Fiquei pálida.

Eu não esperava uma pergunta dessas, principalmente vinda dele. Eu realmente me sentia atraída por ele, pelo seu olhar, pelo seu sorriso, o seu jeito sedutor... eu também me importava muito com ele, mas paixão? Eu achava que não era bem assim, e soltei um NÃO SEI sem saber onde enfiar minha cabeça, morrendo de vontade de ser um avestruz nessas horas.

— Como assim você não sabe, Lizzie? - perguntou perplexo.

— Matthew... você mexe comigo sim, e muuuuuito. Tô adorando passar cada minuto a mais com você, mas tudo isso ainda é muito estranho pra mim...

— Então confessa que você pode se apaixonar por mim?

— Quem sabe.

— Você não tá à fim de outro cara ou é mesmo lésbica não, né? - Perguntou irônico.

— MATTHEW! - distanciei-me, o empurrando pelos ombros e descarregando energia sobre eles.

— Lizzie! Eu tava brincando, meu. - disse saltitante.

— Cada pergunta idiota que você me faz, hein?!

— Eu só queria saber, porque... eu tô ficando bem amarradão em você. - disse com a face já corada.

— Matt, tá falando sério, cara?

— Na real, confesso que sim. - murmurou.

— Você tá me assustando.

— Como assim? - perguntou puxando-me de volta ao seu corpo.

— Você não é assim, todo meloso.

— É você quem não me conhece direito, Lizzie.

— E é por isso que eu tenho que temer.

— Relaxa, gata.

— Você não cansa de dizer isso não, seu babaca.

— Minha gata, minha gata, minha gata!

Ele agarrou-me com mais força pela minha cintura e me beijou... É, ele sempre é o mais atrevido pra fazer isso: me roubando beijos saborosos e me fazendo ter sensações tão boas e inexplicáveis.

...

— Como você tá, minha filha? - Clarisse perguntou abraçando-me preocupada, quando cheguei em casa - Encontrou a sua outra mãe?

— Encontrei sim... nossa, aconteceu tanta coisa lá embaixo, mas antes de contar tudo pra vocês, eu vou tomar um loooooongo banho pra tirar esse cheiro de peixe que eu tô!

— E onde tá o Matthew? Eu vi vocês dois lá na praia. - meu pai perguntou, curioso - Ele poderia ficar pra jantar.

— Ele já foi embora... bom, fui.

O tão desejado banho foi maravilhoso.

Eu me sentia tão relaxada, tão confortável, tão viva. Conseguir sair daquela agonia toda em Mermaidland era um alívio tremendo, mas eu precisava voltar lá mais uma vez pra salvar minha mãe das garras, ou melhor, das caudas de Félix o quanto antes. Como eu não sabia, só mesmo um milagre pra tirar aquele peixão miserável do trono.

Meus pais me esperavam sentados no sofá da sala, frente à TV assistindo um seriado policial. Sentei-me ao meio deles e comecei a falar:

— Desde o começo? - perguntei e eles acentiram - Bom, lá se chama Mermaidland e era o reinado do meu avô, o Rei Phellipe, depois que minha mãe fugiu pra não se casar com o Félix, meu avô acabou ficando muito doente e faleceu há três anos, e, com a morte dele, o Félix era um dos herdeiros legítimo e acabou se apossando do trono, mas ainda não era Rei até se casar. E ultimamente, ele procurava por uma esposa jovem, e por meu azar, fui capturada e o Félix queria se casar comigo por eu ser muito parecida com minha mãe...

— Pera aí, pera aí - meu pai interrompeu-me - Como assim ele queria se casar com você, filha? Só pode ser maluco.

— Ele é maluco, pai. - afirmei.

— Como você conseguiu fugir de lá? - minha mãe Clarisse perguntou, curiosa.

— Minha mãe Angeline chegou lá na  mesma noite e fez um acordo com ele: se casaria com o Félix em meu lugar. - falei cabisbaixa, angustiada.

— Na mesma noite? Como assim? Você saiu de casa hoje de manhã, Lizzie.

— Isso é a parte mais bizarra e estranha, pai. Quando cheguei lá em Mermaidland, já anoitecia, e me colocaram pra dormir no antigo quarto de minha mãe, numa esfera de cristal. Daí ela chegou lá, e no dia seguinte me liberaram depois do café-da-manhã. Praticamente um pouco menos de 1 dia, sei lá.

— Isso é impressionante.

