Fear Garden escrita por Lyssia


Capítulo 1
Capítulo 1




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            Desde quando estava trancada naquele quarto totalmente branco? Não conseguia se lembrar direito. Parecia uma eternidade. Sempre vendo aquelas mesmas paredes, o mesmo médico de cabelo roxo, a mesma enfermeira que estava sempre mexendo no celular, sempre seu irmão gêmeo vindo até ela, conversar ou trazer alguma comida diferente. Sempre o mesmo. Kagamine Rin estava presa naquele quarto de hospício há 2 anos.

            Tudo havia começado quando viu, pela primeira vez, um jardim diferente em seus sonhos. Ao invés de flores, o jardim tinha mãos humanas. Sim, um jardim de mãos. Embora para muitos isso pudesse ser um pesadelo horrível e uma imagem traumática, Rin não pensou isso. Pensou que era um jardim realmente lindo, com todas aquelas variações de tamanhos e cores.

            Desde aquele dia, tinha alucinações com aquele lugar, vendo um jardim de mãos no quintal de sua casa e pensando em como poderia aumentá-lo. Os pais de Rin reparavam em como ela olhava para o quintal da casa com os olhos brilhando e pensaram que ela estava fascinada pelas lindas flores que lá existiam, na verdade. Por isso a colocaram em uma aula de jardinagem. Grande erro.

            Rin tentou arrancar a mão de uma das outras aprendizes de jardineira.

            Foi um pânico geral e a loira foi presa dentro de seu próprio quarto, pelos pais. Depois de várias visitas de um psiquiatra, a família decidiu deixá-la em um dos melhores hospícios da cidade, sobre o cuidado do doutor Gakupo Kamui, um psiquiatra muito respeitado e bom. Mesmo com os remédios e cuidados especiais que recebia, Rin continuava tendo as pavorosas alucinações com aquele jardim anormal.

            Depois de 6 meses sem melhoras, seus pais pararam de visitá-la e Rin só sabia que eles ainda existiam porque pagavam a internação dela. O único que continuava indo vê-la era Len, seu irmão gêmeo. Afinal, era uma adolescente de 14 anos que fazia desenhos confusos, falava de um jardim de mãos e vivia segurando seu sapo de pelúcia. Surpreendia a todos que Len não se apavorasse e parasse de visitá-la, já que a loira apenas falava daquele jardim apavorante.

            “Como está minha irmã?” perguntou Len, que estava do lado de fora da porta do quarto de Rin, junto ao doutor Gakupo.

            “Sabe Len... sua irmã não responde ao tratamento. Muito pelo contrario. Parece que... está cada vez pior...” era difícil pra Gakupo dizer isso. Era a primeira paciente que não conseguia fazer nada pra ajudar. Len desviou os olhos do doutor, olhando a porta. Tocou na maçaneta suavemente.

            “Isso pode ser a falta de acompanhamento familiar?” indagou, receoso.

            “Creio que sim Len, ela não parecia gostar das visitas dos pais de vocês, mas mesmo assim está sempre reclamando de saudades.” Respondeu o de cabelos roxos, colocando a chave na fechadura, para abrir a porta.

            Ao entrar, os dois encontraram Rin sentada no chão, desenhando. Podia ser algo normal pra se ver, afinal, antes de ser internada, Rin gostava muito de desenhar, até mesmo fazia parte de um clube de desenhos. Mas desde dois anos atrás, dos desenhos de Rin passaram a ser somente sobre uma coisa, mãos em vasos e jardins de mãos. Algo que assustaria a qualquer um, até mesmo Len, que não sabia de onde tirava a coragem pra conseguir continuar visitando a gêmea.

            “Rin, vim te visitar!” disse, sorrindo da melhor forma de pode. Rin levantou a cabeça, deparando-se com o irmão e deu largo sorriso.

            “Len, você veio hoje também!” exclamou a garota, levantando-se.

            Gakupo apenas olhou para Rin um instante antes de sair do quarto e deixá-los sozinhos. Antes, ficava muito apreensivo e inseguro de deixar Len sozinho com Rin, mas ela parecia verdadeiramente gostar dele e ficar feliz ao velo. Logicamente, não saia do lado da porta, assim, qualquer barulho anormal que ouvisse poderia entrar para socorrer Len.

