Cant You Just Forget It? escrita por lime


Capítulo 1
Capítulo 1




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“Hm... Ah, alô, Will!”, Uma risada nervosa do outro lado da linha, uma voz meio indecisa.

Will sentou em uma confortável poltrona da sua sala iluminada por uma fraca luz proveniente de um abajur, o copo de uísque em uma das mãos longas, o olhar fixo na secretária eletrônica. Por que não atendia logo, já que estava ali e apenas havia deixado o telefone tocando à exaustão até cair na secretária? Era necessário um gesto simples para parar a mensagem patética que vinha a seguir. Ele até já podia imaginar.

“Bem... Não sei se você vai ouvir essa mensagem inteira ou se ao menos escuta as mensagens antes de apagá-las... Digo, você nunca gostou muito de secretárias eletrônicas e mensagens, nunca entendi porque você mantém esse tipo de coisa... E, talvez, você ainda não goste, mas... Okay, estou saindo do foco...”, Nova risada nervosa do outro lado da linha e um suspiro... Ansioso? Não, não era essa a palavra, mas ele não encontrava a certa.

Will deu um sorriso sádico, imaginava o homem ao qual a voz pertencia passando a mão no cabelo de forma angustiada. Sim, ele havia saído de seu foco, sempre iniciava um monologo exaustivo sobre qualquer assunto quando ficava nervoso demais. Algo raro de se acontecer, ele parecia sempre alegre e com uma resposta ideal na ponta da língua. E nem ao menos eram respostas ofensivas.

“Er... Eu apenas queria saber se podemos sair... É que estou em Chicago e... Bem... Me liga quando ouvir isso, meu número continua sendo o mesmo... Ah, sim, é o Gabe aqui. Você sabe, Saporta”, Acrescentou, apenas para ter certeza que o outro sabia de quem se tratava.

Will bufou, tomando o restante de seu uísque de uma vez só. Agora tinha certeza de que não devia ter dado atenção aquela mensagem no momento em que ouviu a voz do outro. Devia ter deixado o recinto e ido beber na varanda do apartamento, depois a apagaria sem remorso algum... Talvez com um pouco de curiosidade, mas nada de remorso. No lugar disso achou mais interessante sentar-se e ouvir todo aquele discurso bobo. Como conseguia ser tão idiota algumas vezes?

E além disso, era óbvio que sabia que se tratava de Saporta, ele não era uma espécie de tapado e muito menos burro o suficiente para não reparar. Conhecia bem aquela voz.

Ergueu-se, olhando o telefone com raiva. Teve uma vontade louca de tacá-lo na parede só para vê-lo desmontando. No entanto não o fez. Não era exatamente uma pessoa agressiva.

O que sentia era a mais pura e genuína raiva. Sua vontade de ligar para o outro e mandá-lo se foder com alguém melhor e mais bonito do que ele – sim, Will, vez ou outra, se considerava um rapaz deveras interessante – era enorme.

Teve que reunir uma força de vontade muito grande para não o realizá-lo. Queria chorar de tão terrível que era aquela sensação. Gabe era quem havia ido embora, não ele. Por que então ele se achava no direito de voltar para sua vida da mesma maneira que havia saído dela?

Sentiu as lágrimas virem e tudo que vez foi enxugá-las com a manga da blusa que usava. Estava desprotegido e um pouco assustado. Dois anos e quando acreditava estar livre, isso acontecia. E ele não estava mais certo sobre sua opinião com relação ao mais velho. Enquanto estavam longe foi fácil negar tudo, mas agora...

Raiva era apenas o que ele tentava colocar no lugar de seus reais sentimentos, fazendo o que considerava melhor para si. Entretanto, sendo contraditório como era, alcançou o telefone e discou o número que ainda não conseguira esquecer. Estava sendo fraco...

Quando chegou Gabe já estava lá. Uma camiseta roxa berrante – como de praxe – e um casaco por cima, a fim de se proteger do frio de Chicago naquela época do ano. O garoto de pele clara sentou-se ao seu lado, sério. Gabe não podia deixar de reparar como ele estava diferente, um olhar frio e sério demais até mesmo para ele. Tentou acreditar que eram gestos premeditados, mas não tinha muita certeza no momento.

“Não sabia que o Cobra estava em Chicago”, Comentou o mais novo logo após pedir um Blue Monday.

