- Chegamos! Esta é a nossa nova casa, filha.
O maior sonho de Luísa Fox Ackerman era poder morar no exterior. Brasileira, sempre gostou de seu país, mas sentia falta de algo mais. Algo que ela sempre quis presenciar e conhecer. Algo que num país tropical não havia: um dia de neve. A garota de cabelos escuros, belos olhos verdes e um sorriso iluminador sempre gostou de observar o tempo, apreciar o céu, as nuvens... Sentir o vento, observar as gotas de chuva que caíam sobre a grama... Astrônoma seria a profissão certa para ela. Aos 15 anos, pôde realizar seu sonho: seu pai, que trabalha numa grande empresa de carros, foi transferido para Atlanta – EUA, para continuar seu trabalho por lá. Luísa não hesitou em dizer sim. Claro, ela tinha os amigos e a família, mas de alguma forma sentia que isso seria bom para ela! Queria cursar uma boa faculdade, e em Atlanta haviam muitas. Aluna esforçada, sempre colocou os estudos em primeiro plano. Nunca teve tempo para o amor, nunca se apaixonou. Mas isso não importava para ela.
- Nossa! É linda, papai! Deve ter custado uma fortuna...
- Não se preocupe com isso, filha. Eu e sua mãe demos um jeito.
- Exatamente. O que importa agora é que ela é nossa e, de agora em diante, teremos uma vida nova!
- Espero... – sussurrou Luísa.
Ficaram por um tempo apreciando a bela fachada da casa. Uma bela casa, por sinal: pintada em um tom de amarelo bem clarinho, com janelas e portas brancas, e um belo jardim com um enorme carvalho à frente.
- Ajude-me a levar as malas para dentro, Isabel! Preciso liberar o táxi... E por falar nisso, amanhã vou à concessionária providenciar um carro para nós...
- Tudo bem, Carlos. Mas acho que por enquanto vamos precisar de um guia para andar por aqui... – Comentou Isabel entre risos.
- Mamãe, papai... Vou entrar. Qual é o meu quarto?
- Suba a escada, e vire à esquerda. É a segunda porta – Anunciou Isabel – Espero que goste.
- Obrigada. Espero vocês lá dentro – Gritou, já correndo pelo jardim da casa.
Abriu a porta devagar, observou bela sala de estar, não tão grande, mas com um ar muito acolhedor: dois sofás brancos encostados na parede, uma mesa de centro e uma televisão; haviam muitos vasos de flores por ali, sua mãe adorava ambientes florais. Caminhou mais um pouco e avistou ao seu lado esquerdo o que aparentava ser a cozinha. Avançou mais e parou para observar o cômodo: uma mesa de quatro lugares ao centro, uma geladeira, um fogão, e um enorme balcão ao lado do mesmo. A parede com pequenos detalhes dava um toque charmoso à pequena cozinha. Voltou para sala e subiu as escadas. Foi para o local indicado por sua mãe, abriu a porta com calma, esperando uma surpresa, que, de fato veio. Nunca tivera um quarto tão bonito quanto aquele. A parede azul clara tinha detalhes em azul escuro – que por sinal era sua cor predileta – formando um belo contraste. A cama encostada na parede tinha a colcha branca, com almofadas em azul marinho no formato de estrelas. Ao lado, um guarda-roupa branco e uma escrivaninha da mesma cor. Adentrou o quarto, foi até a janela e pôde perceber uma bela vista... Árvores, flores, casas, e mais ao horizonte um pequeno lago. Ficou observando seu novo quarto por um tempo. Num impulso, desceu as escadas correndo e gritou por seus pais, que apareceram da cozinha.
- Obrigada! É o quarto mais lindo que eu já vi! – Disse, abraçando-os.
- Sabíamos que você ia gostar. É da sua cor predileta – Disse Isabel.
- É... É tudo muito lindo aqui! Mal posso esperar para conhecer o resto!
Terminaram de desfazer as malas pouco antes de anoitecer. Não se lembravam de onde tinham tantas coisas... Luísa foi para o banho e, logo que saiu sentiu um vento frio invadir o quarto. Correu para a janela e fechou-a. Ainda era outono nos EUA, mas, em menos de um mês o inverno se iniciaria! Ela mal via à hora de conhecer a neve! Brincar feito uma criança boba e ingênua e montar bonecos! Mas enquanto a neve não vinha, ela aproveitava para fazer o seu hobbie preferido: observar o tempo. Agasalhou-se e desceu as escadas em direção a cozinha. Preparou um chocolate quente, deu boa noite aos pais e voltou ao seu quarto. Debruçou sobre o parapeito da janela e pôs-se a observar o céu escuro e estrelado. As estrelas eram um mistério para ela. Um mistério que ela queria decifrar, mas era impossível. Baixou a cabeça e viu as folhas do carvalho se esvoaçarem. Percebeu que a temperatura ia cair mais. Terminou o seu chocolate quente e lembrou-se de seu notebook. Retirou da bolsa e colocou sobre a escrivaninha. Conectou-se à internet e pôs-se a pesquisar as notícias no twitter, Face book... Sempre foi uma garota conectada e apreciava a internet, mas nunca deixava de fazer suas coisas para ficar 24 horas por dia à frente de um computador. Aproveitou para conversar com os amigos brasileiros - já sentia falta deles. Meia hora depois, desligou o notebook, escovou os dentes e dormiu.
