Sol de Sangue escrita por Verooh-Grace


Capítulo 1
Por Que Tudo de Estranho Acontece comigo?


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capitulo! Pessoas, aqui ta o inicio. Espero que gostem. Narrado pela Vanessa!



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Capitulo 1

Vanessa

Por Que Tudo de Estranho Acontece Comigo?

     Eu estava dormindo tranquilamente. Ta, eu não estava dormindo. Apenas descansava na minha cama. Que horas eram? Não tinha a mínima ideia. Só sei que eu não queria que fossem 6 da manhã, não estava a fim de levantar e ir para a escola.

     De repente, senti algo pesado subir em cima de mim. Fiquei imóvel, meio assustada por alguns segundos, até que a coisa começou a se deslocar para o meu rosto, e me lamber freneticamente.

     -Ai, pare, Chanty, pare! – Falei entre risadas, para o meu cachorrinho. Ele tem quatro meses e seu nome é Chantilly, mas eu o chamo apenas de Chanty. Ele é pequeno e branquinho, com manchas cor de caramelo no lombo e manchas  pretas simétricas nos olhos. Tirei ele de cima de mim, e ele foi correndo até o quarto das minhas irmãs.

     É, já eram 6 da manhã. Minha mãe já deve ter acordado e abriu a porta para o cachorro entrar e acordar a minhas irmãs mais novas e eu. Na verdade, são irmãs por parte de mãe. Elas são filhas de minha mãe com meu padrasto, que ela casou alguns anos depois de eu nascer.

     Nunca conheci o meu pai biológico, nem sei como ele é. Minha mãe não tem fotos e não gosta de falar sobre ele. Ela só me disse que eles namoraram apenas por alguns dias, ela ficou grávida e depois disso ele sumiu, nunca mais voltou.

     -Vanessa, filha, acorde! - Ouvi minha mãe chamar-me da sala.

     Bem, o que tenho a dizer a respeito dela? Seu nome é Lillian Storm, tem 40 anos e é professora de marketing, moda e publicidade. É uma mulher extremamente bondosa e solidária. Mudou-se para uma cidade longe da sua família, para conseguir emprego. Ela é muito, vamos dizer, protetora. Não me deixa sair sozinha com os amigos e quer saber de tudo que acontece na minha vida. Mas, é claro, não conto tudo a ela. Minha vida é um tanto... estranha.

     -Nããão... eu não quero levantar... – Resmungou Gabrielli, minha irmã de 8 anos.

      Ela tem os olhos e cabelos castanhos, lisos, até a altura do ombro e uma franja. Somos praticamente idênticas de rosto, a não ser pelo fato de eu ter 14 anos e os meus olhos serem azuis claros.

     Levantei-me da minha cama e vesti o meu uniforme: Uma calça larga e uma camiseta pólo azul marinho. Coloquei meus acessórios: Brincos de argola prateados, um colar da amizade, uma pulseira com pingentes de estrelinhas também prateadas e um anel.

     Fui até o banheiro e me olhei no espelho. Meu cabelo estava horrível! Todo armado e embaraçado. Peguei uma escova que havia por ali e comecei a penteá-lo. Meu cabelo é castanho escuro, ondulado e desce em camadas até menos da metade das minhas costas.

     Lavei o meu rosto e logo apareceu minha outra irmã, Emily, de 11 anos. Ela me empurrou para o lado e começou a escovar os dentes.

     -Você já tomou café? – Perguntei.

     -Hum, hum. – Balbuciou ela, balançando a cabeça, com boca cheia de espuma.

     -Você não vai tomar?

     -Eu ão ô ôm oe. – Murmurou Emily, o que quer que ela tenha tentado dizer, era difícil de compreender com uma escova de dentes na boca.

     -Ah, claro, bom dia pra você também. – Disse eu, irônica. Ela riu e cuspiu espuma na pia.

     -Ei! Não me faça rir quando escovo os dentes! – Reclamou Emily, enquanto limpava a pasta de dentes que ela havia espalhado pelo seu rosto moreno. Ela é a única bronzeada da família, eu e minha outra irmã, somos muito pálidas

     -Eu disse que não estou com fome! Ontem foi a festa do Alessandro, comi de montão... Acho que foi uns 10 pedaços de pizza e 40 docinhos..– Murmurou ela, acariciando a barriga.

     -Ta, ta. Não entendo como você não engorda comendo tudo isso!

