A Nova Heroina escrita por Babyi


Capítulo 5
A resposta me espera no museu;




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Quando cheguei ás escadas não tive dúvida: Eu ia me refugiar no meu não tão seguro lar até tudo acabar. “Mas como tudo isso vai acabar se eu estiver me escondendo?”Isso era uma dúvida cruel. Eu não sabia quantas vidas seriam tiradas até tudo aquilo acabar. Talvez nenhuma... Mas com a mesma probabilidade de que nenhuma vida poderia ser tirada, várias também podiam visitar o céu. “Oque fazer? Oque fazer?” Eu pensava enquanto descia as escadas até o 4° andar.

Quando cheguei em casa, minha mãe abriu a porta para mim. E foi logo dizendo.

—Olha para você! Toda molhada. Aonde você se meteu? Ah, não importa. Filha vai se arrumar. Vamos levar sua tia no museu de arqueologia. Você vai gostar.

Eu não estava com paciência para ir ao museu, mas pelo jeito isso me manteria longe do Navid então eu estaria a salvo. Mas outra questão era se os meninos iam ficar bem. Eu estava tão pensativa que quando entrei no corredor esbarrei na minha tia, ela me segurou como se já estivesse esperando por aquele momento faz muito tempo.

— Ah querida, não se preocupe.- Disse me ajudando a levantar. - È na história que tudo nasceu, então é no museu que tudo vai acabar! Não desanime, no museu suas dúvidas sobre o bárbaro vão acabar, e tudo vai se esclarecer...

— Que dúvidas?- Não sei como, mas eu acho que ela sabe de alguma coisa sobre o Navid que eu não sei.

— Suas dúvidas sobre os hunos e o Odoacro, bobinha. Sua mãe me disse que você anda indo muito mal em história.

Ok, isso foi estranho.” Mas eu não tinha tempo para coisas estranhas, tinha que me vestir e sair rápido de casa. Quem sabe quanto tempo eu tinha até o Navid atacar de novo? Eu me enfiei em um vestido jeans, peguei uma bolsa emergencialmente pronta e voltei correndo para a sala. Minha mãe pegou a chave do carro e amorosamente abriu- nos a porta do elevador. Eu tentei apertar o botão do subsolo o mais rápido possível, mas o elevador subiu até o 8° andar – E eu quase tive um infarto.

— Você está bem?- Perguntou minha avó. Eu respondi com um sim de mão.

A porta com o número 8 se abriu rapidamente, e como um raio o Calouro entrou. Eu arregalei os olhos preocupada com oque poderia ter acontecido com o Gustavo, estava quase saindo do elevador, quando o Calouro me puxou e disse que estava tudo bem. Sua expressão deixou o ar do elevador tenso, e ele tremia como se estivesse tentado convencer a si mesmo. Eu me virei desesperada, pensando no que tinha acontecido depois que eu sai do apartamento 84, e possibilidades horríveis vieram a minha cabeça. Mas a porta já tinha se fechado.

O Bruno apertou o botão do 5° andar. A tensão se acumulava entre nós. E a única a perceber isso era a tia Beatriz. Eu olhava os olhos do Calouro que agora assumiam um tom de verde-azulado, procurando respostas. A minha vontade era de gritar bem alto “Me fala oque aconteceu lá em cima, ou eu te soco.”. Mas ao mesmo tempo que eu queria dizer isso, a voz do menino entrou na minha mente e disse “Contenha- se, por favor.”.

O elevador chegou até o 5° andar e o Calouro saiu tão rapidamente quanto entrou, mas dessa vez eu fui atrás dele.

— Calma, tá tudo bem.- Ele disse em voz baixa.

— Como? Eu não sou boba, sei que houve algo horrível e você vai me falar, de preferencia bem rápido! - eu segurava a porta do elevador com o pé.

— Depois eu... E o Gustavo te explicamos.- Ele falou do Gustavo com confiança, e isso me deixou mais calma, mas eu sabia que ainda havia algo errado.

Quando entrei no elevador minha mãe e minha vó me olhavam perplexas. Até que uma delas fez um sussurro em tom de deboxe “devem ser os hormônios!”. Eu tive vontade de gritar, mas se fizesse isso iria acabar de castigo em casa, e isso seria pior do que ficar com raiva.

Nos entramos no carro e em todo o caminho até o Museu eu fiquei pensando no que poderia ter acontecido, e em quanto eu queria ligar para o Gustavo e pedir desculpas por te- lo incluído em uma coisa tão perigosa. Eu me acabava por dentro, não sei se aguentaria se alguma coisa ocorresse com o Gustavo.

