O Jardim escrita por Harley


Capítulo 1
Unico


Notas iniciais do capítulo

Obs: Qualquer semelhança dos personagens com pessoas reais é mera coincidência



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“Quem? A Harley? Qual é! Ela é uma esquisita”

“Não importa o que você diga, Harley, a culpa é sua”

“Olha la a esquisita passando”

“Harley, entenda isso: eu não me importo com o que você sente por mim. Eu não sinto o mesmo por você. Nunca sentirei”

“Harley, você por aqui? De novo? O que você fez dessa vez?”

“Não esperava nada diferente dessa esquisita lesada”

“Olha o que você fez, sua otária!”

Com essas amargas palavras em mente, Harley encarava a marca do corte que havia acabado de fazer. Já era o quarto. Seu sangue escorria até o cotovelo. Ela decidiu limpar tudo antes que alguém aparecesse.

Desceu as escadas, devagar. Seus pais estavam conversando e rindo,

“Felizes e completamente alheios a guerra pela qual estou passando” - pensou ela

Subiu as escadas, silenciosamente. De volta ao seu quarto, olhou pela janela. Seu olhar parou no jardim que havia do lado da igreja, no fim da rua.

“Meus pais estão distraídos. Posso sair e voltar antes que percebam.”

Harley pegou seu casaco preto e vestiu-o por cima do vestido que estava usando. Calçou o primeiro tênis que viu pela frente. Desceu as escadas novamente. Viu que seus pais não estavam por perto, então saiu silenciosamente, pela porta da frente.

Não havia ninguém na rua. Já era tarde, todos deviam estar dormindo. Estava ventando. Harley puxou o capuz do casaco e cobriu a cabeça. Olhou para o seu vestido. À luz pálida dos postes ele parecia vinho, não vermelho.

Em pouco tempo, Harley chegou ao seu destino, o jardim. Era estranho, ele parecia mais soturno do que das outras vezes em que foi la. Ela olhou para o céu e viu o motivo disso, não havia lua naquela noite. Tudo estava escuro, mas ela ainda se lembrava de tudo no jardim. Na frente havia uma grade, um tanto enferrujada. Ela era pequena, por isso Harley sempre teve facilidade em pulá-la para entrar.

Esse jardim ficava entre a parede da igreja e um muro. Não era muito grande, mas extenso. Tinha uma trilha de pedrinhas, para que as pessoas não precisassem pisar na grama enquanto andavam pelo jardim. Havia uns bancos, uma mesa de piquenique. No fim da trilha de cascalhos havia um memorial, em homenagem a mulher que plantou todas as flores do jardim. Atrás desse memorial estava seu túmulo, motivo pelo qual as crianças evitavam essa parte do jardim.

Harley caminhou até a mesa de piquenique. Sentou-se no banco, tirou o estilete que carregava no bolso do casaco e começou a desenhar com ele na mesa. Já haviam vários desenhos seus na mesa, de todas as vezes em que foi lá

 --Olá Harley

Ela quase caiu do banco, assustando-se ao ouvir alguém falando com ela. Mas, por causa da risada que sucede-se a fala, ela reconheceu quem a assustou.
            --Oi Luna. Nem vi você chegar.
            --Percebi. Você quase caiu – outra risada – Estava tão distraída
            --Estava apenas pensando na vida.
            --Ela tem te dado muito em que pensar, ultimamente, não?
            --Claro!

As duas ficaram em silencio. Então Harley ouviu um barulho como se Luna estivesse tirando algo da sua bolsa. Ouviu o barulho de objetos sendo colocados na mesa.

 -- O que está fazendo? -- Harley perguntou.
           --Iluminando -- ela respondeu, acendendo um fósforo.

Harley viu que Luna havia colocado velas em cima da mesa. Ela acendeu todas, eram cinco.

 --Você sempre carrega velas?
           --Não. Mas hoje não tem lua e eu não tenho uma lanterna – Luna respondeu, como se fosse a coisa mais obvia do mundo.

Com a luz das velas Harley podia enxergar melhor. Viu que Luna estava com a mesma expressão feliz de sempre. Reparou que o olhar dela estava fixo em um lugar. Seguiu seu olhar e viu que esse lugar era seu braço. As mangas do seu casaco estavam erguidas, revelando os cortes. Harley puxou as mangas do casaco rapidamente.

 --Mais um amiguinho para a sua coleção?
           Harley não disse nada.
           -- Que lindo isso
           --Você está brava? - Harley perguntou
           --Quem? Eu? Não. Nem deveria. A vida é sua
           --Você está brava sim
           --Claro que não, Harley. No seu lugar acho que teria feito a mesma coisa.
           --Não teria, não. Você é mais otimista que eu
           --Fato.

