As luzes brilhantes ofuscavam seus olhos, a cidade que nunca dorme, as vezes assustava, as vezes machucava e as vezes curava.

Seus pensamentos voavam, assim como seus cabelos escuros ao vento.

Tinha tomado uma decisão e pedia aos céus para ter forças de seguir em frente.

Estava cansada de esperar uma decisão, e de repente percebeu que , ninguém era obrigado a gostar de ninguém, tinha que entender aquilo de uma vez por todas. Ele parecia confortável com Sofia, sabia de Teri Miller, Lady Heather, tudo agora parecia bem claro. Se ele sentisse alguma coisa por ela, teria aberto sua guarda, tão estranhamente fechada.

Estacionou seu carro e entrou, a boite estava lotada, precisava tentar se divertir, nem que pra isso, tivesse que engolir aquela tristeza imensa que estava sentindo.

Deu uma volta pelo salão e parou no bar, estava se sentindo estranha, aquelas pessoas eram estranhas, sentiu uma vontade enorme de sair correndo, o garçom veio lhe atender e ela ficou olhando para ele, perdida. Deu meia volta e saiu, não era bem aquilo que queria, nem mesmo ela sabia.

Ao entrar em sua garagem, notou um carro com a porta aberta, ao lado de sua vaga, estacionou devagar e saiu.

O estranho olhava algumas chaves, os óculos quase na ponta do nariz, falava sozinho. De repente ele olhou em sua direção e deu um meio sorriso.

_Boa noite. - Ele tinha uma voz bonita.

Ela acenou com a cabeça e seguiu para dentro do prédio, notou que ele a acompanhava, ela olhou para trás.

_Ei, você mora aqui ? - Ele a alcançou.

_Sim, moro no terceiro andar.

_Terceiro … eu também … acabei de me mudar ! Você vai pelas escadas ?

_Eu prefiro.

_Sábia decisão. - Ele sorriu e ela notou que ele era muito bonito, olhos pretos, cabelos grisalhos, as linhas de expressão ao redor dos olhos denunciavam ter bem mais de quarenta anos. Era magro e elegante, embora suas calças parecessem um número maior.

Estendeu a mão para ela.

_Sou Armand e você é ?

_Sara.

_Posso te acompanhar ?

Ele a olhou e conseguiu notar que ela tinha uma certa tristeza, mas era bonita e seus cabelos brilhantes. Chegaram em suas respectivas portas, a dele era bem ao lado. Ela nem sabia que estava desocupado. Sua vida se resumia mesmo ao laboratório e a Grissom.

Deus, como precisava esquecer aquele homem !

….......

O turno dela começou um tanto calmo, ela se fechou em seu silêncio colaborando com a decisão de se afastar dele o máximo que pudesse, e assim ela o fez durante toda aquela semana. Conseguiu evitar que ficassem sozinhos, apenas respondia o que lhe era perguntado e se entregou ao trabalho, como se vivesse apenas para ele, processando as cenas de crime com o máximo de cuidado. Nos encontros para analisar as provas que tinham, opinava com segurança e muita atenção, geralmente não deixava passar nada, deixando seus colegas e supervisor, surpresos.

Grissom havia notado essa distância, toda vez que a olhava era como se ele não estivesse ali, em nenhum momento os olhos dela o encaravam, nem sequer por segundos, não o procurava para conversas nem mesmo de trabalho, e se estivessem sozinhos, em qualquer momento, ela conseguia uma maneira de se afastar. Costumava tomar café, algumas vezes com a equipe, e naqueles dias ela não tinha aceitado nenhum dos convites.

Sentiu vontade de falar com ela, embora nada disso atrapalhasse seu tão dedicado trabalho.

Durante aquela semana que se passou Sara viu Armand por duas vezes, na cafeteria perto do prédio deles e quando entrava em casa no final de seu turno, bem pela manhã, ele, com uma mala enorme em uma das mãos. Provavelmente ele morava sozinho, não notou nenhum movimento de outra pessoa dentro daquele apartamento. Ele a encarava muito simpático, mas foram encontros rápidos.

Tinha decidido voltar a fazer caminhadas pelo parque a algumas quadras dali, o pensamento naquela semana cansativa, seu esforço para se distanciar dele tinha lhe tirado a energia mental, deixando sua cabeça esgotada, já tinha dado algumas voltas quando se deparou com Armand vindo em direção contrária. Usava um agasalho claro e camiseta azul marinho, assim como ela.

Ele parou e a olhou sorrindo, ela fez o mesmo.

_Bom dia … Sara !

_Olá Armand, tudo bem ?

_Não ! Acho que estou velho demais pra isso. - Ele puxava o ar com força, as costas curvadas as mãos em seus joelhos, a olhava sem fôlego.

_Você está bem ?

_Vou ficar, assim que aquele banco vier até mim.

Ele parecia bem humorado e ela riu novamente.

_Precisa de ajuda ?

_Ainda não ….

Ele sentou no banco mais próximo e ela o acompanhou.

_Há muito tempo não fazia exercícios, estou fora de forma.

_Você me parece bem, mas tem que começar aos poucos.

_Pois é, o pouco que está falando é o que estou tentando …. você vem sempre aqui ?

_As vezes, também estou tentando voltar a vida saudável, quase não tenho tempo !

_O que você faz, Sara, trabalha à noite ?

_Sim, meu turno é com as estrelas …. sou CSI !

_Você ? Sempre achei interessante, é um trabalho meticuloso e …

_Cheio de nerds …. - foi a vez dela de fazer uma gracinha.

_Não! Nem passou pela minha cabeça, ia dizer estressante. Ou estou enganado ?

_Também, mas gosto do que faço. E você ?

_Sou engenheiro, supervisão de obras públicas. Temos o mesmo patrão. O governo !

Ele gostou de vê - la sorrir, a tristeza de seus olhos se amenizava. Ela era muito bonita, as pernas longas a emprestavam muito charme e o rabo de cavalo, um ar de menina.

Ela percebeu que ele a analisava e corou. Precisava consertar a indelicadeza.

_Notei que mora sozinha.

_Sim.

_Eu também.

_Namorado ?

_Não. E você ?

_Namorado ? Não. Nem namorada. Sou separado. Somente ex mulher e... um cachorro, que mora com ela.

“Aqueles dentinhos separados, de novo!”

_Então não corro riscos de ser desafiado para um duelo no meio da praça ? Detesto brigas !

_Acho que não ….

Ela se levantou e ele fez o mesmo.

_Preciso ir, tomar um banho e cair na cama. Renovar as energias.

_Claro … gostaria de saber se podemos tomar um café, um dia desses …

_Eu aceito.

_Talvez …. amanhã ? - Ele não queria parecer precipitado, mas estava ansioso para que aceitasse.

_Tudo bem ! Amanhã então !

_Combinado. Bom descanso.

_Bom trabalho pra você.

Ela ia se virando quando ele a chamou.

_Sara, pode me dar seu telefone, você tem horário fixo para sair ?

_As vezes não, melhor seria você também me dar o seu.

Fazia muito tempo que ela não dava o numero de seu telefone para alguém, principalmente um homem.

Depois de sua separação, um tanto difícil, não tivera tanto interesse como estava tendo com aquela morena, que parecia tão misteriosa.