Mais uma vez ele estava sentando no gramado observando ao longe um grupo de meninas sorrirem conversando as besteiras de sempre. Ficou longos minutos observando aquela cena, viu alguns de seus amigos se juntarem as garotas e compartilharem das risadas. Sentiu-se sozinho e algo mais o incomodava. Sentia-se mais diferente do que nos dias anteriores. Algo o fez perder a vontade de ficar ali pura e exclusivamente observando e desenhando. Ele queria fugir depois de ver tal cena.

Ao longe pode ver uma cabeleira loira correr de encontro aos seus amigos aparentando estar extremamente feliz. A garota com longos cabelos loiros e olhos azuis o olhou por míseros três segundos e fez seu coração bater como nunca antes. Segurou o ar em seus pulmões com medo de não ter força para puxá-lo novamente. Suas mãos seguraram e arrancaram um pouco da grama daquele jardim. Sentiu seu rosto queimar e não foi capaz de sustentar o olhar dela. Aqueles míseros três segundos foram o suficiente para confundi-lo e enterrá-lo em um mistério sem fim sobre o que havia sido aquele olhar e o porquê de sua reação. Olhando para baixo, inerte em seus pensamentos e indagando sobre o repentino enjoo que sentia, não viu a garota de olhos azuis abaixar a cabeça e desfazer o sorriso que iluminava o seu rosto.

Vendo a alegria fugir de seu olhar, uma de suas amigas perguntou o porquê do sumiço de seu sorriso. Ela nada disse, o olhou novamente e fez menção de se retirar. Todavia alguém foi mais rápido que ela e a segurou pelo braço. Pondo-a de costas para o garoto sentado na grama. Este, no entanto, continuava a olhar para baixo sentindo seu rosto perder o ardor levemente e seu coração voltar ao compasso normal. Devagar, levantou o olhar buscando os olhos azuis, mas em seu lugar encontrou um par de orbes verde-água olhando-a e sorrindo. Ela logo o abraçou, beijou seu rosto e correu para longe dos amigos. Ele havia perdido a vontade de desenhar. Pegou o seu caderno, o colocou na mochila e levantou rapidamente. Seus passos eram velozes e quando passou pelo dono dos olhos verdes o ignorou completamente. Como ele ainda tinha a audácia de chamá-lo sorrindo depois de abraçá-la daquela forma em sua frente. Definitivamente Sabaku no Gaara não tinha noções de etiqueta, com certeza iria emprestar um de seus livros para ele.

Não dando a mínima atenção para os gritos do Sabaku, dirigiu-se para fora daquele parque. Queria ir para casa. Porém, quando olhou para trás para verificar se o ruivo o seguia perguntou-se o porquê de sua reação novamente. Gaara era seu amigo, por que ele se irritou pelo fato dele ter a abraçado? Eles também eram amigos e amigos se abraçam ou não? Ele sabia que um abraço era uma demonstração de afeto, mas poderia um abraço ser classificado como demonstração de afeto entre amigos? Sasuke e Naruto não se abraçavam. Mas Sakura abraçava suas amigas. Um garoto poderia abraçar uma garota sendo somente seu amigo?

Em meio a discussões internas não percebeu a presença de alguém a sua frente e acabou por esbarrar na mesma.

– Gomenasai, eu estava distraído. – disse ainda fitando o chão, pensando sobre o que poderia ter significado aquele abraço.

– Não há com o que se preocupar. Eu estava te esperando, Sai. – voltou seu olhar para a pessoa a sua frente reconhecendo a bela voz que pronunciara seu nome tão lindamente. Estacou, fincando seus pés ao chão. Seu coração voltava a ficar descompassado e ele já estava pensando que pudesse estar sofrendo de arritmia cardíaca. Como um coração pode acelerar seus batimentos a um nível tão alto e no mesmo segundo cessar tal movimento? Sentia seu estômago embrulhar ainda mais e o ardor em seu rosto voltou com força total. Não sabia o que fazer com os olhos azuis tão perto de si e aquele sorriso, ali, doce e tentador, dedicado somente a ele. Pensou no que falar, já havia passado pelo menos cinco segundos. Ele tinha que falar algo...

