A Nova Heroina escrita por Babyi


Capítulo 4
Uma mãe que perdeu seu filho




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A queda foi cansativa, dois segundos de berros e puro desespero. Por graças eu cai na parte funda da piscina, que tinha quase um metro e oitenta. Foi legal a sensação de passar voando quatro andares, mas quando eu mergulhei na piscina foi como se eu batesse em alguma coisa dura. Rapidamente eu me virei e levantei uma cortina d'água, tirando quase toda a água da piscina em direção ao quarto andar.

Sem querer eu olhei para a parte coberta das mesas da piscina e lá estavam o Gustavo e o Calouro me olhando perplexos. Eu nem sentia o que estava fazendo e soltei a água . Quando emergi perto da borda os garotos vieram me tirar de lá, e me sentaram na mesa onde colocaram as toalhas. Eles ficaram me encarando. Foi então que eu percebi oque tinha acontecido.

— O Navid...- Comecei a falar enquanto o Gustavo colocava a toalha nas minhas costas.- Ele invadiu minha casa e tentou me assassinar!         Como sobrevivi a queda... Não sei. Como fiz aquele lance da água... Também não sei, mas ele tentou me assassinar.

O Gustavo me olhava como se eu estivesse ficando louca, mas o Calouro entendeu o recado.

— E agora?- Ele disse.- O que você vai fazer?

— Como se eu soubesse...- Respondi.

— Procura os pais dele, talvez eles possam nos ajudar a entender oque se passa.

— Eu não estou entendendo droga nenhuma. - Disse o Gustavo se sentando do lado do Calouro.

—Mas você é lindo sem entender nada.- “Ops, escapou” Pensei. Eles me olharam com mais perplexidade ainda.- Esqueçam oque eu disse... Bom plano! Onde ele mora?

—Não sabemos. - Disse o Gustavo. - Mas talvez esteja na lista de pessoas que podem usar a piscina. - Ele se levantou e deu uma olhada na prancheta.         Enquanto ele olhava, eu apontava com os olhos, como se dissesse que era ele, a pessoa da minha vida. Virei para trás, e nesse extato momento Gustavo terminou a pesquisa. - Está aqui... Navid Real. Apartamento 83. Bloco A

— O nome dele é Navid Real?- Perguntei.- Ah não importa, vamos logo lá. -         Eu sai andando e os meninos se vendo sem opção, vinham logo atrás como uma escolta. Entrei no corredor que levava ao hall dos elevadores, e depois passei correndo o hall com medo de perder o elevador que já estava à espera.

Eu entrei no elevador e um funcionário limpava o espelho. Ele se virou e me viu. Para uma pessoa que acabou de limpar o elevador e vê ele sendo todo molhado por uma garota com as roupas todas ensopadas ele não teve uma reação ruim.         Pelo contrário, ele até teve uma reação melhor do que minha mãe tem quando eu volto da piscina: Ele jogou o pano em cima de mim e disse:

— Limpe você mesma... Sra. esfregão! - Ele saiu do elevador xingando alto. - Essa juventude de hoje... Que pestinhas que eles são...

A porta se fechou, e o elevador começou a subir. O silêncio entre nós era praticamente um abismo, os garotos pareciam envolvidos, cada qual com sua manta de pensamentos, e eu só temia as respostas que eu iria encontrar. Eu tinha uma vontade avassaladora de descer do elevador e subir por mim mesma de escada.         Os segundos que já iam virar minutos passavam muito devagar, justo naquela hora que eu precisava ir mais depressa.

Finalmente o elevador chegou à seu destino marcado. Nos saímos ainda em silêncio. Com a única diferença ser o fato de estarmos – Apesar de inconscientemente – prendendo a respiração.

Eu toquei a campainha, na esperança de o Navid não estar em casa. Os segundos escorriam lentamente pelo tempo, no silêncio ouvi passos de chinelo vagarosos se aproximando. Eles cessaram. Ouviu- se mãos girando a maçaneta, tudo sem pressa. Apesar de eu estar completamente concentrada na porta, sabia que eu e os garotos compartilhávamos da mesma ansiedade cruel e quente, que fazia nosso sangue borbulhar.

Uma fresta da porta se abriu, uma mancha preta olhou e depois fechou sem dó. A mesma que apareceu no meu quarto. A imagem assustadora de Navid não saia da minha cabeça.

—Quem se encontra lá fora, meu filho?- Uma voz feminina perguntava timidamente, como se isso travasse sua vida.

— Não te interessa! - Respondeu rispidamente a voz do Navid.- Mamãe?!- O garotinho assustado se pronunciou de novo. De repente ouve- se um estrondo na sala. Tive medo que o Navid descobrisse que ainda estávamos imóveis no corredor. Mas a resposta foi diferente: - Quantas vezes já não disse para você não sair do seu armário sem minha permissão! Volte já para lá!

