A chuva rebatia contra o vidro da janela de forma até irritante. Mas não para ele, que já estava acostumado. Desceu as escadas, com seus passos ecoando pela casa e parou em frente àquela mesma janela. As pontas dos seus dedos deslizaram pelo vidro, manchando o vapor ali acumulado devido à lareira da sala de estar. Ficou com os pensamentos, assim como os olhos vagos. Não havia mais nada para fazer ali e odiava ficar daquele jeito. Resolveu se deletar inteiro à leitura, e talvez à escrita como sempre fazia. Foi até sua livraria repleta de informações, palavras, conhecimentos, textos, imagens e tudo que se poderia imaginar; buscando um livro de seu interesse. Um especial lhe chamou a atenção, “Fairytale”.

Deslizou os dedos pelas letras em dourado e então pegou o livro em suas mãos, observando as letras caprichosamente escritas à mão. Não havia memória alguma cobre aquele livro, mas parecia, de alguma forma, ser interessante. Caminhou novamente até a sala, sentando-se em sua confortável poltrona de veludo vermelho. Abriu na primeira página, vendo que estava escrita a mão por uma letra família. A sua própria. Mas o que era aquilo? Um diário? Mas por que um diário teria aquele título? Decidiu então ler algumas páginas para saber de que se tratava.

“Há muito, muito tempo atrás havia dois irmãos que vivam num castelo encantado numa terra nova e inexplorada. Um dos irmãos era muito quieto e responsável, enquanto o outro era apenas um brincalhão bobo. Um dia os dois irmãos foram capturados por um dragão malvado! E chamaram um cavaleiro forte e inteligente para salvá-los.”

Lido isto, as memórias lhe vieram à tona. Estavam os três: Alfred, Matthew e Arthur, juntos naquela mesma sala em que o ultimo está no momento, presente. O mais velho estava escrevendo e narrando sua escrita para os dois, que o corrigiam quando a história parecia boba demais. Teve um certo momento que a história parecia tão errada do ponto de vista dos pequenos que o maior teve de escrever em outra página. Lembrando disto, o que estava lendo há pouco, virou a página e encontrou a nova versão da história.

“Há não tanto tempo assim, havia uma linda princesa numa torre bem alta. Os cidadãos colocaram-na ali por ser uma péssima cozinheira e muito temperamental. Mas as pessoas gostavam dela mesmo assim. Um dia um grande e forte dragão chamado Mattie veio e raptou a princesa! Foi então que chamaram o grande e forte e estupendo cowboy da cidade vizinha, o grande Alfred F. Jones! Que matou o grande dragão, salvou a princesa e ainda ganhou um beijo no final!”

O maior não se conteve e riu abafado, sabendo exatamente de quem era tal versão da história. Ficou intrigado com aquele livro! Quando mais lia, mais lembranças vinham em sua cabeça. Mas houve um momento que as páginas do livro ficaram em branco. O maior ficou tão surpreendido que voltou uma página e olhou a ultima frase.

“A princesa não gostava mais do cowboy tanto assim, e o cowboy foi embora.”

Lágrimas borraram sua visão e caíram nas páginas já amareladas do livro. Abriu a ultima página do livro, pensando ter algum desenho ou algo do tipo. Mas havia uma pequena frase escrita numa letra infantil e quase incompreensível. Sabia de quem era e por isso as lágrimas lhe vieram novamente, mas dessa vez, um sorriso lhe cobria o rosto.

“Memories of single princess who defeated a dragon with his horrible food.”