O silencio instalou-se por alguns intantes. Luna brincava de passar o dedo rapidamente na chama da vela. Depois de algum tempo, ouviram alguém se aproximar.
            --Estou atrasada para a festa?
            --Bianca – disseram elas ao mesmo tempo
            -- Oi garotas – Bianca disse, sentando-se no banco do outro lado da mesa, ficando de frente para elas.
            --Então... Muita coisa acontecendo? - perguntou Harley
            --Até que não – Bianca respondeu
            --Até que não. Sei. - disse Luna maliciosamente
            --O que houve? - perguntou Harley
            --Bianca não te falou que ela está namorando?
            --Cala a boca, babaca

Luna começou a rir. Bianca ia brigar com ela, mas ouviram um barulho.
            --Ei! Que zona é essa?

Todas já sabiam a quem pertencia essa voz.
            --Nick – disseram juntas
            --Alo, garotas – disse ele, enquanto sentava-se ao lado de Bianca – Ah, Luna, uma coisa importante: diminui o volume da risada. Eu te ouvi quando estava no portão. Quer acordar os vizinhos?
            --Que vizinhos? - perguntou ela - A única pessoa que esta perto o suficiente para acordar com a minha risada é a Dona Consuelo, que aqui jaz por ter dedicado sua vida a esse jardim – ela repetiu as palavras que estavam escritas no tumulo dela.

Todos continuaram conversando por algum tempo, como sempre fazem quando se encontram no jardim, sob a luz das velas que Luna havia trazido. Todos riram e se divertiram Harley até se esqueceu de seus problemas. Mas alguma coisa ainda a preocupada. De vez em quando ela olhava para trás e para os lados. Seus amigos logo notaram isso.
            --Procurando por alguém Harley?- Bianca perguntou
            --O que? Ah, não.
            --Essa foi a mentira mais mal contada de toda a sua vida – disse Nick.
            --Não. É só que... Ah, não sei direito.
            --Não é obvio, gente? - Luna disse – Ela está esperando o Vincecopata

Nick e Bianca riram mas Harley continuou séria.
            -- Vincent – ela corrigiu
            -- Ah sim. Esqueci. Desculpe – Luna disse inocentemente

Harley encarou-a. Mas não conseguiu ficar seria por muito tempo.

 -- Sua babaca – disse ela rindo
           De repente, um vento forte passou por eles, apagando as velas.
           -- Mas que mer...
           -- Luna! - Bianca interrompeu-a
           --Nem vem com essa de novo, Bianca. Você sabe que eu...
           --Ei, ei, ei, ei, ei – Harley interrompeu-a – Estão ouvindo isso?
           --Isso o que? - perguntou Nick
           --Um barulho – Harley disse baixinho, quase sussurrando – Como se alguém estivesse andando no cascalho
           --Deve ser um cachorro – disse Nick
           --Ou um gato – Bianca sugeriu
           --Talvez seja uma alma maligna sedenta por sangue. E ela está vindo na nossa direção.
           --Cala a boca, Luna – Harley disse – Pode ser alguém
           --Quem? O Vincent? - Nick perguntou.

 -- Nos podemos considerar que o Vincent e a alma maligna são a mesma pessoa – disse Luna – Então, se for ele vindo, eu estou certa

--Faz sentido – disse Nick

--Luna você pode acender as velas – perguntou Bianca

--Claro – ela pegou os fósforos, acendeu a primeira vela e entregou-a ao Nick – Uma vela pra você – acendeu a segunda e entregou-a a Bianca – Uma pra você – acendeu a terceira e entregou-a à Harley – Aqui, um presente pra você – acendeu a quarta e colocou na sua frente – e uma pra mim – acendeu a ultima – E a ultima...

--Eu posso ficar com a ultima – disse uma voz grave ao lado de Harley.

Todos se viraram para ver quem estava lá. Um rapaz, vestindo um sobretudo preto. Seu cabelo era um pouco comprido e ele tinha uma cicatriz cortando a sobrancelha.

-- Vincent! - disse Harley, provavelmente a única feliz em vê-lo.

-- Luna. A vela –  disse ele

-- Sim, claro – disse Luna estendendo a vela pra ele

-- Então Vincent... O que o trás aqui? - Bianca disse.

-- Bianca, você falou como se ele fosse indesejado – disse Harley, levemente indignada com a amiga.

-- E ele é – sussurrou Luna disfarçadamente no ouvido de Harley

Por baixo da mesa, Harley chutou a canela de Luna, que olhou feio pra ela.