Nos três nos olhamos com a mesma expressão de preocupação na cara. “Ele mantinha a própria mãe em cativeiro?”

— E o que há com o pai? - Me arrisquei a perguntar. O Calouro tapou minha boca, e percebi que havia som de passos em direção à porta da frente. Sem fazer barulho andamos até a escada e com cuidado fechei a porta, para não emitir nenhum som.

De repente eu vi no chão de mármore um grampo perdido de cabelo, que me deu uma ideia:

— E se esperássemos o Navid sair e usássemos isso para abrir a porta. - Ao falar eu ergui o objeto perdido. - Temos só que faze- lo sair de casa.

— Pelo bem da missão eu me ofereço. - Disse o Gustavo, imitando uma das falas do filme “Atlântida”. Gostei da iniciativa dele; apesar de ele estar quase totalmente por fora do assunto, ele se pôs a postos. Isso só reforçou oque eu acho dele: Um garoto perfeito.

— Calouro, você vai com ele!- Ordenei. Ele tentou falar que não, mas eu fiz um gesto para que ele parasse. - Vocês dois juntos podem me proteger mais. - Eu falava como se não estivesse com medo do que pudesse encontrar lá dentro.

— Mas lá na quadra... Eu fui fraco... Você enfrentou o monstro por mim. Sou uma galinha. - Ele disse. Eu olhei no fundo de seus olhos, havia sim, uma mágoa. Tive que respirar muito fundo para não dizer que aquilo era muito fofo.

— Eu enfrentei o monstro e olha oque eu ganhei...- Eu levantei a blusa para que o Gustavo também pudesse ver. E então percebi que ouvi oque ele estava pensando: “Você só evitou que acontecesse com outra pessoa.”- Você é o garoto mais corajoso que eu já conheci!- Disse colocando as mãos nos ombros dele. - Vai lá e arrasa!- E então o beijei na bochecha. Eu não percebi na hora mas o Gustavo olhou enciumado

— Tudo bem.- Ele disse já no andar de baixo. O Gustavo ficou parado me olhando, então eu olhei para ele.

— Você vai ficar bem? Eu não aguentaria... quer dizer... seus pais não...- Eu coloquei as mãos no rosto dele e fui me aproximando...

— Gustavo... você não vem? Eu já estou no sexto andar! Gustavo...?

...chegando mais perto... fechei os olhos... e quando finalmente encostei meus lábios nos dele senti meu cérebro derretendo.

— Agora vai lá... Meu herói. - Foi só isso que eu consegui dizer, que por mim ele ficava lá o dia todo olhando para mim e eu para ele. Mas antes de continuar o meu romance eu precisava resolver uma questão de vida ou morte.         Coloquei o grampo no cabelo e fui a luta.

Eu subi as escadas até a cobertura, e de lá fiquei olhando como São Paulo era bonita. E como a vista lá de cima era bonita. Tudo estava azul e brilhante, refletindo o céu. De lá dava para ver tudo. A avenida paulista estava bem a vista; brilhante como sempre. Mas não era só ao sol que a cidade fazia jus A lua do meio dia estava cheia. E ela estava quase tão brilhante quanto o sol. O seu prateado refletia nas janelas de um prédio de vidro. De lá dava para ver minha escola, que estava fechada, e com um grande outdoor do lado fazendo a propaganda.

Quando voltei a mim, depois de tanta beleza estimei que já se tinham passado 15 minutos. Então olhei para baixo e vi uma mancha grande que devia ser o Navid. Eu desci de novo até o oitavo andar e tirei o grampo do cabelo.

Não foi muito difícil invadir a casa do Navid, eu mal precisei colocar o grampo na fechadura para abrir a porta. Foi bastante eu encostar a mão na maçaneta para ela abrir. Devagar eu fui entrando, devagar passei pelo hall de entrada, e de lá já se podia ver um armário, que devia ser aonde a mãe do Navid morava, então devagar atravessei a sala.

Quando eu me encontrei de frente para o armário me veio uma pergunta cruel; Como se deve abordar uma pessoa que mora em um armário? Se deve bater na porta? Ou será que há uma campainha?

Eu bati na porta. Mas não ouvi nenhum barulho. Então eu comecei a girar a maçaneta.

— Quem está ai? Navid, querido, é você?- A voz soava trêmula, como se tivesse certeza que era o Navid.

— Não... Não é ele. Sou só uma pessoa que quer ajuda-lá. Se importa de me deixar entrar em seu armário... digo casa?- Pus toda a minha meiguice na voz.

A porta começou a se abrir, uma senhora com o semblante assustado segurava com toda a sua força a maçaneta como se estivesse sempre a postos para bater a porta na minha cara.

