Depois de fazer uma bateria de exames, Mayumi teve alta e pôde voltar para sua casa. Estava sendo tudo muito confuso para ela. Aquela casa, aquelas pessoas, não se lembrava de nada daquilo. Mal se lembrava dela.

Os pais de Mayumi tinham o receio da filha nunca se lembrar deles, dela em si. Porém seguiram os conselhos do médico.

Sempre mostravam fotos para Mayumi, vídeos caseiros, tudo o que lhe pudesse trazer suas lembranças de volta, mesmo que em pequenos flashs.

Bel e Manu visitavam a amiga todos os dias. Elas também estavam sendo fundamentais para a recuperação da jovem.

Em uma dessas visitas Manu e Bel levaram várias fotos e mostravam para Mayumi, que olhava para todos muito confusa.

 - Meu Deus, to vendo que sou eu, que estou com vocês, que pareço feliz, mas não consigo me lembrar de nada. – dizia olhando uma das fotos em sua mão.

 - Calma May, com o tempo você vai lembrar, tenho certeza. – dizia Manuela.

 - Isso mesmo. O que você acha de dar uma volta com a gente hoje? Vai te fazer bem. – diz Bel.

 - Não sei...

 - May, você tem que sair, precisa viver sua vida. Olha a segunda chance que Deus te deu garota, você podia estar morta agora. – diz Manu.

 - Eu sei isso eu sei. Onde vocês querem ir? – pergunta Mayumi.

 - O V5 vai tocar hoje, quer ir? – pergunta Bel.

 - Quem? – pergunta Mayumi com cara de interrogação.

 - Ah é, esqueci que você perdeu a memória. V5 é a banda daquele amigo da Manu, o Vagner. Dele você lembra né?

 - Bem, só lembro porque pelo o que ele me disse e vocês também, só conheci ele depois do meu acidente. Mas nem sabia que ele tinha banda.

 - Pois é, tem sim e os caras arrebentam May, você vai gostar, na verdade você gosta, mas não lembra! – diz Bel fazendo Mayumi sorrir.

 - Então estamos combinadas Mayumi. À noite passo aqui com o André pra irmos. Pode ficar tranqüila que te trazemos de volta pra casa. – diz Manu.

 - Tudo bem então. – concorda a jovem.

 A noite pouco antes de ir se arrumar Mayumi fica olhando as fotos que seus pais e suas amigas lhe levaram. Por mais que se esforce não consegue lembrar de nada.

 - Quem sou eu afinal? – pergunta a si mesma olhando aquelas fotos.

Ela decide ver suas roupas e escolher uma para sair com as amigas. Ela tenta se lembrar de cada peça que está em seu guarda-roupa, mas é tudo em vão. Não consegue se lembrar se tinha comprado àquelas roupas ou ganhado de alguém.

Era uma noite quente e ela optou para ir para o tal show com um vestidinho preto e uma sapatilha. Deixou os cabelos soltos sobre os ombros e colocou uma maquiagem bem discreta. Olhou-se no espelho e se achou bonita.

 - Será que já usei essa roupa alguma vez? Será que eu sou assim mesmo?

Enquanto falava com o espelho ouviu uma buzina e em seguida sua mãe avisando que era Manu e André. Despede-se da mãe e sai.

Eles chegam cedo ao lugar e conseguem lugares em mesas próximas ao palco. Eles ficam conversando e pouco depois Bel chega com Rogério.

 - Uau May, você está linda! – diz Bel. – Esse vestido sempre ficou show em você.

 - Que bom! Não sabia se já o tinha colocado antes.

 - Está linda mesmo. Eu estava com você quando você o comprou. Mas logo você vai lembrar. – diz Bel abraçando a amiga.

Enquanto abraça a amiga, Mayumi sente uma leve beliscada em sua cintura. Ao virar-se vê Vagner.

 - Oi japinha, tudo bem com você?

 - Ah, oi. – diz colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha – To bem e você?

 - Melhor agora. É a primeira vez que você vai ver a banda tocar né?

 - As meninas disseram que eu já vi...

 - Vou considerar hoje a primeira vez. Espero que você goste. – diz lhe dando um sorriso e saindo.

Mayumi sente o rosto esquentar, mas não entende o porquê daquela reação.  Algum tempo depois e a banda começa a se preparar no palco. Algumas vezes Mayumi se pega olhando para Vagner, mas logo desvia o olhar.

