A Sociedade Perfeita escrita por fhyuvdkmchjk


Capítulo 11
Os Túneis de Uma Visão Perdida


Notas iniciais do capítulo

Oioioi.

To adiantada hein?
Cap superdrama esse.


Trilha (sim, eu troquei) - Sally`s Song, Fiona Apple.

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O apito soou, estrondoso e desesperador.

Lorena saiu do avião nos encalços de Charlie, que parecia bem mais valente, embora ainda deixasse um rasto de medo em qualquer palavra que dizia.

Ao pisar em um chão verde e cheio de grama, Lorena boquiabriu-se. Pensava encontrar algumas ruínas sujas e bolorentas, mas era justamente ao contrário. Um campo verde e cheio de flores se erguia em uma faixa de cerca de 10 quilômetros, nenhum habitante à vista.

Charlie sorriu fraco, lendo seus pensamentos.

- A primeira impressão maravilhosa é só pra nos deixar ainda mais desprevenidos. Vai ficar muito pior do que Paris, se você achar possível.

Lorena franziu o cenho. Uma fila única foi formada e andava em uma única direção.  Alguns metros depois, um enorme rochedo de pedras negras surgiu em meio à relva. Lorena percebeu, horrorizada, que havia uma passagem por entre as rochas pontiagudas.

Um túnel.

O sargento impediu a fila de passar, apitando. Ele andou pelo decorrer da fila devagar, olhando nos olhos de cada soldado, até chegar em Charlie, quando ele parou abruptamente.

- Tomem cuidado. – ele disse por fim, e a fila começou a finalmente adentrar por entra as pedras cor de âmbar.

Passaram por um túnel frio e úmido, a escuridão impedia Lorena de ver por onde andava, fazendo tropeçar em vários galhos e pedras até que Charlie apoiasse suas mãos nos ombros da jovem, guiando-a.

Uma luz ofuscante marcava o fim do túnel (literalmente falando), mas a cidade que aguardava estava longe de ser grandiosa.

Imagine a cidade mais horrenda que você já viu na sua vida. Agora imagine uma coisa dez vezes pior. Dublin era muito, muito pior do que isso.

As ruas eram cobertas de manchas de um líquido grosso e vermelho, sombras se moviam na pouca luz que aquele lugar apresentava, e havia um buraco que andava em linha reta e sumia por outro túnel enlameado.

Lorena exclamou, surpresa.

- A estação de metrô!

Charlie fez uma cara de desgosto.

- Acho que pelo menos já foi uma um dia. – Ele suspirou – Vamos!

Lorena seguia o rapaz pelos inúmeros corredores que se seguiam, mas aquele lugar era imprevisível, era impossível saber onde eles se encontravam. Lorena olhou para a linha funda no chão e percebeu o quanto estavam sendo idiotas.

- Vamos lá pra baixo, Lie. Lá podemos ver tudo de cima, podemos enxergar mais pra onde vamos.

Charlie a olhou, o olhar horrorizado.

- Não.

Lorena embasbacou-se.

- E por quê diabos não?

- Não, Lorena, nós não vamos entrar naquele trilho.

Lorena suspirou.

- Está sendo teimoso. O que você prefere? Que nos achem aqui e acabem com a gente?  Desculpa, eu prefiro ver por ande eu ando e, de preferência, não ser morta, obrigada.

Charlie pareceu engolir em seco. A olhou por alguns segundos e rendeu-se, suspirando.

- Tá bom. Vamos então.

Lorena sorriu com satisfação e pulou para o trilho. Charlie repetiu seu gesto logo em seguida. Lorena apanhou a lanterna no bolso, acendendo-a em direção à escuridão dos túneis.

- Vamos.

Charlie protestou, confuso.

- Você disse que só ia checar onde estávamos!

- Sim, Lie, mas nós já vasculhamos esse setor inteiro.  Vamos pra outra estação.

A moça seguiu em frente, firme, o rapaz em seus encalços, por um beco escuro.

- Lorena, eu não gosto disso.

