Aquela foi uma noite muito difícil para Mayumi. Dormiu mal e os poucos momentos que conseguia pegar no sono a faziam lembrar cada vez mais de Hugo. Finalmente o quebra cabeça chega ao fim. As sensações que ela sentia as frases que escutava os pesadelos que pareciam tão reais. Tudo havia se montado em sua mente. As memórias que seriam melhor nunca terem sido recuperadas.

O dia seguinte às recordações não foi nada fácil. No trabalho Mayumi não conseguia se concentrar em nada do que fazia, porém as lembranças de Hugo ficavam cada vez mais claras.

Um misto de emoções dominava a jovem, que não sabia o que fazer quanto a isso. Resolveu então ligar para Manuela.

 - Alô, Manu? Preciso falar com você urgente. Eu me lembrei de tudo, me lembrei do Hugo. Sim, mas estou um pouco confusa com algumas coisas e sei que você pode me ajudar com isso, você prometeu. Certo, assim que sair do trabalho passo na sua casa.

As horas custam a passar, mas finalmente Mayumi vai se encontrar com a amiga. Ao chegar encontra Bel lá também.

 - Bom May, como você se lembrou de tudo, achamos justo nós duas juntas falarmos sobre isso com você. – diz Bel.

 - Tudo bem, como vocês quiserem. Só queria entender porque não me falaram nada sobre ele antes, eu tinha o direito de saber!

 - May, o Hugo te fez sofrer muito, não queríamos que você se lembrasse disso pela gente. Se fosse pra você lembrar, preferíamos que fosse sozinha, como aconteceu. – diz Manu.

 - Esse cara te fez sofrer demais May, e como suas amigas sofríamos com isso. Tenta entender o nosso lado, por favor. – diz Bel.

 - Ta, tudo bem, mas apesar de ter me lembrado dele e de algumas coisas, tudo parece embaralhado na minha mente. Eu só quero organizar isso tudo.

 - Eu disse que responderia a qualquer pergunta sua sobre isso se você se lembrasse de algo e é o que vou fazer.  – diz Manu – O que você lembrou que ainda está confuso pra você?

 - Tantas coisas Manu. Até agora eu só tive lembranças ruins com ele. Não entendo como eu pude ficar com alguém que me fazia mal.

 - A culpa não é sua May. No começo o Hugo parecia ser um cara legal, mas foi depois que ele se mostrou de verdade.  – diz Bel.

 - Como assim Bel? – pergunta Mayumi confusa.

 - Bom May, vamos te contar desde o começo ta? O que você nos dizia e o nosso ponto de vista ok? – diz Manu.

 - Isso, aí você vai encaixando tudo melhor na cabeça. – diz Bel.

  - Entendi, podem começar, estou pronta, pelo menos é o que acho! – diz Mayumi

 - Você conheceu o Hugo em uma festa que foi com a gente, por sinal nessa mesma festa eu conheci o André e a Bel o Rogério. Eles chegaram na gente e começamos a conversar, numa boa. Pouco depois os casais se formaram.

 - O Rogério e eu, o André e a Manu e o Hugo ficou conversando com você lá na mesa onde estávamos mesmo. Você lembra disso?

 - Bom, agora com vocês falando ta ficando mais claro. Continuem por favor.

 - Certo. Depois disso cada casal foi pra um canto, só nos vimos depois na hora de ir embora. Você e a Manu dormiram na minha casa.

 - Isso, aí você disse que o cara te beijou de um jeito estranho, chegou até te machucar. – diz Manu.

 - Isso, lembro disso. Era como se ele estivesse fazendo forçado, sei lá. – diz Mayumi.

 - Foi assim mesmo que você disse pra gente. Depois disso ele sumiu, mas voltou a te ligar quase uma semana depois da festa, não me lembro bem. – diz Manu. – E nessa ligação vocês marcaram de ser ver.

