Sarcastic Angel escrita por kyou-san


Capítulo 1
One-shot


Notas iniciais do capítulo

Estreando o maravilhoso Gin ♥ * frio na barriga*
Espero que gostem.
Para saber o significado dos termos em japonês, basta passar o cursor na palavra sublinhada.
Boa leitura. ^^



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Sempre me perguntei se anjos realmente existiam.

Todas as noites, depois de beijar a minha testa e forrar o meu corpo no edredom, minha avó terminava sempre com a mesma frase serena e sapiente:

“Durma com os anjos, Kaya. Certamente que eles irão afastar de você qualquer sonho ruim!”.

Porém, o pior pesadelo não é aquele que se tem durante o sono. E numa tarde de Outono, eu vi a cidade de Saporo ser fortemente abalada por um terramoto, levando consigo o sorriso de uma criança e a frágil vida da minha doce e sábia avó. Do que me vale ter alguém velando o meu sono, se a realidade reduzia-se em escombros?

E desde aquela data, eu nunca mais olhei para os céus!

...xXx...

Sereitei. Dez anos depois.

Passos longos e calmos faziam o caminho do extenso corredor aprumado e rigorosamente vigiado por um alinhamento de soldados de uniformes escuros. Estes, ao verem o homem de médios cabelos níveos passar, curvavam-se numa respeitosa reverência.

– Bom dia, Ichimaru-taichou. – eles saudavam, colhendo como resposta o típico sorriso desenhado e desdenhado do antigo menino gênio, que ignorava completamente as suas presenças.

– Que problema, que problema. O que será que o Genryuusai quer desta vez? – murmurou para si mesmo em repleta ironia.

O último guarda anunciou a sua chegada. E instantes depois, as duas portas gigantescas eram afastadas e atravessadas por Gin, que executara uma mesura breve e imodesta, ao colocar-se diante do homem solene que ocupava a poltrona do líder do primeiro esquadrão.

– Mandou-me chamar, soutaichou-san?

– Sim. Tenho uma missão para o terceiro esquadrão – o ancião cruzou as mãos no tampo da escrivaninha de carvalho polido, ao lado do bastão que escondia a Ryuujin Jakka. – Acabo de ser informado de que um portal do submundo foi aberto, no ponto 35 do hemisfério leste do mundo real, do qual três Menos Grandes passaram.

– Hmm... – o mais novo coçou a nuca, tedioso, e o velho Yama pigarreou impaciente ao ter o seu discurso cortado.

– Quero que envie, imediatamente, duas unidades à cidade de Saporo – pausou, mostrando os olhos severos por baixo do franzido das sobrancelhas absurdamente espessas e brancas. – eles que não regressem sem antes terem eliminado os Hollows.

Ichimaru cruzou os braços, enfiando-os nas mangas do haori, suspirando pesadamente em seguida.

– Eles não precisarão regressar, soutaichou-san... – arrastou a voz tranquila, torcendo o pescoço pro lado. – porque nenhum deles sairá daqui.

Sentenciou.

– I-Ichimaru-taichou – o tenente, postado ao lado do ancião, murmurou em tom de aviso para que o outro se redimisse, e tudo o que os dois homens de expressões fechadas receberam, foi o seu típico sorriso satírico.

“Ahhh... era muito fácil colocar essa gente com cara de bunda”; pensou, rindo internamente. “Como o esperado de um decrépito enjoado e de um encosto que se borrava de medo no menor indício de tumulto”.

Entretanto, Gin também sabia que não era lá uma boa ideia tirar uma com a cara do Yamamoto. E logo a sua constatação foi confirmada quando a voz grave do mais velho quebrou o silêncio.

– Por acaso tenciona afrontar uma decisão minha, Ichimaru Gin? – Apesar de indagar com placidez copiosa, a sala tornara-se pequena para a quantidade de reiatsu que o comandante libertava.

Bem. Estava na hora de usar seu álibi antes que a coisa fedesse de vez. E escondendo a malícia numa expressão de quem não está entendendo nada, disse:

– Que tal se acalmar, soutaichou-san?! Eu jamais iria contra o senhor.

O mais velho murmurou um “Hm!” e ele então fez aquela cara de menino feliz, antes de continuar:

– O que eu quis dizer é que não há necessidade de eu mandar os meus homens para o mundo real... – Genryuusai arqueou a sobrancelha enquanto Gin alargava o sorriso, fazendo um ar de mistério. – Eu lidarei com os hollows pessoalmente.

– Tudo bem... – Yamamoto, voltou a encostar as costas na cadeira. – Então, faça-o imediatamente!

– Hai. – Ichimaru cantou, executando uma vênia, girando nos calcanhares para deixar o lugar e seguir novamente pelo extenso corredor.

Velho babaca”.

...xXx...