     -Porque eu pratico esporte todas as tardes. Eu faço vôlei, basquete, futsal, futebol, judô... – Foi dizendo ela, contando infinitamente nos dedos. Eu revirei os olhos, sem prestar atenção no que ela dizia.

     -Sai! Eu quero lavar o rosto! – Resmungou Gabrielli, com os olhos espremidos por causa da claridade, empurrando Emy e eu para o lado.

     -Nossa, está rabugenta hoje, hein, Gaby? – Murmurou Emy.

     -Não estou, não! – Ralhou Gaby.

     Saí do banheiro e minha mãe veio sorrindo e me abraçou.

     -Bom dia. – Disse ela.

     -Bom dia. – Respondi. Fui até o meu quarto e calcei meu All Star preto. Separei minhas pastas e guardei meu celular Black Berry azul na minha bolsa roxa, que eu uso de mochila.

     -Meninas, venham tomar o café! – Chamou minha mãe da sala de jantar. Na verdade, é uma sala normal, com teve, sofá e uma mesa com cadeiras no canto.

     Fui até lá e sentei no meu lugar. Emily estava sentada no sofá, escovando os cabelos castanhos lisos que iam até o ombro.

     Servi-me de café e passei manteiga em uma torrada.

     -Filha, venha tomar café. – Pediu minha mãe, olhando para Emily.

     -Ela disse que não está com fome, Emy comeu demais ontem na festa. – Murmurei.

     -Ei! Não me chame de Emy! Eu não gosto de ser chamada assim, tem que ser Emily ou Mily. – Exigiu ela.

     -Ta legal, Emy.

     -Argh! Você está mentindo. Eu estou morrendo de fome, ontem na festa, não comi nadinha. Cheguei de barriga vazia em casa. – Mentiu Emily, sentando-se a mesa e comendo 2 torradas de uma vez.

     -Ta, faça como quiser. – Murmurei, enquanto remexia o café com uma colher.

     Depois de escovar os dentes, ouvi a buzina da minha carona na frente de casa, corri para o meu quarto e peguei minha bolsa. Quando voltei à sala, Gaby já estava entrando no carro.

     -Tchau, mãe. – Murmurei enquanto ela beijava minha bochecha, na porta de casa. – Vamos, Emy. – Chamei.

     -É Mily. – Reclamou ela enquanto passava por mim, vestindo um casaco.

     -Ta certo, Emy.

     -Argh!

     Entrei no carro, que era uma BMW preta linda, minha carona era Richard, o chofer da minha melhor amiga patricinha, Annita Sparks. Ela odeia ser chamada de Annita, então a chamo de Annie.

     A parte de dentro do carro era bem ampla e confortável, com estofamentos cinza, exceto pelo banco da frente, onde Annie sentava, que era revestido por um acolchoado emplumado rosa... com brilhos. Ela é viciada nessa “cor”, tudo que ela tem é rosa com brilhos.

     -Oi Annie. – Disse á ela, que estava terminando de passar um gloss rosado nos lábios.

     -Oi Vannie. – Disse ela. Eu fiz cara de nojo.

     -Eu ainda acho esse apelido muito estranho.

     -Mas foi o único que eu consegui pensar. Você não gostou quando eu comecei a lhe chamar de Ness, então vai ser Vannie. – Disse ela enquanto enrolava os cachos com as unhas rigorosamente perfeitas, como de costume. Assim que Richard entrou no carro, ele deu a partida e fomos em direção à escola. Nada como um passeio matinal em New York City.

     Annie é minha melhor amiga desde os meus nove anos. Tem os cabelos loiros e cacheados, descendo em cascata até abaixo dos ombros. Seus olhos são incrivelmente cinzentos e sérios. Gosto de estar perto dela, ela me faz rir e pensamos de um modo parecido. Annie tem um irmão mais velho de 19 anos, Christian, mas eles não se parecem em nada. A sua mãe é Vera Sparks, a esteticista mais famosa e rica dos Estados Unidos. Ou seja, Annie tem o que quer, quando quer.

     Agora que já falei da minha família e da minha amiga, vou falar um pouco sobre mim. Meu nome é Vanessa Storm, sou exatamente o contrário de Annie, e é isso que nos torna parecidas. Eu odeio rosa, simplesmente não suporto! Acho que de tanto que minha amiga idolatra essa cor, eu acabei enjoando. Minha cor favorita é roxo, pra ser mais exata, roxo com preto. Meu maior sonho é bem comum: Ser uma atriz famosa... e rica. Mas não é para esbanjar a fortuna comprando todas as roupas de marca que puder(se bem que eu não recusaria isso.). Eu queria o dinheiro para viajar pelo mundo, conhecer os lugares, viver uma aventura, ser um pouco... livre.