- Filha, acorde! Não quer desperdiçar o seu primeiro dia em outro país dormindo, não é?! – Chamava-lhe Isabel.
- Ok, mamãe... Já estou levantando... – Respondeu-lhe, ainda sonolenta, e cambaleando até o banheiro.
Fez sua higiene matinal, tomou um banho e desceu as escadas para o café da manhã. Ah, o café da manhã... Era a sua refeição preferida do dia. Porque nessa hora, seu pai e sua mãe estavam presentes, o que quase não acontecia no almoço e no jantar!
- Bom dia! – Disse ao chegar à cozinha.
- Bom dia, filha! Como foi a sua primeira noite no quarto novo? – Indagou seu pai.
- Excelente! O que eu mais me encantei foi a vista! Melhor não poderia ser!
- Que bom! A vista de Atlanta é realmente encantadora – Concluiu sua mãe.
Tomaram o café e foram para sala assistir um pouco de televisão.
- Hm... Eu vou lá fora. Quero apreciar a paisagem daqui – Disse Luísa.
- Tudo bem, querida! Mas se agasalhe, está frio lá fora. Acho que em breve teremos um dia de neve!
- Assim espero mamãe! – Respondeu Luísa, soltando uma gargalhada.
Caminhou até o jardim da casa, reparou numa sombra embaixo do grande carvalho. Sentou-se lá. As pessoas caminhavam apressadas, com maletas e livros nas mãos. Certamente, não haviam se dado conta de que uma nova família havia mudado por ali, exceto por uma garota. Uma bela garota, de fato: olhos escuros e cabelos castanhos, e a pele bem branca e pálida.
- Olá – Disse ela.
- Hm... Olá! – Respondeu Luísa, levantando-se da grama.
- Me chamo Violet! Violet Lafert! Você é nova por aqui, certo?
- Meu nome é Luísa Ackerman e sim, sou nova aqui. Mudei-me do Brasil ontem!
- Ah, jura que você é do Brasil? Estive por lá ano passado... No Rio!
- Desculpe, eu sou de São Paulo...
- Não faz mal! Podemos nos conhecer melhor!
- Que bom! Não tenho amigos por aqui...
- Agora tem! –riram juntas – Quer que eu te mostre um pouco do lugar?
- Acho que sim... Não conheço nada aqui! Espere um minutinho, vou avisar os meus pais.
Luísa saiu em disparada pelo jardim e abriu a porta de entrada com entusiasmo.
- Mamãe, papai, vou dar uma volta! Conheci uma nova amiga.
- Tudo bem, mas tome cuidado – Aconselhou seu pai.
- Certo.
Luísa e Violet saíram pelas ruas conversando e se conhecendo... Ela observava a fachada das belas casas que ali existiam. Belos jardins, belas flores, belas árvores! Estava encantada.
- No Brasil, as casas não são assim! Elas têm muros, portões, grades... Quase nenhuma tem um jardim como estes à frente, quase sempre são calçadas feitas de cimento – comentou olhando em volta.
- É... Eu pude perceber isso. Gosto do jeito de moradia das pessoas daqui. É tudo muito livre. Como você disse, sem portões, grades, muros...
- Desde pequena quis morar em um lugar como esse. Mas é outra coisa que tem aqui que me fascina e eu sempre tive vontade de conhecer: neve!
- Ah! Bom... O tempo está bem frio, acho que não demora muito para os flocos brancos começarem a cair... Adoro neve!
- Eu também! – riram.
Violet, de certa forma, se encantou pelo jeito extrovertido da nova amiga. ”As brasileiras realmente são encantadoras e simpáticas”, pensou ela.
– Está ficando tarde, Violet! Acho melhor voltarmos.
- Ok. Amanhã passeamos mais!
Voltaram rápido às suas devidas casas. Caminharam bastante por hoje. Luísa estava realmente fascinada com tudo a sua volta. Tudo. Simplesmente tudo.
Chegando a casa, Luísa contou o seu dia aos seus pais, subiu as escadas, tomou banho, comeu e foi se deitar. Tinha muitas expectativas para esse novo lugar. Estava quase dormindo quando escutou alguém bater a porta.
- Entre – sussurrou.
- Filha, amanhã você tem aula, viu?! – Disse Isabel.
- Nossa! Mas já?! Nós mal chegamos aqui em Atlanta e...
- Eu sei, mas você não pode atrasar os estudos! E amanhã eu e seu pai já voltamos ao trabalho! Aliás, é só por pouco tempo, daqui a alguns dias as férias de inverno começam, e você poderá apreciar a neve o quanto quiser.
- Céus... Tudo bem! Seis horas, certo?
- Sim, levante-se às seis. Sua aula começa 07h15min!
- Ok. Boa noite, mamãe.
- Boa noite, filha.