A Nova Heroina escrita por Babyi


Capítulo 3
Que tal um monstro para matar?




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A tarde estava passando lenta e quente, não diferente dos outros dias. Mas havia um alvoroço na sala, a minha família estava quase inteira reunida e estavam colocando o papo em dia, todos pareciam se divertir, mas aquilo não me atraia muito. Claro que não deixei de ser educada: Apareci na sala e dei um oi geral, mas foi aquilo que sempre acontece; “Nossa, como você cresceu!” ou “você está cada vez mais bonita”, cansei de ouvir aquilo.         Minha irmã arranjou dois primos para brincar com o jogo de ligue quatro por quatro, minha mãe estava conversando com minhas tias sobre como era irritante nós, suas filhas, somos chatas. Meu padrasto, Tadeu, divertia o resto da sala com seus truques com a carne na churrasqueira de forno. E eu era a única entediada. Fui para o meu quarto.

Passei alguns minutos, que pareceram horas, jogando no computador, mas mesmo assim eu estava inquieta, e para nem o computador conseguir me entreter, devia ter alguma coisa errada, muito errada. Eu pensei que precisava usar o meu facão então ele apareceu magicamente na minha mão. Eu fiquei revirando a lâmina contra a luz sem saber oque pensar, os pensamentos se atropelavam na minha mente. No início eu tinha uma porção de perguntas sobre a origem dela, mas aprendi a não fazê-las Tinha apenas que confiar nela, Raios. Não aguentei mais, decidi sair dali. Eu andei despercebida pela sala e adentrei o hall dos elevadores.

Por alguns segundos eternos o elevador desceu até o térreo. Não sei oque eu estava procurando, minhas amigas, talvez... Eu não as vi O garoto que eu gosto... Não. Eu não sabia oque estava procurando, mas seja lá oque for, não encontrei, porque eu ouvi gritos vindo da quadra, no 2° subsolo. Estranhamente os funcionários do prédio ignoravam os pedidos de socorro dos garotos, como se isso fosse normal. Eu corri e quase tropecei nas escadas, mas quando cheguei lá só faltou eu ter um desmaio: O Bruno e o Augusto estavam sendo atacados por um monstro. Mais especificamene um manicorte, com grandes espinhos venenosos. “Mas é impossível!” Pensei. “Manicortes só existem nos livros.”

Eles estavam perto de serem transformados em carne para churrasco, e eu podia fazer alguma coisa:

—Ei grandão...- Eu disse da porta.- Você também tem um nome?- Ele se virou para mim. E se preparava para atacar. Numa fração de segundo eu pensei mentalmente “Preciso de você, Raios”então do nada, apareceu na minha mão um punhal. Mas logo começou a se estender e virou um facão, Raios. Depois peguei uma tampa de lixo, que estava esquecida e a usei como escudo.

—Oque você está vendo Calouro?- Disse ao Bruno. Seu apelido era Calouro porque ele era novo no prédio, se mudara em Março.

—Eu estou vendo um urso com espinhos de porco espinho. - Havia um tremor na sua voz. O Manicorte lançava saraivada, pós saraivada e não sabia por mais quanto tempo a tampa iria aguentar. Ela já estava se contorcendo na minha mão.

—Manicorte. - Disse- Esse é o nome politicamente correto. Como ele surgiu?

—O David esteve aqui, perguntando por você. Mas nos recusamos á dar informações. Então ele “cuspiu” esse monstro. - Respondeu o Augusto.

Eu me aproximei dos garotos com a mira do Manicorte mirada em mim.

—Vamos, esse escudo não vai aguentar por muito tempo!- Disse. Eu cheguei mais perto para poder atacá-lo com Raios, mas o gancho se quebrou e com um safanão o monstro tirou a tampa de mim e o jogou para trás de si, aonde eu não podia alcançar. Eu defendia alguns espinhos com Raios, mas um deles fez um corte no meu abdômen         Eu me senti tonta, o efeito do veneno estava me matando, mas jurei que não ia desmaiar enquanto não tivesse matado o monstro. Eu cai de joelhos, mas mesmo assim investi contra o Manicorte e o furei no coração, ou pelo menos aonde devia ficar. Ele continuou de pé, como se o fure apenas o tivesse deixado com mais raiva. “Tem que ter algum jeito !!”Pensei. Eu não achava nada que pudesse fazer e não aguentaria por muito tempo. Eu virei para trás, o Augusto tremia de medo como um ratinho, mas o Bruno estava pegando uma bola de futebol, ele a lançou em direção a tampa, danificado. A bola atingiu um dos lados da tampa de lixo, e então o escudo voou como um frisbe descontrolado em direção a cabeça do monstro. Ele caiu no chão, eu não conseguia me aguentar mais, mas sobrou tempo de esquartejar o Manicorte e vê-lo se desintegrar. Então tudo apagou.

