Era uma linda manhã de sábado e acordei com uma ótima disposição. Eu morava em frente à praia e tinha acesso àquela linda vista que eu poderia apreciar todos os dias. Fui para a varanda, fechei os olhos e abri os braços sentindo aquela brisa leve e refrescante que me fazia sentir especial.

   Decidi então que iria a praia naquele dia. Sem ninguém, sem trabalho, apenas isolada e tendo um tempo somente para mim. Tomei um banho rápido, comi uma fruta, me arrumei e fui. O sol estava radiante, o céu limpo e o vento aconchegante. Sentei-me na areia e fiquei observando o mar. A praia estava totalmente deserta, era somente eu e o mar. Exatamente como eu queria passar meu dia. As ondas estavam calmas e a água cristalina. Havia pássaros rodeando o local e o vento soprava em meus cabelos.

   De repente, chegou um homem totalmente embriagado, e mal conseguia ficar em pé.

- Moço, você está bem? Quer ajuda para ir para casa? – Perguntei aflita.

- Hahahaha, mar ó mar, apenas me leve, me leve para bem longe. – Ele cantarolava.

Apesar de ser um homem tão bonito dos olhos azuis, rosto angelical e cabelos louros que paralisava meu olhar por ser tão belo, ele parecia perdido e infeliz. Nisso, aquele homem começou a correr em direção ao mar, fiquei desesperada, pois estava com medo de que ele fizesse alguma coisa que colocaria sua vida em risco. Com a intenção de ajudá-lo, corri atrás dele e comecei a gritar para que parasse. Porém, de nada adiantou. Ele foi para a água e começou a ir para o fundo e ficava repetindo que o mar o levaria para um lugar melhor. Entrei na água e comecei a nadar o mais rápido que podia.

- Pelo amor de Deus moço, não faz isso! – Tentei persuadi-lo apesar do meu desespero.

- Mar, me leve mar! – Ele insistia.

- Pára, pára! Não faz isso! – Eu gritava desesperadamente.

- Quem é você? – Ele perguntou com um ar de deboche.

- Sou quem vai te ajudar. Vamos para a areia! O mar nunca vai te ajudar, mas eu posso. – Tentei persuadi-lo dessa forma.

   E então, o tal homem veio em minha direção e me abraçou. Senti o cheiro de álcool quando ele me abraçou e algo que também senti foi o seu medo naquele abraço, aquele homem estava desesperado, triste e confuso.

   Levei-o para a areia e tentei conversar com ele. Ele me olhou e aqueles lindos olhos azuis pediam ajuda, pediam amparo. Ele ficou me observando, e aquilo me encantava, ele me passava uma energia e um sentimento tão profundos que é impossível de descrever. Até que ele desmaiou em meus braços.

   Fiquei desesperada. Deixei-o na praia e corri em busca de ajuda. Nada. Ninguém. Foi então que decidi ligar para a ambulância. Voltei à praia e fiquei esperando a ajuda chegar. Ele estava deitado em meu colo e parecia tão sereno e tão sensível, mas a dor estava estampada em seu rosto. Fiquei observando-o durante um bom tempo, e cada traço seu me encantava.

   Chegou a ambulância e o levaram para o hospital. Depois de alguns minutos já no hospital, ele acordou. E então fui vê-lo. Ele me olhou envergonhado e disse:

- Me desculpe... E muito obrigado. Aliás, nem sei qual é o seu nome.

- Ah tudo bem. Meu nome é Thais, prazer. E qual é o seu?

- O meu é Nick. Não sei como agradecer. Você me conheceu hoje de uma forma nada agradável e é a pessoa que está me ajudando...

- Não precisa agradecer. Mas agora tenho que ir, tenho que resolver algumas coisas. Aqui está o meu número de celular caso precise de alguma coisa.

   Ele olhou em meus olhos e ficou me encarando, senti uma sensação muito agradável que estava ocorrendo entre nós. Despedi-me e fui embora.

