Lá estávamos, eu e Nick na clínica de reabilitação. Era meu costume ir lá todos os dias no fim da tarde e ajudá-lo na sua recuperação. Nick estava se recuperando cada vez mais rápido e isso era um ótimo sinal. Já fazia um mês que ele estava sóbrio e eu não tinha nenhum sinal de Midnight.

- Oi Nick! – Entrei animada no seu quarto, porém tudo que eu encontrei foi uma cama mal arrumada.

   Procurei imediatamente a recepcionista e fui procurar saber onde ele estava. Ela me informou de que ele estava hospitalizado devido a um grupo que invadiu o hospital nessa manhã. Ela disse que esse grupo invadiu especificamente o quarto de Nick e o fizera sofrer, ela afirmou que eles não foram lá para matar.

- Onde eu posso encontrá-lo? – Perguntei desesperadamente.

- No segundo quarto à esquerda.

- Obrigada.

   Segui correndo pelo corredor a procura de Nick, minhas pernas cambaleavam e comecei a suar. Chegando ao quarto informado pela recepcionista, lá estava Nick, com vários ferimentos em todo o corpo, principalmente no rosto. Eu não tinha dúvidas. Era o Midnight ferindo o que eu mais amava novamente.

- Thais!

- Oi meu amor... Ah meu Deus, olha o que aconteceu com você... Amor, tudo isso é minha culpa, é somente minha culpa...

- Claro que não amor... Eu não sei exatamente por que...

- Nick, têm algumas coisas que eu preciso te contar.

   Ele olhou fixamente em meus olhos e eu o encarei. Eu não queria contar o que mais me feriu durante todo esse tempo, eu não queria contar o que tirou repentinamente a minha felicidade, eu não queria contar daquele homem que matou parte de minha alma. Mas era necessário, eu precisava, não podia esconder essa infelicidade dentro de mim para sempre, se ele fosse o homem que viveria comigo durante o resto de minha vida, ele precisava saber tudo dela. Ainda mais agora que a vida dele também estava correndo risco.

- Bom Nick, no passado, há um tempo eu conheci um cara chamado Vavá Midnight. Nós éramos muito apaixonados, assim como eu e você somos hoje. Mas, ele sempre foi obcecado demais por mim. Grande parte de nossas brigas aconteciam por causa de ciúmes exagerados e o controle excessivo que ele queria ter sobre mim.

Mas, no final das contas, eu sempre dava a razão a ele, por amá-lo incondicionalmente e também porque eu era muito nova. Desde sempre minha mãe proibiu esse namoro, e ele nunca soubera disso. Certa vez, em mais uma de nossas discussões, eu decidi que deveríamos desistir daquilo tudo e que tudo estava indo contra nós e citei a proibição da minha mãe. Ele não se contentou e ficou extremamente irritado com toda aquela situação. Depois de dois meses distantes um do outro e sem ter nenhum tipo de notícia dele, eu soube que minha mãe fora assassinada dentro de casa enquanto assistia televisão. Foi o momento mais doloroso da minha vida, minha mãe era tudo para mim e eu era tão jovem para perdê-la, justo assassinada. Meu pai, já estava morto desde quando eu era bem pequena, meus avós moravam distante e eu não tinha irmãos e meus tios, eu não conhecia nenhum, ou seja, eu estava perdida e desamparada nesse mundo cruel. Mas, como você sabe Nick, eu sou uma detetive, e eu já era graduada na época. Não descansei até achar o assassino da minha mãe. E essa descoberta foi pior do que eu podia imaginar, foi Midnight que a matou. Ele a esfaqueou vinte e sete vezes, para representar o dia do nosso rompimento. Aquilo definitivamente acabou comigo, minha mãe estava morta e o único homem que amei foi o assassino dela, e ele fez isto com a esperança de me ter de volta, só que ele não esperava que eu fosse descobrir toda a verdade... Foi péssimo Nick... Eu sofro e me sinto culpada todos os dias, por ter citado minha mãe naquela briga, e agora ele quer matar você, ele quer matar você... - Nick com os olhos empoçados de lágrimas me abraçou e disse:

- Você tem a mim agora e esse cara nunca vai separar o nosso amor, porque somos mais fortes.

   Agora que Nick sabia de todo o meu sofrimento e sobre o risco de sua vida, eu me sentia mais protegida e o nosso amor se mostrava cada vez mais fortalecido. Eu o apoiava contra as drogas e a bebida e ele contra a dor que Midnight me causara. Era a troca de afeto mais agradável que já senti.

   Assim como de costume, continuei visitando-o todos os fins de tarde todos os dias da semana. E a recuperação dele estava cada vez melhor. Apesar de estarmos muito bem no nosso relacionamento, Midnight continuava livre por esse mundo e colocando a vida de Nick em risco. E por causa disso, eu não tinha paz. Eu tinha medo do que ele poderia fazer contra ele. Ele era um maníaco. Ele matou minha mãe pelo simples fato dela proibir nossa relação. 

- Oi meu amor, como é que você está hoje?

- Estou melhorando. E você, como está?

- Estou bem... Nick, hoje nós faremos um tipo de “missão”, nós vamos atrás do Midnight através de umas pistas e também por causa de algumas testemunhas. E eu vou junto.

