Lucas acabara de aterrissar exatamente dentro da água. A água era muito fria e gélida. Lucas não enxergava nada, a não serem pequenos mariscos e peixes que habitavam aquele enorme oceano. Mas de uma coisa ele sabia perfeitamente. Ali, ele não estava sozinho. Ele conseguia sentir a presença de algum ser. Parecia que havia alguma ligação. Ele ouviu um ruído alto, muito alto, mas não sabia de qual direção ele vinha. Foi quando ele olhou pra trás e avistou um ser muito grande. Só dava pra perceber que aquele ser ou aquela criatura era azul. Um azul claro. E tinha presas enormes. A criatura passou por baixo de Lucas, e ele sentiu-se puxado para a superfície. Por um instante Lucas sentiu algo puxando-o novamente para o fundo, mas percebeu que eram apenas grandes algas marinhas que haviam enroscado em suas pernas. Lucas ficou confuso, pois não sabia nadar, e também sabia que humanos não podiam agüentar muito tempo sem ar debaixo da água. Mas era como se ele não fosse mais humano. Ele respirava, e muito bem, como se estivesse na superfície. De repente, Lucas sentiu um impacto forte.

          Demorou alguns instantes para perceber que aquela criatura acabara de deixá-lo novamente em terra firme. E por incrível que pareça, Lucas estava seco, como se não estivesse estado dentro daquela água fria e gélida.

          Ao descer da criatura observou-a bem. Era grande, muito grande, coberta de escamas. Suas presas eram enormes e afiadas. Tinha chifres como os do carneiro. Entre as patas traseiras e dianteiras que eram cobertas de ligamentos, como nadadeiras de patos, que permitiam a ele que nadasse nas águas, havia enormes asas e tinha também uma cauda, que chegava ser quase o mesmo comprimento que o próprio corpo daquela criatura.

          Lucas admirou-se, e percebeu que aquela criatura era um dragão. Um dragão aquático. Ficou maravilhado com aquilo. Ele foi salvo por um dragão que habita as profundezas do oceano. Ele esqueceu-se completamente de onde estava e o que viera fazer ali. Apenas prestava atenção naquele dragão logo ali em sua frente.

          Ao perceber que estava ali durante muito tempo apreciando aquele ser, ele procurou pelos outros. Ao olhar em volta viu que cada qual de seus amigos também havia sido salvos por um dragão.

          O dragão de Stephan era um dragão mesclado de amarelo com dourado. Era tão grande quanto o de Lucas. Também tinha presas enormes. Tinham em cada lado do corpo, duas asas cobertas de penas que se interligavam entre si, e tornavam-se duas. Já o que acompanhava Stuart era vermelho. Suas asas eram formadas por plumas que estavam em chamas. Sua cauda também estava em chamas, mas era coberta de espinhos, e na ponta havia uma bola como uma clava, também coberta de espinhos.

          O que acompanhava Peter era marrom e tinha chifres grandes e pontiagudos. Suas asas eram maiores que o corpo. Sua pele era escamosa e parecia coberta de barro. E o último dragão, o que acompanhava Katharine era verde. Suas presas eram enormes e pontiagudas. Tinha um bico enorme e acima de sua cabeça, um único chifre. Nas pontas superiores de suas asas, havia enormes ganchos de uma cor verde um pouco mais escura que suas asas.

          Após observar todos os dragões, Lucas ficou boquiaberto. Nunca na vida ele iria imaginar que seria salvo por uma criatura daquelas. Ele sempre acreditou que dragões não existiam. Que dragões eram apenas seres mitológicos que os chineses haviam “criado” para poder assustarem pessoas com conversas fiadas. Mas não, agora ele acabara de mudar de idéia, pois ali, em frente a ele, estava uma das criaturas que ele menos acreditava.

          Parecia tão esquisito para ele, pensar que na manhã daquele dia, ele era um garoto comum, que vivia uma vida comum. Mas agora, ao ser salvo por um dragão, percebeu que o mundo estava repleto de segredos e magia. Parecia inacreditável. Ele acabara de entrar num livro e ser salvo por uma das criaturas mais maravilhosas que ele já vira. Isso era um delírio. Ele voltou a apreciar aquele dragão, quando sua atenção foi interrompida por um chamado do velho Alceu e seus amigos.

          - Vem Lucas, só falta você. - Chamou Katharine.

          Estavam todos reunidos em volta de uma enorme pedra, esculpida por símbolos que Lucas nunca havia visto na vida. Lucas aproximou-se do grupo.

          - Bem, eu os trouxe aqui com um propósito, e este propósito não é ficar apreciando seus dragões. - Falou o velho Alceu.

          Lucas parecia não ter ouvido direito.

          - O que você disse? Nossos? Os dragões são nossos? - Perguntou espantado.

