Pesadas e escuras Stratus¹ cobrem de maneira uniforme o céu da grande cidade de Zurique, maior cidade da Suíça e capital do Cantão de Zurique. Não existem raios de sol fortes o bastante para quebrar as enormes barreiras de nuvens e aquecer aos que sentem frio. Esta frio, muito frio.

         Tudo parece mais triste em dias como esse. Quase não existem pessoas nos parques, ruas e até mesmo no trem aquecido que acaba de chegar à cidade não há nenhum sorriso, só sussurros mal humorados.

         As temperaturas baixas nunca lhe foram um problema. Na verdade sua estação favorita é o inferno. De criança, adorava acordar e ver que os telhados, antes escuros, se tornaram brancos, aquilo para si era a coisa mais mágica que podia haver no mundo. Anos mais tarde, seu gosto mudou e os telhados não mais a atraiam, sua atenção se voltou nos passeios e brigas de bolas de neve. Mais alguns anos e namorar e deitar no chão branquinho – por mais que arrepiante que fosse – era um sonho, principalmente com ele. Agora, mais velha e sozinha, não existem mais mágica, sonho ou atração. A neve por si só já lhe é agradável.

          A voz elétrica comunica em inglês, alemão e Züritüütsch – sendo o penúltimo língua oficial e o ultimo dialeto local suíço alemão – que a estação ferroviária de Winterthur esta próxima. Calma e preguiçosamente ela se levanta e pega a mochila verde escura.

                   É cômico ver que nesse trem de classe executiva, Sakura é a única que não esta de roupa social e com uma mochila de viagem gasta ou invés de uma pasta de couro. Destacada entre os passageiros ela anda pelos pequenos corredores, esbarrando em uns e se segurando onde pode. Após um breve congestionamento na hora de desembarcar, ela já esta fora do trem. Pessoas correm de um lado para o outro, apressadas e alheias a ela. Sozinha, sempre sozinha, ela caminha sem rumo.

         Seus pés a levam até a saída da enorme estação. A construção é simples em comparação as que já pode ver. Não são muitas pessoas que andam pela rua, o ponto de ônibus de vidro esta vazio. Sem muita vontade, e dinheiro, para pegar um transporte publico a rosada começa seu gélido caminho até algum lugar.

         A passos lentos e rígidos ela se afasta da mórbida estação de trem. Um pequeno dicionário de alemão vermelho sai de seu bolso e nele ela começa a procurar as palavras hotel, hospedaria ou pousada, não necessariamente nessa ordem, a que vier primeiro.

         Os primeiros dez minutos são de puro fracasso na busca. Nada é encontrado e ela vira para a esquerda, tentado nos bairros mais afastados encontrar uma gasthaus².

         Um vento gelido passa serpenteando. Seus ossos parecem terem sido congelados por um segundo, inutilmente ela se aperta para conseguir preservar o calor que não é muito. Seu casaco não é um dos melhores, mas não chega a ser medíocre. A gelada Zurique não da trégua, a cada minuto novas rajadas a fazem arrepiar-se.

         Enfim, depois de muito andar e tremer, ela chega a uma pequena e estreita rua. Um pequeno café toma conta de sua vista e desejos, o que seria um chocolate quente agora? Abre a carteira e percebe que o dinheiro não é o bastante, se tomar um chocolate talvez não tenha dinheiro suficiente para um bom hotel; mas se congelar ali não poderá, obviamente, achar um hotel.

         Enquanto analisa a melhor e mais quente opção a Haruno se aproxima de uma pequena fonte. Será mesmo uma fonte, parece tanto com um monumento! Mas ao mesmo tempo se parece tanto com uma fonte! Curiosa demais ela decide se aproximar e descobrir o que é afinal. No entanto, antes de dar três passos uma respiração quente bate em suas costas e uma mão agarra seu pulso.