— Mas eu não posso deixar essa cerimônia acontecer, pai, senão Mermaidland não será mais a mesma. Lá é um lugar muito lindo.

— Você chegou a conhecer o primo de sua mãe, o Karl? Ele deve ser irmão desse Félix. - meu pai disse, relembrando.

— Karl?

— Sim, quando sua mãe Angeline sr lembrou de tudo, ela contou que fugiu do Félix porque era apaixonada por esse tal de Karl.

— Eu não ouvi falarem de nenhum Karl. Mas o que ele pode ajudar nisso, só se... - parei segundos para pensar.

— Exatamente! - meu pai interrompeu-me - Se você conseguir encontrá-lo, ele poderá impedir esse casamento. Porque ele também é um dos herdeiros.

— Ai, eu não sei, eu não sei o que aconteceu com ele. E se o Félix fez algo contra ele... só se for pra tirá-lo de circulação e ficar com todo o poder... - raciocinei.

— Arthur... lá deve ser muito perigoso pra ela, se pegaram ela uma vez, vão pegá-la de novo.

— Mãe, eu preciso salvar a Angeline e Mermaidland também, eu fazeria o mesmo por vocês.

— Minha filha...

— Clarisse, é a mãe dela também. Eu acredito que ela vai conseguir, pelo menos tentar é um bom resultado.

— Mas eu tenho medo que aconteça algo à ela.

— Então amanhã de manhã já vou partindo, que lá embaixo deve estar quase anoitecendo como ontem... hoje!

— Tudo bem, então.

— Amo vocês! - dei um abraço e um beijo nos dois ao levantar-me e subi rapidamente pro meu quarto.

Resolvi então ligar pro Matthew avisando da minha partida de volta a Mermaidland - parece até nome de livro. Já ele não gostou nadinha da minha decisão:

— Lizzie, se te pegarem de novo? Eu não quero te perder pra um tritão.

— Calma, Matthew.

— Eu tô falando sério, ou então eu vou com você.

— Matthew, você não vai aguentar ficar tanto tempo debaixo d'água, você pode acabar morrendo afogado, cara. Eu não quero isso.

— Eu quero te ajudar. Você não sabe se tem algum tipo de alga marinha que me ajude a respirar ou sei lá, qualquer coisa que sirva. Até se eu virar um peixe.

— Eu não sei, minha mãe que deve saber. Bom.. vou ver se dá certo fazer assim: agora de madrugada eu vou ir lá, digo que vou visitar minha mãe e pergunto se ela sabe nos ajudar, daí eu volto pra cá te buscar, combinado?

— Lizzie...— implorou.

— Matt, me entende, cara. Você não sabe como o Félix é um perigo pra Mermaidland.

— Tudo bem, gata... mas não esquece de levar aquela pedra mágica lá, hein? Quem sabe ela ajuda em alguma coisa também.

— Valeu por avisar.

— Ei, Lizzie...

— Que foi?

— Eu te amo!

— Matt... você não tá falando sério. - murmurei, pálida.

— Eu sei que você ainda não sente isso por mim, mas é o que eu tô sentindo agora. Tudo bem que a gente nem tá tempo suficiente pra já sentir amor, mas quando eu tô contigo, parece que todos os meus problemas somem... eu me sinto bem assim.

— Éeerrr... Matthew, vou desligar aqui, quando dar a hora de ir pra praia eu te ligo, tá?

— É você quem sabe.

— Beijos.

E desliguei a chamada. Paralisada.

Eu não sabia se era verdade mesmo dele me amar - como dizia, mas isso me fez abrir um dos sorrisos mais sinceros que já tive. Isso tudo parecia um sonho estranho: ver Matthew ao meu lado era difícil de acreditar mesmo querendo acreditar. Depois de tudo o que fizemos e falamos um para o outro desde a minha 7ª série e passar a namorar com ele por causa de um simples, mas fortíssimo segredo é o que tornava esse conto de fadas impressionante.

Meus pais já haviam ido dormir, e às 2h da madrugada, liguei pro Matt e decidi logo partir, pra ele não voltar a esse papo de amor.

Apenas deixei um pedaço de papel sobre a mesa da cozinha avisando meus pais:

"Saí bem cedinho como combinado, prometo tomar cuidado e trazer boas notícias. Ah, o Matthew vai comigo, ele cuida de mim só pra garantir.

Amo vocês, meus pais.

Elize."

(...)