Além da Sedução escrita por forsyth


Capítulo 5
Capítulo 5




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***



A semana reiniciava tensa. Ele sempre tinha um jeito de escapar de minha presença durante o trabalho, não tive oportunidade de ficar a sós e o que mais me deixava puto da vida era ver que de fato, o garoto se empenhou em ficar longe de mim. Essa distância imposta por ele incomodava e estava decidido a terminar com essa frescura dele.


— Fez o que pedi?


— É, fiz sim. E começo a pensar que não vai prestar?


Marcelo dizia preocupado e muito contrariado, entregou um convite da festa de aniversário do meu irlandês. Ok, tecnicamente ainda não era meu mas seria em breve. A comemoração agendada no "All Black Irish Pub" era fechada a convidados e preciso dizer que a figura fez questão de me excluir? E quem liga?


— Veja bem o que fará com isso..

— Calma Marcelo, só vou parabenizá-lo.

— Sei... — disse desconfiado — ...é exatamente isso que me preocupa.


Comecei a rir de seu jeito temeroso e saímos do trabalho para aproveitar a noite que começava. E espero, terminaria de uma maneira bem agradável.



All Black Irish Pub



A droga do trânsito como sempre nunca ajudava. Cheguei bem tarde a festa, de certa maneira era bom, pois peguei o melhor momento. Logo que entrei no recinto o vi conversando com alguns amigos e Marcelo estava de seu lado encarregado de apagar as luzes e acender as velinhas do bolo. Vinte e dois anos.



Aproximei deles discretamente, avançando pela pequena multidão ao redor. Fiquei bem atrás aguardando o instante em que ele apagaria as chamas. Marcelo foi o primeiro a me notar na semi escuridão e percebi seu olhar de "oh meu deus, ele veio mesmo" que quase provocou meu riso, porém segurei ou o aniversariante se daria conta de minha presença também.


Ele estava lindo, aqueles cabelos rebeldes e sexys estavam revoltos com charme. Sua camisa azul escuro meio aberta revelava o belo físico. E por várias razões acho que não esqueceria da sua imagem nesta noite, naquele instante.


Ao fundo tocava algo com som um tanto abafado vindo do salão abaixo de nós, era uma canção meio brega de Elton John "Something about the way you look tonight" cantada por alguém no karaokê. Existe coisa mais gay? Sorri ao identificar a letra que parecia dizer algo por mim, de como pensava ao olha-lo agora. Não poderia estar me apaixonando por ele podia? Afastei meus pensamentos dessa teoria aparentemente absurda para mim.


A bagunça dos parabéns acabou e ele apagava as velas soprando sobre o bolo. Antes das luzes finalmente se acenderem no ambiente, me inclinei para sussurrar em seu ouvido lhe provocando um leve sobressalto.


— Seu desejo foi atendido. Eu estou aqui — falei roçando meus lábios em seu pescoço rapidamente. Definitivamente amava seu perfume.


As luzes foram acesas e deparei com aquele mar azul em minha frente que exibiam uma expressão engraçada de espanto.


— O que faz aqui?



Ele se virou surpreso segurando o primeiro pedaço de bolo que tratei de pegar e enfrentei seu olhar agora furioso. Mordi um pedaço e para provocar, ofereci-lhe um pouco.


— Como é cara de pau..


— Está gostoso, experimenta.



Ofereci de novo e Marcelo riu da gente. O loiro bufou mas ignorou meus comentários e foi conversar com os amigos. Vi que o tal Denilson estava ausente e comemorei internamente. Cedo demais porque o sujeito surgiu na entrada e foi direto abraçar o aniversariante que falou alguma coisa que o fez virar para olhar em minha direção. Segurado pelo loiro, ficou na dele.


Após uns instantes de conversa, o moreno se afastou e pelo que pude ver de onde estava, tinha ido embora. Melhor para mim. Brigando ou não com o outro, meu objetivo era ficar perto dele então larguei o bolo e fui atrás de algo mais gostoso: ele.


— Ainda não te dei parabéns — disse o pegando pelo braço e o puxando para um abraço aproveitando para beijar o cantinho de sua boca.


— Pára com isso! — falou bravo se soltando.


— O que? Ninguém sabe que você gosta de homens? Porque acredito que aqui todos saibam exatamente do que eu gosto — comentei admirado com sua atitude de "não faça isso em público".


— Muito engraçado.. — comentou sério e dando as costas para sair de perto mas o puxei de volta — Não, não sabem ! Satisfeito?


Diante de seu rosto vermelho pela raiva, o soltei e ele saiu de perto. Apenas ainda tentava me refazer dessa revelação estranha que ouvia quando Marcelo surgiu atrás de mim.


— Brigou de novo?


— Não exatamente...— comentei ainda confuso.


— Como assim?



Larguei meu amigo falando sozinho e reclamando de minha falta de educação. Alcancei o aniversariante que irritado com minha perseguição me olhou ainda nervoso.