     Quando chegamos na escola, eram 7h e 20min, ainda não estávamos atrasadas. Subimos as escadas e quando chegamos ao terceiro andar, que é onde fica a nossa sala de aula, nos deparamos com o insuportável do Louis.

     Louis é um garoto idiota que estuda comigo desde a quinta série. Ele é loiro e tem um cabelo estilo Justin Bieber, que ele fica jogando para o lado o tempo todo. Ele se acha o maior pegador, só por causa do seu nome: Louis Brulant, que significa “Louis Escaldante”em francês, então ele fica dizendo que derrete todas as garotas da escola.

     -Oi, feiosa. – ele murmurou, me empurrando para o lado. – Olá, Annie. – Disse ele com um “lindo”sorriso.

     -Olá, Louis... – Respondeu Annie, quase babando.

     -Vá embora, garoto irritante. – Disse eu, com cara de nojo.

     -Ai, Vannie, não seja má comigo... – Pediu Louis, com um beicinho forçado.

     Eu trinquei os dentes.

     -Você não tem o direito de me chamar assim! – Grunhi. Ah, como eu odeio esse garoto!

     Eu queria gritar para ele ir embora, dizer o quanto eu o odeio, o quanto ele é irritantemente retardado e socá-lo na cara que ele diz ser perfeita. Mas infelizmente, não posso, seria suicídio. Motivo? Annie! Ela é louca por ele, apesar de ter um namorado. Ela fica furiosa quando falam mal de Louis. E acredite em mim, a última coisa que você quer ver na vida, é Annie com raiva.

     -Você está com um perfume bom hoje. – Murmurou Louis, chegando mais perto de Annie, que estava vermelha e ofegante. Eu revirei os olhos.

     -É. Estou usando Imperial Majesty. – Respondeu Annie, esforçando-se para falar. Louis nem pareceu impressionado por ela ter o perfume mais caro do mundo, estávamos todos acostumados com a riqueza de Annie.

     Eles continuaram conversando, eu não prestei atenção, mas o que quer que Louis estivesse dizendo á Annie, a deixava nervosa. Eu me afastei, para deixar os dois mais sozinhos, apesar de não gostar da ideia de aquele idiota estar dando em cima da minha amiga.

     -Oi, Vanessa! – Gritou Susan, minha outra melhor amiga, correndo na minha direção. Eu a abracei.

     -E aí, Susan?

     -Tudo certo. Oi, Ann... – Disse Susan, mas eu a interrompi, tapando a sua boca.

     -Fique quieta, ela e Louis estão conversando. – Murmurei, tentando fazer Susan entender.

     -Ahh... – Murmurou ela, percebendo o clima que estava rolando. - Mas você não odeia o Louis?

     -Eu sim, a Annie não. Deixe os dois, se Annie quer ter uma chance com ele... Apesar de eu achar isso errado, já que ela tem um namorado.

     -Não sei, não, Vanessa... Eu ainda não gosto de Annie e Lian juntos.

     -Por que?

     -Sei lá. Tem alguma coisa de errada nele. Algo me diz que ele não é confiável.

     -O que está dizendo, Susan? Ele é nosso amigo!

     -Eu sei, mas isso não quer dizer que eu não possa desconfiar dele. – Murmurou Susan, olhando bem no fundo dos meus olhos, com o rosto sério.

     Susan Cold é minha melhor amiga desde o jardim de infância. Ela tem pele morena e os cabelos negros bem curtos, do estilo Chanel. Seus olhos pretos e a expressão séria que só ela sabe fazer, a tornam assustadora. Mas ao ouvir seu riso, meu dia torna-se mais feliz.

     Senti a mão de Annie apertando meu ombro por trás com força.

     -Ai! – Queixei-me.

     -Ahh! Eu amo ele! – Disse Annie, com uma voz aguda.

     -E eu o odeio... – Murmurei. – Finalmente ele foi embora. - Annie revirou os olhos.

     -Veja bem como você fala do meu fofucho!

     -Fofucho? Annie, por favor, como você consegue gostar daquela coisa?

     -Vamos, a professora já deve estar chegando. – Disse Susan, puxando Annie e eu pelo braço, antes que começássemos com nossa briga rotineira.