Quando acordei estava com a cabeça colocada confortavelmente no colo do Bruno. E pude ver ser olhos, uma linda cor azul claro. Nunca tinha notado muito ele, ás vezes jogávamos futebol juntos, eu já tive uma quedinha secreta por ele mas não deu certo porque ele é mais novo: Ele tem 11 e eu 12. Ele era até que gatinho, mas nunca daria certo. Tanto que agora eu gostava de outro garoto, um chamado Gustavo.

—Por quanto tempo...- Disse mas minha voz falhou. Eu percebi que o Augusto ainda estava lá. O Augusto era um 'Homem' de 22 anos, que agia com a idade mental de 10. Mas apesar disso ele era legal...

—Você está bem?- Disse o Bruno. Passando a me apoiar em seu ombro.

—Sim.- Eu me sentia bem melhor. Eu me levantei e dei alguns passos, e o Bruno e o Augusto me seguiram como se sentissem que eu ia cair de novo. E eu cai. Eles me pegaram pelo ombro e me levaram até na porta de casa. Sei que eles tinham uma metralhadora de perguntas, mas respeitaram o meu estado sensível e não falaram nada. O corte sangrava a ponto de empapar minha blusa de sangue.

—E oque você vai fazer?- Perguntou Bruno. Eu me deliciei com o tom de preocupação na sua voz. Ele ergueu a cabeça como se tivesse uma ideia - Eu tenho uma ideia Se você permitir...- Eu assenti levemente. O corte começou a doer e sangrar mais ainda, e aquela dor minava minhas forças. - Vamos na minha casa, minha mãe saiu á pouco para o mercado. Posso fazer um curativo e te emprestar uma camisa.

Eu não tinha muita escolha, ou era isso ou era explicar a origem daquele corte. Preferi a primeira opção. O Augusto deu uma desculpa esfarrapada de que tinha hora para chegar em casa e fugiu da situação. Para me ajudar só restava o Bruno. Ele era menor do que eu não iria me aguentar então fingi ao extremo que não sentia dor. Mas no elevador minhas pernas bambearam e eu cai. Ele tentou muito me ajudar, mas eu via que ele não aguentava Nem eu conseguia me manter em pé ereta.

Ao chegar na casa dele, ele praticamente me carregou até o quarto. Então me fez sentar no pufe enquanto ele pegava o spray anti inflamatório e alguns band-aids. Ele limpou gentilmente o corte, que tomava uma cor roxa em volta. Quando finalmente o sangramento estancou ele usou quase toda a caixa de band-aid. E o resultado final foi bem gratificante, pois o corte quase parou de doer.

—Você já foi ao carroção?- O Bruno perguntou. Eu assenti. O carroção foi o acampamento mais divertido que eu já fui, nada de trilhas, nada de chales, mas sim aventuras e descobertas, e de noite jogos e balada.- Então essa deve servir. - No último dia que ficamos no acampamento ganhamos uma blusa dessas. Tamanho único.

—Obrigado. - Ele jogou a blusa para mim. E eu fiquei esperando ele sair do quarto para eu trocar de roupa, mas ele não entendeu o recado. Então eu pigarreei e ele disse que ia me esperar na sala. Ao me trocar percebi que Raios estava carinhosamente amarrada no meu cinto. Não demorei nem um minuto e fui para a sala.

—Eu te levo para a casa. - Ele disse com um tom de cavalheirismo.

—Não! Meus pais estão recebendo minha família, e minha mãe brigaria comigo por descer. - Eu me senti culpada por não poder levar meu bem feitor para a casa, nem deixá-lo me deixar lá. Mas eu ia fazer uma entrada silenciosa, e minha mãe perceberia se eu levasse alguém para casa. Eu olhei para ele bem no fundo de seus olhos castanhos claro, com muito carinho e disse:- Desculpe.- E o abracei. Nesse abraço pude sentir que ele gostava de mim, não do jeito convencional, mas ele realmente gostava de mim.