   Cheguei em casa e não conseguia mais parar de pensar naquele homem, naquela sensação repentina que ocorreu naquela tarde. Era impossível eu estar apaixonada.

Fiquei um bom tempo na minha varanda observando o mar que me fazia recordar de cada momento que eu vivi com ele. O telefone tocou.

- Alô?

- Oi Thais, é o Kevin. Onde você estava? Devem ter uma trezentas ligações minhas. Você não sabe o que aconteceu!

- Ah, o que? – Perguntei ansiosa.

- Pedi a mão da Nathalia em casamento.

- Sério? Não acredito! Finalmente! E ela?

- Aceitou. Nem acredito que tive coragem.

- Ah, estou muito feliz por você.

- E você Thais, devia fazer o mesmo. Devia esquecer seus traumas com o Midnight e seguir em frente. Você tem que dar uma chance para o amor.

- É... Agora vou dormir querido. E parabéns!

- Obrigada linda. Boa noite.

- Boa noite.

   Desliguei o telefone com uma dor no coração e uma sensação de felicidade. Ambas ao mesmo tempo. Infelizmente Kevin estava certo sobre tudo. Eu tinha que superar meus medos, tinha que dar chance ao amor novamente. Não podia deixar o Midnight acabar com a minha vida dessa forma. E estava completamente feliz pela união dos dois, que eu sempre soube que daria certo. Eles realmente foram feitos um para o outro.

Tomei um banho e fiquei observando a lua por bastante tempo. Ela refletia seu brilho no mar dando um contraste que me encantava. E então fui me deitar.

   Acordei assustada com o telefone tocando sem parar e já estava atrasada para o trabalho. Levantei rápido e fui correndo atender.

- Alô? –Perguntei rapidamente.

- Oi Thais. É o Nick. Queria saber se a gente podia se encontrar hoje.

- Á noite? É porque agora tenho que trabalhar.

- Tudo bem, a hora que quiser.

- Ta bom às oito?

- Ta ótimo. Eu te busco... Onde mora?

- Em um apartamento em frente à praia, 301.

- Ok, até lá.

- Até.

   Meu coração batia acelerado, minha pulsação aumentava a cada segundo e meu estômago estava infestado de borboletas. Minhas mãos tremiam, estava suando e super nervosa. Bem, realmente estava apaixonada. Por mais que eu quisesse evitar essa realidade, era impossível. A última vez que me senti assim foi com o Midnight, e por isso eu tinha medo. Medo de me decepcionar. Medo do amor. Mas eu tinha que tentar ser feliz novamente. A decepção e a dor que ele me causou foi tão imensa que eu tinha medo de relacionamentos e medo de sentir aquela amarga dor novamente.

   Vesti-me rapidamente antes que chegasse realmente atrasada ao trabalho. Peguei meu carro e segui meu caminho, apenas pensando no meu encontro de hoje à noite. Queria saber também porque ele estava daquela maneira. Ele parecia ser uma pessoa boa, deduzi que ele estava com problemas, mas era muito cedo para conversar sobre sua vida pessoal.

   Cheguei ao trabalho sorridente, de bom humor e sendo agradável com todos. Logo que chego vem o Kevin, que também trabalha comigo na polícia de Nova Iorque, FBI. Somos detetives de casos especiais.

- Ta feliz hoje Thais? O que aconteceu?

- Ah Kevin, ontem aconteceram tantas coisas. Conheci um cara chamado Nick, ele é tão fofo, simpático, pena que a forma que nós nos conhecemos não foi muito agradável porque...

- Já sei! Ele estava bêbado, provavelmente...

- Como sabe? – Olhei-o com um ar de espanto.

- Thais! Quem não sabe como o Nick Carter é?

- Você o conhece?

- Claro. E você não conhecia? Desatualizada. Ele é fama em todos os lugares por causa de suas polêmicas. É batida de carro, é multa, é mulher a cada dia. Tem certeza que quer alguma coisa com ele? Ele não faz o seu tipo...

- Não estou acreditando Kevin. Tenho um encontro com ele hoje...

- Desmarca. Simples.

- É isso que vou fazer.

