- OQUE? – ela perguntou alto, me encarando.

- Porque todo o espanto? Isso é ótimo! – disse não entendendo o porque dela ter se assustado.

- Não, isso não é ótimo nem um pouco! – disse ela brava me encarando – eu não quero ser uma cópia sua, eu não quero que pensem que sou sua amiga só porque você é popular, porque eu não sou fútil como muitas delas desse grupo. Eu quero só ser eu mesma, mesmo que me chamem de careta, mesmo que me odeiem, porque eu não ligo! A única coisa que me importa é o que eu acho e quero de mim, então não tente me seguir, não tente me fazer uma de você, porque eu não sou assim, tudo bem? – disse ela.

 Juro que me assustei, nunca pensei que ela achasse assim, pensei que ela gostasse do que eu fazia.

- Eu não quero você uma cópia de mim, eu só te inscrevi porque você é muito boa, eu vi você aquele dia lá em casa, são poucas as que têm força suficiente pra se equilibrar daquele jeito em uma barra de treinamento, sem contar que você deu um mortal no ar que me impressionou – disse eu.

 Ela resmungou um “Hunm” e voltou a olhar para o espelho, ainda ajeitando seu rímel.

- Sakura, é uma chance de você provar pra todo mundo que você é capaz, e não deixar elas te humilharem – eu suspirei – pelo menos tenta, se não for por mim, tenta por você, você é capaz.

- Eu já disse que não quero! Chega desse assunto – disse ela, e saiu do banheiro.

 Respirei fundo e sai dali também.

 Voltei a mesa e sorri. O resto do jantar foi estranho, conversávamos pouco, porém Sakura não se dirigia a mim quanto falava.

 Não, juro que não falei aquilo por maldade, juro mesmo.

 Ficamos umas duas horas ali, depois pedi a Gaara que voltássemos para casa, eu não havia dormido noite passada, não aguentaria ficar sem dormir novamente essa noite.

 - Você e Sakura não pareceram conversar muito hoje – disse ele abrindo a porta do apartamento.

 Eu entrei.

- Estávamos normais – menti.

- Você mente mal loira – disse ele, e me beijou.

 Separamo-nos por falta de ar.

- Eu preciso dormir direito hoje, ontem eu virei à noite, to com sono – disse.

- Hn - ele sussurrou e me soltou.

 Fui até meu quarto e me vesti. Escovei meus dentes, ia dormir, quando resolvi ir até a cozinha beber agua.

 Passei pela sala e Gaara estava vendo filme, uma prova de amor. Estava no comecinho, eu sei por que simplesmente é um de meus filmes favoritos.

 Corri até a cozinha, bebi agua e fui até onde ele estava.

 Sentei ao seu lado e comecei a ver o filme.

 É claro que eu estava com sono e queria dormir, mas sabe quando vem àquela força sobrenatural e te puxa para fazer algo? Então, foi isso que aconteceu comigo.

 Já estava na metade do filme, naquela parte em que a mãe dela raspa a cabeça só para ficar igualzinha a filha, ai, eu já estava chorando, em silêncio é claro, mas é impossível não chorar vendo um filme desses. Desafio você a tentar.

 Comecei a ficar com sono, deitei no sofá, com Gaara mexendo no meu cabelo.

 O filme já estava no finalzinho, sentia meus olhos fecharem por conta própria.

 Dormindo, era o que eu fazia, quando acordei sentindo alguém me carregar.

- O que você tá fazendo? – perguntei de olhos fechados.

 É, provavelmente Gaara estava me carregando.

- Dorme – disse ele.

 E assim eu fechei os olhos, acho que eu estou com sono mesmo, haha.

 - Ino, acorda merda! – disse Gaara me sacudindo.

 SHIT, como é que uma pessoa pode acordar a outra sacudindo-a?

 - Isso é jeito de acordar os outros? – perguntei brava de olhos fechados ainda.

- Eu estou tentando te acordar já faz cinco minutos, você não acordava de jeito nenhum – disse ele com uma cara nada amigável.

- Fuck it – murmurei em inglês, é, quando eu vou xingar sempre prefiro outro idioma, é mais legal, haha.

 Sabe quando você acorda com aquela disposição sobre-humana? Com uma vontade imensa de olhar para a janela e dizer “Que dia lindo”, depois sorrir e olhar para o sol, que está radiante, e ir para o banheiro tomar um banho relaxante, porque você está tão alegre que nada te desanima? Então, sabe, isso NÃO aconteceu, pelo contrário, estava um tempo nublado desgraçado.

 Gaara saiu do quarto e eu, com muita, mas MUITA preguiça me ARRASTEI até o banheiro.