Eu fui para o hall dos elevadores do andar dele, e ele abriu a porta para mim, então trocamos despedidas tímidas, e eu vi pela cara dele que ele já sabia que eu sabia que ele gostava dele.         Finalmente a porta se fechou, e eu me virei para o espelho. Aquele tipo de camisa me caia bem, o meu cabelo estava simplesmente bem arrumado, e eu estava linda, só que com a mente vazia. Mais uma enxurrada de perguntas me veio á cabeça. Tudo aconteceu muito rápido!

O elevador chegou ao meu andar, e eu teria corrido senão tivesse a ferida. Mas mesmo sem correr cheguei lá como um raio. E girei a maçaneta da cozinha que estava sempre aberta. Mas ao me virar, vi um pedaço de papel branco saindo de debaixo do tapete. Eu peguei-o para ler em casa. E escorreguei para dentro da cozinha, e então fui para a sala.

Passando a minha sala, que mais parecia um centro de convenções, retornei ao meu quarto. E como não tinha mais nada para fazer abri o papel.

Abri o bilhete. E com certa dificuldade desamassei-o e o li. Seja quem foi que escreveu teve uma certa pressa:

 

Não morri

Lembrei de ti.

 

Esse bilhete tinha que ser do Gustavo, era a letra dele com certeza. Eu nem tinha notado a falta do Gustavo na quadra, que era tipo não natural ele faltar por lá. Eu virei o bilhete e dei de cara com um cartão postal desbotado. Nele tinha a foto do estádio do zerão, com a legenda: Amapá- Macapá. Eu me senti sozinha e desamparada, sem motivos, vazia. Estava agitada como se algo maior e mais perigoso estivesse para acontecer, e nessa situação eu acabasse de perder tudo oque fosse importante para mim. Eu tentei interfonar para a Camila e para a Bianca, talvez para desabafar oque acontecera, e dizer o quanto eu estava com medo, talvez apenas para me distrair e fazer esquecer , oque era quase impossível levando em conta o corte colossal que eu tinha ganhado no meio dessa brincadeira, mas ninguém atendeu.

Nem se passou um segundo, meu coração apertou, não havia mais ninguém em que eu podia confiar, agora que minhas amigas e o garoto mais lindo do mundo tinham viajado. Eu tinha saudade da Camila e da Bianca. Mas do Gustavo eu tinha quase que um brilho no meu coração, um brilho muito poderoso, que me ofuscava e impedia que eu fosse a mesma de antes .

Eu nem me dei conta que eu ainda segurava o interfone, foi então que eu percebi o como estava cansada. Meus braços pesavam nos meus ombros, eu não sentia minhas pernas e a minha cabeça parecia ser de chumbo. Eu comecei a chorar baixinho, para que ninguém percebesse. Era um choro não de tristeza, mas quase histérico. Como se algum pesadelo fosse acontecer. Talvez o meu pior pesadelo...

Eu olhei o relógio, já eram quase sete e meia, então percebi que não estava um alvoroço tão grande como mais cedo, na verdade só sobrava um burburinho de ideias, na voz da minha mãe e da tia Beatriz. Meu padrasto estava guardando a churrasqueira e fazendo um barulho agudo na varanda. “Ele deve estar cantando...”

Eu passei pela sala, tentando ser invisível mas minha mãe me viu como um raio e ainda chamou:

—Você pode pegar o colchão de ar para titia Beatriz, por favor?- A tia Beatriz me deu uma piscada estranha.

—Ok.-Disse.“Só falta aquela velha chata idiota, chamada Beatriz dormir aqui em casa”, pensei. A tia Beatriz era a tia mais legal que eu tinha (Então dá para imaginar como deviam ser as outras.), mas mesmo assim eu não queria que ela dormisse em casa.”Putz”Me lembrei. “ A tia Beatriz vai passar alguns dias aqui. Que droga!”