– Eh... – Não vou conseguir, há um nó em minha garganta – Eu... – Não demonstre fraqueza. Diga algo, vamos – Bem, eu... – Ela está te olhando. Esperando que fale alguma coisa. Ela estava esperando por você! – Não sei o que dizer. – abaixou a cabeça envergonhado. Ouviu uma pequena risada e se atreveu a fitá-la. – Do que está rindo?

– Não é nada. – o sorriso dela morreu aos poucos e ele praguejou-se internamente por ter dito tal frase, ela deve ter se ofendido. – Sai eu... Bom, eu estava te esperando porque o Gaara-kun...

– Ora, não me fale daquele traidor. E ainda tem a coragem de vir me chamar depois do que fez. – disse extremamente irritado.

– O que o Gaara-kun fez? – Ela o olhava curiosa, atrevida pode-se dizer. Ou talvez... Feliz?

– Nada. Mas o que ele te fez? – Enfatizou o 'te' demonstrando que se ele tivesse feito algo que a magoasse ele não passaria desta tarde.

– Me deu coragem. – fitou-a confuso – Me disse que eu não tinha motivos para perder o meu sorriso. – ela o olhou intensamente. As sensações que ele havia começado a sentir no gramado estavam piorando gradativamente com aquele olhar. – Eu gosto de alguém, Sai. Só que não sei se ele gosta de mim...

– Não há homem neste mundo que não seja capaz de gostar de você. – disse naturalmente. Sincero como sempre. Ela sorriu. – Digo, você é legal. Atirada, mas mesmo assim encantadora. – ela fingiu raiva e deu um tapa no braço dele. – Por que fez isso?

– Nada. É isso que me encanta em você... Nunca sabe o que fazer e quando faz sente-se confuso e não compreende algumas ações. Ainda lê aqueles livros?

– Na verdade, ainda leio alguns. Há coisas que eu não entendo. Agora mesmo, sinto-me enjoado e nervoso. Eu nem sei ao certo o que o Gaara me fez, mas estou muito irritado com ele. – disse olhando mais uma vez para trás, na direção onde provavelmente Gaara estaria com os outros agora. Pensou mais uma vez sobre a estranha sensação que sentia, havia algo vivo e se mexendo no seu estômago.

– Não fique chateado com o Gaara-kun. Ele gosta de você. É seu amigo. – disse chegando mais perto do moreno de olhos pretos.

– Mas... – Por que você está falando do Gaara? Pergunte logo por que ela estava te esperando. Diga algo realmente interessante, se continuar assim, ela irá embora... Mas... Eu quero que ela fique? CLARO! Mas... Por quê? Ora, deixe isso para depois, diga algo! – Ino... Por que estava me esperando? – ela ficou rubra e ele sorriu. A garota enrolou os dedos em um ato nervoso e ele se perguntou se ela estaria sentindo o mesmo que ele...

– Eu... Gaara-kun me disse que eu não tinha motivos para perder o sorriso porque o alguém de quem eu gosto também gosta de mim. Ele só não descobriu o que está sentindo... – disse aproximando-se ainda mais do garoto com a face rubra e os olhos brilhantes. A pedra preciosa com a lapidação mais perfeita e o com brilho avassalador perderia para a luz naqueles olhos azuis... Ficou hipnotizado e não percebeu quando sua mão tocou as bochechas coradas e a garota sorriu. – Você pode me ajudar Sai?

– Sim. – disse no automático ainda preso aos olhos azuis.