     Entramos na sala e sentei-me ao lado de Annie, Susan sentou-se atrás de nós, ao lado de Mary. Ela é uma aluna nova, mas já a considerávamos do grupo. Embora ela não fosse maluca o bastante como a gente.

      Logo, a professora de história chegou e começou a passar conteúdo no quadro para que copiássemos.

     Mary Fleurs tem os cabelos lisos bem escuros, até abaixo dos ombros e ela usa aparelho nos dentes. Seus olhos são... são... bem estranhos. Mudam de cor o tempo todo, ás vezes está roxo, vermelho, violeta, rosa... Até me pergunto se ela usa lentes de contato. Sua pele é bronzeada, assim como a de Susan. As duas também têm a altura em comum, são baixinhas comparando com Annie e eu, que somos bem altas.

     Depois da aula de história e dois chatíssimos períodos de matemática, chegou o recreio. Mas graças ao meu querido déficit de atenção, não ouvi nada do que a professora falou. Nem minhas amigas, o DDA é uma característica comum entre nós.

     Annie levantou-se para ir comprar algo no bar. Susan e Mary foram logo atrás. E aquele loiro irritante do Louis, foi junto com elas. Eu não iria a lugar nenhum com ele, então fui procurar Vivian, minha amiga da outra turma.

     Eu a conheço há um ano apenas, mas já a considero uma grande amiga. Ela tem os cabelos loiros bem claros e brilhantes, ondulados até o ombro. Os óculos de grau escondem seus olhos estranhos olhos dourados. Isso mesmo, dourados. Ela é a pessoa mais alegre que eu conheço, não leva nada a sério, está sempre rindo e escrevendo poesias.

     Ela estava escorada na parede do corredor, ouvindo músicas em seu iPod.

     -Oi, Vivian. – Eu disse. Ela não ouviu, estava balançando a cabeça feito uma doida, no ritmo da música, que estava tão alta que eu podia ouvir. – Vivian, oiii... – Agitei a mão na frente do seu rosto. Ela nem sequer pestanejou – Vivian! – Gritei, chacoalhando-a.

     -Ah, oi. – Ela respondeu, tirando os fones de ouvido, com um imenso sorriso, exibindo seu aparelho com borrachinhas roxas.

     -Vamos dar uma volta na escola? As garotas foram no bar com o Louis, e você sabe como eu odeio aquele garoto!

     -Você não é a única, amiga. Eu também não o suporto. Vamos até o campo de futebol?

     -Vamos.

     Fomos conversando e rindo até lá, estava fazendo o maior sol. Demos uma volta ao redor do campo. Já íamos voltar para a sala quando algo brilhante como um cometa, passou em alta velocidade por nós, tentando nos atingir. Fiquei paralisada, um pouco assustada. Mas já estava tão acostumada com situações estranhas, que já começava a me perguntar se não era apenas minha imaginação.

     -Você também viu isso? – Perguntou-me Vivian, boquiaberta.

     -Sim. – Respondi, agora com medo de verdade. Vivian também viu, não era minha imaginação, era real.

     A coisa passou por nós outra vez, emitindo um calor tão grande, que era quase possível... vê-lo. Infelizmente, a coisa me atingiu no braço, conseguindo uma bela queimadura. Gemi de dor, e cobri a queimadura com a mão.

     -Quem está aí? – Perguntei.

     Silêncio.

     De repente, Vivian caiu no chão, como se algo a tivesse empurrado. Ela começou a gritar e se contorcer, como se estivesse sendo torturada. Abaixei-me e a levantei, segurando seus ombros. O calor descomunal ainda pairava no ar.

     -Você está bem? – Perguntei, com as mãos tremendo.

     -O que foi isso? – Ela perguntou, olhando debilmente para todos os lados, apavorada e ofegante.

     Então, nós duas fomos lançadas ao chão com força, ralando os cotovelos e batendo com a cabeça. Vivian perdeu os óculos, e começou a procurá-los. Dessa vez, pude ver claramente que o que nos empurrou tinha uma forma humana.

     Era um homem. Um homem feito de ondas de calor. Sua forma tremeluzia, de modo que as vezes fosse possível vê-lo, dependendo dos raios de sol. Levantei, mas Vivian ficou no chão e começou a gritar e contorcer-se freneticamente de novo, como se estivesse queimando. Ela tremia e suava, guinchando e ofegando.