 - Você não tava muito a fim exatamente pelo jeito que foi a ficada de vocês, mas ele pareceu diferente e você foi. Logo depois disso vocês começaram a namorar. – diz Bel.

 - Você lembra do seu namoro amiga? – pergunta Bel.

 - Sim, mas não lembro ao certo e tempo que fiquei com ele.

 - Menos de um ano May. Na verdade nem sei como você agüentou tanto. – diz Manu.

Mayumi a olha sem entender.

 - May, nós dissemos que falaríamos o nosso ponto de vista também! – diz Bel.

 - Tudo bem, entendi. Vamos fazer assim, digam primeiro o que eu dizia e depois o que vocês achavam. Tudo bem?

 - Certo. – diz Manu. – Você dizia que o Hugo era frio com você, que ele sempre parecia estar de mau humor por alguma coisa.

 - Agora com você falando to lembrando. Ele mal sorria comigo.

 - Isso May. Ele também não curtia muito quando saíamos todos juntos, sempre ficava com a cara amarrada. – disse Bel. – Só depois descobrimos que na verdade ele era só um colega do Rogério, nada muito próximo.

 - Você sempre curtiu sair com a gente, mas pra não ficar com clima ruim com ele começou a sair menos. – diz Manu. – Mas mesmo assim você dizia que ele não parecia feliz. Ele mal saia com você.

 - Então por isso que eu só encontrei uma foto com ele, por sinal ele nem sorria.

 - Mas a culpa não era e nem foi sua amiga. Ele era assim, mas acho que você sempre preferiu ver as qualidades do que os defeitos dele, sei lá! – diz Manu.

 - O Hugo parecia um cara fechadão e tal, por isso achávamos que ele estava na dele. Mas depois você foi falando mais dele, como era realmente. Aí que fomos ficando com raiva dele. – diz Bel.

 - Certo, entendi, mas quero que vocês vão direto a parte que mais tem me incomodado, onde meus pesadelos e lembranças tem ficado mais confusos.

 - Acho que sei o que você quer saber. Está certo amiga, vamos falar do jeito que você nos contou certo? – diz Manu – Mas já avisamos que talvez seria melhor você realmente não ter se lembrado.

 - Eu sei, mas quero e preciso saber. – diz Mayumi tensa.

 - Bem, todas nós começamos a namorar muito perto uma da outra e logo nos tivemos a nossa experiência.

 - E tínhamos combinado que quando rolasse, íamos contar uma para as outras. A primeira foi eu, depois a Manu e depois você.

 - Ficávamos felizes e ansiosas ao mesmo tempo. Até que chegou o dia que você nos contou sobre a sua May. Mas você estava triste. – diz Manu

 - Você disse que se sentiu muito mal, usada. Ele não foi nenhum pouco carinhoso, só pensou nele. Ficamos com muita raiva e tristes ao mesmo tempo, mas achamos que isso foi porque tinha sido a primeira vez e geralmente a primeira vez não é boa mesmo.  – diz Bel – Achamos que com o tempo fosse melhorar.

 - Mas não melhorou não é? – pergunta Mayumi triste.

 - Pelo o que você nos dizia não. Vocês só transaram três vezes em quase um ano juntos. Quando você tentava fazer um clima ele nunca estava a fim, mas quando era ele que queria, não importava nem a sua vontade. – diz Manu.

 Mayumi fica imóvel olhando para o nada. Agora todas as lembranças ficam claras em sua mente, como se tivessem acabado de acontecer.

 - Eu lembrei de tudo agora. Não são flashs confusos, é como se estivesse vendo um filme. Ele só foi carinhoso comigo uma vez e logo depois vi que foi tudo fingimento.

 - Mayumi, juro que não queria que você se lembrasse dessas coisas, mas... – diz Manu.

 - Tudo bem Manu, foi melhor assim. Melhor agora do que de repente e por outra pessoa. – diz Bel. – Espero que você nos perdoe amiga.