-- O que eu quis dizer – corrigiu Bianca – É que você não vem sempre aqui.

-- Sim, eu sei – disse Vincent – Eu vim para falar com a Harley.

-- Comigo? - disse Harley, um pouco espantada

-- Não. Comigo – disse Luna, sarcasticamente – mudei meu nome para Harley agora.

-- Então - continuou Vincent, ignorando o comentário de Luna – será que         poderíamos ir a um outro lugar? Queria falar com você.

--Claro – disse Harley pegando sua vela e levantando-se

Harley e Vincent andaram um pouco, até chegarem ao fim do jardim. Eles estavam ao lado do memorial e do tumulo de Dona Consuelo. Harley não via mais seus amigos, apenas o brilho das velas, longe de onde estavam. Ela se virou para perguntar a Vincent o que ele queria conversar, mas ele estava mais perto do que ela esperava.

 -- Harley – disse ele, segurando-a pelo braço, para que não se afastasse – tem tantas coisas que eu gostaria de te dizer. Não sei como começar.

Ele fechou os olhos e respirou fundo. Abriu os olhos e continuou

 -- Eu sei que você está mal. Você está passando por muita coisa e isso pesa em você. Eu também sei o que você faz quando esse peso chega ao seu limite – ele desviou rapidamente o olhar até o pulso dela – Não gosto de quando você faz isso. Você pode perder o controle. Eu te prezo muito e tenho certeza que seus amigos também. Se cuide Harley, eles não suportariam te perder.

-- Porque está me dizendo essas coisas? - perguntou a garota, confusa – Achei que você não se importasse

-- Me importo.Mas não quer dizer que você deve ficar perto de mim.

-- Porque?

-- Fique perto de seus amigos. Eles te amam

-- Mas porque eu não devo...

--Eu não sou o  mesmo o tempo todo – ele disse, bruscamente – Eu me importo, mas existe algo que me muda. Esse algo não se importa. Quase como a alma maligna que a Luna disse. É como se ela morasse dentro de mim. Todas as coisas que eu te disse e que te magoaram, não fui eu

-- Vincent, você percebeu o que disse? Isso é loucura

-- Eu sei, Harley. Mas preciso que acredite em mim – ele puxou-a para mais perto – Eu nunca mentiria para você sobre isso. É verdade. E é por isso que eu preciso que você se afaste

-- Mas o que tem... -- Isso que há em mim usa tudo o que você diz. Como se...

Ele parou de falar de repente. Seus olhos se fecharam com força. Quando abriu, havia algo diferente. Não havia cor

 -- Harley

O modo como seu nome foi dito à fez lembrar de todas as palavras amargas que ele disse. Mas ela viu que havia diferença entre esse Vincent e o Vincent que estava conversando com ela até então. Ela começou a acreditar em tudo que ele havia dito a ela. Todo esse assunto de “alma maligna” fez sentido quando ela viu que os olhos dele perderam a cor. Ao perceber que ele dissera a verdade, a primeira coisa que sentiu foi alívio. Todas as palavras que a magoaram não foram ditas pelo Vincent que ela amava. Mas, infelizmente, o Vincent que ela amava só existia com o que a magoava. E agora o Vincent que a magoava estava segurando-a pelo braço, impedindo-a de fugir.

 -- Harley. Você se recusa, não é? Se recusa a se afastar de mim. Não importa o que eu diga.

-- Vincent, esse não é você. Volte a ser o que você era.

-- Bobinha. O Vincent que você ama, não existe sem mim

-- Mas eu pensei que...

--Não importa o que você pensou. Ninguém se importa com isso. Desista, Harley. Você não pode mudar o que sou. E eu sou isso. Eu não me importo. Pode continuar achando que isso – ele tirou a mão do braço dela e começo a segurá-la pelo pulso – te traz alívio. Se você perder o controle as únicas pessoas que vão sentir sua falta são aquelas ali – ele apontou para os amigos dela sentados longe – Mas não se preocupe, eles superam isso.

-- Não diga isso. Não é você que sente  -- O que eu sinto? Você por acaso sabe o que eu sino? Não. Mas eu sei o que você pensa. Sei o que você sente. “Eu faria tudo por ele, Luna, e o pior é ver que ele não daria um passo por mim” - ele riu - “Sim, eu ainda amo ele depois de tudo. Só não me peça para explicar porque, bianca. Porque nem eu sei”

-- Como você sabe disso? - disse a garota começando a chorar.

-- Seu amor é patético. Desista.

Harley tentou fugir, mas ele segurou seu pulso mais forte, fazendo os cortes doerem mais.

-- Me solta, Vincent.

