Era uma segunda-feira à tarde, das comuns no final de Setembro, e lá estava ela parada em frente à janela de uma das salas do enorme castelo de Hogwarts, onde raramente se via alguém.

Não sabia porque estava naquele lugar e nem porque observava o pôr do sol daquela tarde já que não estava tão agradável assim aos olhos, pois escondia os raios alaranjados por entre suas nuvens escuras. Apenas sentia que devia estar ali. A janela estava fechada, no entanto sabia que o frio do lado de fora era congelante. O vento entrava pelas minúsculas frestas e soava como um longo assobio. De repente alguma coisa a intrigou. Um ponto loiro no horizonte, abaixo de uma árvore perto do Lago Negro, mais precisamente.

- O que o Malfoy faz lá fora com todo este frio?

Depois de mais alguns minutos ponderando entre o frio que sentiria e sua curiosidade aguçada, decidiu ir até lá. Conjurou um casaco marrom grande e bem quente para si, assim como luvas, touca e um cachecol. O castelo e seus imensos corredores estavam estranhamente vazios e julgou que todos estivessem no calor de suas salas comunais, onde ela deveria estar se fosse normal. Mas ela não era. Riu-se.

Assim que saiu do castelo e viu-se do lado de fora, pôde sentir o frio se instalando na ponta de seu nariz descoberto. E logo depois em suas bochechas que –tinha certeza- estavam vermelhas como dois pimentões. Andou um pouco mais e o avistou. Tentou se esconder entre os arbustos que estavam por perto, porém tropeçou em um galho quebrado e para sua sorte –ou não- caiu no colo dele.

- Desculpe-me!

- O que quer Weasley? – disse sobressaltado.

- Nada, estava apenas andando e caí. – Saiu de seu colo e ajeitou as vestes. O garoto apenas deu de ombros, sem se importar. Olhou para ele e viu que seus olhos estavam marejados. – Está...chorando? – perguntou cautelosa.

- Não. – rapidamente limpou os olhos com a manga do casaco. Ela riu e se sentou ao lado dele.

- Sim. Com certeza eu te vi chorando. Qualquer aluno em Hogwarts e acredito que fora dele também, me pagaria uns bons galeões por uma foto deste momento.

- Vá em frente. Tire suas fotos e ganhe seu dinheiro. E não se esqueça de me agradecer pela caridade.

- Talvez eu devesse mesmo. Mas não vou fazê-lo, porque ao contrário de você, não sinto prazer em humilhar as pessoas.

- Não estou falando em prazer, Weasley, mas em necessidade. – disse em tom debochado. Ela rolou os olhos e continuou a observar o pôr-do-sol no horizonte. – O que, de verdade, está fazendo aqui?

- Observando o pôr-do-sol com uma doninha irritante. – Foi a vez de ele revirar os olhos. – Na verdade, vim descobrir o que você está fazendo aqui sozinho nesse frio. – olhou de esguelha para o loiro e viu que ele retribuía o olhar. Sentiu algo diferente naquele momento que não sabia explicar. Nunca tinha olhado tão perto os olhos azuis acinzentados de Malfoy. Desviou o olhar.

- Gosto de vir aqui para pensar.

- Não vai me contar por que estava chorando? – continuou a olhar o horizonte. O pôr-do-sol estava terminando e o frio aumentava cada vez mais.

- Não.

- Então não há mais nada que me prenda aqui. – levantou-se e fez menção de ir embora. Dois braços fortes a seguraram e prensaram no tronco da árvore. Instantaneamente o frio que a tomava, deu lugar a um calor avassalador. Seu coração batia descompassadamente e a respiração estava entrecortada pela repentina aproximação. – Solte-me, Malfoy.

- Não é o que quer Weasley. – Ele aproximou o rosto do da ruiva, que inconscientemente fechou os olhos. – Ou é? – sussurrou em seu ouvido provocando arrepios. Distribuiu pequenos beijos pelo pescoço dela. O perfume dele invadiu suas narinas e ela constatou que era bom, inebriante. Seu corpo colado ao dela daquela forma a fazia sentir coisas que nunca havia sentido antes. Mas ao perceber a situação em que estavam ,se recompôs.

- Sim. Solte-me. – ele riu, mas soltou. A menina saiu andando depressa, tentando apagar da mente as sensações que ele havia provocado em toda a extensão de seu corpo.

- Foi bom conversar com você. – riu debochadamente. Mas a garota já estava longe demais para ouvir.