As portas do cinema foram abruptamente afastadas por um grupo de adolescentes góticos que uivavam trocistas, após terem sido praticamente enxotados da sala onde o filme “Eclipse - da Saga Crepúsculo” ainda decorria.

– Ah, fala sério. O que foi aquilo? – o de crista loira pulou do pequeno corrimão da escada da saída, seguindo a avenida com outros dois. – Se eu soubesse, teria ido assistir os Simpsons, a turma da Mônica, ou sei lá.

– Eh, tô contigo, mano. – o “a la Justin Bieber” versão emocore, apoiou. – Até quando o Ed-brochado pensa ficar enrolando?

– Pelo menos o Jacob tava uma gracinha. – Kaya riu, enquanto dava de ombro e enfiava as mãos nos bolsos da jaqueta de couro preto, sem ligar para o olhar atravessado dos amigos.

Bem, talvez os três fossem ficar mesmo satisfeitos se assistissem o Vampires Suck. Mas enfim. Isso não vinha ao caso no momento.

De repente sentiram sede. Isso talvez porque no exato momento estivessem passando por uma loja de conveniências, e então, comunicando-se com o olhar, os três entraram nela, saído minutos depois numa corrida frenética com o vendedor no seu encalço, por ter sido assaltado.

– Voltem aqui, seus desgraçados! – o senhor vociferou cansado, colhendo gargalhadas debochadas em resposta.

Kaya Takahashi estava agora no auge dos seus dezessete anos de idade. Só nesse ano, já fora expulsa de umas três escolas, somado a ficha na polícia por furto e desacato à autoridade e a trombose da mãe adotiva.

Resumido: ela era uma verdadeira praga!

Tudo porque a pequena de lindos e sedosos cabelos escuros, pensava ser mais fácil suprimir suas perdas vivendo uma vida desregrada, longe dos perfis adequados da sociedade que lembravam tão vivamente o seu passado.

Evidentemente, que nada disso justificava a sua conduta. Porém, era dificílimo botar algum juízo naquela cabeça dura. Até mesmo o renomado reverendo Yunlong havia falhado no seu exorcismo, juntamente com a ideia “fantástica” de seu pai, ao ter arranjado o seu namoro com o rapaz exemplar, da influente e tradicional família Uryu. E assim, todo mundo que a cercava tinha vontade de se suicidar para não acabar cometendo um homicídio voluntário. E mesmo estando ciente disso, Kaya não demonstrava querer mudar o mínimo que fosse da sua deplorável vida.

Girando as chaves no dedo, ela baixou o gorro do casaco, aproximando-se do Vitz de última geração estacionado frente à placa de trânsito que proibia a paragem e o estacionamento de viaturas.

– O que faremos agora? – ela virou-se para os amigos, apoiando as costas no carro, encestando a lata de Coca-Cola no ecoponto.

– Quanto a você eu não sei. Nós dois iremos pra casa.

– Eh… A essa hora, o aniversário da Miki já deve estar na reta final mesmo – o loirou confirmou no relógio para de seguida olhar para o seu irmão gêmeo.

– Ótimo. Assim aquela pirralhada não esquenta. – falou o mais velho, esticando o lábio superior. E ao ver um policial fazer a travessia da rua oposta, sinalizou aos outros e cada um adotou uma postura tranquila, uma vez que já tinham se livrado das provas do crime de instantes atrás.

Então, eles pensaram que estivesse tudo bem, até verem o homem sacar o bloco de multas e estampar o boletim no vidro do carro.

– Ei! O que pensa que está fazendo? – Kaya se ergueu agressiva, marchando cheia de atitude até o homem fardado.

– Essa pergunta é minha, garota. Não reparou no sinal, não? – o oficial inclinou a cabeça para fita-la por ser consideravelmente mais alto do que a morena.

Takahashi ainda chegou a ponderar por alguns segundos, antes de puxar o bloco da mão do policial e derruba-lo uma bela dona rasteira. Agora, seu pai também iria se arrepender por ter lhe inscrito nas aulas de judô.

– Dane-se tudo! – destrancado o carro, ela meteu-se nele às pressas, abrindo a porta do copiloto depois. – Querem uma carona?

Sorriu travessa, roncando o motor assim que seus amigos entraram no carro, partindo em alta velocidade quase atropelando o homem que se erguia do asfalto meio tonto, que num reflexo, se esquivou a tempo.

Do alto de um gigantesco poste de energia, o vento noturno agitou as abas do sobretudo do homem de sorriso largo, que observava numa expressão curiosa a parte traseira do automóvel que deslizava na autoestrada, estranho a direção que tomava o último hollow.

– Interessante...

...xXx...

– A gente se vê amanhã.

Do interior do carro, Kaya acenou para os amigos que fizeram o mesmo, antes dela voltar a pisar fundo no acelerador e acionar o travão de mão num chio bem estridente e exagerado, como sempre.

