A Nova Heroina escrita por Babyi


Capítulo 9
A morte não vale apena




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/150269/chapter/9

<!--         @page { margin: 2cm }         P { margin-bottom: 0.21cm } -->

Eu aterrissei dentro do museu. No hall de recepção, que devia ter tanta história quanto o resto do museu. Não me entenda mal, mas a apenas dois metros da porta, tinha um vaso com características gregas. Devia ser algo que algum imperador ai na história havia importado para o seu castelo, e agora estava ali.

Mas a questão não era essa.

Pensando melhor, agora tudo se encaixava. A sala amarela, no meu tempo era a sala do ipiranga. Onde o quadro da proclamação da república tinha lugar. E onde o Gustavo deveria estar lutando com o Navid.

Oh, não! Gustavo.

Eu corri pela escadas que levavam até o segundo andar, passei por um monte de tranqueiras que eu não tinha tempo de ver nem saber oque era, a vida do meu namorado estava em jogo.

Então eu cheguei a sala da proclamação. E la estava, com eu previa. Navid e Gustavo duelando.

Cheguei bem a tempo, Gustavo estava se defendendo com um pedaço de cano PVC de construções baratas, enquanto Navid estava em vantagem com uma espada longa e de metal. Ele devia ter pego da parede das sete espadas, já que agora só tinham seis. De repente, Navid, percebendo a insistencia do menino, o chutou na parede. E eu impulsionada pela raiva corri convocando meu facão, raios. Ele agora estava inteiro, recuperado da torção que eu havia causado meia hora atrás.

Eu me entrepus entre Navid, e um Gustavo dolorosamente jogado na parede. No segundo em que olhei para Gustavo, desmaiado na parede Navid ameaçou cortar minha cabeça fora, mas fez uma profunda feria em minha bochecha. Se doeu? Bom, depois que eu tive aquele corte no abdomen nada mais doia.

Ele engajou a espada antiga em meu facão moderno. Eu girei, com a graça de uma bailarina mas com a força de um tigre. Não havia opção para Navid alem de soltar a espada, e tentar me atacar com as mãos. Mas era isso que eu achava, não oque ele queria. Enquanto esperava, eu olhei os olhos dele. Mas foi meu grande erro, ao olhar eu enfraqueci. Ele sabia que isso ia acontecer.

Navid me girou por baixo da minha espada e fui lançada para a parede. Fiquei inconsiente durante três segundos, aproximadamente. Foi muito rápido. Quando voltei a me perceber, estava debaixo do quadro da proclamação da república, sentindo que a obra ia cair a qualquer momento sobre mim. Eu rolei, até estar fora do alcance do quadro instavel.

Minhas mãos estavam vazias tambem. Raios estava jogado do outro lado da sala e eu não tinha força para chama-la. Eu estava indefesa. Não conseguiria me mexer, pelo menos até tudo parar de girar. Agora eu só conseguia assistir.

O Gustavo tomou o meu lugar, ele continuou com seu ataque debil com um cano de PVC, ele tentou bater em Navid pela direita mas o monstro se defendeu tão fortemente que o cano se quebrou. Eles se olharam por um segundo, e depois Gustavo foi atirado novamente para a parede das espadas.

Agora eu conseguia me mover.

Corri até o Gustavo. Sua pele morena clara estava gelada e pálida, e seu cabelo suado e suavemente brilhante. Ele ainda respirava, mas com dificuldade e o coração batia com pausas longas para um papitar saudavel. Passei a mão pelo seu rosto e ele então corou um pouco e pegou minha mão, sem se dar ao esforço de abrir os olhos. Eu queria ficar ali, junto do meu amor para sempre. Mas tinha uma crise mundial para resolver.

— Eu já volto para cuidar de você. - Disse a ele antes de me levantar relutante. Quando me pus de pé, o Navid estava perto de algo da exposição. Ele quebrou o vidro e então eu percebi que era a bola fluorescente que vi na exposição huna.

