Naquela Festa... escrita por Yukari Rockbell


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Segundo e último capítulo!! Obrigada a todos q deixaram comentários!!

Boa leitura!



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Ficava mais indignado a cada passo que dava. Se lamentara a manhã inteira do que havia feito sob efeito do álcool. Mas lamentar não era a solução do problema. Não ia ficar se torturando inutilmente como uma adolescente idiota de algum romance barato. Iria falar com ele e pronto.

Claro que seu coração estava acelerado. Claro que suas mãos suavam. Claro que essas e todas outras sensações clichês tomavam conta de si, mas era preciso se desculpar! Obviamente o outro havia saído de desagrado!

Respirou fundo ao avistar a construção grega antiga. Os cavaleiros de bronze haviam se instalado próximos às doze casas, depois que Saori havia decidido morar no santuário. Na verdade, ela tinha praticamente sido “intimada” a morar lá, lar do qual não deveria jamais ter saído.

Hyoga havia dormido na casa de Aquário naquela noite. Camus achara que ele não estava em condições de descer todas as escadarias das doze casas, embora o discípulo implorasse que precisava falar com Shun urgentemente.

Adentrou o edifício sem muita cerimônia. Atravessou o grande pórtico helênico [1] da entrada do prédio que dava de frente a escadaria que levava ao andar superior. Olhou em volta espantado com o silêncio.

Dirigiu-se às escadas e segurou a respiração quando avistou Ikki descendo os degraus. Será que ele havia visto o ocorrido? Shun teria contado? Ele teria problemas...

Soltou o ar quando o outro deu um breve “oi” passando por ele despreocupado, os olhos de quem passou a manhã tentando superar a ressaca.

Continuou o seu caminho e se sentiu tenso quando andou pelo corredor em direção ao quarto de Shun. Parou diante da porta se esquecendo do discurso pronto que arquitetou em pensamento. Suspirou cansado e decidiu bater de uma vez.

-Procurando Shun? – se assustou ao ouvir a voz de Shiryu que saia de seu próprio quarto, localizado de frente ao quarto do cavaleiro de Andrômeda. – Ele saiu com a June faz uma meia hora.

O sangue de Hyoga ferveu ao ouvir o nome da garota. Serrou os punhos, zangado. Murmurou um “obrigado” ríspido ao amigo e já ia se retirar quando Shiryu recomeçou a falar.

- Seja cuidadoso ou vai acabar o assustando novamente.

Passou de zangado a espantado e depois a envergonhado com aquela frase.

- Eu não vou mais perturbá-lo. Só ia... pedir desculpas. – respondeu sem encará-lo. – Deixarei ele e June em paz.

-Não se engane...

- Se você viu o que houve ontem e o viu sair com ela, deveria concordar comigo.

-Se você não perdeu a memória e se lembra do que ele fez por você, deveria pensar melhor na situação toda.

-Você e Seiya teriam feito o mesmo para me ajudar.

-Mas não fizemos, não foi?

Hyoga o encarou pensativo. Shiryu sustentou o olhar sério. Aquela história tantas vezes remoída em seus pensamentos... Aquela história que o fizera se sentir conectado a Shun de um modo que ele não esperava. Aquela casa zodiacal...

-Fale com ele. – Shiryu finalmente quebrou o silêncio.

-Pedirei desculpas... – respondeu ainda incerto.

-Não, fale mesmo com ele. É o momento.

O cavaleiro de dragão colocou a mão em seu ombro e lhe dirigiu um sorriso de incentivo. O loiro lhe devolveu o sorriso antes de sair dali, mais confiante.

- E o que você sentiu quando ele lhe beijou? – perguntou a ele com delicadeza.

- Confusão. – respondeu sincero.

- É, você parecia perplexo... – ela observou rindo um pouco. – E agora parece desanimado.

Shun encarou June por breves segundos antes de apoiar o queixo nos joelhos flexionados.

-Não sei o que fazer... Quer dizer, eu deveria falar com ele, mas e se ele nem se lembrar? Ou pior, e se for uma brincadeira ou sei lá?

- E se, e se! Shun, você precisa de certezas. Acho que Hyoga se importa o suficiente com você para não fazer esse tipo de brincadeira.

Shun concordou depois de pensar um pouco. Hyoga era muito gentil com ele para fazer algo do gênero e o loiro não era muito de brincadeiras... Sem contar que o olhar do outro para si naquela noite ao dizer aquela frase ele não sabia dizer se era só um olhar de bêbado ou se havia algo a mais.

- Eu deveria perguntar de uma vez para ele. – suspirou se dando por vencido.

- Eu também acho. E qualquer coisa, você pode contar comigo. Você sabe não é?

Ambos sorriram. Shun apreciava e muito sua amizade com June. Ela era companheira e sincera, não tinha medo de dizer as coisas para ele, mesmo que fossem duras de ouvir. Ela lhe deu um abraço carinhoso.

Encontrou Shun e June sentados em baixo de uma árvore no pequeno bosque do santuário – um entre outros espalhados pelo local. Se sentiu zangado novamente, mas tentou se controlar. Resolveu se aproximar quando observou a garota abraçar Shun intimamente e estacou próximo a eles.