Primeiro passei no meu quarto para deixar o meu facão, joguei- o em cima da escrivaninha. Já estava escurecendo, eu entrei no quarto na penumbra mesmo, sem acender a luz. Abri o armário e senti um calafrio na espinha. Eu peguei o colchão e apertei para sair o resto de ar que sobrou da última vez que foi usado. Quando me virei vi um vulto, com olhos chamativos de uma cor indefinida. Pisquei, e nesse milésimo de segundo o vulto sumiu.

Eu larguei o colchão na mão da minha mãe, e fui dormir. Eu me joguei na cama pensando que estaria muito cansada, mas o engano era meu. A insônia me tomou conta, até que uma hora eu estava pensando sobre os acontecimentos e acabei adormecendo.

Eu acordei vestida como uma ninfa do livro “Sonho de uma noite de verão” sinceramente eu quase chorei, por causa da breguisse do vestido.         Eu estava num universo branco que de repente se coloriu como uma pintura tecida. Em um momento eu estava em um belo jardim, que dava para um palácio parecido com o museu do Ipiranga Mas não podia ser. Dois corredores estavam estavam mais longos. A manhã passava rapidamente e eu andava para dentro do palácio, como se eu não tivesse controle sobre meu corpo. Eu cheguei à um salão, onde um cara mascarado mantinha um garoto contra a parece com uma espada. Eu senti um nó na garganta, como se eu me importasse com algum deles.

— A escolha é sua...- Disse o cara mascarado- Mas você já travou o final.

Ele cortou a cabeça do garoto, mas eu não tive coragem para ver a cena. Tapei meus olhos. Eu só sentia o sangue quente do garoto chegando nos meus pés descalços. Quando abri os olhos para ver o que aconteceria em seguida, me vi de novo naquele universo branco do início. E depois percebi que estava olhando para a parede do quarto. Isso me deu um alívio.

Eu não queria dormir de novo, com medo de que visse realmente o rosto do garoto, mas uma hora vencida pelo sono eu adormeci.

No dia seguinte acordei quase dez horas da manhã. E senti o silêncio na casa. Eu fui até a cozinha e vi um bilhete:

Tadeu foi dar serviço

Nós saímos, fomos jogar na loteria. Me ligue se necessário!

P.S. Levamos Sophie.

Beijos, mamãe

 

Por mim tanto faz”Pensei. Não tomei café da manhã de novo. Fui para o quarto me vestir, e talvez dessa vez pentear meu cabelo. Como estava enganada!

Tirei meu pijama e vesti uma blusa com o título “Sweet Girl”, fui pegar um short, mas ouvi um pigarreio bem atrás de mim e me virei. Primeiro vi uma enorme mancha preta que me deu vertigem, e depois ela foi tomando forma e virou o Navid com uma faca bem no meu pescoço.

—Você conhece o estádio do zerão?- Perguntei calculando quanto tempo de vida eu estaria ganhando. Ele estranhou a pergunta e abaixou a faca como se estivesse tentando se lembrar de algo parecido.- Eu... Hã... Oque...- Pela primeira vez eu tive dó do Navid, ele falava como um garotinho assustado. Depois ele balbuciou algumas letras entre a voz habitual dele e a voz de um menino assustado, como se ele fosse duas pessoas completamente diferentes que estão brigando por espaço em um só corpo.         Interiormente eu comecei a torcer pelo menino, mas a voz grave falava com cada vez mais frequência Antes que ele estivesse todo tomado novamente eu fugi de lá como um raio e fui em direção ao telefone mais próximo: O quarto dos meus pais.

Quando agarrei o gancho eu simplesmente não sabia para quem eu iria ligar. Minha mãe era uma opção fora de cogitação, a policia talvez pudesse ajudar mas eu precisava de algo mais à altura do Navid, e eu só tinha alguns milésimos.         Eu mirei nas mãos do grandalhão e vi que ele estava novamente com Raios. Primeiro ele tentou me acertar, mas não obteve sucesso, com uma reação como se a espada estivesse me defendendo. Ele usou o cabo do facão para quebrar o telefone e ainda me encurralar na janela. Ele virou de novo o cabo para si e apontou a lamina na minha garganta de novo.

— Quais são suas últimas palavras?- Ele disse.

Eu apostei na sorte:

—Não preciso mais de você Raios!- Instantaneamente o facão sumiu, e Navid se viu segurando ar. Depois dos dois segundos de perplexidade ele investiu contra mim, e me jogou da janela.

