O Fantasma da Ópera escrita por N_blackie


Capítulo 1
Capítulo 1




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O Fantasma da Ópera

Capítulo I

Paris, 1880

Anoitecia na cidade iluminada, e uma fina garoa fazia com que os transeuntes baixassem as cabeças cobertas por cartolas e chapéus chiques enquanto entrava na luxuosa Ópera de Paris, construída apenas seis anos antes, um símbolo da ostentação francesa. O barulho dos passos enchia o chão de mármore, e o zumzum de conversa ia se dispersando enquanto os casais e amigos subiam aos seus camarotes de honra.

- Odeio fazer isso, Monsieur Fudge. – reclamou um homem baixote e ranzinza, seguido por seu sócio na administração do teatro. Cornelius Fudge e Bartemius Crouch haviam comprado a famosa ópera havia alguns meses, e o primeiro nunca iria se esquecer do dia em que assumira, pois encontraram uma carta sobre a escrivaninha. Uma carta assinada por um fantasma.

Monsieur, dizia uma letra caprichada e corrida,

Pode lhes parecer estranho receber esta carta, já que estão apenas em seu primeiro dia na administração desse templo das artes, ou melhor dizendo, o meu templo das artes. O antigo administrador, Monsieur Claremont, costumava me dar certos privilégios com a condição de que eu não aparecesse.

Minhas últimas duas aparições, o senhor deve lembrar, foram na ocasião da morte de um dos atores principais de Hamlet, que apareceu enforcado no gabinete do ministro, e da destruição dos cenários de Roland, peça que, aliás, eu detesto.

Tudo que humildemente peço é um salário ínfimo de vinte mil francos ao mês e que continuem a reservas o camarote cinco, o qual sempre usei, para que eu assista minhas apresentações preferidas.

Agradecido,

O Fantasma da Ópera

Cuidadosamente, Monsieur Crouch colocou o saco no qual havia os francos ao lado da porta do camarote cinco, saindo resmungando.

- Isso não pode continuar, Fudge! – reclamou enquanto entravam no escritório. – Sabe o prejuízo que estamos tendo com esse fantasma. Aliás, fantasma de mentira, pois nunca vi em toda a minha vida algum fantasma cuja mão fosse firme o suficiente para escrever!

- Mas Crouch, o ator assassinado nos fez perder mais clientes do que pode imaginar... – Fudge esfregou um pano tirado na manga na testa brilhante de suor. – Nós... Nós precisamos continuar a ajudar esse homem, fantasma, o que seja.

- Isso vai parar! – exigiu o administrador, seu corpo magro se jogando na poltrona cor de vinho que adornada um dos lados da escrivaninha. – Não importa como, vai acabar!

- Vamos pensar em outra coisa. – Fudge olhou para os lados, ansioso. – Essas paredes têm ouvidos, meu caro. Tem, sim. Pense nas coisas positivas, que tal? Viu como nossa Emmeline brilha!

Um sorriso passou pelos lábios de Bartemius.

- Sem dúvida. Ela é a melhor. Quando ele chega?

- Hoje à tarde. – sorriu Fudge, satisfeito. – Vai adorar o teatro. Mas, claro, precisamos checar os ensaios. É nosso melhor patrocinador, de jeito nenhum podemos perdê-lo!

Enquanto confabulavam, o palco estava mais agitado do que nunca com os ensaios da nova montagem, palhaços e princesas dividindo o mesmo espaço que as bailarinas, que agitavam – se no ar graciosamente. Carlotta Potter regia as dançarinas de sua cadeira, com a ajuda do jovem James, seu único filho e melhor ajudante.

- Vamos, meninas, todas como uma só! – sua voz cansada bradou. Assim que os pés de todas as moças tocaram no chão, ela sorriu. – Bravo! Bravo! Lily, Marlene, venham aqui!

As duas garotas se separaram do grupo, os cabelos presos em coques apertados. James se afastou educadamente quando a mãe acenou com a mão, e Lily corou.

- Vocês estão ótimas, parabéns. – sorriu a senhora. – Lily, anda praticando os passos que falei? Em alguns meses você pode conseguir o papel de dançarina coadjuvante, é só se esforçar.

- Sim, Madame. – assentiu a ruiva com uma mesura. Seus olhos verdes e a postura firme lhe garantiam destaque na companhia de balé, e como bem sabia Madame Potter, no coração de seu filho. A velha professora de dança tinha pelas duas meninas um enorme respeito, claro. Lily havia saído da região rural da Irlanda para tentar a vida em Paris, deixando para trás os pais muito pobres, para quem mandava dinheiro regularmente. Marlene, por outro lado, era órfã, mas dona de uma das vozes mais invejáveis da capital francesa. Pena que ela seja tão esquecida, lamentou-se mentalmente a mulher.

