Mayumi levanta e vai até o banheiro fazer sua higiene pessoal. Não nota nenhum sinal de Hugo e começa a ficar preocupada.

Volta para a cama e fica deitada quando ouve o celular de Hugo tocar. Ele o havia deixado na mesa do computador. Ela pensa em atender, mas ouve a porta do quarto dos pais de Hugo abrir finge estar dormindo.

Hugo vai até o quarto e atende o celular. Mayumi ouve a conversa sem entender muito do que se tratava.

 - Alô. Oi mana, tudo bem? Não, to em casa de boa. É, falaram pra eu ir junto, mas tinha uma coisa pra fazer aqui e resolvi ficar. E porque eu teria gostado de ir? Como?

Mayumi começa a ficar intrigada e finge estar despertando, se virando na cama. Ao ver ela se mexer Hugo sai do quarto e fecha a porta, mas ela ainda consegue ouvir o que ele fala do lado de fora.

 - Ela ta aí? Sério mesmo? E como ela ta? Você não devia ter me dito isso, agora vou ficar aqui com a cabeça cheia. Como não tenho motivo? To namorando sim, mas e daí, o que tem a ver?

A conversa começa a tomar um grau diferente e a voz de Hugo começa se alterando. Discretamente Mayumi vai até a porta, encostando a orelha na mesma para ouvir com mais clareza.

 - Não, pensa que não tentei? Ela não sai da minha cabeça, por mais que eu tente.

Mayumi escuta tudo e começa a ficar intrigada. “Ela” quem?

 - Sabe aquela sua conversinha de irmã mais velha? Que se cura um amor com outro? Pois não ta nem perto de acontecer comigo, tudo papo furado.

Mayumi já sente seus olhos ficarem marejados. Hugo escondia algo dela e pelo o que percebia, era uma mulher. Ela não agüenta mais ficar trancada no quarto e resolve sair. Seca os olhos e age como se tivesse acabado de acordar. Hugo vê e dá um jeito de cortar o assunto com a irmã.

 - Certo, vou ver o que posso fazer, agora tenho que ir. Fui.

Mayumi fica um pouco no banheiro fazendo hora e quando sai encontra Hugo na cozinha. Ela faz o possível para agir naturalmente.

 - Bom dia.

 - Bom dia Mayzinha, dormiu bem? – pergunta Hugo também fingindo uma naturalidade.

 - Sim e você?

 - Também. Ah, não tenho algo muito bom pra contar.

 - O que aconteceu?

 - O carro do meu pai quebrou lá na praia e vou ter que ir buscar ele e minha mãe hoje ainda. Você vai ficar muito chateada se te deixar em casa?

 - Não, tudo bem, afinal é uma emergência. Vou terminar de tomar café e já me troco pra ir ta?

Hugo concorda e espera Mayumi se arrumar. Enquanto faz isso fica pensativo, mostrando ansiedade e preocupação. Mayumi nota e pergunta o que houve, mas ele desvia o assunto.

 - Não é nada, só to com um pouco de dor de cabeça, já vai passar.

Ela não engole a desculpa, mas continua fingindo estar numa boa.

Hugo a leva para casa e se despede friamente.

 - Te vejo amanhã? – pergunta Mayumi.

 - Não sei. Mas eu te ligo. – diz lhe dando um selinho e saindo.

Mayumi entra em casa e nota que os pais não estão. Provavelmente seu pai foi trabalhar e sua mãe deve ter ido fazer compras ou algo do tipo. Ela está intrigada com a conversa que ouviu e depois com o comportamento de Hugo, precisa dividir aquilo com alguém ou vai explodir. Resolve ligar para Manu.

Elas marcam de almoçarem juntas. Na hora marcada Manu já está à espera de Mayumi.

 - O que aconteceu May? Você parecia nervosa. É algo com o Hugo não é?

 - Isso mesmo Manu. Ta acontecendo alguma coisa com ele, mas ele não me diz nada, só pra variar.

 - Calma, me conta o que está acontecendo.

Mayumi começa a contar sobre a conversa que teve com Hugo desde o show até a ligação misteriosa que o fez ir correndo para a praia.

 - Não entendo Manu, ontem ele foi todo romântico, pareceu se importar pela primeira vez comigo, me tratou super bem e hoje do nada diz que tinha que ir pra praia por causa dos pais e nem deu certeza se o verei amanhã.

 - Realmente isso ta estranho. Já que ele teve que ir pra praia, podia ter ao menos te levado junto, porque não?

 - Mas o que mais me intriga é a parte da conversa que te falei. Pelo o que entendi, ele estava falando com a irmã dele, eu não a conheço, mas ele fala muito dela.

