- Leyre! – Exclamou levantando-se rapidamente. – O que você está fazendo aqui? Vá embora... eu...

- Vejo que lembras de meu nome e agora eu também sei do teu – O homem sorriu largamente.

- Vá embora... não pode ficar aqui...

- Um nobre espanhol pode ficar em qualquer lugar, não vou fugir desta regra.

E então o corpo de Frannie gelou em medo. A vila na qual morava era pobre, não tinha muitos recursos e às vezes ainda eram saqueados por filhos de nobres apenas por diversão. A vinda de Leyre seria culpa sua.

- Já disse que não farei mal a ti, só queria descobrir o teu nome.

- Agora que já descobriu, podes ir em- Mas sua frase fora cortada ao meio por braços fortes que seguraram seu corpo e lábios macios que cobriram sua boca. Aquele homem era um contraste, enquanto tinha braços rudes, possuía lábios gentis.

A garota de longos cabelos loiros afastou-se rapidamente quando teve a oportunidade, estava demasiadamente assustada. Não reparou o olhar decepcionado do homem que vestia culottes e muito menos o suspiro que escapou pelos seus lábios.

Frannie entrou em sua casa com o coração aos pulos. Havia sido beijada pela primeira vez, e o pior, havia sido beijada por um nobre. Pressionou sua cabeça com ambas das mãos tentando afastar o ocorrido de minutos atrás de sua mente.

- O que aconteceu? – A voz de Ernie parecia urgente e preocupada.

- Nada, irmã.

- Como assim “nada”? É raro ver você assim... desse jeito... – Observou a morena crispando os lábios.

Layre não apareceu na vila por muitos dias. Estava quase no final de outono quando Frannie finalmente se convenceu que ele havia desistido. A garota escondia de si mesma o fato que em cada dia que o homem de voz grossa não aparecia, ela esperava que ele chegasse na vila com aquele típico sorriso de lado. Depois de tantos dias, ainda não havia conseguido esquecer aquele beijo rápido enfeitado pelas cores quentes.

Foi numa atitude um tanto quanto desesperada quando decidiu ir até a nascente onde havia visto Layre pela primeira vez. Ao chegar lá, Frannie olhava para todos os lados com cautela, na esperança de avistar o cavalo de cor negra. Passou longas horas lá, ora sentada e remexendo nas folhas que estavam caídas sobre o chão e ora bebericando a água de temperatura agradável que fugia da nascente; mas depois de tanto tempo, acabou por desistir. Levantou-se afastando alguns resíduos de sujeira em seu vestido e com as mãos cruzadas na altura de seu colo, seguiu o caminho para a vila.

- Já estás indo assim, tão cedo?

- Layre! – Exclamou a garota em um salto.

- Vejo que ainda não esqueceste meu nome, Frannie.

- Nem você o meu – retrucou sem jeito.

- Como poderia? Tens um dos nomes mais lindos, mais até dos que as mulheres com as quais eu convivo possuem.

- Pare com isso – Frannie tentava esconder o sorriso que teimava em surgir em seus lábios. Já recebera vários elogios por parte dos homens de sua vila, mas nenhum havia sido tão bonito quanto aquele.

- Eu vim aqui hoje procurando por ti, ainda bem que encontrei-te – O homem disse após alguns minutos de silêncio entre os dois. – Eu vou me ausentar por longos dias. Uma viagem longa me espera em direção ao sul.

- Vai voltar quando?

- Talvez no próximo outono.

Então a garota loira desistiu de reprimir o sorriso, este apareceu grandioso em seus lábios. O outono sempre trazia surpresas para si, mas nenhum havia sido tão surpreendente como esse. Cruzou as pernas e abaixou a cabeça num ato envergonhado enquanto sussurrava algumas palavras:

- Outono. Sim, no próximo outono.

FIM.