- E você, Marlene, tem treinado? Estou tentando convencer um velho amigo de palco a te treinar no canto, creio que em um ano poderá conseguir ter voz durante as apresentações, o que acha?

- Oh, Madame, não precisa. – garantiu a morena, sorrindo confiante. – Eu já tenho um treinador.

- Como? – Lily e Carlotta perguntaram ao mesmo tempo. Marlene sorriu misteriosa.

- É meu anjo da música. Fiquem tranquilas, estou sendo bem treinada, eu garanto. Oh, melhor irmos, Lily!

Deixando a professora confusa, ambas correram para seus lugares. A dúvida logo foi esclarecida quando, através da cortina de veludo, atravessou a atriz principal, Emmeline Vance. A loira vestia um vestido chamativo com armação de metal, e os cabelos estavam bem penteados num coque alto e espalhafatoso.

- Onde está Fabian? FAAAABIAN! – Gritou em sua voz afinada, que ela usava para intimidar as moças amadoras. Num salto apareceu seu parceiro, ruivo e vestido de príncipe.

- Olá, minha rainha. – sorriu com devoção, e Emmeline lhe estendeu a mão para que beijasse. – Podemos começar os ensaios?

- Claro! MENIIINAS! – ordenou com os gritos novamente, e as bailarinas se alinharam atrás dela. – UUUM, DOOOIS, TRÊS!

O maestro coordenou os instrumentistas, e a música começou. Enquanto dançava, Marlene sonhava com o dia em que poderia assumir o papel principal. Seis meses antes ela nem sequer cogitava a ideia, pois tinha a voz afinada, mas tão baixa que duvidava que os membros da primeira fila pudessem escutá-la. Então ele apareceu, seu anjo.

Era uma noite muito escura, e quando todos já haviam se retirado para os quartos, Marlene decidira cantar no balanço da praça. Sonhadora, fechara os olhos e começara a entoar sua canção favorita, quando de repente sentiu que estava sendo observada. O medo tomara conta de seus sentidos a princípio, e quando viu a figura alta de cartola e capa, cujo rosto estava obscuro pelas sombras, suas pernas perderam a estabilidade. Quis correr, mas uma mão enluvada a parou.

- Não se alarme, menina. – uma voz grave e musical soou. – A ouvi cantando, mas você apenas dança na ópera. Como?

- Não sou preparada. – admitiu Marlene, ainda receosa, e uma risada baixa vou ouvida.

- Você é linda, só precisa de ajuda. Eu posso te ajudar.

- E-Emmeline Vance é ótima. – falou a garota em voz alta, temendo que aquilo fosse um truque da cantora, que tinha costume de eliminar concorrência. Outra risada.

- Vance é gasta e arrogante. A Ópera precisa de musas. Você é uma musa, querida. Deixa-me ajudá-la. – e estendeu a mão.

- Mas eu não tenho dinheiro.

- Não entende? Não quero dinheiro, quero alguém como você no meu teatro, alguém que saiba cantar, que seja boa, linda e que seduza aqueles que assistem. Vamos, qual o seu nome?

- Marlene.

- Então, Marlene. Posso?

Curiosa, mas ao mesmo tempo seduzida pela conversa, resolveu aceitar. E desde então se encontravam em um canto do porão da ópera, ele sempre escondido, e ela sentada ao piano. Sua voz melhorara muito, dizia, e em poucos meses seria a melhor. Embora assustada, Marlene aprendera a respeitar o dom musical do estranho, e apelidara-o de "anjo da música". Quanto o contara, ele ficou satisfeito, então seu codinome ainda era esse.

Voltando ao mundo real, Marlene sorriu. Madame Potter iria se orgulhar dela. Todos iriam. A música parou subitamente, e todos abriram espaço para a entrada de um jovem nobre, com os cabelos amarrados para trás, e seguido pelos administradores do teatro.

- Aqui está os ensaios, Vossa Senhoria. Atenção, todos! Este é nosso patrocinador, Conde de Marselle, Monsieur Lestrange.

Todos fizeram uma mesura ao jovem, que tirou a cartola para sorrir de volta.

- Lindo, magnífico. Continuem! Continuem!

- Ele estará hoje a noite em nossa apresentação, esperamos o melhor! – Disse Monsieur Fudge, sorrindo nervosamente.

- Ah, certamente teremos o melhor, correto? – garantiu Monsieur Crouch. Emmeline foi a primeira a dar um passo para frente.

- CEEERTAMEENTE. – Cantou, causando risos em todos. Marlene estava acompanhando o coro feliz, quando a voz, aquela de seu anjo, saiu da cortina atrás de si.

- Chegou sua hora, minha musa. Chegou a sua hora.


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