Durante o show Mayumi curte com as amigas, mas não se lembra de ter ouvido nenhuma daquelas músicas antes. Ela decide ir até o banheiro ver como estava sua maquiagem. Manu se ofereceu para ir com ela. Enquanto estavam lá, uma determinada música começa. Nela o primeiro instrumento a aparecer é a bateria. Mayumi encara o espelho como se não estivesse olhando pro nada e em seguida da maneira mais natural possível começa a cantar a música junto com o vocalista.

Manu que estava dentro do banheiro sai e olha a amiga, sorrindo em seguida.

 - May, você ta cantando! Você lembrou da música, você lembrou!

 - É eu lembrei, eu lembrei! – diz Mayumi abraçando a amiga.

 - Vamos contar pra Bel, ela vai ficar muito feliz! – diz Manu levando a amiga pela mão de volta a mesa que estavam.

 Quando chegaram, Manu e Mayumi estavam com um sorriso de orelha a orelha e contaram para Bel o que havia acontecido. Bel começou a comemorar com elas quando o vocalista da banda começou a apresentar cada integrante, como sempre fazia.

Ao ouvir a voz dele, Mayumi novamente tem um flash e fala junto com o mesmo.

 - O Vitor. No baixo temos o Valter, guitarra Vitinho, teclado Vini e bateria Vagner. Eu lembrei o nome deles gente, eu lembrei! – diz Mayumi abraçando e pulando com as amigas.

 - Sabia que trazer você pra cá hoje seria uma boa idéia. – diz Bel sorrindo.

 - É isso amiga, com o tempo você vai lembrar de tudo, você vai ver! – diz Manu.

A noite corre melhor do que estava. Mayumi e as amigas estão muito felizes devido às lembranças que ela teve. A noite não podia estar sendo melhor.

Mayumi está sentada papeando com as amigas quando Vagner chega e senta ao lado delas e puxa assunto.

 - Qual é a fofoca da vez cabeça de fogo? – pergunta para Manu.

 - A Mayumi lembrou de algumas coisas hoje.

 - Sério japinha? Que bom! Nossas músicas ajudaram então?

 - Na verdade, foi uma das músicas que eu lembrei primeiro. Uma que começa com a bateria. A batida me trouxe a letra na cabeça.

 - Viu só Vagner? Logo a música que começa com a bateria... – diz Manu dando uma piscadinha para o amigo que ri.

Nisso André se aproxima dizendo que não está muito bem e que Manuela vai ter que dirigir.

 - Poxa amor, já? Ta tão legal. – diz Manu decepcionada.

 - Desculpa Manu, mas aquelas entradas me deixaram zoadão!

 - Desculpa May, mas temos que ir. – diz Manu para Mayumi.

 - Porque ela tem que ir junto? Deixa ela aqui. – diz Vagner.

 - Prometemos levar ela em casa Guinho, ta tarde.

 - Deixa, eu levo ela. Pode ser japinha? – pergunta Vagner encarando Mayumi.

Ela olha pra Manu que faz um sinal de que por ela tudo bem. Manu na verdade gostou da atitude do amigo.

 - Se eu não for atrapalhar... – diz Mayumi com o olhar baixo.

 - Nada a ver, relaxa! – responde Vagner descontraído.

Manu então se despede dos amigos fazendo um sinal para Vagner sem que Mayumi perceba. Ele responde o sinal sorrindo.

Ele e Mayumi ficam por um bom tempo conversando até que ele nota que ela começa a olhar no relógio.

 - Quer ir já? – pergunta Vagner.

 - É que já ta tarde...

 - Tudo bem, vamos então.

Eles andam lado a lado até chegarem a um estacionamento. Quando Vagner se aproxima de uma moto Mayumi fica paralisada.

 - Nós vamos... Nela? – diz apontando a moto.

 - A intenção é essa. – diz Vagner.

 - É que eu não tenho boas recordações de moto desde o meu acidente. Foi uma moto que me atropelou, disso eu me lembro.

 - Meu que mancada, desculpa! – diz Vagner envergonhado.

 - Tudo bem, eu vou sozinha, a rua ta cheia porque está calor.

 - De jeito nenhum! Vou resolver isso. – diz Vagner pegando seu celular.

Mayumi chegou a pensar que ele pediria um táxi, mas Vagner fez algo até então inesperado pra ela.