A Princesinha do Olimpo escrita por Phallas


Capítulo 7
Capítulo 7 - Indiscrição


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura... ;D



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                "Primeiro vem o estômago, depois a moral."

                                        Bertolt Brecht

- Seline... - Sinto uma mão no meu cabelo. É Dominique. - Acorda, já chegamos.

Eu me levanto com um sobressalto. O avião está parando e todos aqui estão acordados.

- Onde estamos? - Pergunto, sonolenta.

- Ainda não sabemos. - Responde Físion, enquanto juntas as nossas coisas.

Nós descemos com os humanos em nosso encalço. Saimos da aeronave e nos deparamos com mais humanos, ostentando câmeras, microfones e expressões cuidadosamente interessadas que nos olham com ansiedade quando alcançamos o chão.

Nós tentamos sair de perto deles quando a imprensa avança em nossa direção.

- Foi visto que o avião em que vocês estavam sumiu do radar... - Escuto uma repórter falando.

- Vocês começaram a perder altitude muito rápido, e depois subiram de repente... - Ouço outra comentar.

Elas começam a entrevistar as pessoas e eu me sinto meio enjoada.

- Foi horrível, mas eu aguentei firme. - O gordinho dono dos gritos mais estridentes do avião conta.

- Surgiu um bode no meio do nada...

- Começaram a sair cobras e mais cobras da cabine do piloto... arrastando pelo chão, mas aquelas crianças ali - A mulher que está contando a história aponta para nós. - mataram todas com as facas que tinham.

Os câmeras viram-se para nós tão rápido quanto percebemos que é melhor ir embora. Eles começam a correr atrás de nós à procura de uma entrevista mais detalhada, e tentamos fugir discretamente, o que é meio impossível com Dominique gritando do meu lado.

- Por favor... uma palavrinha... como mataram as cobras? E como entraram com facas no avião? - Ouço uma voz ofegante atrás de mim.

Logan para de repente e desvia para a esquerda, ao lado de uma lanchonete do aeroporto. Os repórteres passam reto.

- Certo - Arqueja Dominique - Agora me digam onde estamos.

Logan olha em volta.

- Na Inglaterra, acho. - Diz.

Inglaterra? Todos olham com atenção enquanto Logan tira do bolso uma bússula.

- É, segundo esse aparelhinho aqui, estamos em Londres.

- Onde conseguiu isso? - Pergunto.

- Quíron me deu.

- Ah.

- Isso aí diz onde é o portal? - Físon pergunta, impaciente.

- Sim, mas precisa de alguma coisa para funcionar.

- Que coisa?

- Não sei, alguma coisa mágica.

- Quer dizer que estamos perdidos na Inglaterra, sem nem sequer tem uma pista do portal?

- Portal? - Questiono, mas quando vejo a cara do sátiro e de Logan, percebo que expus minha ignorância sobre o mundo divino mais uma vez e gostaria de poder retirar a pergunta.

- Por onde entraremos. - Físion responde. - Suponho que o primeiro mundo seja o Mundo da Terra, não?

- Sim. - Confirma Logan. - Não vai ser tão difícil de achar o portal, só preciso de alguma coisa mágica...

Dizendo isso, Logan puxa um fio de cabelo da perna de Físion.

- Ai! Está louco?

Logan não responde. Coloca o pelo do sátiro em cima da bússola e espera, mas nada acontece.

- Não é desse tipo de magia que precisamos. - O garoto conclui, em voz baixa, encarando a bússula.

Físion bufa indignado.

- Sério? Que bom que você arrancou esse pelo de mim à toa, então. Foi divertido me deixar careca? Peça licença da próxima vez! - O sátiro grita, arracando o próprio pelo da mão de Logan e tentando em seguida inultimente colá-lo de volta à pele.

Que legal, estamos perdidos na Inglaterra procurando um Mundo da Terra onde não quero entrar, para fazer uma coisa que não quero fazer, para agradar pessoas que não gostam de mim.

- O que fazemos agora? - Pergunto, impaciente.

Logan dá de ombros. Físion está muito ocupado com seu pelo para responder a pergunta. O rosto de Dominique se abre em um sorriso.

- Alôô... estamos na Inglaterra! Vamos fazer compras!

Físion para de tentar colocar o pelo de volta em si mesmo e sorri também.

- Sim! Vamos fazer compras!

Os dois começam a pular animadinhos. Logan e eu nos entreolhamos.

- Calma aí, bode. - Diz Logan, interrompendo a conversa de Físion e Dominique sobre a nova cor de esmalte para cascos e colocando a mão no ombro dele. - Estamos em uma missão. Não podemos sair por aí comprando um salão de beleza para você, cara.

Físion se endireita e cora ligeiramente.

- Não, o esmalte não era para mim, imagina. Não, não era mesmo. Claro que não. Eu são macho! - Diz, batendo no peito e sem querer soltando o pelo que fora arrancado de sua perna. - Ah, o meu pelinho! Volte aqui, pelinho!

Logan e eu nos entreolhamos de novo.

- Como acha que isso deve funcionar, Logan? - Pergunto, apontando com a cabeça para a bússola.