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A tarde estava passando lenta e quente, não diferente dos outros dias. Mas havia um alvoroço na sala, a minha família estava quase inteira reunida e estavam colocando o papo em dia, todos pareciam se divertir, mas aquilo não me atraia muito. Claro que não deixei de ser educada: Apareci na sala e dei um oi geral, mas foi aquilo que sempre acontece; “Nossa, como você cresceu!” ou “você está cada vez mais bonita”, cansei de ouvir aquilo.         Minha irmã arranjou dois primos para brincar com o jogo de ligue quatro por quatro, minha mãe estava conversando com minhas tias sobre como era irritante nós, suas filhas, somos chatas. Meu padrasto, Tadeu, divertia o resto da sala com seus truques com a carne na churrasqueira de forno. E eu era a única entediada. Fui para o meu quarto.

Passei alguns minutos, que pareceram horas, jogando no computador, mas mesmo assim eu estava inquieta, e para nem o computador conseguir me entreter, devia ter alguma coisa errada, muito errada. Eu pensei que precisava usar o meu facão então ele apareceu magicamente na minha mão. Eu fiquei revirando a lâmina contra a luz sem saber oque pensar, os pensamentos se atropelavam na minha mente. No início eu tinha uma porção de perguntas sobre a origem dela, mas aprendi a não fazê-las Tinha apenas que confiar nela, Raios. Não aguentei mais, decidi sair dali. Eu andei despercebida pela sala e adentrei o hall dos elevadores.

Por alguns segundos eternos o elevador desceu até o térreo. Não sei oque eu estava procurando, minhas amigas, talvez... Eu não as vi O garoto que eu gosto... Não. Eu não sabia oque estava procurando, mas seja lá oque for, não encontrei, porque eu ouvi gritos vindo da quadra, no 2° subsolo. Estranhamente os funcionários do prédio ignoravam os pedidos de socorro dos garotos, como se isso fosse normal. Eu corri e quase tropecei nas escadas, mas quando cheguei lá só faltou eu ter um desmaio: O Bruno e o Augusto estavam sendo atacados por um monstro. Mais especificamene um manicorte, com grandes espinhos venenosos. “Mas é impossível!” Pensei. “Manicortes só existem nos livros.”

Eles estavam perto de serem transformados em carne para churrasco, e eu podia fazer alguma coisa:

—Ei grandão...- Eu disse da porta.- Você também tem um nome?- Ele se virou para mim. E se preparava para atacar. Numa fração de segundo eu pensei mentalmente “Preciso de você, Raios”então do nada, apareceu na minha mão um punhal. Mas logo começou a se estender e virou um facão, Raios. Depois peguei uma tampa de lixo, que estava esquecida e a usei como escudo.

—Oque você está vendo Calouro?- Disse ao Bruno. Seu apelido era Calouro porque ele era novo no prédio, se mudara em Março.

—Eu estou vendo um urso com espinhos de porco espinho. - Havia um tremor na sua voz. O Manicorte lançava saraivada, pós saraivada e não sabia por mais quanto tempo a tampa iria aguentar. Ela já estava se contorcendo na minha mão.

—Manicorte. - Disse- Esse é o nome politicamente correto. Como ele surgiu?

—O David esteve aqui, perguntando por você. Mas nos recusamos á dar informações. Então ele “cuspiu” esse monstro. - Respondeu o Augusto.

Eu me aproximei dos garotos com a mira do Manicorte mirada em mim.

—Vamos, esse escudo não vai aguentar por muito tempo!- Disse. Eu cheguei mais perto para poder atacá-lo com Raios, mas o gancho se quebrou e com um safanão o monstro tirou a tampa de mim e o jogou para trás de si, aonde eu não podia alcançar. Eu defendia alguns espinhos com Raios, mas um deles fez um corte no meu abdômen         Eu me senti tonta, o efeito do veneno estava me matando, mas jurei que não ia desmaiar enquanto não tivesse matado o monstro. Eu cai de joelhos, mas mesmo assim investi contra o Manicorte e o furei no coração, ou pelo menos aonde devia ficar. Ele continuou de pé, como se o fure apenas o tivesse deixado com mais raiva. “Tem que ter algum jeito !!”Pensei. Eu não achava nada que pudesse fazer e não aguentaria por muito tempo. Eu virei para trás, o Augusto tremia de medo como um ratinho, mas o Bruno estava pegando uma bola de futebol, ele a lançou em direção a tampa, danificado. A bola atingiu um dos lados da tampa de lixo, e então o escudo voou como um frisbe descontrolado em direção a cabeça do monstro. Ele caiu no chão, eu não conseguia me aguentar mais, mas sobrou tempo de esquartejar o Manicorte e vê-lo se desintegrar. Então tudo apagou.