-- Ou o que? Vai chamar seus amiguinhos? Olha eles lá. Estão rindo, se divertindo sem você. Porque você não desiste.

Essa era a pergunta que ela se fazia todos os dias. Ela estava quase desistindo. A dor era insuportável, tanto em seu pulso quanto em seu coração. Desistir acabaria com essa dor. Mas então ela viu que estava carregando uma vela. Jogou- em Vincent. Ele soltou por alguns instantes, que ela aproveitou para correr. Mas ele logo se recuperou do susto e foi atras dela. Puxou-a pelo casaco, mas ela tirou o casaco e continuou correndo. O caminho até onde seus amigos estavam parecia muito maior. E Vincent era mais rápido que ela. Alcançou-a e segurou pelo pulso.

-- Me solta.

-- Você nunca se verá livre de mim

Ele apertava seu pulso muito forte. Seus cortes começaram a arder. De repente todos eles, até mesmo os que já haviam cicatrizado, começaram a sangrar.

-- Você acha que eu não sei que isso é cupa minha? Eu sei. Mas é divertido colocar toda a culpa em você.

-- Você não é o Vincent por quem me apaixonei.

-- Infelizmente para você, sou sim.

-- Então talvez  você também me ame

O que ele fez em seguida foi algo que ela nunca imaginou que faria. Ela sabia que não poderia fazer Vincent soltar seu braço na base da força, ele era muito mais forte que ela. Então, antes que ele pudesse fazer algum comentário sobe o que ela disse, ela se aproximou dele e o beijou.

Devo informar que infelizmente, o que os dois sentiram com esse beijo não pode ser descrito por palavras. Sentiram-se confusos, com certeza. Isso não era algo que eles esperassem que acontecesse. Mais isso os fortaleceu, mesmo que apenas por pouco. Quando Harley se afastou, viu que os olhos de Vincent haviam recuperado a cor. Soltou o pulso dela, que continuava sangrando. Olhou para o sangue em sua mão e compreendeu o que havia acontecido.

 -- Corra, Harley. Corra.

Foi apenas isso que ele disse, mas foi o suficiente para ela compreender. O Vincent de olhos sem cor, voltaria e ela não deveria estar por perto quando isso acontecesse.

Harley olhou para ele pela ultima vez. Ela queria ficar, mas isso faria com que todo seu esforço para controlar fosse inútil. Ela se virou e começou a correr, sem olhar pra trás.

Mas ela não conseguiu correr muito. Havia perdido muito sangue, estava fraca. Tentou gritar, mas não conseguiu. Ela cambaleava, tropeçava nas pedras, ela ia cair. Mas algo a impediu.

 -- Não se preocupe, Harley – disse Nick – você vai ficar bem

Nick, Bianca e Luna a seguravam. Impedindo-a de cair

Eles a carregaram até a entrada do jardim. Como estava sem forças para ficar em pé, deitaram ela no chão.

-- Harley. Não foi o Vincent – disse Luna, exasperada – Foi a Dona Consuelo que fez isso -- Luna, se controla – disse Nick – Isso não vai ajudar -- Gente – disse Harley baixinho, pois já não lhe restavam mais forças - eu quero ir pra casa. -- Precisamos de ajuda – disse Bianca – continue acordada Harley. Eu volto logo

Após dizer isso ela saiu correndo

-- Nick, fique aqui com ela – disse Luna – Eu já venho

-- Onde vai? -- Fique aqui com ela. Eu já volto

-- Luna, você não vai atras do Vincent

-- Não disse que ia

-- Nem precisa dizer

-- Luna –  sussurrou a garota, usando a pouca força que lhe restava – Não faça mal a ele. Ele não é uma pessoa ruim. Ele me ama.

-- Certo. Se ele me disser isso e eu ver a verdade nos olhos dele, ele não  sofre. Continue acordada, Harley. Tudo vai dar certo

Após dizer isso, ela saiu correndo em direção ao final do jardim, ignorando os protestos de Nick.

-- Que garota teimosa – disse ele -- Não a culpe. Ela é assim -- Eu não deveria ter deixado você ir falar com ele

-- Não diga isso. Eu precisava ter ido

-- Não te entendo, Harley -- Eu também não

Eles ouviram alguém correndo na direção deles. Era Bianca

-- Ajuda está a caminho. Chamei uma ambulância e seus pais, Harley.

-- Que lindo, eles vão amar me ver nesse estado

Pouco depois ouviram outra pessoa correndo. Luna

-- Já voltou? - peguntou Nick

-- É. Ele não foi muito longe

-- Ele te disse que me amava?