June avistou sua sombra e institivamente apertou o abraço. Shun estava de olhos fechados e não percebera a presença do outro.

-Seja forte e verdadeiro consigo. Não tenha medo. – sussurrou em seu ouvido e se afastou.

Shun finalmente abriu os olhos e a encarrou sem entender. Ela sorriu para ele e antes que pudesse se dar conta de quem era aquela sombra que ele acabara de perceber, Hyoga limpou a garganta para chamar a atenção e se aproximou afinal.

June levantou enquanto Shun encarava o loiro entre espantado e envergonhado.

-Olá Hyoga. – ela cumprimentou.

-Oi. – respondeu frio.

Ela deu um pequeno sorriso para ele e acenou em despedida para Shun, que agora levantava sem saber o que fazer.

Hyoga a acompanhou com os olhos insatisfeito com ela simplesmente pela proximidade que tinha com Shun. Este, por sua vez, olhou Hyoga pelo canto dos olhos, se sentindo nervoso. Começou a caminhar para lugar nenhum quando o loiro o encarou.

-Preciso... Preciso falar com você. – Hyoga excitou.

- Sim... Tudo bem. - respondeu sem parar de andar. Hyoga se colocou a seu lado e caminharam juntos.

            -Sobre ontem... – Hyoga começou sem graça.

            -Você se lembra do que me disse?

            Ficou espantado com a pergunta. Não esperava que o outro fosse tão direto.

            - Do que exatamente? – perguntou incerto.

            Shun parou subitamente. Encarava o chão, mas sua voz era firme e direta.

            -Que tinha vontade de fazer aquilo. Mesmo sóbrio...

            O coração do loiro disparou. Se pegou tendo aquelas sensações clichê novamente: mãos suadas, estômago estranho, perda temporária da fala.

            - Sim. É verdade. – respondeu afinal.

            Shun o encarou em silêncio. Hyoga engoliu em seco, inseguro se deveria ter mentido.

            -Me desculpe. – disse sem ânimo.

            -Porque pede desculpas? – o outro estranhou.

            -Porque lhe beijei a força e obviamente te desagradei. – Shun ia interrompê-lo, mas este continuou. – Como não tem mais volta, acho que deveria falar tudo de uma vez: eu te amo.

            Agora era a vez de Shun ter aquelas sensações clichês todas.

            -Me desculpe por isso. – Hyoga completou apressado quando percebeu que o outro não conseguia encará-lo.

           

            Shun pensava várias coisas ao mesmo tempo. Hyoga era um amigo querido? Era. Mas amor? Ele nunca havia pensado nisso. Ele sentia que tinha uma amizade diferente com Hyoga. Os dois gostavam demais de passar o tempo juntos, sozinhos. Embora Shun adorasse passar o tempo com Shiryu e Seiya também, o tempo com Hyoga tinha algo diferente, ele não sabia precisar o que exatamente.

            E aquela declaração? Ele não esperava... E porque sentia estranho daquele jeito? Medo de perder uma amizade como aquela? Então porque não sentia medo, mas felicidade?

            -Hyoga, eu não sei... – começou inseguro.

            -Não tem problema. Acho que precisava falar. Não estou lhe cobrando nada, só acredito que antes eu faça outra besteira, você deveria saber. – se apressou a dizer desanimado.

            O loiro já se virava para ir embora e se lamentar como uma garotinha pelo resto da vida quando sentiu a mão de Shun em seu pulso. Observou o gesto e depois o olhou quando este começou a falar.

            - Ouça. Eu ia dizer que não sei por que você não disse isso antes. – o outro fez uma cara espantada, ele sorriu antes de continuar. – Eu não tinha percebido ou parado para pensar, mas... A maneira como me senti depois daquele beijo... A maneira como me sinto agora... Acho que é amor.

            Se encararam e Hyoga sorriu finalmente. Se aproximou dele e segurou entre as suas, a mão de Shun que permanecera em seu pulso. Shun fechou os olhos instintivamente quando Hyoga lhe deu um selinho. Quando o loiro se afastou, foi a vez de Shun se aproximar e lhe roubar um beijo de verdade. Enquanto enlaçava seu pescoço com os braços, Hyoga enlaçou sua cintura. A felicidade tomando conta de ambos enquanto se beijavam sem pressa.

            -Vocês viram meu irmão? – Ikki perguntou ao se aproximar de Shiryu e June que conversavam em frente ao “prédio-dormitório” dos cavaleiros de bronze.

            Os dois trocaram um olhar cúmplice antes de Shiryu responder:

            - Não se preocupe, ele está bem acompanhado.

            -Bem acompanhado? – Ikki estranhou. 

            - Ikki, - June resolveu responder dessa vez. – Acho que você deveria entrar e tomar um calmante.

            -Talvez dois... –Shiryu completou ao avistar Hyoga e Shun se aproximando de mãos dadas aos sorrisos.

Se apressou em empurrar Ikki para dentro enquanto este o encarava confuso.


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Notas finais do capítulo

[1] Pórtico: Espaço coberto cuja abóbada é sustentada por colunas e que serve de entrada. Helênico, pois possui características gregas antigas.