   Na verdade, não era isso que eu queria fazer. Automaticamente, não era isso que eu ia fazer. Não queria contar para o Kevin que estava perdidamente apaixonada pelo cara que ele falou. Porque o cara que pensei que conheci era meigo, simpático e só parecia ser infeliz. Deduzi que fosse esse o motivo da bebida. Mas eu precisava falar com ele antes, precisava ouvir isso tudo da boca dele e por isso não desmarquei o encontro.

   Quando chegou o fim do trabalho, fui logo embora antes que Kevin voltasse no assunto das polêmicas de Nick do qual eu não queria mais conversar.

   Me arrumei e estava esperando-o... Oito horas em ponto ele chegou. Desci e entrei no carro.

- Oi Nick. Tudo bem?

- Oi. Tudo ótimo e contigo?

- Estou bem. Vamos?

- Claro.

   Fomos conversando sobre nossas profissões, nossos desejos, nossa vida. Mas nada ele falava sobre sua fama de polêmicas. Então deduzi que seria necessário perguntar e não esperar ele comentar alguma coisa.

   Chegamos ao restaurante, tudo era muito sofisticado, e o clima de romance estava nas alturas. Nos sentamos e comemos. Quando acabamos decidi que era a hora ideal para começar com as perguntas e esclarecer tudo que deveria ser esclarecido. Pois naquele exato momento eu faria a decisão de tentar esquecê-lo ou apostar nesse amor.

- Nick... Nem sei como começar... É...

- Ah já sei, quer terminar tudo né?

- Mas nem começamos nada!

- Você me entendeu... Ficou sabendo das polêmicas...

- É, fiquei sim. E queria ouvir isso tudo de você Nick.

- Bom, eu não vou mentir. É tudo verdade, eu bebo demais, já bati várias vezes com o carro e já fui para a polícia não sei quantas. Já tive várias mulheres e nunca amei nenhuma delas. Fiquei com medo de te contar essas coisas por causa da sua reação. Você é diferente e não queria perdê-la. E sinto que estou te amando. Na verdade, estou amando pela primeira vez. E você Thais, é a melhor droga que já tive. Estou viciado no nosso amor.

   Eu fiquei sem ação. Não sabia o que dizer e muito menos o que fazer. Deveria continuar esse relacionamento que poderia acabar com qualquer ação estúpida dele ou simplesmente recusaria logo aquele amor incerto?

- E você não vai tentar parar com as polêmicas?

- Não posso prometer nada. Na verdade, esse sou eu. Infelizmente esse sou eu. Eu pensava que você iria me aceitar do jeito que sou. Já que foi dessa forma que nos conhecemos. Eu estava bêbado Thais, não se lembra?

- Mas não era esse cara que conheci ontem. O cara que conheci ontem era meigo, simpático e amoroso. O cara por quem senti algo diferente, uma sensação inigualável. E eu tenho que assumir que estou perdidamente apaixonada. Mas eu peço que você tente mudar. Mudar por nós, mudar por você mesmo.

   Nem Nick acreditara no que estava escutando, creio que ele nunca ouviu isso de nenhuma mulher. Mas, por incrível que pareça, foram as palavras mais sinceras que eu disse em toda a minha vida.

   E assim começou nosso relacionamento. Estávamos vivendo o mais lindo amor. Era tudo tão surreal que às vezes eu nem acreditava que aquilo fazia parte da minha vida. Eu nem acreditava que aquilo podia acontecer de verdade depois de tudo que passei.

   Ele era tão romântico, engraçado, bobo e me fazia rir a maior parte do tempo. Ele me fazia sentir aquela mulher que deixei para trás desde a época de Midnight. A mulher feliz, a mulher que tinha vontade de viver a vida. Nick conseguiu me trazer de volta para o mundo. Conseguiu arrancar aquela insegurança e a desconfiança que eu tinha por causa de tudo que havia acontecido. Eu voltei a ser eu mesma, voltei a sorrir, voltei a ter motivos para viver. Era o melhor momento da minha vida.