. Retornei novamente, e a coloração viva da sua íris voltou a me capturar. A minha garganta ficou seca tão repentinamente que me deixou surpreso. Na tentativa de regá-la, engoli o pouco da saliva que ainda restava, e falei, baixando o tom da minha voz.

– Sei o que você é.

Impressionei, pois ela mostrou uma curiosidade.

– Como assim? – e não demorando ela perguntou. Enchi novamente os meus pulmões, o quanto eu consegui, e lá prendi por uma dúzia de segundos. Quando soltei o ar quente, a emoção era tão grande que até a minha voz começou a tremer.

– Você é... – uma tremedeira incontrolável. – Você é uma... – tive de pausar, para poder baixar mais a minha voz. -... Bruxa.






Não foi uma palavra adequada para ser mencionada.

Ela não sabia... Elas não sabiam o quanto eu esperei por aquele momento, somente para finalmente poder conversar com você, Lílian.

Todas as noites, pelo menos as que não me incomodavam com as choradeiras ou nas que me deixavam isolado, eu planejei parte por parte, minuciosamente. Analisei os dias, calculei os horários e apostei na pequena chance. Aposta é meramente uma... aposta. Há bilhões de possibilidades de sair perdendo, mas mesmo assim há também aquela probabilidade minúscula de ganhar.

Pelo visto, eu errei. E muito feio para ser franco.

Desapontei-me, fiquei arrasado. Depois de tanta coragem, o que me restou não foram nenhuma amizade, nem alegria. Foi apenas a amargura deixada pela expectativa não correspondida.

Quem sabe, Lílian. Se eu não estivesse escolhido àquela palavra errada, a nossa amizade poderia ter começado da forma mais correta, e terminado de forma menos dolorosa.


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Notas finais do capítulo

Fin.
Espero que tenham apreciado... E por favor, não joguem tomates em mim por capítulo ser breve.
E mais uma vez perdoem-me pela DEMORA, mas assim que eu resolver uns probleminhas, talvez os próximos capítulos sejam postados com mais rapidez.
Não prometo nada, mas irei tentar.
Até o próximo capítulo!



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