-- Com outras palavras, mas sim

Ela sorriu e fechou os olhos, se deixando levar pelo cansaço e pela dor que a consumia

Quando acordou, ela não estava mais na calçada, em frente ao jardim. Estava deitada em um lugar macio. Seu pulso não doía mais. Sua cabeça porem, doía muito. Ela não se lembrava de nada. Estava acordada, mas manteve os olhos fechados devido ao cansaço

 -- Quando ela vai acordar?

Harley se sentiu aliviada no momento em que ouviu a voz impaciente da Luna. Mas o alivio veio junto com todas as lembranças do que havia acontecido

 -- Luna, se acalme – disse Nick – isso não é algo que podemos apressar              -- Infelizmente – disse Luna, baixinho

 -- Luna, paciência é uma virtude – disse Harley, ainda de olhos         fechados

-- Harley, você... o que?

Ela abriu os olhos devagar e sorriu ao ver a cara de espanto de Luna.

-- Oi, gente

Luna levantou-se da cadeira onde estava sentada e correu até a amiga, para abraça-a.

-- Luna, não – disse Nick puxando ela pelo casaco.

Depois que Nick a puxou, Harley pode ver melhor onde estava: um quarto de hospital. Paredes brancas, algumas cadeiras. Ela estava ligada a alguns aparelhos que monitoravam os batimentos cardíacos.

-- Porque estou em um hospital? Foi tão grave assim? -- Quando a         ambulância chegou – disse Bianca – você já tinha perdido muito sangue. Só sobreviveria se fosse trazida para cá -- E meus pais? -- Já estão sabendo de tudo – disse Nick – estavam aqui até agora pouco. Mas sairão para conversar com o médico

-- E o Vincent?

Nick e Bianca olharam para Luna, que permaneceu em silenciosa

-- O que aconteceu com ele?

-- Calma, Harley.Não se desespere – disse Luna – Eu fui atras dele. Ele ainda estava no jardim. Parecia que estava lutando contra alguma coisa. Dentro dele. Os olhos mudavam de cor toda hora. Na verdade não mudavam de cor, eles perdiam a cor. Então, em uma das vezes em que os olhos dele estavam normais, ele se virou para mim e disse: “Diga a Harley que eu não gosto de vê-la sofrer. Estou fazendo isso por ela”. Então ele... ele...

-- Ele o que? - perguntou Harley com lagrimas começando a rolar uma atras da outra – Ele o que?

-- Ele se matou

Harley fechou os olhos e chorou em silêncio enquanto seus amigos a consolavam. Mas ela sabia que isso foi o melhor pra ela

Alguns minutos depois seus pais entraram no quarto. Bianca, Nick e Luna ficaram ao lado da cama dela.

-- Harley, querida – disse a mãe dela – eu não... é tão... eu não sei o que... -- Não precisa dizer nada mãe. Eu sei que é muito confuso. Me desculpem por fazer vocês passarem por isso

-- Só nos prometa, querida, que não irá mais fazer isso

-- Prometo, mãe

-- Foi uma sorte termos chegado a tempo – disse o pai dela

-- Sim, ainda bem  que Bianca foi chamar vocês. Se não fosse por ela, Nick e Luna e nem sei se eu estaria... Bem... Viva

-- Quem, filha?

-- Bianca, Nick e Luna. Meus amigos. Ainda não apresentei eles pra vocês, né? -  Ela se virou para onde eles estavam – Luna, Bianca, Nick. Meus         pais. Pais. Luna, Bianca, Nick

-- Filha , não há mais ninguém nesse quarto

-- Como não? Eles estão aqui do meu lado 

-- Filha, você esta bem? Está com febre?

-- Não estou com febre. Como vocês não podem vê-los? Eles estão aqui comigo. Sempre estiveram. Estavam ontem, estão agora.

-- Quando nós chegamos ode você estava, não havia ninguém por perto.             -- Havia sim. Digam a eles, gente.

-- Harley- disse Nick – não podemos dizer nada para eles. 

--Porque não? 

-- Eles não vão nos ouvir – disse Bianca – nem nos ver 

-- Como assim?

-- Só você nos vê, Harley – disse Luna

-- Filha – disse o pai dela – você está falando com quem?

-- Eu não sei – disse a garota começando a chorar – estou confusa. Eu não sei de mais nada. O enfermeiro entrou no quarto. -- Acho que é melhor vocês saírem – disse ele – a Harley precisa de repouso

O modo como ele disse seu nome, despertou milhares de lembranças. Harley olhou para ele, nunca tinha o visto em toda sua vida. Mas havia uma coisa nele que ela reconheceu.

Seus olhos não tinha cor.


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