 Escovei meus dentes e me olhei no espelho, eu havia dormido de maquiagem, a qual se encontrava toda borrada agora. Dica: Nunca durma de maquiagem, principalmente se ela for preta, porque vai ficar toda borrada.

 Tirei-a, lavei meu rosto e fui tomar um banho.

 Tirei minha roupa e liguei o chuveiro.

- KUSO! – exclamei um pouco alto, mas ninguém iria conseguir ouvir – Essa “coisa” de agua tá fria – disse para mim mesma, bufando de raiva. Dando ênfase no “coisa”.

 Merda de chuveiro a gás, demora pra esquentar.

 Um minuto depois essa desgraça esquentou, tomei meu banho, quando abri o box para pegar minha toalha, cadê a filha da mãe?

- MERDA – disse alto.

 Eu havia esquecido no meu quarto.

 O quarto era uma suíte, então não teria problemas. Peguei minha toalha no meu quarto, nem precisando dizer que eu molhei bastante o chão, haha.

- Ótimo jeito de começar o dia – murmurei baixo, com raiva.

 Me enxuguei, enrolei-me na toalha e fui procurar uma roupa.

 Abri minha mala e fiquei procurando algo.

- ANDA INO – gritou Gaara.

 Um fato: Nenhuma mulher gosta que a apressem.

- SE VOCÊ TÁ COM PRESSA VAI SOZINHO ENTÃO – gritei com raiva.

 Voltei a procurar algo na minha mala. Acho que uns cinco minutos depois eu já estava pronta, só faltava à maquiagem.

 Passei um lápis e um rímel, nada muito forte. Peguei minha mochila e sai. Voltei correndo e passei meu perfume, haha, não saio sem.

 Encontrei com Gaara bravo na sala.

- Já não tinha te mandado ir sozinho? – perguntei com desdém, ele apenas me olhou bravo.

 Não, eu não o beijei, tampouco fiquei andada de mãos dadas com ele, abraçada menos ainda.

 Tem gente que acha que tudo é um conto de fadas, mas nem é bem assim. Realidade cruel.

 Pegamos um ônibus (para piorar o começo do dia, o que faria com que todo o resto fosse uma porcaria) e fomos para o colégio.

 Estávamos um pouco atrasados, não muito, o que me fez matar Gaara mentalmente, eu havia esquecido de colocar meus brincos por culpa desse chapeuzinho vermelho idiota, Argh.

 Chegamos e fomos direto para a sala, muita gente no corredor, enquanto eu passava, encarava. Eu ignorei isso, como eu faço sempre, mas eu não sorri.

 Abri a porta da sala com extrema força, esta ainda estava um pouco vazia.

 Joguei literalmente minha bolsa na ultima carteira, e ali sentei. Coloquei os fones de ouvido e comecei a ouvir uma música lá, eu nem me lembro do nome.

 Assim que o professor chegou, me debrucei sobre meu fichário, para que ele não percebesse os fones.

 Deste modo passei a aula, e as que a sucederam.

 No almoço eu não larguei de meus fones, comi quieta no meu canto, enquanto as garotas do time falavam basteiras, ignorei-as.

 Hoje não teríamos treino, só teríamos as audições daqui a meia hora, mas isso era tranquilo.

 Assim que acabei de almoçar fui até onde Sakura estava. Desliguei meu celular e o guardei, juntamente aos fones, na minha bolsa.

- Posso conversar com você? – perguntei, me sentando onde ela estava.

- Eu já acabei meu almoço – disse ela, e se levantou.

 Fui atrás dela, que saiu em direção a um corredor.

- Sakura, para de fugir, eu quero conversar com você – disse eu brava.

 Ela parou e me encarou.

- Na lanchonete do outro lado da rua, não vamos conversar aqui no corredor – disse eu a puxando.

 Fomos até a lanchonete aonde sempre íamos depois do colégio.

 Sentamos em uma mesa de onde dava para ver o colégio de frente.

- Sakura, a respeito de ontem – disse eu, porém ela me interrompeu.

- Você ainda não desistiu dessa ideia? – perguntou ela me encarando.

- Me deixa continuar – disse eu brava a olhando – ótimo – sorri – continuando, a respeito de ontem, eu não tinha intensão alguma de fazer você ficar mal, eu não quero que você seja como eu, eu só achei que você era capaz de entrar no time – disse.

- Ino, eu não quero, eu sou bem feliz do jeito que eu sou sabe? Pra você pode parecer careta, coisa chata ficar focada nos estudos e algo do tipo, mas eu gosto disso, é a minha realidade, e por mais que você diga o contrário, que você negue, está tentando me tirar dessa realidade, e eu não gosto disso – disse ela.