     Eu não sabia o que fazer! Como lutar contra o calor? Me ajoelhei e segurei os braços de Vivian, para que ela parasse de se debater, mas não funcionou, a coisa que a controlava era mais forte. Comecei a suar e meus olhos a arder, como quando se olha muito tempo para o fogo.

     -Pare! – Gritei para a figura meio humana, a alguns metros de distância de mim. – Por favor, pare!

     Não adiantou, Vivian começou a gritar ainda mais. Então um líquido vermelho começou a escorrer do seu nariz. Eu sabia que era sangue, mas não queria acreditar. Não queria acreditar que ela estava sendo ferida. Comecei a me desesperar, não havia nada que eu pudesse fazer.

     “Alguém nos ajude, por favor!” Pensei. Uma lágrima de desespero escorreu por meu rosto. Quando a lágrima caiu e tocou o solo, uma gota caiu ao lado. Logo, outra gota, e outra, e mais outra. Olhei para cima e percebi que havia começado a chover. Uma nuvem cinzenta encobria o sol, e de modo que ele ia desaparecendo Vivian ia se acalmando. Quando o sol desapareceu por completo, o calor descomunal cessou, e a chuva aumentou. Minha amiga não gritava mais, apenas tremia, de olhos arregalados.

     Olhei ao redor, na esperança de que o homem estranho houvesse desaparecido também. Felizmente sim. Mas bem a minha frente, a centímetros do meu rosto, surgiu um par de olhos cruéis. Um olhar cheio de ódio e desejo de vingança. Recuei com um pulo e a imagem desapareceu.

     Quando disse que minha vida era estranha, era a isso que eu me referia. O tempo todo, algo inexplicável e terrível, acontecia comigo e minhas amigas.

     Ao meu lado, no chão, Vivian começou a reagir. Ela sentou com um pulo e me encarou, com os dourados cravados em mim, procurando uma explicação. Ela olhou para as mãos esfoladas, para os joelhos ralados e colocou as duas mãos no rosto.

     -Ah meu Deus! Eu estou viva! – Ela gritou, com o olhar assustado e a respiração entrecortada. Seu nariz ainda sangrava e seus olhos estavam molhados de lagrimas de dor.

     -Ah, que bom que você está bem! – Eu a abracei com força e senti que ela começou a chorar desesperada.

     -Ai, Vanessa, o que foi isso?

     -Não faço a menor ideia. – Eu a afastei e ela enxugou os olhos. Entreguei seus óculos e ela o acomodou no rosto.

     Levantamos do chão, nos apoiando uma na outra. A chuva que estava mais forte lavava meu suor e espantava o calor febril que invadira meu corpo.

     -Vamos embora daqui. – Eu disse. Vivian assentiu e saímos em disparada para o terceiro andar.

     Chegamos lá esbaforidas, molhadas e com uma expressão de espanto que fazia com que parecêssemos loucas fugindo de um hospício. Que ótimo.

     Annie que estava entrando na sala, percebeu nosso estado e  aproximou-se de nós.

     -O que foi? Nossa, como vocês estão pálidas... – Observou ela.

     -Foi... horrível. Simplesmente... horrível. – Murmurou Vivian. Eu assenti, concordando.

     -Ah. Pois é. Concordo plenamente. – Ironizou Annie, com uma expressão de: “que bom que vocês explicam tudo!”.

     -É sério, Annie! – Falei, segurando seus ombros. – Nós estávamos no campo, quando alguém... alguma coisa, fez Vivian gritar de dor! – O olhar de Annie mudou, ela parecia pensativa e um pouco intrigada.

     -Como assim?

     -Eu não sei direito  como foi, mas algo nos atacou, principalmente Vivian. Ela parecia estar queimando. Se não tivesse começado a chover ela teria... – Fiquei sem fala com o pensamento.

     -Vivian, o que exatamente você sentiu?

     Ela arregalou os olhos, com a lembrança.

     -Dor... calor... queimando... AHHH!! – Ela cambaleou para frente e quase caiu no chão, mas Annie e eu a amparamos.

     O primeiro sinal tocou, avisando-nos que faltavam 10 minutos para acabar o recreio. Vivian foi para a sua sala, em estado de choque. Annie não disse mais nada. Quando entramos na sala de aula, Louis estava conversando com seu melhor amigo, Michael.

     Michael tinha os cabelos e olhos castanhos, uma pele morena azeitonada e está sempre com a franja na testa. Eu nunca falava com ele, mas o considerava uma boa pessoa.

