Luz vermelha, luz verde. Renata atravessou o sinal, finalmente estava casa, depois de um dia inteiro de trabalho e da faculdade noturna. Iria chegar em casa, tomar um bom banho e dormir para o dia seguinte de jornada. Nem pensava em estudar para as provas do semestre, prestava atenção na aula justamente para evitar essa perda de tempo, este era seu trunfo, sua boa memória, mesmo sem sequer dar atenção suficiente a conversa Renata as gravava com bastante facilidade. Se não lhe fosse a preguiça com todo a certeza seria a aluna número um de toda a sala. Cursava a faculdade federal, que passou com relativa facilidade na sua primeira tentativa, preferiu fazer o curso noturno de Nutrição para poder trabalhar, precisava de dinheiro agora que morava sozinha.

Os pais de Renata moravam na cidade de Santa Luzia, milhares de quilômetros da capital, onde estava agora. Como passara na universidade arrumou essa desculpa para continuar na cidade, morava numa casa de dois andares que fora transformada num prédio com 4 apartamentos por pavimento, era bastante velho, mas era o que o salário de atendente de loja de posto de gasolina podia pagar e ainda assim comer. Vivia contando o dinheiro, mas ainda sim gostava daquela vida, sentia-se um pouco menos dependente dos pais, estava contente com passo que havia dado.

Parou na frente de uma vidraça e deu uma checada nas roupas. Renata tinha cabelos curtos e repicados, um pouco acima dos ombros, eram de um castanho bem claro, ainda usava dois tic-tac’s para segurar a curta franja que não ficava presa atrás da orelha.  Deu uma espalmada na saia preta para tirar a sujeira e voltou a caminhar para casa. Havia comprado o pão assim que passou pela padaria perto de casa, para sua sorte a fornada havia acabado de sair e o cheiro de pão quentinho saia do saco que segurava, estava doida para chegar em casa e desfrutá-los com manteiga.

Assim que avistou a grande casa entre dois enormes prédios, correu para poder entrar logo em seu apartamento. Subiu rapidamente as escadas e dirigiu-se a sua entrada, tirou a chave do bolso e escancarou a porta. O saco de pães caiu.  Assim que viu a cena o rosto de Renata desfez-se de felicidade e foi para um estágio de pura confusão. Seu apartamento estava totalmente bagunçado, havia telhas e poeira espalhado por todos os cantos da sala. Tinha um buraco no centro teto da sala! UM BURACO! Renata olhava atônita para o nada do seu teto, como aquilo aconteceu?! Como podia acontecer? Com tantas pessoas no prédio, com tantas pessoas no mundo, por que tinha que ser justamente ela?!

Os joelhos da garota cederam, ela despencou no chão com força, mas não chegou sentir dor, estava chocada demais para preocupar-se com o seu corpo. Renata continuou com o olhar parado em direção a toda aquela bagunça, como Deus podia permitir tal tipo de coisa?! Foi quando recobrou os sentidos, a televisão! Renata levantou-se e procurou olhar um pouco mais adiante sobre aquela montante de telhas, lá estava ela, sua querida televisão comprada com muito esforço intacta. Suspirou aliviada, pelo menos isso estava salvo.

Agora precisava ir aos outros cômodos verificar se tudo estava certo, nunca se sabe quando há outro buraco na sua casa. Antes de passar para o quarto, Renata resolveu verificar se não havia nada debaixo daquele monte de telhas, não se lembrava de ter colocado nada no local, mas ele parecia um pouco alto tendo só tenhas. Subiu sobre o morrinho e tirou umas telhas de lado enquanto sacudia com a outra mão a poeira que subia. Foi quando Renata descobriu a causa do enorme buraco no seu apartamento. Uma garota desacordada bem no meio da sua sala.