 - E que parte te intrigou mais?

 - A que ele disse alguma coisa como “se cura um amor com outro” e ele não estava conseguindo. Isso não sai da minha cabeça.

 - Você acha que tem mulher no meio? Que ele está te traindo?

 - Só pode! Aí Manu, to me sentindo péssima.

 - Eu entendo May, mas não fica assim, tenta se distrair, eu ate ajudo se quiser, mas não fica pensando nisso. Pode não ser nada e você ta aí se torturando.

 - Mas eu não consigo pensar em outra coisa!

 - Tudo bem, vamos mudar de assunto. Hoje o André vai ver a avó no hospital, o que acha de irmos ao cinema? Vai ajudar a te distrair.

 - É uma boa idéia.  – concorda Mayumi sorrindo.

 - Combinado então, assim que terminarmos o almoço vamos ao cinema. Ah, lembra daquele meu amigo de infância, um que eu falava muito?

 - Lembro mais ou menos. Depois que você mudou perderam o contato, é isso?

 - Isso. Você acredita que sem querer descobri que ele é o amigo do André que tem a tal banda? Que mundo pequeno né?

 - A banda que fomos ver e acabamos nos desencontrando? V sei lá o que acho!

 - Isso mesmo. Nossa, achei o máximo rever ele depois de tanto tempo!

Mayumi e Manu ficam conversando durante o almoço e depois vão ao cinema como haviam combinado. Isso ajudou a distrair a mente de Mayumi, mas o domingo foi um dia difícil. Ela não conseguia parar de pensar em Hugo e no que estava acontecendo com ele. Tentou ligar no celular dele, mas dava caixa postal. Desistiu e esperou que ele a ligasse, o que não aconteceu.

A noite manu e Bel ligaram pra ela, conversaram um tempo, mas ainda não foi o suficiente para distrai - lá. Foi quando ela resolveu ligar na casa de Hugo.

O telefone chama algumas vezes e uma voz de mulher atende. Era a mãe de Hugo.

 - Oi Mayumi, como você está?

 - Bem dona Marlene, posso falar com o Hugo?

 - Ele ficou lá com a irmã dele, acho que só volta amanhã à tarde.

 - Amanhã à tarde? Mas e o trabalho dele?

 - Foi o que perguntei também, mas ele disse que pegou férias na sexta-feira. Você não sabia? – pergunta a mãe de Hugo confusa.

Mayumi fica chocada, mas não demonstra para a mãe de Hugo.

 - É verdade, falou sim, eu que esqueci. Tudo bem então dona Marlene, falo com ele depois. Boa noite. – diz Mayumi desligando o telefone.

Ela não sabe o que fazer. Hugo havia mentido para ela, mas por quê? O que estava acontecendo afinal?

No dia seguinte Mayumi vai trabalhar, mas está com a cabeça cheia de pensamentos. Ela precisa falar com Hugo e saber de uma vez o que está havendo. Ela liga para ele diversas vezes, mas ele não a atende. Isso se levou por três dias, até que Mayumi não agüentou mais e antes de fazer alguma besteira pediu um conselho para Manu.

Depois de ouvir o que Mayumi disse Manu lhe aconselha.

 - Olha amiga, acho que está na hora de vocês conversarem mesmo. Se a Bel estivesse aqui com certeza ela diria que você está sendo muito boazinha e se fosse ela já teria ido a casa dele.

 - Já pensei nisso viu!

 - Calma May, liga pra ele e coloca tudo em pratos limpos, ele não vai ter pra onde fugir. Qualquer coisa me liga.

Mayumi segue o conselho da amiga e liga para Hugo, que mais uma vez não atende. Ela está decidida a ligar até ele atender, está cansada de ser feita de idiota. Algumas tentativas depois, Hugo finalmente atende o celular.

 - Oi Mayumi. – diz sem graça. – Tudo bem?

 - O que você acha Hugo? Porque não quis me atender?

 - Estava tomando banho.

 - Seu banho dura dias? – diz ela ouvindo um suspiro de Hugo do outro lado da linha.

 - Desculpa, vacilei com você de novo.

 - Jura que você notou? Quero conversar com você Hugo, mas não por telefone.

 - Tudo bem, tenho que falar mesmo com você. Você pode daqui meia hora me encontrar naquela praça perto da pizzaria?

 - Posso. Até lá Hugo. – diz Mayumi desligando o telefone nervosa.

Meia hora depois Mayumi e Hugo se encontram. Ela está com um semblante bem nervoso, enquanto ele parece preocupado com algo.

 - Pronto Hugo, estamos aqui. Quem começa a falar? – diz Mayumi nervosa.