            O mais novo dos gêmeos andou até a irmã, dando-a um abraço antes de ela sentar-se novamente no chão. Observou os desenhos espalhados pelo chão. Nem mesmo ele, que já via isso quase todos os dias a dois anos, havia conseguido se acostumar. Sentia um arrepio toda vez que os olhava. Não sabia como Rin não tinha medo daquele... jardim, como ela chamava.

            “Len, ontem apareceu uma flor nova no meu jardim!” gritou, animada. Len engoliu em seco.

            “É-é m-mesmo...?” perguntou, com a voz falha.

            “Sim! Era muito linda! Mas um dos dedos caiu...” o rosto do garoto empalideceu. “Eu queria mostrar para Miku e Luka meu jardim... mas acho que elas não ia gostar, são muito frescas.”

            Len, para desviar os olhos de Rin, pegou o mais novo desenho dela. Era um vaso, como sempre, com três mãos dentro... as unhas pintadas de verde e em uma das mãos falava um dedo. Respirou fundo, se arrependendo de ter pego o desenho. Estavam mesmo ficando cada vez mais assustadores.

            Rin pegou outro desenho, um braço e começou a rabiscá-lo de vermelho, atraindo o olhar assombrado do irmão, que ficava cada vez mais pálido. Len segurou a mão dela, fazendo parar de rabiscar e encará-lo. Estava tão apavorado que chegava a ofegar. Normalmente sabia se controlar melhor, mas não quando Rin falava sobre alguma nova flor, ou de mostrar o jardim inexistente para alguma de suas antigas amigas, que agora só pensavam em manter distancia dela. E, por azar, naquele dia Rin havia falado das duas coisas.

            Controlou a respiração e abraçou Rin o mais forte que pode, afagando os cabelos loiros dela, enquanto tentava lembrar de como ela era antes de tudo aquilo começar. Havia sido difícil passar a ir pra escola sem ela, além de que todos os antigos amigos dos dois pararam de falar com ele e teve que refazer amizades. Sentia falta da irmã, no inicio, já que, nos primeiros meses, o senhor Kagamine não permitia que ele fosse vê-la.

            A loira não entendia o porque daquele abraço apertado, então não fez nada, simplesmente se deixou abraçar. Quando esse finalmente se desfez, olhou bem nos olhos do irmão, tentando descobrir a causa de tudo aquilo. Mas em sua confusa e perturbada mente, apenas uma resposta se desenhou, e era a mais errada de todas.

            “Você também quer ver o jardim? Ou então ter um como o meu?” perguntou, sorrindo gentilmente para o gêmeo, que ficou sem resposta. “Eu sei, não precisa ficar com vergonha.” Riu.

            “Rin...” sussurrou, triste e preocupado. “Eu...” procurava palavras para responder “Eu não me importo de não ter visto um jardim como esse e nem quero um igual.” Respondeu por fim, sem olhar a irmã nos olhos.

            “Por quê?” perguntou a loira, jogando a cabeça pro lado.

            “...” pensou um pouco. “Você sabe, Rin, eu odeio jardinagem.”

            “Ah... é mesmo!” a garota sorriu. “Eu também não gostava. Mas meu jardim é tão lindo e incrível que passei a gostar. Tem certeza que não quer ver?”

            “T-tenho... eu vou apenas continuar cantando, como sempre.” Deu seu melhor sorriso pra ela, vendo o rosto da loira se iluminar.

            “Tem alguma musica nova?” perguntou Rin, animada.

            “Estou fazendo uma, mas por enquanto você não pode ouvi-la.”

            “Por quê?! Que injusto!!”

            “Eu ainda não terminei. Te mostro quando estiver pronta.” Riu das bochechas infantilmente infladas da irmã.

            “Hmmmm... está bem.” Rin sorriu, aparentemente sem ter problemas com isso. Len olhou no relógio.

“Desculpe, Rin.” Começou, se levantando. “Eu tenho que fazer um trabalho em grupo pra escola.” completou, afagando os cabelos loiros da irmã um instante.

“Ah... tudo bem...” respondeu, embora seu tom estivesse muito mais desanimado que antes. “Você vem amanhã?”

“Claro!” o loiro começou a ir até a porta, e quanto já estava com a mão na maçaneta, ouviu uma das perguntas que mais queria evitar:

“Papai e mamãe não vão mais vir me ver?”