Eu queria chegar lá mais rápido, estava ansiosa, e não aguentava mais ficar parada, eu comecei a suar frio, como se oque me esperasse fosse ainda pior do que o monstro que me aguardava em casa. Mas depois de uma eternidade paramos em frente á um prédio branco, que se levantava ilustre e presente, no meio do verde eminente do que sobrou da floresta Atlântica.

— Mãe, - eu disse.- Posso eu saltar aqui?

— Porque?- respondeu ela.

— É que.... É que eu estou ansiosa por tirar minhas dúvidas.

— Sendo assim...- Eu nem esperei ela terminar a resposta. Pulei logo para fora do carro. “Ar puro finalmente!” Me sentia livre, e um pouco mais pesada, como se o tempo andasse mais devagar do que de costume. Um vento gelado bateu contra as minha costa semi-seca e eu senti um calafrio. Eu não consegui exatamente correr até o museu, estava parando. Tive vontade de pular para ver se eu ficava flutuando também, mas me contive. Dois passos a dar e eu estava na entrada do museu. Quando pisei no tapete o tempo pareceu voltar ao normal.

— Olá. - Disse a uma recepcionista. Tentei parecer normal, no mínimo meiga. Não queria que ninguém soubesse do Navid. Agora eu me pergunto: Porque estou escondendo esse segredo dos meus responsáveis? E porque contei ao Calouro e ao Gustavo? Bom. No início, eu fiz isso porque é o que fazem nos filmes, pra ficar emocionante, mas eu não sabia a magnitude que isso iria tomar. Agora eu faço isso porque não quero envolver mais ninguém Já me dói saber que o Calouro e o Gustavo corriam perigo por minha causa, e não quero matar meus pais. - Tem algum mapa do museu.

— Aqui.- Ela me entregou uma folhinha plastificada, bem colorida. Eu passei o dedo vagarosamente procurando a seção dos Hunos, e achei- a em uma pequena marca rosa. Segundo mapa ela fica bem... A minha direita. Eu nunca gostei muito de museus, muito menos de ossadas.         Ao virar a minha direita passei por uma sala grande, sem iluminação natural, cheia até a alma de ossadas históricas, já corroídas pelo tempo. Tentei passar sem olhar para elas. Mas uma me chamou a atenção, no final da sala. Olhei-a por um segundo depois quase corri até a exposição Huna.

Rodei um pouco a entrada da sala, em busca de alguma coisa interessante; como uma ampola de veneno ou um skate pré histórico. Mas após três rápidas voltas, fui até a janela da sala. Era estranho, meu coração se apertou quando percebi o quanto fui egoísta em deixar os meninos sozinhos no prédio, aguentando um fardo que deveria ser somente meu. Eles eram realmente meus amigos.         Fiquei fitando o céu lindo e azul. Graças ao meu daltonismo fraco ele parecia um lilás demasiado claro, mas não importa. Algo do lado da janela começou a reluzir. Eu me virei. Uma cerâmica de prata, com tema floral começou a reluzir uma luz preta.

Eu me aproximei hipnotizada Queria desesperadamente toca-la. Uma voz na minha cabeça dizia “Pegue-a, tudo irá se resolver.”Eu então toquei o vidro e ele amoleceu como água. Minha mão atravessou e tocou a bola.

Tudo oque eu sabia, toda a minha memória se esvaio da minha mente, para dar lugar para uma visão perturbadora

Uma mulher, jovem e bonita estava encarando um senhor familiar. Era alguem que já vi em um livro escolar. Era Odoacro, o Huno. Eles se encaravam, parados como se estivessem em uma foto. A jovem estava vestida com uma roupa de guerra romana, os cabelos lhe desciam as costas amarrados com fios de ouro e ela estava embainhando um facão, não tinha certeza mas achava se estreladatempestade. Odoacro estava usando sua habitual roupa de pelo animal.         Eles começaram a falar.

Esta é minha última oferta.” disse o Huno.

Nunca deixarei meu povo! Ou é vencer ou é morrer tentando!”Ela disse.

Reyna, Reyna.”Ele passou a mão pelo queixo dela, mas ela o afastou com um safanão doloroso. “Você teria um destino brilhante...”

Não. Meu destino é matar você. A própria Beatriz previu isso. E eu não morro enquanto isso não acontecer! Nem que seja necessário várias vidas para isso! ”

Que os... Como você chama? Que os Deuses ouçam você. Mas nada é páreo para o meu poder.”Odoacro pegou a bola e murmurou algumas palavras.         Reyna gritava “Você vai se arrepender! Você vai pagar por isso! Somos um povo inocente!”. Segundos depois Reyna estava largada no chão,  inconciente. E eu senti que não era só ela que estava assim. Odoacro sobrava de pé. Ele cambaleou e deixou a bola cair no chão.Mas antes de chegar no chão, algo a sugou e ela desapareceu. Logo ele montou seu cavalo que o esperava fora da cabana e saiu afora.