— Que foi agora?


— Só queria dizer desculpas por tentar te agarrar. Não sabia que você escondia o fato de...


— Não escondo. Mas nem todos aqui são meus amigos — disse apressadamente me interrompendo e olhando ansioso para os lados — Não é pra você entender mesmo. Só fica longe de mim. Isto é sério. Não somente aqui, mas permaneça longe.


"Ah fala sério, acha mesmo que vou ficar longe?"



Ele deu uns passos para perto da escada que levava ao primeiro andar do pub e o impedi de sair. O segurei perto de mim e nos levei para um cantinho mais reservado, longe de olhares curiosos. A area VIP ali era ótima, tinha uma sala de karaokê pequena que entrei junto com ele, nos trancando dentro.


— Ah, parou a piada. Abre isso agora!


— Não mesmo.


Quando tentou passsar por mim, o segurei e o empurrei de encontro a parede e o beijei, imobilizando seu corpo com o meu, sem dar chances dele se soltar. Ele resistiu ao beijo mais do que normalmente fazia mas minha insistência valeu a pena.


Senti que ele não lutava mais para se soltar e afrouxei a força com que prendia suas mãos que uma vez soltas ficaram presas em meus cabelos enquanto se ocupou em acompanhar o ritmo de meu beijo, sua língua acariciando a minha com volúpia e a respiração falha que nos obrigou a parar por instantes para logo voltarmos de onde paramos.


— Por que faz isso comigo?


— Isso o que? — ele perguntou em um múmurio no meu ouvido seguido de um gemido quando o mordi de leve no pescoço, apertando-o mais de encontro a meu corpo.


— Mostrar que me deseja e no entanto se afasta?


— Não desejo — ele disse firme porém sua expressão dizia o contrário.


— Ok então.


Parei tudo e larguei dele que exibiu um ar de contrariado. Por que ele era tão teimoso? Ficou claro para mim que eu poderia agarrá-lo e por mais que tentasse negar continuaria a me retribuir. Era o que eu precisava saber. Internamente queria rir agora mas simplesmente arrumei minha camisa solta e abri a porta. Saí para o corredor e após uns segundos ele me seguia furioso.


— Você precisa parar com essa história de me agarrar quando bem entende.


— Tá bom — respondi sem olhar para trás mas sorrindo com seu tom de voz irritado.


— Isso foi fácil demais ...



Ele murmurou como para si mesmo parando de me seguir. Continuei e fui para o primeiro andar do pub. Não sei bem o que estava pensando mas empurrei delicadamente o sujeito em cima do palco, interrompendo sua sessão de karaokê, explicando ao infeliz que precisava fazer uma coisa importante.



Olhei uns títulos e todos me pareceram horríveis mas peguei um razoável. Apesar de ser revelador demais e eu não estar totalmente certo de que seria isso mesmo o que deveria dizer com a canção, liguei o famoso "foda-se" e fui em frente. Vi de relance os curiosos convidados do irlandês e meus amigos lá de cima observando o que eu faria. A cabeleira loira dele surgiu próximo da grade para logo descer e ficar quase perto de onde eu estava.


Seu olhar assustado dizia claramente um "pare agora o que pensa em fazer, seja lá o que for" e apenas sorri o deixando mais vermelho de raiva. Já disse o quanto adoro isso nele? Com um gesto desafiador coloquei a música para tocar.


— Sou péssimo cantor mas o que importa é a música. Espero que todos gostem só não precisam vaiar caso detestem minha performance.



Risos ecoaram na platéia e a introdução da canção iniciou os primeiros acordes.



=====  **  ===

Aquele louco iria mesmo cantar seja lá o que fosse. Não tinha meios de impedir então fiquei quieto na minha, esperando a merda ser atirada no ventilador. Com o olhar direcionado para mim ele começou a cantar.



" I know I'll stand in line,
until you think you have the time
to spend an evening with me..." (Eu sei que eu ficarei na fila
até que você pense ter um tempo
para passar uma noite comigo..)


A música eu conhecia, uma velha canção de Sinatra "Something stupid" recentemente regravada. E surpreendemtene a voz dele era bonita. No que mais ele era perfeito? O escutava cantar para mim, com aqueles olhos castanhos incomuns fixados em minha pessoa e tentava não mostar o quanto eu o desejava. Droga, já era dificil antes porque ele fazia essas coisas inesperadas? Porque me fazia ficar mais apaixonado? Desgraçado! ..


"And though it's just a line to you
for me it's true
it never seemed so right before..." (E apesar de ser apenas uma frase pra você,
pra mim é verdade
e nunca pareceu tão certo antes)


Ele seguia com a canção e era como se estivesse falando comigo, tentando me dizer algo. Ok, não vou ser tão idiota de acreditar que o significado de tudo é textualmente o que diz a música. Afinal não é como se ele estivesse apaixonado ou algo assim né? Nem esperei ele terminar e saí de fininho no meio da multidão. Para todos os efeitos eu nada tinha a ver com aquilo. Os aplausos atrás de mim indicavam que ele foi aprovado e apressei meus passos. Mal tive tempo de chegar na saída porque o idiota me cercou e puxou para junto dele, nos levando para a saída oposta.