“E-eles... estão ocupados...”

“É mesmo...? Então... diga a eles que eu sinto saudades, tá bom?”

“Claro, pode deixar.” E depois disso saiu do quarto, apoiando as costas na parede e deslizando até o chão. “Nee... realmente não há nada que possa fazer Rin voltar ao normal?”

Gakupo simplesmente o fitou, sem nada dizer, e depois soltou um longo suspiro. Era duro ver como aqueles dois jovens sofriam por causa daquela doença. Rin parecia estar cada vez mais longe do que era antes e Len ficava cada vez mais deprimido por ver a irmã assim. Gakupo sabia que não tinha muito o que fazer, mas mesmo assim, era nas mãos dele que estava o destino de Rin.

“Sinto muito, Len.” A mesma resposta de sempre. Len levantou-se e pôs-se a caminhar em direção a saída.

Se tivesse algo que pudesse fazer por ela... nem mesmo que fosse ficar louco em seu lugar... queria libertar a irmã daquela maldição, deixar que ela voltasse a ser o de antes, uma jovem talentosa e sorridente, que gostava de lhe dar ordens.

“Quem diria, estou com saudades de ser seu escravo...” pensou, deixando uma pequena e solitária lagrima escorrer por uma das faces.

“Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!” Gakupo ouviu o grito que vinha do lado de dentro da porta e soltou um suspiro.

“Ela está fazendo de novo?” perguntou Neru, perada perto de Gakupo. Embora houvesse falando com o de cabelos roxos, não desviou os olhos da tela do celular nem por um segundo.

“Sim, faz quase toda vez que Len vai embora.” Respondeu. Passou as mãos pelos cabelos e abriu a porta, vendo Rin deitada na cama, abraçada ao sapo de pelúcia.

Caminhou até ela e conferiu se estava com febre, tentou perguntar se sentia algo, mas ela não respondia, apenas continuava a gritar, nem esmo se movia. De repente, parou e segurou a mão do doutor. Soltou uma risada baixa e depois ficou com um enorme sorriso no rosto, alisando a mão do doutor.

“Que lindos dedos... eu ficaria tão feliz se eles fizessem parte do meu jardim...” Gakupo soltou a mão, um pouco assustado. Rin devia ser uma das pacientes mais assustadoras daquele hospício.

“Está se sentindo bem, Rin?” indagou, recuperando a compostura de médico.

“Sim.” O psiquiatra se levantou, olhando para Rin uma última vez antes de fechar a porta.

“Por que não a deixamos visitar o jardim?” perguntou Neru, enquanto ela e Gakupo faziam o caminho para fora daquele corredor.

“A última vez que ela viu uma flor teve uma reação horrível, Neru.” Explicou. Olhou para a mão que Rin havia segurado. “É uma paciente... muito especial...”

 Neru pela primeira vez parou de mexer no celular pra fitar o médico.

“Aquele menino... nunca vai dizer pra ele porque o senhor e a senhora Kagamine não vem mais, não é?”

“Neru...” começou Gakupo, incerto.

“Ela não vai melhorar, não é? Os pais dela já sabem disso. Nós já sabemos. Devíamos falar logo pro irmão dela fazê-lo perder a esperança de uma vez.”

“A Rin... realmente parece feliz quando Len vêm vela. Talvez... se ele parar de vir, o quadro dela piore ainda mais.”

“Se é que isso é possível.” Neru bufou e voltou a mexer no celular, ignorando o doutor ao seu lado. Tinha pena do garoto, que poderia estar se divertindo com amigos no lugar de ir ao hospício todos os dias, ver a irmã.

“Eu quero...” começou a murmurar Rin, revirando-se na cama. “... eu quero...” segurou o sapo de pelúcia. “... eu quero...” finalmente parou de se mexer e mostrou um sorriso maníaco. “... eu quero... os dedos do Doutor Gakupo no meu jardim...”

Continua...


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Notas finais do capítulo

Oi ^^
Espero que tenha gostado do cap
Essa fic não deve ser muito longa... acho que só vai ter uns 2 ou 3 capítulos
Bem... se você leu até aqui... que tal deixar um comentario? =3~~
Por favor ó.o
Ja ne ^^~~



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