Era ela, a culpada de tudo. A bola huna. Bom eu não tinha muita certeza se era huna, ou mais antiga. Mas que diferença vai fazer uma decada a mais ou a menos? Navid estava quase pegando a bola e eu sentia que era isso que significava a destruição do mundo. Tentei pensar em algum modo rápido de tirar a bola do alcance dele, mas não havia opção. Não havia nada que eu pudesse fazer. O mundo ia acabar,e era o fim.

Então eu me senti estranha.

Estranha não. Conectada. A bola estava se conectando comigo. Eu me senti como se ela fosse uma parte de mim. Não tive muito tempo para pensar em como isso funcionava, só fiz um movimento automático com as mãos. Quando me vi segurava algo antigo e muito poderoso.

— Você não vai fazer isso.- Disse Navid.

“Ah, vou” Pensei. Pela primeira vez eu senti falta de Reyna na minha cabeça, e então tive a sensação de que aquela invasão de pensamentos nunca mais aconteceria.

Eu comecei a dar a volta na sala, sempre me posicionava como uma lutadora de luta livre. Frente a frente, olho a olho com Navid. Agora eu podia fazer isso. Estava mais poderosa que ele agora, eu não enfraqueceria mais.

— Você.- Eu comecei.- Pode ter matado Jean Bularte, no Egito- Era esse o menino que eu vi na visão.- Jéssica Guilia, nos Estados Unidos... Gohai Chen, na China... David Real, no Brasil. Mas, não vai me matar. - Não sei como descobri esses nomes, mas fui dominada pela verdade de minhas palavras. Eu era diferente. Eu não ia morrer. Quando eu acabei de falar essas palavras eu já tinha dado a volta no salão. E estava na frente de um doentiu Gustavo desmaiado de novo.

— É sua hora de morrer. Pela minha honra, pelo meu mundo. Destruo essa concentração de poder!

Ao fazer isso, eu atirei a bola no chão. Ela quebrou como qualquer objeto comum, dividiu- se em centenas, talvez milhares de pedacinhos impossíveis de serem reparados. E então brilhou como uma estrela que explode e então vira um buraco negro, sugador de galaxias. E então o brilho apagou- se.

De repente, Navid cuspiu um monstro. Mas dessa vez, não era um monstro, era Odoacro. Vestido em suas peles, que pessoalmente pareciam feitas de ferro e titano.

— Ainda não acabou.- Ele disse isso. Sua voz suando como se um sino fosse arrastado pelo asfalto duro. Depois dessas palavras, ele se soltou completamente do corpo de Navid e o deixou caido no chão. E então ele gemeu e desapareceu, olhei melhor o corpo jogado no chão, parecia menor. Focalizei, no lugar onde Navid havia caido, tinha um menino. Um pouco mais novo que eu, dez anos talvez. Era Navid. Com a idade do momento que foi possuído por Odoacro. Ele respirava pausadamente, iria sobreviver.

Eu era a única que restara de pé, naquele salão. O que me lembrava que eu tinha que cuidar de Gustavo e chamar socorro.

Eu corri até o Gustavo e me ajoelhei do seu lado.

— Acabou, Gustavo. - Disse a ele.- Nós conseguimos, você conseguiu.

Eu não obtive resposta, seu corpo estava gelado e suado. Seu coração batia pausadamente, talvez até demais. Comparei com o meu coração, e sim estava lento. Tive medo de mexer naquele corpo que eu amava, mas tambem não consegui deixa- lo sozinho ali. Se eu tivesse ficado com ele, antes de Odoacro pegar a bola, talvez ele ainda tivesse conciente. Mas não, troquei a vida dele pela salvação desse mundo, triste e imprestavel.

Não resisti ao impulso, eu comecei a chorar. Abracei Gustavo, prometendo-lhe que ficaria bem. Tinha que ficar bem.

Então tudo se apagou.