- Pelo menos me ouve – disse – Olha, tudo que você disse, pode ter razão, a vida é sua, mas dá uma chance para eu te mostrar outro jeito.

 Ela suspirou.

- Você não vai desistir não é? – perguntou ela me olhando.

- Não! – respondi.

- Tá então, eu só vou fazer o teste, mas é só pra você parar de me irritar, porque eu já estou com dor de cabeça – disse ela.

 Nháw, consegui.

 Dei um gritinho e a abracei, estava feliz.

- Só que isso não quer dizer que eu vá entrar, eu só vou fazer o teste, se eu gostar quem sabe, se não eu não entro – disse.

- Tudo bem – sorri.

 Peguei minhas coisas e fui para o ginásio.

 Lá a treinadora me esperava.

 O ginásio estava super cheio de garotas, juro que me assustei quando vi.

 Fui até o centro, onde estava a treinadora numa mesa grande, com duas cadeiras e dois microfones.

 Dirigi-me até ela, enquanto sentia que muita gente me olhava.

- Já está na hora? – perguntei olhando para ela do outro lado da mesa, de pé.

- Sim, você não vai se vestir? – perguntou ela.

- Precisa? – perguntei.

- Claro, antes de começar quero você fazendo uma demonstração, algo me diz que esse teste vai ser interessante, haha – disse ela, dando uma risada macabra do final /deumedo.

 Fui até o vestiário e coloquei meu uniforme.

 Eu coloquei o novo, porque como já sabem o outro eu manchei com sangue.

 O curativo machucava porque ficava apertado na blusa, mas tratei de ignorá-lo.

 Voltei para a quadra.

 Fui até onde Anko estava, e a mesma pegou o microfone.

- Bem, garotas, que as audições comecem – disse ela, ouvindo em resposta muitos gritinhos abafados, aaf – antes, teremos uma demonstração – disse ela.

 Eu sempre gostei de atenção, sempre mesmo. Mas era meio diferente você estar em quadra, em jogo, se apresentando, e você estar ali, servindo de exemplo para muitas outras garotas que sonham em estar no seu lugar.

 Eu já fui uma delas, eu já estive nas arquibancadas, esperando minha vez de mostrar o que eu sabia, isso foi há uns três anos atrás. Foi difícil, fiquei nervosa, mas agora, servir de exemplo para muitas outras é difícil, sempre bate um frio na barriga.

 Apresentei-me, depois voltei para o meu lugar, que era ao lado da treinadora.

 Assim começou, uma a uma, Kami-sama, nunca pensei que ficar sentada falando um monte fosse cansar.

 Eu já estava quase dormindo em cima da mesa de tanto tédio, até que reconheci uma cabeleira rosada se aproximar.

 SAKURA *-*

 - Pode começar – disse a treinadora.

 Ela era muito boa, não sei por que ela não achava isso.

 Assim que ela acabou, a treinadora lhe disse.

- Tudo bem, amanhã nós anunciaremos o resultado – disse ela, e Sakura saiu.

 Mais meia hora e aquilo acabou.

 Fui para o vestiário denovo para colocar minha roupa normal, quando vejo Sakura na frente do espelho com o rosto todo borrado de preto, seu rímel.

- O que aconteceu? – perguntei me aproximando.

- Isso – disse ela apontando para uma mecha grande do seu cabelo, estava com chiclets.

 Sakura tem o cabelo até metade das gostas, o infeliz do chiclete estava bem na altura dos ombros.

- Quem fez isso? – perguntei enquanto ela tentava tirar aquilo, porém sem sucesso.

- Suas amigas – disse ela com desdém.

- Que amigas? – perguntei.

 Ela me entregou um papelzinho.

 “Espero que tenha gostado do presentinho, aliás, vimos sua apresentação hoje, só cuidado para não escorregar e quebrar o braço acidentalmente, haha. Do jeito que você é, não duvidamos de nada.

 Tomara que tenha gostado do presente, esse é só o começo.

P.S: Acho que ele combina com a cor do seu cabelo, haha.

                                                         - L.D. T (: “

 - Eu não acredito que elas fizeram isso – disse, levando a mão a boca para esconder o susto.

 - Mas fizeram – disse ela – Essa porcaria não sai – disse tentando tirar com agua, mas nada.

 - Como pretende tirar? – perguntei a encarando.

 Ela foi até a bolsa dela, que estava em cima do mármore da pia, um pouco afastado de nós.

 Abriu-a e de lá pegou uma bolsa pequena, mexeu um pouco até que achou uma tesoura.

 Olhei-a incrédula, ela não podia fazer aquilo.

 Ela juntou o cabelo de um lado.

 Fechou os olhos e respirou fundo, depois olhou para o espelho.

- Assim – disse ela cortando o cabelo separado acima do chiclete.