A moça ignorou o comentário, simplesmente continuou andando, o rapaz a seguia, sempre repetindo a mesma frase.

Passado mais alguns quilômetros, porém, Lorena bufou, irritada.

- Que túnel longo! Que droga! – ela passava a lanterna por todas as direções, procurando outro caminho, mas nada encontrou. A luz da lanterna passou por uma placa que continha o nome da estação.

“Hermanstraβe” 

Lorena bufou de novo.

- Vamos. – Ela disse e continuou a andar, mas o companheiro não a seguiu.

Lorena percebeu.

- Charlie, vem.

Ela apontou a lanterna para o rapaz, mas ele parecia congelado em seu lugar. Apenas fitava a placa, uma lágrima escorrendo pelo seu semblante.

Lorena o observava, preocupada.

- Lie? Tá tudo bem?

Lorena virou a lanterna para a placa e depois para o lugar onde Charlie estava, mas ele não estava mais lá.

Um garoto alto, de cabelos cacheados, olhos castanhos e pele sardenta estava parado e olhava fixamente para um ponto, horrorizado.

- Lie... – Um sussurro saiu por seus lábios.

Lorena se assustou. Virou a lanterna para onde o rapaz olhava, um grito agudo saiu de sua boca e ela largou a lanterna no chão, assustada. Um rapaz de cabelos negros jazia no chão, hematomas cobriam seu rosto e ele tentava apanhar um atirador de soníferos largado no chão, mas um homem o impedia, espancando-o. O garoto gritava.

- Theo!

O homem sacou uma arma e apontou para a cabeça do garoto. Seus olhos eram alucinados e ele tinha uma expressão maldosa no rosto.

O homem se preparava para puxar o gatilho, mas foi impedido por um vulto que o empurrou, fazendo-o perder o alvo.

- FIQUE LONGE DO MEU AMIGO! – Theodore precipitou-se para cima do homem, pondo-se na frente de Charlie.

- THEO, NÃO! – Charlie gritou, mas era tarde de mais, o homem atirou, e Theodore jazia no chão.

Estava morto.

********************************************************************

Lorena abriu os olhos. Seu corpo inteiro doía. Após acostumar a visão à falta da luz, percebeu que um homem se punha em sua frente, lhe apontando uma arma.

Ela havia sido derrubada.

Ela não entendia. Como? Ela estava bem ali, dois segundos atrás, sã e salva. O que havia acontecido? Onde estava Charlie? Ele também revira o acidente que ocorrera dois anos atrás?

Um barulho ecoou pelo túnel escuro. O homem preparava para puxar o gatilho. Lorena sabia que era o fim. O tiro soou.

Mas Lorena não sentiu dor. Esperou que ela viesse, paciente. Mas nada aconteceu. Abriu os olhos novamente. O homem largou a arma e saiu correndo, fugindo de algo que Lorena não podia ver.

Ver. Era a primeira coisa que ela precisava fazer.

Apalpou o chão em busca da lanterna. Algo molhado sujou suas mãos suadas. Atingiu finalmente o objeto cilíndrico e ligou-o. Observou com horror que suas mãos estavam vermelhas. Apontou a lanterna para o chão. Uma poça de mesma cor se formava em seus pés. Desesperada, ela procurou com a luz a fonte do líquido, e, felizmente ou não, ela o encontrou.

Um corpo masculino estendia-se de bruços no chão. Possuía os cabelos negros e a pele muito branca. Lorena desesperou-se. Não podia ser, ele não tinha feito aquilo, não podia, não, não, não. Por quê ele tinha sempre que se preocupar com os outros, ele devia se preocupar um pouco mais com si mesmo!

Lorena correu desesperada em direção ao amigo.

“Droga, Lie, droga” – Ela pensava a cada passo que se aproximava do rapaz imóvel.

Virou o corpo gélido do garoto. Ele abriu os olhos, fracamente. Em sua barriga havia um machucado que simplesmente não parava de sangrar. Lorena tirou o colete, desesperada, e firmou por cima do machucado, com o objetivo de estancar o sangue. Lágrimas corriam pelo semblante tanto da moça quanto do rapaz.