     -Oi, Michael. – Disse Annie, sorridente.

     -Oi Ann... – Crash. Uma coisa brilhante passou voando em alta velocidade pela sala, como o que provocara a queimadura em meu braço.

     Aquela coisa quase atingiu Louis, mas Michael estava na frente. Seu braço foi empurrado contra o vidro da janela. Estilhaços de vidro voaram para todos os lados, todos alunos que estavam na volta cobriram o rosto com os braços. Olhei para Michael, ele estava com a expressão de espanto e com a mão cravada no vidro da janela. Ele puxou o braço de volta, em seu pulso, havia um fundo corte, que sangrava.

     Olhei para Annie, sua expressão era de preocupação, mas também de suspeita. Ela e Michael trocaram olhares, como se soubessem de algo que eu não sabia.

     -Ai... – Gemeu Michael, com a expressão de dor e surpresa. – Ai... está doendo... muito...

     -Calma Michael, calma – Disse Louis, puxando o braço do amigo. – Eu vou apertar um pouco, está bem?

     -Er... ta. – quando Louis começou a pressionar o corte, Michael gritou. – Ai! Isso dói. – Todos encararam a cena, com a expressão preocupada.

     -Calma, eu só estou...- Explicou Louis.

     -Estancando o sangue. – completou Annie.

     -Exatamente.

       Louis soltou o pulso de Michael depois de uns segundos, e no lugar de onde jorrava sangue, estava apenas um corte arroxeado.

     -Ih... Vai ter que fazer pontos. –Observou Annie.

     -É. Nove pontos. – Afirmou Louis.

     -Sim, nesse corte de cinco centímetros.

     -Quatro pontos internos...

     -E cinco externos.

     -Você teve sorte Michael, por um milímetro não cortou a...

     -Veia principal.

     -É... Isso mesmo... – Disse Louis com um sorriso bobo no rosto. Ele encarou Annie com os olhos brilhando, feliz por ela estender seus pensamentos e essas coisas românticas aí...

     Louis analisou o corte e segurou o pulso do amigo de novo. Minha boca estava meio que escancarada. Desde quando Louis sabia alguma coisa sobre medicina? Ele é muito, muito burro!

     -Ei! –Exclamou Miley, outra amiguinha do grupo de... Louis. –Vocês completaram as frases um do outro! Eu vi na “Nova Onda do Kronk”, que quando isso acontece, quer dizer que é amor verdadeiro. – Eu bati a minha testa com a mão. Não. Ela não disse isso...

     -Ahn... Ehr... Não sei do que você está falando. – Gaguejou Annie. Haha, ela estava vermelha.

     -Mas eu sei! – Berrou Louis, e Annie o encarou com um olhar que misturava raiva, desespero e expectativa. E eu o encarei com um olhar de “é-melhor-você-calar-a-boca-agora”. – Ela está falando de um dos meus filmes favoritos! Eu amo a Disney, meu sonho é fazer “você está assistindo ao Disney Channel!”- Disse Louis, fazendo o movimento com a mão livre. E aí está ele de volta, o velho e idiota Louis.

     -Que Disney, o que? Nick é muito melhor. Meu sonho é mergulhar em Slime. – Comentou Susan, sonhadora.

     -Deve ser muito legal, não é? – Concordou Miley.

     -Geeente, foco! Tem um Michael sangrando aqui! Não podemos ficar parados. – Lembrou-nos Mary.

     -Tecnicamente, ele não está mais sangrando. – Explicou Louis. – E eu não estou parado, estou estancando o sangue do ferimento.

     -Mas é melhor alguém levá-lo para o hospital antes que ele... morra. – Murmurou Susan, séria.

     - O que? Eu vou morrer? – Perguntou Michael, apavorado.

     -Não! – Exclamou Annie, acalmando-o. – Susan só está exagerando... como sempre. Você não vai morrer.

     -Então... Porque estou sentindo que sim? - Perguntou Susan, com o rosto meio confuso e o ar misterioso. Todos a encararam e afastaram-se dela. Ela começou a rir. – Eu estava só brincando, não acredito como vocês sempre caem nessa.

     -Susan, não é hora para brincadeiras. – Disse Mary.

     -Não, tudo bem. – Disse Michael, tentando descontrair. - Rir é bom. Além disso, eu sei que não vou morrer.

     -Mas, eles podem amputar o seu braço. – Disse Miley, deixando Michael nervoso.