Senti algo quente me tocando no ombro. Então voltei a mim mesma. Era minha tia, Beatriz. Quando percebi, estava apenas tocando o vidro.

— E então. Achou alguma resposta para suas dúvidas?- O sorriso dela era estranho; ao mesmo tempo em que aquecia a minha vontade de contar, também me dava medo. Silenciosamente comecei a juntar os pontos. Navid na verdade era a reincarnação de Odoacro, a reincarnação feita para ser destruída. Tia Beatriz era Beatriz mesmo e eu Reyna.

— Tia, por favor me diga: Onde está a heroína que vai matar Odoacro, Navid ou sei lá o nome? - Ela me observava com curiosidade e satisfação, com um pouco de desapontamento na face. - E oque está reservado para mim? Oque poderei fazer para ajudar nessa luta?

— Não posso falar tudo, mas grandes vitórias exigem grandes sacrifícios. Assim como grandes ganhos exigem grandes perdas. Quanto a heroína...- Ela tocou meu coração, literalmente. - Você sabe, mais do que ninguem, onde ela está.

A heroína sou eu! Sou eu que vou matar Navid!” esse pensamento dominou a minha mente, mas eu não queria acreditar. No fundo, bem no fundo eu tinha certeza que sim. Sendo isso, dependendo de mim, ninguem iria se machucar, exceto Navid e talvez eu.

Tia Beatriz lentamente se afastou, me deixando sozinha com milênios de história Huna. A minha cabeça rodava. Devagar fui até fora do museu e então me sentei em um banco. Tentava pensar em alguma coisa. Idéias malucas me atacaram, mas nenhuma delas obedecia a realidade, ou atingia o objetivo. Então vieram as idéias sensatas, como desistir do destino e viver a minha vida, mas a maior parte não me agradou. E as que poderiam ter ajudado, não consiguiam se organizar.

Minha mãe chegou perto de mim e se sentou do meu lado. Seus cabelos ruivos se escorriam pelo ombro e ela cuidadosamente cobriu as sardas com pó, sem obter muito sucesso. Eu de um modo estranho admirava ela, mas éramos tão diferente que nunca acreditei ser mesmo sua filha.

— O que está acontecendo com você? Éramos tão unidas. Falavamos sobre tudo...

— Tudo menos sobre papai. Você nunca me contou direito oque aconteceu naquele dia.

Derrepente ela descobriu como uma borboleta podia ser interessante, mas quando percebeu que era o certo a fazer, suspirou e disse:

— Seu pai era uma pessoa incrível. Ele só vivia para nós. Quando você nasceu, tia Beatriz disse- nos seu destino...

— E qual é o meu destino? - Eu falava rindo- me, ela não podia saber. - Ser rica e famosa?

— Não...- Ela me olhou séria.- Você é a pessoa que pode salvar Roma.

— Mais especificamente... Do que?- Eu ainda ria.

— Do que a destruiu da primeira vez; Odoacro. Foi por isso que seu pai morreu...- Um voto de silêncio tomou conta de mim. - Ele não quis aceitar, era muito perigoso, e você muito nova. Ele sempre veio tentando te proteger, mas oque Deus quer, não pode ser mudado. - Uma lágrima brilhou em seu rosto.- quando você tinha sete anos, ele descobrio que Odoacro estava mais perto do que seria seguro. Ele tentou ir atrás, um monstro atacou o carro em que ele estava e...

Ela não precisava falar mais nada. Tudo já se encaixava. Agora sim, eu tinha um motivo para lutar: A honra de meu pai.

— Mãe...- Minha voz falhou. Por um momento pensei em contar toda a perseguição, mas ela não iria aguentar se perdesse mais uma pessoa da família pelo mesmo motivo.- E Odoacro se foi?

Ela me abraçou, pude sentir seu coração bater forte e pausadamente.

— Espero que sim, minha filha. Espero que sim.

— Mãe, podemos ir para casa? - Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Teria eu, o mesmo destino de meu pai? Mesmo se tivesse, morreria com honra e com amor. Só desejaria que o Gustavo não sofresse.

— Vou chamar sua tia e sua avó, então iremos.- Ela se levantou e deu dois passos para a porta, então voltou e olhou nos meus olhos. - Estamos juntas nessa.