         Todo o frio desaparece de seu corpo, deixando apenas calor, tensão e medo. Porque essa mão enluvada com uma luva de couro preta agarra tão fortemente seu pulso. Sua mente, tentando a acalmar, diz que pode ser apenas alguém que a confundiu com um conhecido. Mas seu coração diz o contrario. Quantas pessoas têm, no mundo, cabelo rosa? Seu coração martela impaciente no meio de suas costelas. Lentamente ela se vira e comprova, com terror, que seu coração esta certo.

          “Sasori...” Seus lábios murmuram a um sétimo. Seu rosto começa a empalidecer na mesma proporção que seu sorriso feliz começa a aumentar. Sua mente ainda entorpecida de incredulidade começa a pensar - por mais difícil que possa ser - em um jeito de se livra dele.

         “A quanto tempo!” sua voz calma e mentirosa a fazem tremer. Ele consegue ser tão causal em uma situação que, por baixo, deve ser classificada com assustadora. “Faz quantos anos? Dois, três?”

         A voz não vem a sua boca para ela gritar por ajuda. Depois de três anos sem dar nenhuma noticia, cumprindo o acordo, cláusula por cláusula, ele reaparece. As opções não são boas para Sakura, ela começa a olhar de esguelha para os lados, tentando achar a melhor opção.

“Meu mestre quer falar com você, ele quer rever o acordo,” Como uma jibóia seu braço começa a se enrolar em sua cintura e o outro que esta livre aponta para a uma viela à direita “vamos por ali”

         A adrenalina tem um efeito incrível sobre os seres humanos. Ela os faz pensar mais rápido, agir certo sem pensar ou calcular. Assim que o braço livre de Sasori apontou para a direita apontou para a direita o cotovelo da rosada se chocou com seu estomago e depois com seu nariz, fazendo um barulho de quebra oco.

         Cambaleante e rápida ela começou seu plano de escapa regido pelo improviso. A ruela da esquerda é mais estreita porem tem mais becos. Pedras soltas a fazem cair, porem, graças à adrenalina, ela se levanta e continua.

         Passos são ouvidos atrás de si. O vento sussurra a velocidade que seus inimigos se aproximam em seu ouvido fazendo com que ela tente correr mais rapidamente. Por mais e mais veloz é seu desejo que se fugir, suas pernas não a acompanham. Seu pulmão começa a doer e o ar quase não entra.

O desespero começa a coroe-la, ela será apanhada. Não existe mais salvação, talvez ela devesse deixar de correr e aceitar a morte a mão beijada. Algo pesado cai logo atrás de si, tão perto que seus cabelos se agitam. Seus olhos se voltam para trás por um momento e vê algo de branco parando três vultos pretos.

Um anjo? Ele não possui auréola. Um vampiro? Um pouco mais aceitável. Mas quem? Será alguém de Konoha? Será ele? Será Sasuke? Lagrimas de começam a botar dos cantinhos de seus olhos. Não, ele não vira e há uma enorme possibilidade dela morrer sem ao menos o dizer que tudo não passou de uma mentira para salva-lo. De morrer sem dizer a ele que o ama e em seus três anos e meio de ausência ela não deixo de amá-lo um dia apenas, na verdade o sentimento apenas cresceu.

Seus pés não conseguem mais prosseguir. Cansada demais para andar ou respirar ela recosta-se em uma parede qualquer de um lugar sem nome. O tempo esta correndo e aquela pessoa\anjo\provável vampiro não poderá detê-los por muito tempo, ou será que pode?

“Perdeu vadia rosa!” A voz áspera atrás de si a faz se virar inconscientemente. Não há tempo para nenhuma reação. A enorme barra de fero já esta a centímetros de sua cabeça. Mas ela viu a agonizante trajetória da arma em direção a sua cabeça.

         Sakura não sentiu nem seu corpo se chocar contra o asfalto. Tudo se tornou escuro antes disso, ela nada sentiu quando a barra de ferro abriu uma enorme fenda em sua cabeça, na verdade, a única coisa que ela sentiu antes de Karin a golpear foi frio.