- Thais, é muito perigoso, não quero que vá.

- Eu preciso Nick. Eu já o prendi uma vez, nada me impedirá de prender novamente. Estou fazendo isso por nós dois.

- Nada que eu fale irá te convencer né?

- Não, pode desistir. – Eu sorri.

- Então, só te desejo boa sorte.

   Nick me abraçou forte, e eu o abracei mais forte ainda.

   Cheguei ao local e estava cercado de agentes do FBI, inclusive Kevin e Nathalia. Estávamos ansiosos e ao mesmo tempo receosos, pois sabíamos do que Midnight era capaz, inclusive eu.

   Seguimos com as pistas de onde ele poderia estar e tudo era uma hipótese, o que dificultava ainda mais nosso trabalho.

- Será que vamos conseguir? – Perguntei a Kevin.

- Acredite. Conseguimos uma vez, podemos conseguir a segunda.

   E então nós continuamos. Chegamos a uma cabana velha e empoeirada e em volta dela tinham vários túmulos. Verificamos se havia vestígio de alguém por ali, mas estava vazia. Fomos verificar os túmulos e lá estavam as pessoas que deveriam morrer e as pessoas já mortas. Dentre os túmulos, estava minha mãe. Apesar de o corpo não estar ali, aquilo a representava. O ódio que eu tinha pelo Vavá cresceu ainda mais. Estavam também Nathalia, Kevin e Nick. E tinha um túmulo branco com flores ao lado, onde estava escrito: Thais e Vavá para sempre, além da vida. Realmente ele era doente e precisava de tratamento. Se não conseguíssemos pega-lo, ele mataria sem dó, mataria todos que estavam predestinados a morte segundo ele. 

   Continuamos nossas buscas, entramos na cabana novamente e na geladeira estava escrito um bilhete com os seguintes dizeres: “Bom, olá a todo pessoal do FBI. Estou dando trabalho, não é mesmo? Enquanto vocês me caçam em vão, Nick Carter está sozinho numa clínica de reabilitação estúpida, com seguranças estúpidos. E Thais, quero que saiba, que estou fazendo isso tudo pelo nosso amor. Um dia, você irá entender. Eu te amo.”

   Era o fim, como podíamos ser tão idiotas? O alvo dele sempre foi o Nick! Mas era quase impossível ele invadir aquela clínica novamente, mandei colocar vários agentes e fora o número de seguranças que aumentou devido ao transtorno passado. Ele não era tão eficiente assim. Pelo ao menos, era nisso que eu queria acreditar.

   Fomos rapidamente à clínica com a total esperança de achar Nick são e salvo.

- Nathalia, estou com medo. – Disse já aflita.

- Não fique assim amiga, ele não vai conseguir acabar com seu amor.

   Chegamos à clínica e avistamos Vavá da janela, e ele já tinha dominado todo o local.

- Caros agentes do FBI, a única pessoa que pode vir nesse quarto é a agente Thais e desarmada. Quero fazer um acordo. Se não cumprirem o que eu pedi, Nick Carter será morto.

   E eu, obviamente subi até o quarto e totalmente desarmada. Era a única forma de salvar Nick e construir uma vida nova ao seu lado. Não iria desperdiçar essa chance, Nick estava mudando por mim. Eu não iria deixar esse psicopata controlar minha vida e destruir minha felicidade. Bati na porta e entrei após sua permissão.

- Oi minha linda.

   Não respondi. Permaneci neutra para evitar conflitos.

- Você não era tão mal educada docinho...

- É que você está me assustando recentemente...

- Ah amor, vem cá, me abraça. Você sabe que tudo que eu faço é para a nossa felicidade, nossa união e nada mais.

- Mas isso está ferindo outras pessoas e você sabe o quanto eu zelo pela vida da sociedade.

- Desculpe amor, mas você pediu que fosse assim. Eu sinto muito. Depois, você vai me agradecer.

- Qual é o trato?

- Ah, simples. Você vai ficar comigo e eu libero seu ex-amado. Simples assim. Troca de almas.

- Troca de almas? Então, vai me matar?

- Como você é tão inteligente? Por isso te amo tanto.

- Essa é a felicidade que você procura? Depois da vida? E será que existe vida após ela? Você pode me perder para sempre Vavá, para sempre...

 - É claro que existe!

- Você não tem como provar.

- É, você tem razão! Eu não tenho como provar! Mas será isso, ou ELE MORRE!

- Ta bom, não grite, assim você me assusta. – Comecei a chorar propositalmente para que ele se comovesse.

- Não fique assim amor. Vem cá, me abraça.

   E eu fui, o abracei e tentei passar o amor que tinha pelo Nick para ele. Mas o que Vavá não sabia é que uma agente do FBI de Nova Iorque sempre está precavida para qualquer situação, peguei a minha mini faca escondida em minha cintura e enfiei em sua barriga. Ele ainda estava vivo, foi então que peguei a arma de sua mão e disse as últimas palavras antes de sua morte: “Não foi dessa vez” e então atirei com frieza.

   Nick veio correndo me abraçar e disse sussurrando em meu ouvindo:

- Finalmente, podemos ser felizes.