Sentou-se na beirada da cama, olhando para o rapaz adormecido, sentiu um aperto num coração. Medo? E isso poderia, sem dúvida alguma, definir o que ele sentia naquele momento. Estava deixando uma das coisas mais importantes da sua vida. Estava deixando que ele fosse embora sem lutar para mantê-lo ao seu lado.

Por muito tempo achou que era incapaz de fazer isso, de deixá-lo partir sem fazer nada. Porém, agora via que não era tão simples assim. Seu coração doía, tinha que confessar. Respirou fundo, olhando o relógio que marcava 06:12 da manhã. Descansou a cabeça na cabeceira da cama, deixando uma lágrima escapar.

Sofrimento. Essas coisas do coração são tão terrivelmente difíceis de lidar. Gostaria de apenas dizer “Acabou”, dar as costas a tudo e ir embora sem se importar. Mas era totalmente ao contrário, e ambos sofreriam. Sabia disso, tinha total noção do que se passava, mas, ao mesmo tempo, parecia que as informações não se encaixavam.

Era tudo estranho e novo. E ele tinha certo pavor de coisas novas, podia não parecer, mas tinha. A sensação que o tomava era de prepotência. Era de culpa. Achava que não havia dado o melhor de si, mas sabia que isso era estupidez, apenas tentava encontrar um motivo melhor para deixá-lo ir. Jamais escutaria dele palavras que falassem que ele fora um péssimo namorado. Namorado? Quando haviam se definido?

Escutava sua voz baixa e tranqüila dizendo que não precisavam se separar. Lembrava-se do sorriso doce que deu para acalmar o mais novo, mesmo que por dentro seu coração estivesse totalmente despedaçado. Proteção, esse era o nome do que estava fazendo. Achava que a atitude do amado era inocente e infantil, era lógico que precisavam parar ali e o mais rápido possível.

O mais novo se mexeu na cama e o maior estremeceu, esperando ver seus olhos castanhos. Respirou fundo. Seus olhos não se encontraram, o menor continuava a dormir como um anjo. A verdade é que ele não estava pronto para encontrar aqueles olhos. Não estava pronto para nada. Mas tinha que estar...

Levantou-se, vestindo a camiseta roxa. Pegou uma folha de papel e começou a rabiscar algumas palavras. Desistiu logo. Não era bom com palavras de carinho. Aquele não era o seu forte, de forma alguma. Podia ser fofo com gestos, mas não com palavras, elas simplesmente lhe escapavam e ele não conseguia fazer nada para detê-las.

- Não quero te perder, Will... – Sussurrou, o olhando novamente. Sua visão embaçou.

Toda vez que Gabe olhava seu garoto, sentia algo novo, descobria alguma coisa diferente. Eram extremamente encantadoras as sensações que tinha perto dele. Ia perder tudo aquilo. O quão estranho aquilo soava para si? A única coisa que sabia fazer era amar Will.

Esqueceu o maldito papel e as palavras doces. Seria mais fácil para o mais novo assim, acreditando que Gabe não ia sair afetado dessa história. Pegou suas coisas e, dando uma última olhada no garoto adormecido, deixou o quarto, levando consigo as lembranças daquela noite e do que tinham vivido.

Era uma pena que aquilo não mudasse o que sentiam.