Oparu no Me escrita por Leeh


Capítulo 1
Olhos de Opala


Notas iniciais do capítulo

Enjoy!



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Oparu No Me

Não poderia perder a concentração agora. Só faltava um corte no lugar certo e aquela pedra seria um dos meus melhores trabalhos! Aproximei a lâmina da pequenina jade e, de repente, ouço a campainha da porta soar. Mordi o lábio e fechei os olhos com força, suspirando.

Deixei a pedra em cima do suporte de veludo azul, encantando-me momentaneamente com o bonito contraste que formou, e levantei do banco. Limpei as mãos e tirei os óculos, indo para frente da loja.

- Sim, sim. Estou aqui, em que posso... – perdi a fala assim que fitei quem entrara. Era ela!

Pequenina, com cabelos longos de um ruivo vibrante; lábios cheios e rosados, convidativos e abertos em um bonito sorriso; um corpo perfeitamente escultural, de dar inveja em qualquer uma; e uns olhos, ah!, olhos brilhantes e coloridos como a opala! Sua expressão era suave, mas ela não me olhava, parecia encarar algo além de mim.

Era essa a moça que eu via passar pela frente da loja todos os dias, no mesmo horário! Fora ela que me deslumbrara desde a primeira vez que a vira olhar minhas vitrines, mas nunca tive coragem suficiente para falar com ela. Fora essa desconhecida que me roubara o coração.

- Ahn, em que posso ajuda-la? – perguntei, sorrindo.

- Bem, eu estou procurando um presente para minha avó, mas não sei o que dar. Acredito que aqui eu encontrarei algo.

- Pois veio ao lugar certo! Nossa joalheria oferece a seleção mais completa e variada de pedrarias. Se me acompanhar, posso te mostrar algumas peças que te interessem.

Ela veio me acompanhando e eu tirei um dos estojos de colares, colocando-o em cima do mostruário.

- Aqui temos belos colares de jades, safiras, rubis, diamantes e esmeraldas. – ela estendeu uma mão para tocar os colares, mas segurei seu pulso. – Sinto muito, não é permitido tocar as peças do mostruário...

- E como espera que eu veja as peças que está me oferecendo, senhor? – ela perguntou, gentilmente.

- Ora, com os olhos. – respondi.

- Meus olhos perderam o brilho, senhor...

- Edward, pode me chamar de Edward. Como assim, seus olhos perderam o brilho?

- Já não posso enxergar, Edward. Preciso tocar em suas peças para escolher o presente de minha avó.

Estaquei. Seria mesmo verdade? Uma moça tão bonita, com olhos tão lindos, mas incapazes de enxergar? Eu já ouvira dizer que os cegos perdem a melanina dos olhos, por isso são tão claros. Será que era por isso que seus olhos tinham essa cor?

Mas, não podia ser!

- Edward? – ela perguntou, levantando ligeiramente a mão – Ainda está aí?

Ou então podia sim.

- Ah, sim. Estou aqui. – segurei sua mão por um momento, deliciando-me com sua suavidade. – Bem, você sabe meu nome, mas não sei o seu.

- Sou Isabella, mas pode me chamar de Bella.

Bella. Soava perfeito para mim.

- E então? Posso tocar em suas peças? – perguntou, sorrindo. Eu ri.

- Acho que posso abrir uma exceção para você, Bella.

Rindo, ela foi apalpando as correntes e seus pingentes, pegando-os entre os finos dedos, sentindo-lhes a forma e o peso. Em dado momento, seus lábios se franziram e seus olhos se apertaram.

- Tudo bem? – perguntei.

- Sim, mas ainda não encontrei a peça certa.

- Então, mãos a obra! – falei, sorrindo, e ela riu.

Passamos mais de duas horas verificando cada peça que eu tinha: brincos, mais colares, broches, pingentes soltos, anéis. Mas nada agradava à Bella. Meu Deus, que garota indecisa!

- Acho que já te mostrei tudo o que eu tenho aqui!

- Oh, sinto muito, Edward. Tomei muito de seu tempo, certo? Eu deveria ir...

- Não! Agora virou uma questão de honra!

- Mas você já me mostrou a loja toda! – ela disse, rindo.

Então me lembrei de um estojo que eu não mostrava a ninguém; um pequeno estojo de veludo dourado que continha as joias mais importantes para mim.

- Nem tudo. – disse, suspirando e pedi-lhe que esperasse um momento.

