Passou-se uma semana, mais ou menos. Creio que que se passaram oito ou nove dias desde o nosso encontro. Eu ainda não tinha começado a leitura. Sendo sincero, duvidava um pouco que a reencontraria. Ao mesmo tempo, depois de termos conversado pela primeira vez, percebi o que citei antes: já tinha visto-a antes, sentada ao meu lado ou apenas no mesmo vagão que eu.
Me perguntava onde ela queria chegar, me abordando e tirando essa idéia de eu gostar de ler. "Romântica como parece ser, provavelmente o livro contém melosidades e clichês do começo ao fim.", foi o que pensei, suspirando. Lembrei dele, na minha mesinha de cabeceira, intocado. A capa já indicava algo romântico. E que livro não tem título?

Suspirei, pensando em quando começaria a lê-lo. "Não devia ter me deixado levar", concluí. Mas, agora, eu devia ler o livro e terminar de vez com isso. Isso é, se a encontrasse. Independente disso, eu leria. Me comprometi a isso, afinal. Porém, ainda não. "Afinal", argumentei, "vou demorar a encontrá-la novamente".

"Oi, sir!"

Admito que maldisse meus pensamentos. Olhei para o lado e lá estava ela, sentada. E sorrindo.

"E aí?", continuou ela.

"E aí o que?"

"Como está o livro?"

"Ainda não comecei"

Ela fez uma expressão surpresa.

"Por que?"

"O livro não me parece muito interessante."

"Mas disse que ia ler..."

"Eu vou. Mas não agora"

Ela suspirou. Em seguida, cruzou os braços e deu um sorriso que até hoje não sei explicar. Era meio de diversão, meio de cansaço, e até meio amarelo. Dizia ela, que sendo três coisas em um, devia-se dizer "um terço, um terço, um terço". Estranho eu lembrar disso agora. Essas coisas vêm à mente parece que sem motivo.

"Ok!" me respondeu, em um súbito ataque de animação "Eu te espero ler!"

"Não tem escolha, tem?"

"Bom..." começou, pensativa. "Eu podia pedir meu livro de volta. Eu estava lendo-o, sabe. Eu poderia querer abrir mão da aposta..."

"Eu agradeceria se fizesse isso", foi o que pensei. No entanto, não falei. Sempre tive esse costume, de com pessoas que não conheço muito não falar tudo que vêm à mente. Acho o normal a acontecer. Duvidava que ela fosse como eu, porém. Atualmente, sei que ela também pensava em muitas coisas que não dizia. A diferença é que ela parecia não ver problema em conversas sem sentido.

"Hm. Posso devolver o livro."

"Não, o que é isso?! Temos uma aposta, sir!"

"Mas quer lê-lo, e essa aposta é sem sentido."

"Não importa, quem disse que as coisas precisam fazer sentido?"

Aquela resposta me deixou pensativo. Às vezes, isso acontecia. Uma simples frase dela, e eu me punha a refletir.

"Prefiro que façam", disse, simplesmente.

"Que chato." comentou, em tom entediado. "Não é sem-graça?"

"O quê?"

"Só fazer coisas que façam sentido?"

"Nunca achei"

Até hoje, acho que ela não acreditou nisso. Aliás, essa era uma das coisas que ela não conseguia entender. Que dava para viver apenas com coisas que faziam sentido.