 

Quando eu acordei, estava deitada em um leito hospitalar. Tadeu dormindo no sofá e Sophie ao seu lado, e minha mãe segurando minha mão com a cabeça encostada na cama. Eu me sentia tão ridícula com aquela camisolinha de hospital, que queria muito levantar e trocar de roupa antes de acorda-los. Mas eu tinha que deixar minha mãe feliz por me ter viva.

Era o certo. Apertei um pouco a mão dela. O suficiente para que ela percebesse que estou viva. Ela levantou a cabeça. Eu olhei para ela. Minha mãe me analisou por um segundo para garantir que não fora uma sensação provocada pela vontade que eu estivesse bem. Sorri um pouco, sem automáticamente me lembrar do que eu realmente me preocupava.

Ela me abraçou tão forte, que quase apertei o botão de socorro do lado da cama.

— Ai, mãe... Para. Está me machucando.- Disse a ela.

E então eu me lembrei da verdadeira razão da minha vida.

Gustavo.

Minha mãe foi acordar Tadeu e Sophie. Estava eufórica. Enquanto isso eu me sentei, um pouco tonta e parei para verificar se não havia alguma agulha perfurando meu corpo. Visível? Não.

Me pus de pe. Minha dificuldade vencida pelo que eu sentia pelo Gustavo, pelo meu amor, pela minha culpa por ele. Sai correndo pelo corredor do hospital. Minha mãe atrás de mim. Mas eu era mais rápida. As enfermeiras eram lentas, quase lesmas, nem se perceberam de que tratava- se de uma paciente que fugia de seu leito.

Cheguei a recepção. Pessoas me olhavam, médicos me olhavam. Todos menos alguém irreconhecível no canto da sala, que chorava amparada por um médico. Eu tinha uma platéia.

—Onde está Gustavo?- Perguntei para a primeira enfermeira que encontrei.- Gustavo Archie. - Ela não se deu ao trabalho de dirigir uma palavra a mim apenas apontou para a pessoa chorando do outro lado da sala. Eu passei em um deslize at'lá. Os olhos me seguindo.

— Com licensa, senhor.- Puxei o jaleco do médico. - Onde posso encontrar Gustavo Archie?

O choro da mulher se intensificou. E então ela se desprendeu do abraço do médico e me olhou. Era ela, a mãe do Gustavo que se encontrava amparada pelo médico que tambem chorava. Me lembrei que em algum momento nas férias, o Gustavo me contou que a mãe dele era engenheira mecânica e o pai era médico. E o Gustavo era uma junção perfeita dos dois.

— Gustavo... Não resistiu aos procedimentos médicos e...- O médico disse. Antes que ele terminasse, a mulher me abraçou. Compartilhávamos um amor por um Gustavo morto. Queria dizer algo como “Não, ele não morreu. Devem estar falando do Gustavo errado.”, mas meu corpo não respondia, em choque. Meu rosto estava quente de lágrimas, mesmo chorando, a dor de cabeça de quando se prende um choro tomava conta de mim.

Minha mãe chegou e me tirou dos braços da mulher.

— O que houve?⁻ Perguntou ela em um tom preocupado. Ela me abraçou. E eu me enterrei em sua camiseta de seda, que cheirava a perfume frances. - Você pode ir para casa. Só ficariamos aqui até você acordar, por precausão, mas você não tem nenhum machucado. Nem mesmo uma feridinha.- Toquei a minha bochecha. Não havia sinal do corte que Navid fez, assim como o corte no abdomen.

—Não! Quero ficar onde Gustavo estiver!- Minha voz soou cheia de dor. Mais cheia de dor que eu esperava. A essa altura a camiseta de seda da mamãe já estava empapada, parecendo que ela pegou uma chuva muito densa.

— Gustavo...- Minha mãe perguntou ao médico que abraçava novamente sua esposa desolada.

— Afundamento craniano.- ele respondeu. Minha mãe me apertou mais contra si. Ela me pegou pela mão, como se eu fosse uma criança indefesa e me levou para o quarto.