Quando acordei estava com a cabeça colocada confortavelmente no colo do Bruno. E pude ver ser olhos, uma linda cor azul claro. Nunca tinha notado muito ele, ás vezes jogávamos futebol juntos, eu já tive uma quedinha secreta por ele mas não deu certo porque ele é mais novo: Ele tem 11 e eu 12. Ele era até que gatinho, mas nunca daria certo. Tanto que agora eu gostava de outro garoto, um chamado Gustavo.

—Por quanto tempo...- Disse mas minha voz falhou. Eu percebi que o Augusto ainda estava lá. O Augusto era um 'Homem' de 22 anos, que agia com a idade mental de 10. Mas apesar disso ele era legal...

—Você está bem?- Disse o Bruno. Passando a me apoiar em seu ombro.

—Sim.- Eu me sentia bem melhor. Eu me levantei e dei alguns passos, e o Bruno e o Augusto me seguiram como se sentissem que eu ia cair de novo. E eu cai. Eles me pegaram pelo ombro e me levaram até na porta de casa. Sei que eles tinham uma metralhadora de perguntas, mas respeitaram o meu estado sensível e não falaram nada. O corte sangrava a ponto de empapar minha blusa de sangue.

—E oque você vai fazer?- Perguntou Bruno. Eu me deliciei com o tom de preocupação na sua voz. Ele ergueu a cabeça como se tivesse uma ideia - Eu tenho uma ideia Se você permitir...- Eu assenti levemente. O corte começou a doer e sangrar mais ainda, e aquela dor minava minhas forças. - Vamos na minha casa, minha mãe saiu á pouco para o mercado. Posso fazer um curativo e te emprestar uma camisa.

Eu não tinha muita escolha, ou era isso ou era explicar a origem daquele corte. Preferi a primeira opção. O Augusto deu uma desculpa esfarrapada de que tinha hora para chegar em casa e fugiu da situação. Para me ajudar só restava o Bruno. Ele era menor do que eu não iria me aguentar então fingi ao extremo que não sentia dor. Mas no elevador minhas pernas bambearam e eu cai. Ele tentou muito me ajudar, mas eu via que ele não aguentava Nem eu conseguia me manter em pé ereta.

Ao chegar na casa dele, ele praticamente me carregou até o quarto. Então me fez sentar no pufe enquanto ele pegava o spray anti inflamatório e alguns band-aids. Ele limpou gentilmente o corte, que tomava uma cor roxa em volta. Quando finalmente o sangramento estancou ele usou quase toda a caixa de band-aid. E o resultado final foi bem gratificante, pois o corte quase parou de doer.

—Você já foi ao carroção?- O Bruno perguntou. Eu assenti. O carroção foi o acampamento mais divertido que eu já fui, nada de trilhas, nada de chales, mas sim aventuras e descobertas, e de noite jogos e balada.- Então essa deve servir. - No último dia que ficamos no acampamento ganhamos uma blusa dessas. Tamanho único.

—Obrigado. - Ele jogou a blusa para mim. E eu fiquei esperando ele sair do quarto para eu trocar de roupa, mas ele não entendeu o recado. Então eu pigarreei e ele disse que ia me esperar na sala. Ao me trocar percebi que Raios estava carinhosamente amarrada no meu cinto. Não demorei nem um minuto e fui para a sala.

—Eu te levo para a casa. - Ele disse com um tom de cavalheirismo.

—Não! Meus pais estão recebendo minha família, e minha mãe brigaria comigo por descer. - Eu me senti culpada por não poder levar meu bem feitor para a casa, nem deixá-lo me deixar lá. Mas eu ia fazer uma entrada silenciosa, e minha mãe perceberia se eu levasse alguém para casa. Eu olhei para ele bem no fundo de seus olhos castanhos claro, com muito carinho e disse:- Desculpe.- E o abracei. Nesse abraço pude sentir que ele gostava de mim, não do jeito convencional, mas ele realmente gostava de mim.