          - Sim, é claro. Quando vocês estavam em perigo, esses belos dragões despertaram de seu sono. E sentiram que os senhores da natureza estavam em apuros. Deixe-me apresentá-los: Aromes o dragão do ar. - E apontou o dragão que havia acompanhado Stephan. - Fwoênnix, o dragão do fogo. - Apontou para o dragão de Stuart. - Teramous, o dragão das terras. - E desta vez, foi para o dragão que acompanhara Peter. - Naturious, o dragão das florestas. - E apontou para o dragão de Katharine. - E Aquânix, o dragão das águas. - E desta vez, apontou para aquele enorme dragão que havia salvado Lucas minutos antes.

          - Mas, no momento, isto não interessa tanto quanto tenho a mostrar-lhes. - Acrescentou.

          - E o que o senhor tem a nos mostrar? - Perguntou Katharine.

          - Isto.

          O velho acabara de tocar aquela enorme pedra em que eles estavam em volta. A pedra começou a girar e subiu, ainda girando. Era incrível. Por debaixo da pedra, havia uma enorme escadaria. A pedra guardava uma passagem secreta. Todos ficaram boquiabertos.

          - Aqui está a passagem secreta para o mundo submerso de Simosong. Lá, iremos pegar tudo que lhes pertence, senhores da natureza. Tudo que precisam para esta missão está lá embaixo, guardado por sete chaves.

          O velho Alceu começou a descer a escadaria e todos o acompanharam.

          Eram muitos e muitos degraus. Todos já reclamavam de dores e cãibras.

          - Já estamos... ái... chegando senhor? - Perguntou Stuart, que acabara de sentir uma cãibra.

          - Sim. Afinal, já chegamos.

          Ao terminarem de descer aquela longa escadaria, eles se depararam com um pequeno corredor, onde haviam cinco esculturas feitas de diamantes, rubis, citrino, safiras e esmeraldas.

          - Uau! Nossa! Que máximo - Disseram em coro.

          - Por aqui, disse o velho Alceu. E apontou para o fim do corredor.

          No final do corredor havia uma porta, onde, ao seu lado, havia um sensor. Todos caminharam em silêncio até lá. Ao chegarem de frente à porta. O velho Alceu começou a explicar-lhes.

          - Eis aqui uma porta dos segredos, onde vocês irão descobrir se são, na verdade os senhores da natureza. Se o sensor, - E apontou para o sensor ao lado da porta. - apontar que são os verdadeiros senhores da natureza, ele irá propor um desafio. Nesse desafio, vocês terão que lutar contra a aberração que ele indicar, e, se conseguires vencer, receberão como recompensa, suas armaduras e suas armas. Mas… Caso não consigam vencê-lo, terão que voltar para casa e manter sigilo absoluto, para quem quer que seja sobre Simosong.

          Todos ficaram pasmos, mas entusiasmados.

          - Então, só resta a palavra de vocês. Irão encarar o desafio?

          - Sim, iremos. - Respondeu Stephan.

          - Stephan, você enlouqueceu? Eu não vou entrar ai. O dragão já provou que somos os senhores da natureza. Não há o porquê de arriscarmos nossas vidas. - Falou Peter.

          - Não Peter, o dragão lá fora não provou nada. Eles só apenas salvaram-os. Eles podem ser confundidos por uma magia muito forte. Aqui em Simosong, há feiticeiros muito poderosos que podem se transfigurar e se transformar em qualquer outra pessoa. Inclusive em você. Você garante que todos aqui são de verdade os senhores da natureza? Você tem certeza de que não há nenhum impostor entre nós? - Perguntou o velho Alceu, calmo.

          Peter calou-se imediatamente.

          - Ta ok. Eu irei enfrentar qualquer coisa que esteja por trás dessa porta.

          - Compreendo que não há porque mais demora. Então, quem será o primeiro? - Perguntou Alceu.

          - Eu. - Respondeu Stuart, com a voz trêmula.

          - Então, por favor, venha até aqui.

          Stuart aproximou-se da porta.

          - Você irá aproximar sua mão desse sensor. Se ele reconhecer você como um senhor da natureza, você irá passar por essa porta. O sensor irá identificar o senhor que você é. Se você é o senhor da floresta, do ar, da terra, do fogo ou da água. E em base na informação, ele lhe dará o desafio. Após vencer o desafio, você irá receber a sua armadura. Está pronto?

          - Sim, e muito. - Disse Stuart, otimista e confiante.

          Stuart aproximou sua mão do sensor. Esperou alguns segundos e… o sensor deu um forte ruído. Uma chama de fogo saiu do sensor e tocou a mão de Stuart. Todos compreenderam. Ele era um senhor da natureza, e um senhor que comandava o fogo.

          A porta abriu-se com um estrondo e Stuart, trêmulo, adentrou o salão.

          Lucas ficou pensativo. O que será que Stuart encontraria ali dentro daquele salão? Será que ele conseguiria vencer a criatura que o desafiaria? E se ele não conseguisse vencê-lo? O que será, na verdade que aconteceria com todos eles ao atravessar aquela porta?