     -Não, não. – Explicou Louis. – O braço dele só seria amputado se... – Então eu viajei legal. É nessas horas que eu amo o meu déficit de atenção.

     -Nossa, desde quando você sabe tanto de medicina? – Perguntou Miley.

     -Bom, eu sempre... eu... eu não sei... – Respondeu Louis, parecendo realmente confuso.

     -Ta, Louis, pare de falar. É melhor você levar Michael logo para a enfermaria. – Pedi.

     -Desde quando você me diz o que fazer? – Perguntou ele. – Eu sei que posso curá-lo aqui.

     -Não estou dizendo o que você tem que fazer, estou tentando fazer com que você enxergue o óbvio. É impossível você tratar de Michael no meio da sala de aula, sem instrumentos, sem esterilizante e sem experiência!

     -Nisso ela tem razão. – Interveio Miley. – E melhor levarmos Michael para a enfermaria.

     Louis a ignorou e continuou:

     -Vannie, desde quando você entende mais de medicina do que eu?

     -Desde quando você entende de alguma coisa? Ah, quer saber, se você não quer acompanhar o Michael até a enfermaria, deixe que eu vou.

     Louis soltou o braço do amigo. Eu segurei o ombro de Michael e o guiei até a porta. Já estávamos saindo quando Louis teve que mostrar o por que de eu odiá-lo.

     -Hunf, vocês viram? A Vannie, toda preocupada com o Michael. Eu sempre suspeitei que ela tinha uma queda por ele.

     -O que? – Indaguei. - Não, Louis, eu não tenho uma queda pelo Michael. Você é um idiota! – Gritei.

     -Eu sou um idiota? Então o que você é?

     -Eu sou uma coisa muito melhor do que você!

     -Melhor? Se você tem toda essa auto-estima, por que se veste desse jeito? Roupa preta, maquiagem escura e esse seu jeito emo?

     -Eu. Já. Disse. Que. Não. Sou. Emo! - Grunhi, com os dentes trincados.

     -Então por que age como um?

     -Olha, eu não tenho por que ficar ouvindo isso. – Virei de costas e puxei Michael novamente.

     -Ah, qual é ,Vannie. Olha só você toda preocupada com o Michael. Depois você diz que não quer que role alguma coisa. – murmurou Louis, pedindo para eu fazer a sua cara sangrar.

     Eu me virei para ele, encarando-o com o pior olhar de raiva  que eu podia fazer. Antes que eu realmente socasse Louis, Annie interveio.

     -Então Louis, se ivocê tem algo contra preocupar-se com Michael, então eu me preocupo com Michael!  – Annie segurou o braço dele, de um modo meio possessivo.

     -Então é só isso que você quer? Sair por aí com Michael? Por acaso está na esperança de que role alguma coisa? - Perguntou Louis.

     -Talvez. - Ok, por essa eu não esperava. Annie ficou vermelha, percebendo a idiotice que tinha respondido. Alguns de meus colegas ficaram boquiabertos com a resposta dela.

     -Então, ta. É melhor vocês dois irem logo! – Gritou Louis, tão vermelho, que parecia que a sua cabeça ia explodir. Ah, como eu queria que isso acontecesse...

     -Nós vamos mesmo!

     -Ótimo. Então vá logo!

     -Eu já estou indo!

     Annie ficou mais uns dez segundos encarando Louis, antes de finalmente sair pela porta.

     -Você fez de propósito, não é? – Questionou Michael, com um sorriso malicioso, quando já estávamos longe da sala.

     -Não sei do que você está falando. – Disse Annie, tentando disfarçar.

     -Você me usou para fazer ciúmes no Louis. Eu sei. – Realmente, Michael sabia do amor platônico de Annie e Louis. Aliás, todo o mundo sabia!

     -Ahn... er... eu... é que... – Annie estava começando a ficar nervosa.

     -Gente, não está fazendo um dia maravilhoso hoje? – Perguntei, tentando mudar de assunto. De repente, um barulho de trovão sacode os corredores da escola.

     -Está, trovejando. – comentou Michael.

     -E daí? Eu não entendo o que as pessoas têm contra tempestades. Eu acho trovões lindos, ta? – Os dois reviraram os olhos e permaneceram em silêncio até chegar no primeiro andar, onde ficava a enfermaria.

     -Pelo jeito, a dor já passou, não é? – Perguntou Annie, na porta.

     -É. - Michael hesitou, como se estivesse decidindo se compartilhava um segredo importante. - É impressionante isso, não?