— Tá maluco?


— Você ainda não viu nada... — ele disse sorrindo sem largar de minha mão nem parar de andar. — Você vem comigo hoje.


— Hein?


O carro dele estava estacionado estrategicamente perto da saída lateral do pub e apressadamente abriu a porta e me fez entrar. O meu choque era tanto que minha unica reação foi ficar quieto.


— Não vai me xingar, brigar ou algo assim?


Saí do meu esturpor quase autista para vê-lo arquear a sombrancelha naquele seu típico jeito sexy cretino esperando minha resposta.


— E adianta ? Eu também deveria te bater mas creio que pouco resolveria né?


— Você é mau..


Murmurou e a julgar por sua expressão, ele não dizia aquilo com a mesma intenção que deveria demonstrar já que um leve sorriso no canto de lábios insinuava outra coisa em sua mente pervertida. O sinal fechou e ele sem que eu esperasse puxou meu braço nos aproximando e me beijou. Juro que tentei parar mas nada acontece do modo que planejo mesmo então nem liguei mais para nada. Minto...um infeliz buzinou atrás da gente.


— Nem se pode mais beijar em paz! — ele bateu no volante nervoso.


— Está no trânsito querido, queria o quê? — ironizei e ele logo sorriu — Que foi?


— Querido?


Fez a pergunta idiota fingindo não detectar meu sarcasmo, portanto só olhei para os céus pedindo calma. Ele riu alto e começou a dizer bobagens.


— Tudo bem amor, a gente já chega na minha casa.


— Faz um favor para mim? Fica quieto e me deixe na MINHA casa.


— Não, eu já dormi na sua agora você vai dormir na minha casa . Apesar de que dormir é a última coisa que planejo — completou com um sorriso gigante para meu lado.


Fiquei tão impressionado com sua imensa cara de pau e falta de noção que as palavras fugiram. O carro já entrava no prédio dele, sendo estacionado numa vaga que eu diria, reflete bem a personalidade do dono, porque né...espaçosa e com o nome dele numa plaquinha posso com isso? Nada pretensioso o rapaz hein?


— Enfim sós — suspirou desligando o carro.


— Ficamos sozinhos com frequência — resmunguei pouco humorado.


— Mas ultimamente fazemos isso com menos frequência que gostaria.


Ele comprimiu meu corpo de encontro ao dele com uma certa força, invadindo minha boca com sua língua macia. Ok, não tinha do que reclamar aquilo era realmente agradável. Meus braços envolveram seu pescoço e o contato físico entre nós era tanto, que eu podia sentir todos os musculos dele em cima de mim mesmo sobre a camisa. Quando afinal o ar ameaçava nos faltar, ele me soltou um pouco afrouxando seu abraço. Apenas o som de nossas respirações ofegantes quebravam o silêncio do momento, nos olhávamos quietos e eu não sabia exatamente o que dizer. Abandonei as palavras para somente encostar nele, ouvindo seu coração bater tão descompassado quanto o meu e as mãos dele se fecharam em torno de minha cintura e ele enterrava o rosto em meu pescoço.


— Fique ciente de que não vou me contentar com apenas uma noite — sussurrou em meu ouvido.


— É, eu imaginei que eventualmente diria isso... — comentei sorrindo afastando para mirar seu rosto — Duas então? — e ri mas ele ficou sério — Que foi?


— Namora comigo.


Disse isso assim, sem mais nem menos do nada. Sem anestesia. Precisei me afastar mais um pouco para ver melhor seu rosto e ter certeza de que ele falava sério. O que ele pensava? Desde quando ele era de namorar?


— Eu não sou exatamente o cara do tipo que você namoraria.


— Eu sei.


— Você não me conhece de verdade e ..— tentei argumentar mas fui interrompido.


— E daí? Não importa.


— Ok, eu não gosto de você o suficiente — falei meio apressado, ainda chocado com sua proposta.


— Mentiroso! Se isto fosse verdade não me beijaria como faz e muito menos estaria ainda aqui dentro deste carro comigo.


— Você prarticamente me sequestrou lembra?


— A quem quer enganar? Seu imbecil! — gritou nervoso e batendo no volante — Estou disposto a abrir mão de meu orgulho besta e de toda esta bobagem de conquista porque de fato me interessei por você. Mas se continuar negando que gosta de mim também eu não pedirei de novo e ..


O calei com um beijo o puxando pela camisa. Se nada de meus planos acontecia no tempo e do jeito que planejei dane-se! Não iria perder de novo a oportunidade de ficar com ele, com as consequências eu lidaria depois.  


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