Enfim ela se foi. Eu fiquei sozinha fitando o horizonte, que já marcava uma hora da tarde. “Gustavo eu te amo tanto!” agora minha mente focalizou o Gustavo. Ele jogava bola, não na quadra mas no pátio de cima. Se cabelo reluzia tanto quanto o sol, e ele sorria para mim. Era tão injusto! Ele era tão perfeito, e eu... feia e sem talento.

Minha mãe fez sinal para que fossemos embora. Eu entrei novamente no carro. E afundei no meio do banco de trás.

É impressionante como quando você quer que o tempo passe mais rápido, ele não passa. Se você acha que nunca viveu isso, pense naquela aula de trigonometria avançada (Eu nem sei oque é isso!) que você tem que assistir todo o santo dia, e tem toneladas de lição de casa. Pois é, foi assim que me senti na volta para casa. Estava muito quente, mas o calor que tomava o meu corpo era quase febril e ansioso. Pode-se dizer até que doentio. Eu estava nervosa, queria desesperadamente saber oque tinha acontecido com o Gustavo. Já estava quase perdendo as esperanças de chegar logo em casa quando minha mãe perguntou se minha tia queria ir ao shopping.

Naquela hora eu quis gritar e talvez pular daquele carro. Minha cabeça rodava. Mas eu me acalmei ao me lembrar que minha tia provavelmente iria me apoiar. A surpresa veio quando ela disse que sim, precisava comprar, uma lembrança para levar a algum tio distante em centézimo grau.

— Mãe.- Chamei.- Pode me deixar em casa primeiro?

— Mas é claro que não! Temos que acompanhar sua tia. - Ela se virou para trás e em tom de ameaça disse:- Não vá ser mau educada.

Eu não me desesperei, ainda tinha uma carta na manga:

— Eu não me sinto bem... - Olhei para tia Beatriz. E ela nem deu a mínima!         “Será que ela esqueceu oque estou passando?”

Minha mãe me deu mais uma olhada fulminante e depois voltou a dirigir.

No caminho até o shopping a conversa foi animada, mas eu quase não me manifestei. Eu comecei a pensar em filmes onde um herói tem que matar um monstro e no final fica com a mocinha. Estava tão compenetrada nos meus pensamentos que acabei por dormir. E então eu acordei com um grito.

— Nossa. - eu disse.- Que foi mãe?

— Você ainda pergunta oque foi?- Ela disse. E então apontou para minha blusa, mais especificamente, não para a blusa, mas para uma ferida muito feia no meu babdomen. - Como você conseguiu isso? E porque não me falou?

— Hã... è...- Tentei responder, mas infelizmente não conseguia achar nenhuma resposta condigente. Achava que estava sem saída, imposta a contar a verdade, quando tia Beatriz perguntou oque estava acontecendo.

— Ela arranjou um corte feio e nem me contou. - Minha mãe pegou minha blusa, e me puxou grosseiramente para fora do carro, pondo a postos o machucado que me custara muito sangue.

— É que... - Eu tentei explicar mais uma vez, entanto em vão. Estava prestes a entregar os pontos quando tia Beatriz me salvou:

— Ela ainda não te contou? - Ela olhou para mim com certa desaprovação, e eu entendi a minha parte no teatro.- Estávamos brincando de pega-pega uma hora, naquela quadra e ela caiu em cima da tampa do lixo.

— Porque você não me contou?- A história da tia Beatriz tinha me dado um zilhão de desculpas para não contar.

— Tive medo de que ficasse brava com a tia Beatriz, e além disso você iria querer passar mertiolate ou até me levar ao hospital, e eu iria sofrer mais do que o necessário. - Fiz uma carinha de cachorrinho que caiu da mudança, só para arrematar.

— Tenho certeza que Diana já entendeu. - Disse minha tia. E pegou minha mãe pelos ombros e começaram a andar pelo estacionamento, então eu peguei o braço de minha avó e juntas adentramos o shopping.

O shopping que nós fomos não era muito grande, mas sim, muito bonito. Era clássico com um toque de requinte e modernismo, não cansava o olhar. Era bem mobilhado e a iluminação indireta escondia qualquer outro defeito.

Elas andavam apressadamente, escolhiam todos os caminhos que tínhamos para seguir todas as lojas aonde tínhamos que parar, e eu descartava a possibilidade de parar em uma loja de música e ficar ouvindo algum CD. Tinha sempre que ser oque elas queriam. Elas viram em um corredor estreito e adentraram em uma loja de bijoterias, mas eu cansei de ficar seguindo elas que nem cão. Eu larguei o braço da minha avó e pedi:

— Ei, tudo bem se eu for ver uma bota naquela loja ali na frente?