Eu fui para o hall dos elevadores do andar dele, e ele abriu a porta para mim, então trocamos despedidas tímidas, e eu vi pela cara dele que ele já sabia que eu sabia que ele gostava dele.         Finalmente a porta se fechou, e eu me virei para o espelho. Aquele tipo de camisa me caia bem, o meu cabelo estava simplesmente bem arrumado, e eu estava linda, só que com a mente vazia. Mais uma enxurrada de perguntas me veio á cabeça. Tudo aconteceu muito rápido!

O elevador chegou ao meu andar, e eu teria corrido senão tivesse a ferida. Mas mesmo sem correr cheguei lá como um raio. E girei a maçaneta da cozinha que estava sempre aberta. Mas ao me virar, vi um pedaço de papel branco saindo de debaixo do tapete. Eu peguei-o para ler em casa. E escorreguei para dentro da cozinha, e então fui para a sala.

Passando a minha sala, que mais parecia um centro de convenções, retornei ao meu quarto. E como não tinha mais nada para fazer abri o papel.

Abri o bilhete. E com certa dificuldade desamassei-o e o li. Seja quem foi que escreveu teve uma certa pressa:

 

Não morri

Lembrei de ti.

 

Esse bilhete tinha que ser do Gustavo, era a letra dele com certeza. Eu nem tinha notado a falta do Gustavo na quadra, que era tipo não natural ele faltar por lá. Eu virei o bilhete e dei de cara com um cartão postal desbotado. Nele tinha a foto do estádio do zerão, com a legenda: Amapá- Macapá. Eu me senti sozinha e desamparada, sem motivos, vazia. Estava agitada como se algo maior e mais perigoso estivesse para acontecer, e nessa situação eu acabasse de perder tudo oque fosse importante para mim. Eu tentei interfonar para a Camila e para a Bianca, talvez para desabafar oque acontecera, e dizer o quanto eu estava com medo, talvez apenas para me distrair e fazer esquecer , oque era quase impossível levando em conta o corte colossal que eu tinha ganhado no meio dessa brincadeira, mas ninguém atendeu.

Nem se passou um segundo, meu coração apertou, não havia mais ninguém em que eu podia confiar, agora que minhas amigas e o garoto mais lindo do mundo tinham viajado. Eu tinha saudade da Camila e da Bianca. Mas do Gustavo eu tinha quase que um brilho no meu coração, um brilho muito poderoso, que me ofuscava e impedia que eu fosse a mesma de antes .

Eu nem me dei conta que eu ainda segurava o interfone, foi então que eu percebi o como estava cansada. Meus braços pesavam nos meus ombros, eu não sentia minhas pernas e a minha cabeça parecia ser de chumbo. Eu comecei a chorar baixinho, para que ninguém percebesse. Era um choro não de tristeza, mas quase histérico. Como se algum pesadelo fosse acontecer. Talvez o meu pior pesadelo...

Eu olhei o relógio, já eram quase sete e meia, então percebi que não estava um alvoroço tão grande como mais cedo, na verdade só sobrava um burburinho de ideias, na voz da minha mãe e da tia Beatriz. Meu padrasto estava guardando a churrasqueira e fazendo um barulho agudo na varanda. “Ele deve estar cantando...”

Eu passei pela sala, tentando ser invisível mas minha mãe me viu como um raio e ainda chamou:

—Você pode pegar o colchão de ar para titia Beatriz, por favor?- A tia Beatriz me deu uma piscada estranha.

—Ok.-Disse.“Só falta aquela velha chata idiota, chamada Beatriz dormir aqui em casa”, pensei. A tia Beatriz era a tia mais legal que eu tinha (Então dá para imaginar como deviam ser as outras.), mas mesmo assim eu não queria que ela dormisse em casa.”Putz”Me lembrei. “ A tia Beatriz vai passar alguns dias aqui. Que droga!”