-Por que você fez isso...- A garota disse, decidida que era mil vezes melhor que fosse ela ali do que ele.

- Eu não ia deixar nada acontecer com você. Eu te disse.

Lorena suspirou, ainda desesperada com a situação do outro, ao mesmo tempo que o fuzilava internamente. Como podia ser tão, tão teimoso? Ele nunca pensava na própria alma? Nunca? Tudo bem, Lorena admitia que admirava aquele espírito tão heróico do amigo, mas naquela situação ela preferia um milhão, não, um trilhão de vezes que ele tivesse sido egoísta e tivesse fugido e se salvado. Suspirando, pegou a lanterna que havia deixado no chão e passou um dos braços do rapaz pelos seus ombros, percebendo que todo o tempo naquela situação era necessário.

- E eu disse que nada ia acontecer com você. E não vai. Aguente firme. – Lorena disse decidida, utilizando de todas as suas forças para levantar o corpo fraco do amigo. Passou o seu braço direito pela cintura do mesmo, tentando segurar o “curativo” que fizera. A mão da lanterna era a mesma que segurava a mão direita do rapaz, impedindo-o de cair.

Resumindo, a situação de Lorena não era muito fácil.

A menina andava devagar, arrastando o companheiro pela escuridão, ciente de que o homem poderia voltar, ciente de que algo absurdamente ruim poderia acontecer no caminho. Mas ela foi perseverante, e Charlie parecia querer usar de toda a sua força restante para ajudá-la. Parecia muito nobre da parte dele, mas só serviu para deixar Lorena mais irritada ainda em relação ao excesso de cavalheirismo do companheiro.

- Fica quieto! – Lorena reprimiu, irritada, mas feliz ao mesmo tempo, ao perceber que finalmente beiravam a boca do túnel por onde entraram. O problema agora era sair dos trilhos.

Lorena posicionou o amigo em um canto do buraco em que se encontravam. Tirou o walkie-talkie do bolso e ligou-o. Ela só estava interligada com três pessoas: Charlie, Miette e a base central, sendo a última interligada com a enfermaria. A decisão era óbvia, então Lorena não demorou muito para tomá-la.

- May Day, May Day, soldado ferido, repito, soldado ferido! Estamos presos na linha do metrô e pedimos resgate! – Lorena gritava desesperada com o aparelho em sua mão.

- Mensagem recebida, resgate enviado, câmbio desligo. – A resposta veio rápida, tranqüilizando a jovem. Ela pegou novamente o companheiro pelos ombros, preparada. Cerca de cinco minutos depois, a cabecinha de Miette surgiu na fenda. Seus olhos se arregalaram.

- O que aconteceu? – Ela exclamou preocupada.

Lorena deu de ombros, irritada.

- Perguntas de mais, tempo de menos, me ajuda logo!

Miette acentiu com a cabeça e ajudou Lorena a puxar o rapaz para fora da fenda. Logo depois, deu a mão à moça para que ela também pudesse sair. As duas pegaram Charlie e seguiram para o túnel principal.

As duas puxaram o rapaz pelo túnel, tarefa que não foi muito fácil, mas executada sem reclamação. Lorena se preocupava muito com a quietude do companheiro, mas resolveu que era melhor ser otimista em uma situação como aquela. Quando chegaram novamente à relva que cobria a superfície, Lorena odiou aquele lugar, odiou aquele homem, odiou tudo em sua volta, odiou até a si mesma. Um enfermeiro acolheu Charlie em uma maca e levou-o para a enfermaria. Lorena queria partir atrás dele, mas observou que o general lhe olhava fixamente de maneira até preocupante e a jovem resolveu que não era uma boa ideia ignorá-lo.

- Senhor? Está tudo bem?- Ela perguntou.

O general suspirou.

- Por quê é sempre o mesmo garoto? – Ele respondeu meio que pra se mesmo e se retirou, indo em direção à barraca principal.


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Notas finais do capítulo

cap triste esse.

Sniff.

:(

o nome do cap é tipo, muito idiota,ignorem.



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