Fui até os fundos da loja, passando pelo quarto onde eu esculpia as peças e adentrei um apertado porão. De frente para a porta, havia uma estante muito velha e decrépita. Na última prateleira da estante encontrava-se o tal estojo. Um objeto no qual eu não colocava as mãos há anos.

Mordi o lábio, questionando minha consciência se essa era uma decisão sábia. Mas eu simplesmente não conseguiria dormir sem realizar o desejo de Bella. A razão? Eu não tinha a menor ideia. Respirei fundo e tranquei a porta.

Subi as escadas, voltando para a bela moça que me esperava pacientemente. O estojo nas mãos. Sentei-me de frente para ela e coloquei sua mão em cima do pano. Curiosa, ela desamarrou as fitas de cetim e o abriu.

Suas mãos percorriam todo o veludo, sentindo os broches, brincos e peças de amarrar os cabelos que pertenceram à minha avó. Então ela parou por sobre um prendedor que tinha forma de um floco de neve, porém nenhuma pedra.

- É esse! – disse sorrindo.

- Tem certeza? – perguntei, desconfiado.

Aquele prendedor não tinha nada de chamativo, além de sua forma. Era uma presilha de ouro branco; bem trabalhada e feita à mão por meu avô que a dera de presente para minha avó em suas Bodas de Ouro. Mas, por alguma razão, ele nunca completara os pequenos orifícios com pedra alguma.

- Sim, tenho certeza! Mas, - ela começou, sentindo o vazio dos buraquinhos – está vazio?

- É, acho meu avô não encontrou a pedra certa para preenchê-lo...

- Seu avô quem fez?

- Sim, sim, deu de presente à minha avó em seu aniversário de 50 anos de casados.

- Então é uma joia de família?

- É.

- Não posso levar. – disse, decidida, empurrando levemente a presilha.

- Como não? Eu a ofereci para você! – repliquei, um tanto ofendido.

- Eu sei, mas não vou aceitar! Isso pertenceu à sua avó, Edward, não é algo leviano que você possa entregar para qualquer pessoa! – disse, furiosa.

- Você não é qualquer pessoa! – falei, sem pensar. Bella congelou, o cenho franzido e os olhos indagadores.

- O que quer dizer com isso?

Passei por debaixo do balcão, ficando a centímetros de distância, e peguei sua mão com firmeza. Com a mão livre, acarinhei sua bochecha e sorri.

- Bella... Você não é qualquer pessoa. Desde a primeira vez que você passou por essa vitrine, eu sabia que era diferente. Quando você sorriu pela primeira vez, olhando dentro da loja, eu tive a certeza de que não precisava ter mais nada, desde que tivesse seu sorriso todos os dias! – um cantinho de seus lábios se repuxou em um quase sorriso, que logo se desfez.

- Você mal me conhece para estar afirmando isso.

- E daí?

- Quer um conselho, Edward? Não se apaixone por mim, e guarde essa presilha para alguém que realmente a mereça!

Dito isso, virou as costas e saiu da loja sem hesitar. Pasmo, não consegui me mexer por cinco segundos inteiros, antes de correr atrás dela. Sorte a minha que a rua estava deserta, pois ainda era muito cedo.

Fui à direção em que a vi tomar e segui procurando por alguns poucos minutos, até que a vi apoiada contra uma parede. Chorando muito. Aproximei-me lentamente, tentando não fazer barulho algum.

- Bella?

- Saia daqui! – ela disse, levantando a cabeça e gritando ao vento – Vá embora e me deixe em paz!

- Não! – exclamei, decidido – Não sem antes receber uma explicação para todo aquele escarcéu na minha loja. Por que não posso me apaixonar por você?

Ante a essa pergunta, Bella abaixou a cabeça, encarando seus pés, mas coloquei um dedo abaixo de seu queixo e a forcei a me encarar. Mesmo que ela não pudesse me ver de fato.

- Como seria possível alguém não se apaixonar por você, Bella? – falei, aproximando meu rosto do dela a ponto de nossos narizes se encostarem – Com esse seu jeito tão... Incrível e seu sorriso tão lindo, é impossível! – a ponta de meu nariz traçava a linha de sua mandíbula, fazendo-a arfar.

- U-um sorriso de nada vale ser visto se a pessoa não pode contemplar o mesmo fenômeno nos lábios de outra. – disse, os olhos enchendo de lágrimas.

- Já que você não pode ver o tamanho do meu sorriso quando te vejo, deixe-me fazer com que você o sinta! – disse, acariciando-lhe o lábio inferior com o polegar.

