— Ele quer que eu finja ser namorada dele.

— Você não pode fazer isso, Lizzie, você odeia ele, sempre odiou.

— Eu sei, mas é a única opção.

— Você tá enganada. A gente sabe que ele é bolsista e usamos isso contra ele.

— Não podemos mais...

— Aonde tá aquela declaração?

— Com ele, e a cópia que eu fiz também.

— Elize! Olha o que você fez, garota?! Acabou de entregar a faca e a cova pro assassino te matar!

— Mas eu vou fazer ele quebrar a cara e você vai ver, amiga.

— Tô achando que isso não vai dar certo, Lizzie, e se ele tiver aprontando alguma? Ele não é confiável.

— Bom... - suspirei - Hoje é o nosso primeiro dia, vamos ver o que acontece, né?!

— Boa sorte, muita sorte pra você, sua doida.

— Que Deus te ouça, agora vamos pra sala? Preciso relaxar um pouco.

— Relaxar na sala? É aula de Matemática agora.

— Put's...

...

O intervalo logo chegou e lá estava Mathhew Logan rodeado por seus "amigos" de time, sentados numa redonda mesa no refeitório, e percebi que Mathhew me esperava. Meu estômago embrulhava só de ouvir a voz e as risadas de Matthew. E ainda a expressão de dominador que ele demonstrava, também só aumentava a minha raiva e o nojo de ter que fingir ser namoradinha dele.

Assim que ele me viu, avisou um de seus amigos para sair de uma cadeira ao lado dele e ajeitou-a para mim. Fingindo cavalheirismo:

— Pensei que não ia aparecer! - sorriu, sarcástico.

— O que ela faz aqui? - perguntou seu amigo Jason McCollin, um loiro dos olhos castanhos e cheio de sardas no rosto.

— Ela é.. a minha nova namorada! - disse com um tom de autoridade, como se eu já fosse dele.

— Isso é alguma sacanagem? - ironizou Daniel Richards ao lado de Jason, também um dos caras mais disputados entre as garotas do colégio por ter um par de olhos azuis lindos e um sorriso de dar inveja, mas outro merdinha também.

— Não, não, Daniel, é verdade! Acabamos tendo uma bela conversinha e percebemos que discutindo e provocando um ao outro não era bem um certo caminho, não é, Lizzie? - voltou seu braço em meus ombros.

— Éeeerr... - revirei os olhos - Ele tem toda a razão.

— quem diria, hein? Matthew e Elize, juntos!

— E aí, Daniel, vai deixar o Matt ser o comelão daqui? Cata a amiguinha dela, é um filézinho também! Como é o nome dela mesmo?...

— Alice. - respondi à Jason, pasma - É Alice o nome dela e nenhum de você tem sequer uma chance com ela!

— Aí, Matt, tua mina já duvidando do nosso poder aqui.

— Lizzie, meu amor, pode acreditar: se a gente quer alguma coisa, a gente consegue.

— Tão simples assim? - zombei.

— Com o tempo você vai ver.

— Esse namoro de vocês ainda me parece muito estranho... - disse Nichols Reeffman, mais um de seus amiguinhos inúteis, um mulato de lábios bem carnudos e olhos grandes. Estava indiferente, ao observar a cena dos "pombinhos".

— Só por quê ainda não rolou nenhum beijinho nosso perto de vocês, é? - Matthew sorriu de lado, olhando para mim malicioso.

— Matthew! - o olhei, incrédula, então o toquei para tirar seu braço de meu ombro e do nada ele deu um pulo estranho.

— Ei! - chamou minha atenção.

— Que foi?

— Éerrr... nada, vem aqui comigo. - falou levantando-se e puxando-me pelas mãos, apressado.

— Onde você quer ir?

— Só quero conversar contigo, volto já, galera! - falou sem olhar para os garotos e saiu andando, segurando minhas mãos.

Matthew levou-me até o corredor dos armários, onde não havia tanto movimento, e parecia preocupado. Nossas mãos ainda estavam entrelaçadas e suavam estranhamente, então logo as soltei e o encarei:

— O quê você quer?

— Você me deu um choque, sua maluca! - sussurrou.

— Ficou doido, garoto?!

— É sério!

— Mas como?

— Eu sei lá, você quem é a sereia.

— Pára de falar isso aqui na escola?

— Mas você me deu um choque.

— Tá bom, que seja, mas eu não sei como isso aconteceu, tá? E vamos encerrar esse assunto.

— Beleza, mas... você fez isso justo na hora que falei sobre beijar?