Eu peguei minhas roupas- O shorts amarelo, meu all star e a camiseta branca.- E me tranquei no banheiro. Me vesti lentamente, tentando lembrar de cada detalhe do que tinha acontecido no museu. Alias, quanto tempo tinha se passado desde que eu desmaiara?

Antes de sair, penteei suavemente meu cabelo. Mas era só uma desculpa para ficar mais tempo, ali trancada, sozinha. Eu pensei em cada minuto que passei com Gustavo, até aquele dia. E que nunca mais ia poder passar um segundo sequer com ele.

Minha mãe bateu na porta. E eu sai.

O caminho até em casa foi curto, e eu permaneci quieta todo o percurso, em estado de choque pela morte do Gustavo e de luto, pelo mesmo. Mas antes de chegar em casa eu perguntei algo superficial, só para parecer que eu não morri.

— Quanto tempo fiquei apagada?

— Desde ontem. Os policiais encontraram você desmaiada perto de Gustavo, na sala da Proclamação. - Disse minha mãe.

—Aliás, queria muito saber oque se passou lá.- Tadeu queria uma resposta, eu em choque ou não.

— Para falar a verdade, não me lembro de nada depois que eu subi naquela árvore. - Eu menti. Foi apartir do momento em que estava lá em cima, olhando para baixo que os fatos anormais se tornaram visíveis para minha família.

Chegamos na garagem. Tadeu saltou do carro e abriu a porta para mim. Minha mãe acordou Sophie, que dormia no Buster.

— Vou subir daqui a pouco. Preciso de um momento sozinha.- Disse para minha mãe.

Ela respeitou isso, talvez por causa do do estado de choque que eu estava. Eu subi de escada, até o andar térreo. E fui até a área da piscina, onde eu e Gustavo tínhamos sentado.

Um menino veio atrás de mim. Era o Navid, do museu. O menino que recuperara seus dez anos.

— Ei, você é aquela menina que eu vi no museu.- Eu assenti de leve. Não percebi mas estava chorando.- Oi, eu sou o Navid.- Eu o deixei falar a vontade. Não estava pronta para abrir a boca sem chama- lo de monstro. Mas eu não podia, não era culpa dele. Aquele muleque de dez anos simplesmente fora possuído por um monstro.- Minha mãe disse que você me salvou, então... Obrigado. - Continuei quieta.

E então, por de trás da parede surgiu Muriel. Sorrindo. Ela usava um vestido vermelho, jovial para a idade dela, como se tivesse retrocedido no tempo como o filho. Mas seu sorrizo, uma coisa que eu não pensava ver tão cedo naquela mulher que apanhava do filho, era tão deslumbrante que pude jurar que era a lua prateada que tinha pego para si.

— Espero que meu filhinho não a esteja incomodando.- Disse ela. Muriel falava filhinho tão feliz que não pude conter um sorriso.- Sinto muito pelo Gustavo.

—Aquele garoto que você estava abraçando era seu namorado não era?- Navid tentou me animar.- Você é bonita, vai achar outro garoto a altura para substitui-lo. E eu sou candidato. Posso não ser alto nem forte, mas ficaria feliz em ser seu namorado. - Não pude evitar de sorrir.

Aquele menino, e aquela mãe eram tão perfeitos juntos. Não perfeitos, mas felizes. Uma felicidade perturbadora que me incomodava pelo fato de que só o Gustavo poderia me deixar assim.

No museu, naquela hora em que deixei Gustavo na parede, morrendo, eu não pensei muito nisso, mas eu o tinha matado em troca da vida do mundo, e em troca daquele meninozinho. Foi injusto. Não foi uma troca justa.

Era meu Gustavo.

Eu senti como se muitas agulhas perfurasem meu corpo, mas eu não quiz afastar a dor, senti como se fosse um auto castigo, por matar o garoto que eu amo.

Muriel se sentou do lado de Navid, na parede, e afagou bem de leve o cabelo do menino.

Estavamos lá, nós três, apreciando a primeira tarde do resto da minha vida sem meu amor. Sem Gustavo.

Para sempre.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Nova Heroina" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.