Ela entreabriu a boca e sugou o ar. Quase não me controlei e a beijei, mas sabia que precisava dar-lhe um tempo e o direito de escolher. Com a língua, ela umedeceu a boca e mordeu o lábio, levando-me a loucura. Então, timidamente, ela assentiu.

Para ouvir:

Yiruma – River Flows In You

http://www.youtube.com/watch?v=rhN7SG-H-3k

Sorrindo, pressionei gentilmente meus lábios contra os seus. Naquele momento, senti-me pleno. Era uma sensação estranha, como se eu tivesse encontrado em algumas horas o que passei anos buscando: ela.

Minha língua pediu-lhe passagem, que foi concedida rapidamente. Sentir seu gosto era inebriante, algo além da explicação racional! Nossas línguas e lábios não competiam pela dominação, mas se completavam em uma dança sensual deliciosa.

Não sei por quanto tempo ficamos ali. Poderiam ter sido 5 minutos, assim como 5 dias que eu não notaria a diferença. Quando a soltei, estávamos ofegantes; juntei sua testa na minha e, vagarosamente, abri os olhos, percebendo que ela fizera o mesmo.

Por mais que não tivesse consciência disso, Bella olhava-me profundamente nos olhos; de uma forma tão íntima que um arrepio transpassou minha coluna. Retribuí seu olhar, tentando definir a cor de seus olhos, sem sucesso. Peguei sua mão e coloquei-a em meu peito, bem sobre meu coração que agora batia frenético.

- Viu? Fica assim quando olho para você. Não me afaste, Bella, deixe-me amar você!

Ela fechou os olhos, apertando-os com força enquanto grossas lágrimas lhe escorriam pela face de porcelana. Fiquei confuso com isso, sem saber o que fazer. Ela respirou fundo, segurou minha nuca e abriu os olhos, encarando com a mesma intensidade de antes.

- Por que eu não vou poder retribuir da forma que você quer, Edward. Não pelo tempo que você quer e merece!

- Como assim, Bella? Não estou entendendo!

- Eu estou morrendo, Edward.

Congelei. Isso não podia ser verdade.

- Morrendo? Como assim, morrendo?

- Eu tenho um tipo raro de diabetes que agora está muito avançado e não há esperanças de regressão ou cura. Os médicos me deram um ano, no máximo. Por isso sou cega e por isso não posso te amar da forma que você merece!

- Não. Não é verdade, não pode ser! Você é nova, tem a vida toda pela frente!

- Pelo visto, não tenho não...

oOo

Não me importava com aquela teimosia toda. Ela tinha que aceitar que eu não vou dar para trás! Ficarei com ela quer ela queira, quer não; estou nessa para a vida toda, agora.

Com um sorriso nos lábios, terminei os últimos detalhes naquele pingente e no anel. O primeiro no formato de uma pomba, representando a esperança, o segundo no formato de um coração, representando o que eu estava disposto a entregar para ela. Peças de opala; da mesma cor de seus olhos!

oOo

Até hoje eu me lembro daquele dia e do quão difícil foi fazer com que ela acreditasse em mim quando eu dizia que não me importava; que eu estaria ali com ela, sempre.

Consegui fazê-la crer em mim quando dizia que a amava e que queria me casar com ela. Tanto que, oito meses depois daquele dia, ela se tornou a sra. Isabella Marie Masen!

E, três meses depois do nosso casamento, descobrimos que ela estava grávida. Uma pena que não conseguiu manter a criança por mais de dois meses. Isso a quebrou por dentro; ainda mais quando o médico disse que ela havia se tornado estéril por conta do aborto espontâneo e a hemorragia grave que ela sofrera.

Mas nada disso foi um impasse para nós que, um ano depois, adotamos nossa primeira filha: Speranza, a esperança. Depois dela ainda adotamos Jacqueline, aquela que supera e Paolo, o pequeno.

Ao contrário das expectativas médicas, Bella ainda viveu muitos anos. Sempre tomando suas medicações, fazendo os exames necessários e tendo todos os cuidados possíveis, minha esposa veio a falecer com 87 anos.

Com o colar de opalas que eu fizera para ela há tanto tempo ainda em seu pescoço, e nosso anel de noivado (da mesma pedra e também esculpido por mim) em seu dedo.


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Notas finais do capítulo

Eis-me aqui, com essa one-shot enquanto o próximo capítulo de AB não vem.
Espero que vocês tenham gostado!
Ah, e não se esqueçam: reviews, recomendações e seus amigos são bem-vindos!

Baci fiore