 - Perdoar vocês? Não tenho o porque perdoar vocês, pelo contrário, tenho que agradecer. Vocês quiseram me poupar. Só amigas de verdade fariam isso. – diz abraçando as amigas.

 - O que importa é que você está bem agora May. Feliz, isso é o que importa. – diz Bel.

 - Isso amiga. Torço muito por você e o Vagner. – diz Manu.

 - O Vagner! – diz Mayumi se afastando das amigas. – Acham que eu devo falar disso com ele?

 - Acho que sim May. O Vagner é super gente boa e ta curtindo ficar com você. Não vejo problemas em falar, afinal, mesmo que tenha sido uma fase ruim, é sua vida. – diz Manu.

 - Concordo com a Manu May. Ele vai entender, até porque vocês têm uma química legal, qualquer um vê isso.

 - Vou falar com ele então. Só tenho medo de uma coisa. Mais cedo ou mais tarde ele se mostrar como o Hugo.

 - Nunca Mayumi, pode confiar. Conheço o Vagner faz tempo, ele é exatamente o que você vê. Ele nunca faria com você o que o mané do Hugo fez certeza. – diz Manu.

 - Vocês têm razão, vou falar com o Vagner. É um assunto meio constrangedor pra mim, mas é melhor falar logo. Só me digam mais uma coisa, por favor.

 - Só perguntar May. – diz Bel.

 - Lembrei que o Hugo terminou comigo e eu sai sem rumo, chorando. Foi aí que fui atropelada. Mas que fim ele levou ao certo? Ainda mora por aqui?

 - Não. Ele mudou pra praia, foi morar com a irmã dele e tentar se reconciliar com a putinha dele. – diz Manu. – Pode ficar tranqüila que você não corre o risco de trombar com ele por aqui.

 - Menos mal, não sei se estou pronta para ver ele outra vez.

 - Relaxa amiga, esse traste está bem longe agora, até porque ele deve imaginar que está sendo procurado por aqui!  - diz Bel.

 - Mais uma vez agradeço vocês gente, de verdade. Agora vou pra casa colocar tudo em ordem na minha cabeça e pensar em como falar disso com o Vagner.

 - Vai lá amiga, qualquer coisa é só dar um grito. – diz Bel se despedindo de Mayumi.

Mayumi vai para casa e toma um banho bem demorado. Agora que definitivamente se lembrou de tudo o que passou com Hugo sente paz e ao mesmo tempo fica receosa. Não quer viver aquilo de novo. Lembra-se das palavras de Manuela, dizendo que Vagner e Hugo não eram iguais, mas apesar disso, ela não tinha certeza.

Avisa aos pais que vai sair e que não sabe que horas volta, mas que vai estar com o celular ligado. Para economizar tempo pega um ônibus e vai até a casa de Vagner.

Ele está em casa vendo televisão, nem imagina que Mayumi está indo lá. Estava apenas com uma calça de moletom e uma camiseta surrada que usava para dormir.

Enquanto passa todos os canais da televisão com o controle remoto, a campainha toca. Ele estranha, pois não está esperando ninguém, mas vai atender. Ao abrir se surpreende ao ver Mayumi.

 - Japinha? O que faz aqui essa hora?

 - Preciso falar com você. Posso?

 - Claro, entra aí. – diz dando passagem para ela, que vai até o quarto e se senta no sofá, que já está montado com cama.

Vagner senta ao seu lado e desliga a televisão.

 - Nossa você parece tensa, o que aconteceu?

 - Eu me lembrei de tudo Vagner. Descobri o porquê dos meus pesadelos, das sensações que tinha do nada. Finalmente eu me lembrei de tudo, detalhe por detalhe.

 - Que coisa boa japinha!

 - Não sei se você vai achar isso depois que eu te falar tudo o que lembrei. Talvez você até mude comigo.

 - Bom, pode começar a falar então. – diz olhando fixamente para ela. – Porque acha que posso mudar com você?