Ele balança a cabeça.

- Não sei. Deve ser magia do mal, eu acho. Precisamos de alguma coisa que contenha magia das trevas.

Físion desiste de pegar o pelo de volta e fala, sarcástico:

- Sério? Então teremos que procurar justamente quem queremos evitar? Não me parece muito inteligente.

 Ninguém fala nada, mas é verdade. Mesmo Físion não sendo o melhor juiz para o que é inteligente ou não, ele está certo nesse ponto. Devemos procurar os monstros? Não era exatamente isso que Quíron nos aconselhara a não fazer?

- É o único jeito. - Diz Logan.

Físion solta uma gargalhada desdenhosa.

- O quê? Sair por aí procurando monstros e outras coisas nojentas? Fique à vontade se quiser ir, bonitão. Diga aos monstros que mandei lembranças, se não te matarem antes.

- Físion... - Digo - Nós precisamos fazer isso. Nosso tempo é marcado e precisamos daquela Garrafa.

O sátiro revira os olhos.

- Está bem. Posso só comprar o esmalte para cascos antes?

Nós olhamos para ele.

- Para... minha tia, Gertrude. Ela vai gostar.

Logan, Dominique e eu o ignoramos e saímos do aeroporto, sem pensar muito bem aonde estamos indo. Olhamos para os lados enquanto caminhamos, para garantir que não estamos sujeitos a mais um ataque da imprensa.

Estamos em uma rua movimentada, com telões nos postes de iluminação. O mais próximo de nós passa justamente a reportagem de nosso voo.

"Aquelas crianças ali mataram todas com as facas que tinham."

Ouvimos uma mulher contar, e em seguida os câmeras começam sua corrida atrás de nós. Nossos rostos aparecem em um close da câmera e, em seguida, um âncora meio careca aparece anunciando que seria ótimo se algum dos telespectadores tivesse algum contato com alguma dessas crianças. Nós escondemos um pouco o rosto para evitar sermos reconhecimos ou interrogados.

Físion, por outro lado, parece contente de ter saído na televisão.

- O que acham? Fico bem deste ângulo, não? Como meu queixo é bonito! Tenho as bochechas do meu pai, sabem.

Não respondemos, devido à concentração. Concentração menos do que inútil, devo dizer. Não há nada aqui que possa nos interessar. Nenhum monstro, nada.

Nossas barrigas roncam em sincronia. Percebemos, enfim, que não comer nada no avião por causa da luta com as dracaenae nos afetou.

A rua em que nós estamos é lotada de barzinhos e restaurantes.

- Logan, vamos parar para comer, por favor. - Peço.

Uma mulher que está na porta de um dos bares escuta o pedido e sorri para mim. Em seguida caminha em nossa direção.

- Olá, queridos. Ouvi que estão com fome, quererm entrar? Onde estão os pais de vocês?

- Não estão aqui. - Logan responde.

Os olhos esbugalhados da velha se tornam piedosos.

- Não estão aqui? Que pena. Entrem, e comam o quanto quiserem, por conta da casa.

 Nós nos olhamos um pouco desconfiados, mas nossa avaliação do lugar é interrompida por Físion, que nos empurra e entra dentro do lugar correndo.

- Graças aos deuses! Comida!

Nós entramos bem atrás dele, e vemos que o sátiro está atacando o prato de farofa de um casal em uma mesa à esquerda.

- Deuses! Isso é muito bom! - Grita, farelos de farofa caindo dos lábios brilhantes por causa da gordura.

 - Por aqui. - A mulher sorri, apontando uma mesa no canto.

Nós nos sentamos depois que Logan consegue tirar Físion de cima das enchiladas de dois velhinhos perto de nós.

Pedimos a primeira comida que vemos no cardápio, que nos é servida com rapidez. Comemos igualmente rápido, ansiando ir embora. Não gosto daqui, na verdade. Acho que Logan sente o mesmo.

As mulheres, muito parecidas com a que nos trouxe até aqui, tentam nos empurrar mais comida que podemos aguentar, e tentamos negar gentilmente.

- Certo. - Logan diz, empurrando a cadeira para trás, enquanto limpa a boca com um guardanapo e se levanta. - Precisamos mesmo ir embora.

Eu e Dominique nos levantamos prontamente. Físion, porém, faz cara de choro e fala olhando para Logan, a voz embargada:

- Já? Nem provei as tortinhas de limão.

Meus Deuses, que sátiro desesperadoramente esfomeado. A impressão que tenho é que ele já comeu a cozinha inteira. Isso sem contar na mordida que tentou dar na clavícula do cozinheiro.

Logan não parece querer saber de conversa. Puxa Físion pelo braço e o arrasta para fora do lugar. Porém, nosso caminho é interditado pela mulher que nos acompanhou até aqui, que tem um sorriso cruel no rosto e diz, expondo os dentes afiados que não tínhamos reparado, mas certamente deveríamos.

- Vão nos deixar tão cedo? Fiquem mais um pouco...

- Não. Realmente vamos ir embora agora. - Respondo.

A mulher tranca a porta de saída e diz, com uma voz completamente diferente da anterior.

- Não, vocês não vão.

      


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