— Tudo bem, vai. Nós estamos aqui.

Eu me afastei devagar. Estava um pouco nervosa, então me agarrei a bolsa como se isso me desse mais segurança. Adiantou. Eu cheguei na porta da loja e percebi que eles já estavam fechando. Olhei no meu celular e já eraam três horas da tarde. Cedo para fechar. Eu fiquei olhando a vitrine e babando por uma bota alguns minutos, mas decidi voltar para a loja com minha mãe e dar uma apressada nela.

Quando eu cheguei na loja vi minha avó falando com alguem familiar, com a mãe do Gustavo. Eu olhei ao redor, minha mãe e minha tia se debruçavam sob uma redoma e analisavam minunciosamente uma jóia, um casal de estranhos era atendido por uma funcionária da loja e o Gustavo olhava alguma coisa interessante na vitrine, auxiliado por mais uma funcionária. Decidi lhe fazer uma surpresa e tocar- lhe o ombro. Por uns momentos eu havia me esquecido do que estava passando e comecei a rezar em agradecimento por ele estar vivo.

— Ah, oi. - Ele disse. Antes que eu pudesse falar alguma coisa ele se virou com um colar nas mãos e continuou. - Oque você acha?

Ele segurava um colar bonito, com um pingente em forma de um quadro, ele ia coloca-lo em minhas mãos, mas parou perto porque percebeu o olhar desaprovador da vendedora.

— É lindo.- Respondi.

— Uma amiga, chamada Gabriela, vai fazer aniversário sexta-feira e não posso aparecer sem um presente.- Ele disse, e se virou para a vendedora.- É este. - depois para a mãe.- Mãe, já escolhi.

Eu me virei para minha avó, ela me chamava para irmos embora, então me virei para o Gustavo e bejei-lhe a bochecha.

— Se cuida , meu herói.- Foi a última coisa que eu cochichei no ouvido dele. Ele sorriu e olhou para mim. Foi como se todo o mundo tivesse brilhado como o sol, mas minha vó me chamou de novo e mais apressadamente. Eu tive tempo de me virar para dar um tchau, mas ele olhava com atenção o presente da amiga.         “Oque será que ele pensava?”. Uma onda de ciúme veio a mim, “e se ele tiver outra namorada? E se ele não gostar de mim como eu gosto dele?”. Eu ia andando e pensando.

— E se... Não existe no amor. - Minha tia disse. Ainda não me acostumei a ideia de que ela pode prever o meu futuro e o do mundo, era assustador.

— Oque aconteceria se eu não lutasse contra o monstro?- Perguntei. Isso não era para mim, a ideia me assustava, e eu acho que não tenho condições de enfrentar um monstro.

— Bom, alguém teria que faze- lo por você, e então não obteria o mesmo sucesso.- Eu estava cada vez com mais medo, e de alguma forma eu sabia que tia Beatriz esperava muito de mim. Não podia desaponta- la. - Mas Roma já foi derrubada, e já não há mais nada que se possa fazer. E tenho certeza que as autoridades não deixariam que matassem a todos.

— Você não entende, não é?- Ela sabia do meu medo, sabia que eu ia desistir, sabia de tudo. - Se Odoacro conseguir pegar a bola de novo, com certeza ele não só vai derrubar Roma novamente, como vai impor ao mundo o seu caus.

— Mas porque eu? Porque aqui?Estamos tão longe de Roma, já se passaram mais de mil anos da derrubada, e por que eu?

— Reyna já previa a derrubada de Roma, mas não havia nada ao seu alcance que pudesse fazer, o imperador Rômulo não a ouvia, acreditava que Roma não podia ser destruida com tamanha rapidez. Ela só podia jurar vingança, mas mesmo assim tentou até o último momento derrotar Odoacro. Quando Reyna morreu, - Me lembrei da visão.- seu sangue e sua essencia foram misteriosamente distribuidos pelo mundo, uma parte para cada canto. A bola por sua vez, sempre teve vida própria, mas enquanto era possuída pelo huno era estabelecida uma conexão que ficou mais forte com o fim de Roma.

— Você quer dizer que eu sou a essencia de Reyna?

—Sim, você é a última defesa. Os outros três cantos foram derrotados. Tentaram interminavelmente esconder a bola, separa-la de seu dono durante séculos, mas a cada geração o elo fica mais forte e o Odoacro mais poderoso. Você é a última esperança.

Eu fiquei refletindo a probabilidade de morrer, e se morrer oque havia lá no céu?

 


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