“Não está, vim sozinho”, Gabe sorriu para ele, estava à vontade no banco, encostado no balcão do bar, mesmo seu olhar mostrando certa apreensão quanto à reação do outro.

“Interessante”, Falou sem demonstrar interesse algum na verdade, olhava o resto do lugar.

Gabe sentia-se um pouco frustrado por ele estar agindo daquela forma. Conhecia Will e sabia que ele não era assim ao menos que fosse de forma calculista. Entretanto, encontrava certo medo do rapaz ter realmente se transformado naquele tipo de pessoa.

“Por que quis me ver?”, Olhou para ele, sua voz era calma e não tinha um pingo de real curiosidade. Gabe foi pego desprevenido, não sabia agir daquela forma com ele, não tinha uma resposta pronta para tudo quando era ele.

“Eu...”, Começou olhando as próprias mãos.

“Saudades?”, Aquilo fez com que Gabe o olhasse, vendo um sorriso de desdém em seus lábios.

“É,  queria te ver”, Admitiu.

“Oh, eu deveria sentir-me honrado, suponho...”, Desviou o olhar, mas não parecia afetado.

“Não aja assim, Will...”, Pediu, colocando a mão sobre a dele.

Will não a retirou ou fez qualquer coisa, apenas deu de ombros. Gabe estava meio perdido em tudo, não sabia como agir. E ele sempre sabia como agir.

“E o Travis?”, Forçou-se a dizer. Era quase perceptível o ciúmes em sua voz.

“Bem. Pelo menos ele gosta de mim e é alguém bom de ter por perto”, Tomou um pouco mais do drink. Por que aquelas coisas tinham que ser tão pequenas?

“O TAI está trabalhando em um novo cd, não?”, Tentou mudar de assunto, desesperado.

“Sim, está ficando ótimo”, Deu um pequeno sorriso sincero.

Ao menos isso.

Não sabia como continuar agora, com todas as respostas tão curtas e sem emoção. Tudo que conseguira até agora fora aquele pequeno sorriso. Sabia que William tinha motivos para estar chateado, mas depois de tanto tempo esperava que ele fosse minimamente receptivo. E aquilo sem dúvidas estava totalmente fora do que ele chamava de receptivo até mesmo para o seu (ex) pequeno.

“Sabe, Gabriel, o que você quer?”, Will o olhou, a voz serena.

Gabe o olhou, sem entender, fazendo que ele suspirasse, rolando os olhos, um tanto impaciente. Esse era um de seus maiores defeitos: impaciência.

“Você queria me ver, pois bem, aqui estou. Agora posso ir embora ou você quer continuar com esse interrogatório inútil? Ou vai me falar algo que faça que tenha sido justo eu sair nesse maldito frio apenas para te ver?”, As palavras eram ditas com total calma, não condizente com seu olhar meio desesperado.

Sentimentos. Finalmente. Mas aquilo não melhorava a “situação” de Gabe. Ele se sentia mal e se culpava mais do que nunca agora. O que o fazia pensar que ambos haviam esquecido tudo e conseguiam viver bem agora? O que tinham vivido havia sido intenso demais para ser esquecido assim. Eram sentimentos de verdade.

Viu Will pedindo outro drink, olhando fixamente para as várias garrafas com bebidas de várias cores na parede em frente a eles. Quis abraçá-lo de maneira protetora. Mas ia protegê-lo de que, além do próprio Gabe?

“Dizer que sente muito não vai ajudar”, Will comentou assim que Gabe abriu a boca. Virou a bebida toda de uma vez, lhe lançando um olhar indiferente.

Gabe concordou com a cabeça.

“Sabe, já que não vai dizer nada, vou embora. Quanto mais tarde ficar, mas frio vou sentir...”, Will ergueu-se, largando uma nota em cima do balcão.

“Vou te acompanhar até em casa”, Gabe também ficou de pé, o seguindo. Tudo que o outro vez foi dar um aceno com a cabeça que demonstrava que tanto fazia para ele.

As ruas daquela região de Chicago eram bem iluminadas. O frio intenso fazia com que elas estivessem quase sem movimento. Por elas andavam dois jovens homens, calados e perdidos em seus próprios pensamentos. Andavam mantendo certa distância um do outro.