– Você me ajudaria a mostrar à ele o que ele realmente sente? – balançou a cabeça positivamente. Ela estava cada vez mais perto. – Quando se gosta de alguém... Suas mãos suam sem parar. – pegou a mão do moreno, entrelaçando seus dedos com os dele. – Seu estômago parece embrulhar e toda vez que vê a pessoa de quem gosta senti um enjoou forte, como se houvessem borboletas voando em seu estômago. – Como ela sabe o que estou sentindo? – Os seus olhos procuram sempre pelos olhos dessa pessoa, mesmo que você não consiga manter o olhar, você tem que olhá-la. – disse fitando intensamente as orbes negras. – As suas pernas tremem com o contato. – aproximou-se ainda mais. Eu... O que é isso? Quando se gosta de alguém... Sentimos tudo isso?

‘Você fica corado, demonstrando a vergonha e o nervosismo quando sente-se próximo à ela ou quando é pego a espiando. E mesmo não parecendo possível, você fica cada vez mais vermelho só de estar perto dela... – tocou o rosto sempre tão pálido, agora em tom de vermelho. – Seu cérebro se confunde com suas ações e muitas vezes você não sabe o que falar ou fazer. Tudo fica aparentemente nublado, pois a única coisa importante naquele momento é a pessoa de quem se gosta... Mas o que é mais surpreendente é a repentina arritmia cardíaca que se adquire. – desceu a mão vagarosamente pelo rosto masculino até atingir o local onde estaria o causador de tal fato - O coração acelera bruscamente e logo depois parece parar... – sentiu o coração do moreno acelerar com o seu toque, sorriu largamente. – E volta a acelerar e a parar... – Ela... Eu... Seria possível? Acontecer comigo? Por quê... Ela estaria... Seria... Eu estou... Eu não sei... – Até que se senti que nada no mundo pode fazê-lo bater em conformidade se não a pessoa que lhe causa todas essas coisas. Isso se chama AMOR. Eu sinto todas essas coisas, mas ele também sentiria as mesmas coisas por mim?

– Ino eu... – a loira o cortou.

– Você conhece alguém que se senti assim, Sai? – Eu não sei se devo... Mas...

Longos segundos se passaram enquanto os topázios azuis e as pérolas negras conversam internamente. Debatendo o que poderia se passar na cabeça da pessoa a sua frente. Tentando decifrar cada fragmento de sentimento que impregnavam aqueles olhares tão abstratos. Ele perguntava-se se realmente poderia alguém sentir tais coisas por ele... Se seria ele digno de tal sentimento. Ela questionava-se por quanto tempo mais ele ficaria calado. Ele decidiu falar.

– Ino eu... – respirou fundo. Coragem! – Eu me sinto... Como explicar... Eu não sei o que dizer... Eu não sei se... Mas eu sei... Não, eu...

– Sai... Eu... – afastou-se sentindo as lágrimas querendo chegar aos olhos. Babaca!

– Espere. – disse ainda segurando firmemente a mão da loira. – Eu conheço alguém que se senti assim... – ela o olhou. Ele se permitiu se aproximar e a envolver em seus braços. – Eu me sinto assim... Por você Ino. – o sorriso da Yamanaka foi o mais lindo que ele já vira no mundo. Duvidava muito que até mesmo a estrela mais brilhante de todo o universo chegasse a menos de um ano luz da beleza daquele gesto.

– Sai... – murmurou acariciando o rosto do garoto.

Ele permitiu-se receber a primeira caricia em muitos anos. Fechando os olhos e apreciando o toque aveludado da pele macia da loira. Desejou nunca mais soltá-la. Abriu os olhos vagarosamente e as orbes azuis ainda o fitavam contentes. Não pode resistir mais...

Lentamente a puxou para si acariciando o rosto rubro, desenhando os lábios rosados com o polegar. O mesmo sorriso doce e tentador de antes tomara os mesmo. Resistir a partir daquele momento se tornou insuportavelmente impossível. Roçou o nariz e a boca no rosto da garota a fazendo estremecer. Sorriu. Escutou mais uma vez seu nome sair da boca da loira em um murmuro quase inaudível. Encostou sua testa na dela e acariciou a bochecha rosada com o polegar.

– Ino... – foi o que conseguiu dizer antes de tocar os lábios nos dela. Eles eram realmente doces...