Primeiro passei no meu quarto para deixar o meu facão, joguei- o em cima da escrivaninha. Já estava escurecendo, eu entrei no quarto na penumbra mesmo, sem acender a luz. Abri o armário e senti um calafrio na espinha. Eu peguei o colchão e apertei para sair o resto de ar que sobrou da última vez que foi usado. Quando me virei vi um vulto, com olhos chamativos de uma cor indefinida. Pisquei, e nesse milésimo de segundo o vulto sumiu.

Eu larguei o colchão na mão da minha mãe, e fui dormir. Eu me joguei na cama pensando que estaria muito cansada, mas o engano era meu. A insônia me tomou conta, até que uma hora eu estava pensando sobre os acontecimentos e acabei adormecendo.

Eu acordei vestida como uma ninfa do livro “Sonho de uma noite de verão” sinceramente eu quase chorei, por causa da breguisse do vestido.         Eu estava num universo branco que de repente se coloriu como uma pintura tecida. Em um momento eu estava em um belo jardim, que dava para um palácio parecido com o museu do Ipiranga Mas não podia ser. Dois corredores estavam estavam mais longos. A manhã passava rapidamente e eu andava para dentro do palácio, como se eu não tivesse controle sobre meu corpo. Eu cheguei à um salão, onde um cara mascarado mantinha um garoto contra a parece com uma espada. Eu senti um nó na garganta, como se eu me importasse com algum deles.

— A escolha é sua...- Disse o cara mascarado- Mas você já travou o final.

Ele cortou a cabeça do garoto, mas eu não tive coragem para ver a cena. Tapei meus olhos. Eu só sentia o sangue quente do garoto chegando nos meus pés descalços. Quando abri os olhos para ver o que aconteceria em seguida, me vi de novo naquele universo branco do início. E depois percebi que estava olhando para a parede do quarto. Isso me deu um alívio.

Eu não queria dormir de novo, com medo de que visse realmente o rosto do garoto, mas uma hora vencida pelo sono eu adormeci.

No dia seguinte acordei quase dez horas da manhã. E senti o silêncio na casa. Eu fui até a cozinha e vi um bilhete:

Tadeu foi dar serviço

Nós saímos, fomos jogar na loteria. Me ligue se necessário!

P.S. Levamos Sophie.

Beijos, mamãe

 

Por mim tanto faz”Pensei. Não tomei café da manhã de novo. Fui para o quarto me vestir, e talvez dessa vez pentear meu cabelo. Como estava enganada!

Tirei meu pijama e vesti uma blusa com o título “Sweet Girl”, fui pegar um short, mas ouvi um pigarreio bem atrás de mim e me virei. Primeiro vi uma enorme mancha preta que me deu vertigem, e depois ela foi tomando forma e virou o Navid com uma faca bem no meu pescoço.

—Você conhece o estádio do zerão?- Perguntei calculando quanto tempo de vida eu estaria ganhando. Ele estranhou a pergunta e abaixou a faca como se estivesse tentando se lembrar de algo parecido.- Eu... Hã... Oque...- Pela primeira vez eu tive dó do Navid, ele falava como um garotinho assustado. Depois ele balbuciou algumas letras entre a voz habitual dele e a voz de um menino assustado, como se ele fosse duas pessoas completamente diferentes que estão brigando por espaço em um só corpo.         Interiormente eu comecei a torcer pelo menino, mas a voz grave falava com cada vez mais frequência Antes que ele estivesse todo tomado novamente eu fugi de lá como um raio e fui em direção ao telefone mais próximo: O quarto dos meus pais.

Quando agarrei o gancho eu simplesmente não sabia para quem eu iria ligar. Minha mãe era uma opção fora de cogitação, a policia talvez pudesse ajudar mas eu precisava de algo mais à altura do Navid, e eu só tinha alguns milésimos.         Eu mirei nas mãos do grandalhão e vi que ele estava novamente com Raios. Primeiro ele tentou me acertar, mas não obteve sucesso, com uma reação como se a espada estivesse me defendendo. Ele usou o cabo do facão para quebrar o telefone e ainda me encurralar na janela. Ele virou de novo o cabo para si e apontou a lamina na minha garganta de novo.

— Quais são suas últimas palavras?- Ele disse.

Eu apostei na sorte:

—Não preciso mais de você Raios!- Instantaneamente o facão sumiu, e Navid se viu segurando ar. Depois dos dois segundos de perplexidade ele investiu contra mim, e me jogou da janela.

 


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