— Você nunca vai me beijar!

— Você tá se garantindo demais.

— Mas é a realidade, querido. - eu disse sarcástica, me segurando para não rir, ou sorrir.

— Olha aqui... - ele segurou firme em meu rosto e em minha cintura, um tanto agressivo, empurrando-me contra um dos armários, mais me prensando do que me machucando, e continuou: - Você anda muito marrenta pro meu gosto, hein, Elize? E acho bom você começar a me tratar melhor, senão o seu segredinho de sereia pode ser o principal assunto na escola inteira e sua vida vai ser um inferno...

— Você não tem mais provas.

— Tem certeza? Esqueci de te avisar que gravei o vídeo no meu computador e...

— Como você não presta, seu idiota. - o interrompi, incrédula - Você me enganou.

— Eu não te enganei, só não falei sobre isso pra você não ficar ainda mais puta comigo.

— Não acredito que você aprontou mais essa...

— Eu não aprontei nada, sua garota lerda.

— Me solta, sai de perto de mim, nunca mais... encosta... em... mim...

A cada palavra minha, Matthew aproximava mais e mais seu rosto do meu, me deixando quase sem ar e sem mais palavra alguma. Pra mim era estranho ficar tão próxima assim de um garoto tão bonito como Matthew e principalmente que eu odiava. Eu já havia ficado com vários garotos bonitos e interessantes, mas a partir do momento em que Matthew me BEIJOU, esses garotos perderam este cargo.

Tentei empurra-lo mas de nada adiantava pois ele me pressionava contra os armários firmemente de uma maneira que me deixava confortável. Mesmo odiando beijar aqueles lábios tão macios e carnudos, sentir o seu calor e tocar sua pele, era envolvente.

Quando ele distanciou-se de mim, fitou minha reação completamente confusa com seus profundos olhos verdes amendoados e sorriu, de lado:

— Viu como consegui te beijar e você deixou?

— Você é um completo idiota.

— Mas sou seu namorado!

O empurrei pelos ombros e percebi que descarreguei um pouco de energia elétrica sobre ele. Aquilo me impressionou, e impressionou muito mais Matthew que distanciou-se de mim, espantado:

— Pára de dar choque em mim, caramba!

— É pra você aprender a me respeitar.

— Então tá, já tô te respeitando.

— Desde quando? Há 5 segundos atrás depois que te dei esse choque, é?

— Acho que sim, mas pelo menos vou passar a te respeitar.

— Não dá pra confiar em você, nunca deu e nunca vai dar.

— Beleza, então. Eu não vou deixar mais você ficar falando desse jeito comigo só porque agora você pode ir me dando choques.

— Foda-se você...

— Não, foda-se você, garota estúpida.

— Ai, garoto, então vê se me erra.

Caminhei apressada até o refeitório e sentei-me ao lado de Alice em uma das mesinhas ao centro. Ela me deu um tempo pra respirar fundo e aproximou sua cadeira da minha.

— O quê rolou?

— Ele me beijou e eu deixei... Ai, como ele é idiota.

— Como?

— Não preciso repetir, Alice.

— Por quê você deixou isso acontecer, amiga?

— Eu não sei, não consegui resistir.

— Você ainda odeia ele?

— Na real? Eu não sei, Alice, eu não sei...

— Lizzie...

— Desculpa, amiga, mas agora ele tá me deixando confusa.

— Os garotos sempre fazem isso, por isso é que gostamos tanto deles... - olhou para Alfred Martin, um cara super estranho e roqueiro da escola, que estava sentado no fundo do refeitório com seus fones de ouvido, distraído - Mas isso acontece, tem opostos que se atraem mesmo!

— Vamos esquecer isso? Acho melhor a gente sair daqui já... não quero ver o Matthew por um bom tempo.

— E você vai fazer assim? Você tem que se acertar com ele.

— Não...

— Vai lá!

— Não!

— Vai lá agora, Elize. Esqueceu que ele sabe de tudo?

— Oh, meu Deus!

Fiz então o que ela pediu, ou melhor, mandou.

Mas eu nem sabia o que iria falar pro Matthew. E se ele me desse uma patada com a ignorância de sempre dele? E se eu contasse o que eu sentia, e se por acaso eu sentia alguma coisa por ele, e eu quebrasse a cara se ele estivesse tramando alguma? Porque na verdade, nem eu sabia o que sentia por ele depois daquele beijo: se era ódio, atração, nojo ou até mesmo paixão... Mas eu tinha que continuar fazendo tipo de difícil pra saber qual era a dele.

(...)