Justin caminhava paciente pelas ruas de Paris. Ele procurava um cabeleireiro, ou algo do tipo, e jurava que havia visto um pequeno salão, quando parou no semáforo no dia em que chegara à cidade luz. O garoto bagunçou a franja, pensando que já estava na hora de se desfazer dela, afinal ele já tinha 17 anos e não mais 14. 

            Assim que chegou à mesma rua que havia visto o salão, o garoto já pode ver de longe a pequena porta de vidro, com o nome do local. Deveria ser algo como o nome do proprietário, ou algo assim. Ele caminhou mais rápido e logo já se encontrava parado em frente à mesma, fitando seu reflexo na porta de vidro, enquanto pensava no que fazer com a velha companheira. Justin empurrou a porta, fazendo com que ela emitisse um som parecido com o de um sino e olhou ao seu redor. Havia um homem alto e magro sentado em um canto, enquanto outro cortava os cabelos brancos de um senhor, que estava sentado de frente para o espelho.

            Ele apertou os lábios e caminhou lentamente até um pequeno acento, sentando-se ao lado do magrelo alto. O garoto entrelaçou os dedos, deixando-os descansarem sobre seu colo, enquanto observava pacientemente o homem que cortava os cabelos do velhinho em uma rapidez surpreendente, fazendo-o pensar que logo seria a vez dele.

            O garoto ficou algum tempo somente imaginando mil cortes em sua mente, mas não conseguia ter uma idéia fixa e a única coisa que ele se perguntava é se tirava ou não a franja. O que fazer? Perguntou-se pela última vez, antes de dar outra olhada em sua volta.

            Justin ouviu algum deles protestar algo e levantou a cabeça, olhando-os com atenção.

            -Sua vez! – disse o homem que antes cortava os cabelos do velho.

            O menino encarou o homem sentado ao seu lado, que lia uma revista e quem sequer notara o olhar do menino sobre si.

            -Pode vir! – Justin deu de ombros e se levantou, indo em direção a cadeira e sentando-se rapidamente. – O que vai fazer?

            -Hã... Estava pensando em cortar, mas não muito, entende?

            -Vou ver o que posso fazer! – o garoto não se sentia tão nervoso em relação ao corte de cabelo não sair como ele estava planejando, afinal o cabelo voltaria a crescer e, talvez, ser como agora.

            [...]

            Isabella estava jogada no sofá de Pattie, enquanto assistia alguns clipes e via sua quinta latinha de coca-cola se esvaziar. O tédio a consumia, fazendo-a pensar que seu dia estava sendo o pior em toda a história da humanidade. A menina suspirou e encarou o teto, ouvindo a música invadir seus tímpanos, fazendo-a se imaginar como a protagonista do clipe, mas a campainha fez a realidade prevalecer em seus sentidos e ela bufar.

            A garota colocou a latinha de coca-cola em cima da mesa e caminhou preguiçosa até a porta, sem nem ao menos se preocupar em ver quem era. Isabella arqueou uma sobrancelha e encarou o garoto parado em sua frente.

            -Prometi à Justin que cuidaria de você. – disse rapidamente, antes que ela pudesse protestar algo. - E vou fazer isso!

            -Mas... – ela parou por alguns instantes e suspirou derrotada. – Entra!

            Ryan sorriu vitorioso e entrou um pouco hesitante, caminhando até o sofá e franzindo a testa, enquanto ela o observava.

            -O que foi? – perguntou a garota.

            -É assim que planeja passar o sábado? – ela franziu a testa e se sentou ao lado dele. – Vendo clipes antigos na TV?

            -Tem sugestão melhor?

            -Que tal um cinema, um passeio, ou um sorvete? Eu não sei, pode ser qualquer coisa! – disse, enquanto trocava de canal.

            -Hã... Não Ryan, é melhor não! – ela balançou a cabeça negativamente e o encarou.

            -Por que não? – Isabella apertou os lábios e desviou seu olhar. – Olha, eu sei que você o ama, mas não pode passar o tempo todo dentro de casa, assistindo clipes e movida a coca-cola! – ela bufou. Não quero conselhos, Ryan! Pensou. – Sei também que ele é seu namorado, mas independe disso você tem uma vida, uma adolescência, e precisa vive-la, ok? 

            -Ei, eu só não estou a fim de sair, ok? – perguntou- Só isso!

            -Bella? Quem está ai com você? – a voz de Pattie ecoou pela casa, logo passos na escada puderam ser ouvidos e ao mirar seus olhos para a mesma, Isabella e Ryan puderam ver que ela já estava quase chegando à sala.

            -Ryan! – respondeu a garota, enquanto observava o novo clipe que passava na TV.

            -Oh, olá Ryan! – Pattie abriu um pequeno, porém sincero, sorriso ao garoto, que retribuiu imediatamente. – Veio lembrar nossa pequena que ela ainda tem uma vida social, e que deve sair de vez em quando?

            -Estou tentando tia Pattie! – respondeu o garoto, logo após dar uma leve risadinha pelo nariz. Isabella revirou os olhos e encarou fixamente o aparelho de TV. – Mas, sabe, Isabella é exageradamente teimosa!

            -Sei disso melhor que você meu jovem, acredite!

            -Ei, isso é algum tipo de conspiração contra a minha pessoa? – perguntou a garota, enquanto se limitava exclusivamente à TV.

            -Depende! – disse Ryan. – Se isso fizer com que você finalmente coloque os pés pra fora de casa, para ir a qualquer outro lugar que não seja a escola, então sim, isso é uma conspiração!

            A menina bufou e revirou os olhos, sentindo olhares sobre si. Eles iram te infernizar até que aceite! O pensamento lhe soou mais como “a voz da consciência” do que qualquer outra coisa, mas de qualquer forma essa consciência, ou sei lá o que, estava extremamente certa. E já estava mais que na hora da garota sair um pouco de casa, afinal já estava quase completando um mês, desde a partida de Justin, e ela não havia se quer saído de casa, a única exceção era a escola, claro.

            -Ok, ok! – disse deixando o controle ao seu lado e levantando as mãos. – Eu vou! – disse vencida.

            Ryan e Pattie sorriram cúmplices e viram a garota suspirar, mas logo depois sorrir de canto, pensando que talvez fosse legal dar uma volta e se distrair.