— Que...- A voz dela falhou.- Quem é você?

— Sou uma pessoa que quero ajudar. Quero curar Navid.- Bem, oque eu queria não era exatamente curar, mas oque dizer para uma mãe desesperada?

— Meu filho...- Ela disse.- Vocês sabem oque ele tem?- Eu fiz que não com a cabeça. Mas deve ter saído um movimento estranho porque eu estava pensando em quantas vezes eu a ouvi falar meu filho naquele dia. Ela me deixou entrar ao ver meu rosto, e ageitou umas roupas como poltrona. Seus olhos estavam ficando prateados porque as lágrimas refletiam a luz da única lâmpada que tinha naquele armário. Tudo estaria escuro se não fosse por aquilo.

— Bem... A senhora sabe? A senhora sabe porque ele é tão agressivo?

— Não o culpem! Não o machuquem! Meu filho... ele está possuído. Não é culpa dele. Não o machuquem! - Eu fiz um gesto com as mãos para que se acalmasse.

— Oque ele tem? O que o deixa tão agressivo?

Ela respirou fundo e começou.- Tudo começou quando ele tinha dez anos... Oh, que lindo garotinho ele era... O Navid tinha um jeito tão feliz e sapeca.

— Perai.- Eu a interrompi.- Vocês sempre moraram aqui?

— Não. Nós moravamos em uma vila no Amapá.- “Eis o motivo do cartão postal.” Pensei. - Eu tinha me separado do pai dele, oficialmente fazia umas duas semanas, e essa separação foi como um choque para ele. Eu me separei dele porque ele me traiu com uma moça mais jovem, a moça que o Navid jurava ser a melhor pessoa do mundo: A mais bonita... A mais educada... Ele a admirava muito.- Ela parou.

— E então? Oque essa moça tinha?

—Eu sabia que tinha algo de estranho com ela. Ela era perfeita demais para ser normal. Um dia quando fui buscar o meu filho na casa do pai, vi ela na sala oferecendo algo estranho e luminoso ao garoto. Parecia que tinha uma luz emanando de dentro, e meu instinto de mãe disse que não era coisa boa. Eu invadi a sala e disse para ele não aceitar a bola, ela conseguiu persuadir meu garoto e ela chegava cada vez mais perto de entregar a bola. Então eu peguei uma faca e atirei nela. Ela bateu em algum ponto da cabeça, foi um corte pequeno mas atingiu uma veia importante. Ele queria salva- la então pegou a bola, e quando ele ia jogar em mim algo aconteceu. A sala se encheu de luz e o meu garoto passou a ser do jeito que ele é hoje. A partir desse momento meu lindo filhinho se transformou em um monstro.

— Que coisa era essa, exatamente?

— Não sei. Mas ás vezes, principalmente à noite, eu ainda escuto ele me chamar, dizendo que estava com medo e que teve um pesadelo horrível, mas quando entro no quarto ele vem me abraçar, mas isso nunca acontece. Ele geralemnte me bate e me tranca no armário, e só abre de manhã. - Depois de ouvir isso eu me enchi de dó, e me vi com o rosto encharcado de lágrimas. Pensei oque minha mãe faria se eu tivesse morrido e então instalei um objetivo na minha mente: Não morra! Mas eu também não podia matar o Navid assim, à sangue frio. Afinal não era culpa dele

— Obrigado senhora... hã...- Cocei a cabeça me perguntando qual o nome dela.

— Muriel. Senhora Muriel.- Disse ela estendendo a mão.

— Obrigado. - Eu dei um abraço nela. Um abraço tentando imitar uma filha.Eu fui andando até a porta mas de repente ouvi som de passos; era o Navid seguido pelos meninos que o tentavam impedir com as palavras. Eu me escondi debaixo da mesa e rezei para que ele não me visse.

— Cadê ela! Onde está ela. - Navid disse ao literalmente quebrar a porta na parede. Um dos pedaços voou para perto de mim, mas eu silenciosamente driblei o objeto. Mentalmente eu rezei para que Muriel me desse cobertura.

— Ela quem...?- Disse a senhora.- Temos visita?

— Você sabe muito bem de quem estou falando!- Navid estava prestes a atacar a própria mãe. Eu sai um pouco de debaixo da mesa, no lado oposto do “Monstro”, a ponto de ficar visível para os garotos. “Protejam ela, e distraiam Navid! Eu me viro” Disse em linguagem labial. - Diga aonde está ela, senão...- Navid fechou as mãos como se fosse dar um soco inglês. Enquanto ele olhava para a mãe em busca de respostas, eu aproveitei para escapar. Eu bem que queria olhar para trás, mas não deu tempo. Eu arranquei em direção ás escadas.

 

 


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