     Annie e eu nos entreolhamos.

     -O que? - Perguntou ela.

     -O que Louis fez. Ele apenas estancou o sangue. Era um corte enorme, e estava ardendo muito. Agora não tem mais nada, só uma marca. - Ele mostrou o pulso, que nem estava sujo de sangue.

    -Verdade. - Observou Annie. - Era um corte grave, agora você está praticamente curado.

   -Mas eu estou meio nervoso. E se a Susan estiver certa? E se eu morrer? – Dramatizou Michael, brincando.

     -Michael, você não vai morrer! Você cortou o pulso, não foi a cabeça, o pescoço, a barriga ou o coração, ok? Acalme-se. – zombou Annie de volta.

     -Ok. Acalmar. Eu estou bem calmo...

    Nós rimos com a expressão exageradamente serena de Michael.

    O médico abriu a porta e chamou

michael para dentro. Ele ligou para os pais de Michael e a ambulância veio levá-lo para o hospital, embora achassemos que era  desnecessário. Annie e eu desejamos melhoras a ele e chamamos o elevador.

     -Nossa, pobre Michael. Se eu fosse ele, desmaiaria. Imagine o susto!  – Comentei, entrando no elevador. - Não devia dizer isso, mas se não fosse por Louis, Michael estaria em estado grave.

     -É. – Murmurou Annie, mas ela estava com um olhar de quem tem algo a dizer. Percebi sua hesitação quando ela murmurou. – Você... você viu o que acertou o Michael? Aquela... coisa brilhante...

     -Sim. Eu vi. - Admiti. - O que será aquilo? Tem tanta coisa estranha acontecendo que aquilo poderia ser qualquer coisa.

     -Eu não sei. Mas eu percebi, que pelo ângulo da trajetória, aquilo teria acertado Louis em cheio. Alguém pretendia feri-lo. Michael percebeu e usou seu braço como escudo, para proteger o amigo. – Explicou Annie, com uma certa preocupação no rosto.

     -Sério? Como pode ter tanta certeza? Além de mim, quem iria querer machucar Louis?

     -Sei lá, Vannie. Primeiro, temos que analisar a arma do crime.

     -Hã... Ta.

     O elevador chegou ao terceiro andar e nós fomos em direção à sala. No corredor, estavam os cacos de vidro da janela que fora quebrada. Havia também um pouco de sangue ali. Estremeci.

     Mas tinha algo mais. Uma pequena esfera luminosa resplandecia sobre o vidro, que refletia sua luz. Annie a pegou com cuidado e a estudou por um longo minuto. Por fim, com a testa franzida e a expressão de um crítico analisando uma obra-prima, ela concluiu:

     -Isso é... quente.

     -Puxa vida, que descoberta maravilhosa! Resolvemos um estupendo mistério com isso! – Disse eu, irônica.

     -Cale a boca, Vannie. – Resmungou Annie. – Eu não estou mentindo, é quente mesmo.

     -Eu não disse que não é quente, eu apenas disse que a sua conclusão foi inútil.

     -Obrigada pelo incentivo, amiga.

     Então percebi algo no vidro que restava na moldura da janela. Ele estava derretido, e moldava a forma da mão de Michael, mas meio deformada.

     -Ei, Annie. Veja isto. – Disse eu, apontando para a janela.

     -O que significa isso? – Perguntou ela, passando a mão pelo vidro.

     Então, ouvimos alguém saindo pela porta da sala. Annie colocou a esfera brilhante no bolso. Miley veio até nós e perguntou:

     -Michael já foi para o hospital?

     -Sim. – Respondi. – O medico do ambulatório chamou a ambulância. Ele vai ficar bem, só está um pouco nervoso.

     -Espero que não esteja doendo tanto.

     -Não se preocupe, ele disse que não sente mais dor. – Explicou Annie.

     -Bem, vamos entrar, a professora já chegou na sala.

     Miley passou pela porta, eu ia logo atrás quando Annie me puxou por trás.

     -Não vamos a ninguem sobre a esfera brilhante. Vamos manter isso em segredo, ok?

     -Sim. É melhor não contarmos sobre Michael também. Que Louis o curou. - Annie assentiu.

     -Niguém entenderia se contássemos. ninguém entende quem tem problemas esquisitos.

     Eu bufei.

     -É. Parece que estamos destinadas a conviver com essas coisas estranhas.


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Notas finais do capítulo

ME DEIXEM REVIEWS!!!!!!!



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