Will não se permitia olhar para o lado e se render ao moreno que o acompanhava. Tornava-se difícil manter-se impassível diante das lembranças que o tomavam pelo caminho. Podia ser frio o quanto quisesse, mas tinha coisas que ele não conseguia esconder e algumas dessas coisas eram os sentimentos que o dominavam agora.

Gabe olhava Beckett sempre, esperando encontrar os olhos claros dele, o que não aconteceu – como ele mesmo previra. O silêncio o incomodava, já que não era exatamente confortável. Porém faltava coragem para quebrá-lo e escutar mais uma resposta seca da parte do outro.

Pararam em frente ao prédio onde o mais novo residia, estavam aquecidos pela caminhada, então não conseguiram perceber que o frio estava mais intenso.

“Bem... Acho que é isso”, Will não teve coragem de encará-lo, precipitando-se em direção a entrada do prédio. Queria tirar aquele peso que tinha nos ombros logo e sabia que só tinha duas opções para isso: ou falar tudo para Gabe ou sumir da frente dele. Achava a segunda muito mais interessante.

“Estávamos aqui na última vez...”, Gabe falou, nostálgico, olhando para o alto. O céu estava encoberto. Tocara no assunto que estava na cabeça de ambos o tempo todo. O assunto que Will queria – loucamente – evitar.

“Ah, Gabe, por favor...”, Começou bravo, virando-se para ele pronto para lhe dar uma resposta grosseira.

O que encontrou foi o olhar magoado de Gabe, – apesar do sorriso doce – as lágrimas começando a surgir sem que ele fizesse qualquer coisa para detê-las. O suficiente para quebrar Will. Só faltava aquilo para ele desmoronar e perder totalmente aquele seu lado que lutava contra seus sentimentos até então.

“Você escolheu isso, foi embora sem se despedir. O que você esperava que fizesse, hein, Gabriel? Queria que eu lhe desse uma festa de boas vindas e o levasse de novo para minha cama?”, Mágoa era a única coisa que a voz de Will era capaz de passar. Era toda a mágoa guardada durante dois longos anos de sua vida.

“Não! Eu queria que você entendesse, William!”, Falou um pouco exaltado.

“Entendesse o que? Que não sou nada para você? Que fui tolo em tentar ser totalmente diferente por você? Em acreditar...”

Seus lábios foram tomados pelos do maior, o impedindo de falar. Não conseguiu o empurrar, não conseguiu reagir de forma negativa. Queria aquele contato. Precisava dele. O correspondia com certa violência, de forma urgente. Dois anos. Nem eles conseguiam ter idéia do que isso significava.

“Eu te amo, tanto que chega dor...”, Gabe o olhou, a voz calma e baixa. Era aquilo que sentia pelo homem a sua frente. Lembrava-se de alguém falando para nunca amar, que aquilo era um ato sado-masoquista. Você machucava a pessoa que amava e, conseqüentemente, a si mesmo. Agora entendia o que aquelas palavras significavam.

“Então por que tudo isso?”, Sua voz saiu fraca. O choro, enfim, o dominando.

Quando percebeu estava envolvido pelos braços dele, chorando compulsivamente, enquanto era guiado para o seu apartamento. Ele não saberia dizer se havia se jogado nos braços do maior ou se o maior havia o abraçado primeiro. Só sabia que agora se encontrava aquecido pelo corpo dele, sentados no sofá de sua sala.

“Por quê?”, Repetiu, a voz menos angustiada. A cabeça encostada no peito do moreno. Uma lágrima ou outra molhava sua camiseta exageradamente roxa. Não queria olhá-lo, queria apenas ficar ali por um longo tempo, tempo o suficiente para a dor passar... Mas ela passaria algum dia?

“Porque sou um idiota, pequeno. Eu acreditava que estava fazendo o melhor para você, que assim você sofreria menos e me esqueceria mais rápido. Entende? Fui um tolo. Agora eu sei que eu nunca deveria ter decidido por nós dois... Eu sinto muito, Will”, Passava a mão pelos seus cabelos, o afagando.

“Você nunca deixou de ser o meu garoto... Só não sei se ainda posso ser o seu”, Completou depois do silêncio que ficou entre ele e o menor.

Will não respondeu, achou que não precisava de uma resposta para aquilo. Eles já tinham tudo que precisavam ali e uma palavra a mais poderia estragar tudo.


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