Não tinha bem a certeza se ia pra casa ou se vagabundeava um pouco mais pela cidade. Saporo não oferecia lá grandes alternativas de entretenimento. Pelo menos, não os que ela gostaria de ter. Talvez, isso se devesse ao fato dela ter frequentado inúmeras vezes as noites badaladas de Tóquio – a cidade onde tudo acontece – e, ligando o rádio pra ajudar a passar o tempo, repetiu umas três vezes a música Tokyo Drift, com o volume posto no máximo e ela se balançando loucamente no banco.

No entanto, certamente que não foram as colunas adicionais do seu Vitz artilhado que haviam causado a explosão do banco central e, muito menos, a divisão da estrada que se abria numa enorme cratera. Graças a experiência obtida nas rachas, Kaya pôde se desviar a tempo, evitando ser engolida pelo buraco que ganhava proporções absurdas. Porém, era apenas uma questão de tempo para que o passeio, que utilizava como via alternativa, também fosse engolido como todo o resto. E correndo contra o tempo, no chão trêmulo, a morena apertou dentes e olhos, segurando firme o volante.

Tudo estava desabando como daquela vez. O grunhindo fantasmagórico que abafava completamente o seu som, fê-la tremer como a muito não tremia, sentindo o ar pesar nos pulmões, carregado de um aroma sinistro, enquanto o eco demolidor de passos ecoava por todos os lados. Checou rapidamente a quilometragem. Ia a 150km/h e derrubando já um monte de coisas.

Todavia, não ousava parar nem olhar para trás. E no momento em que iria esgueirar-se por um beco, um clarão incandesceu o caminho, fazendo-a perder o controle enquanto o seu corpo batia violentamente nas paredes internas do carro.

– Itai! – Kaya murmurava depois alguns minutos de inconsciência.

Finalmente a capotagem cessara, mas isso não significava de que estava a salvo. Por isso, remexeu-se desconfortavelmente sob o banco. Ainda estava com a cabeça virada para o teto do automóvel quando buscou com lenta rapidez desfazer-se do cinto de segurança. E tendo o seu corpo ganhado parcial liberdade, tentou arrastar-se dali pra fora; porém, sua perna direita não permitiu que mais nada, além do pescoço, ficasse de fora, ao encontrar-se entalada entre os ferros do acento.

– Que merda! – praguejou irritada.

Isso era realmente tudo o que a Takahashi precisava no momento. Ela quase chorou quando viu a perna ensanguentada. Somente agora distinguira a dor do membro fraturado. Segurando as lágrimas, a rapariga correu o olhar suplicante por todos os lados em busca de ajuda, e ao ver-se completamente sozinha, acabou por eleva-los para o céu escuro e enublado de poeira. Um pedido de socorro começou a crescer, gradativamente no seu íntimo, juntamente com o peso das suas ações rebeldes.

No entanto, foi tirada abruptamente do devaneio, quando sons de passos mais moderados, começaram a fazer o caminho até si.

Das cortinas de fumo, a silhueta alta aos poucos ia ganhando forma nítida aos olhos azuis assustados de Kaya. Ele era completamente diferente de tudo o que conhecera na sua curta vida. Exalava tanta brancura, que chegava a ofuscar as vistas… tal como as pinturas daquelas criaturinhas com asas, que a sua falecida avó colecionava.

Já não importavam as suas ideias antigas, pois a Takahashi se tornara na mais nova convertida. Se alguém lhe fizesse um convite para ir à igreja, ela aceitaria sem piscar! O que o desespero não faz, hein? E seu olhar estupefato foi acompanhando o trajeto do ser desconhecido, até este parar ao seu lado e agachar o corpo nas largas vestes que usava.

– Oh... – ele fitou-a admirado. – E não é que ela sobreviveu mesmo?

– Q-quem é você?

– Ela também pode me ver... – outro comentário surpreso do shinigami.

Ele, olhando do interior do carro para o rosto pasmado, continuou:

– E importa mesmo saber quem sou, no momento? Você... – foi projetando o rosto pra frente, parando a um dedo do dela, esboçando um sorriso malicioso. – Não está com medo de morrer?

Kaya não soube entender bem o porquê, mas, ao vê-lo de perto se sentiu ainda mais insegura do que antes.

– E deveria estar? – encarou-o com o olhar endurecido.

– Se eu estivesse no seu lugar, eu ficaria com medo sim. – ele mostrou os dentes da frente num sorriso bem abusado, fazendo as mãos da Takahashi arderem de raiva.

Mas o shinigami nem ligou para o rosnar baixo da morena e, apoiando a mão no metal amolgado, espreitou melhor o interior do veículo, voltando com uma expressão bem desencorajadora.

– Isso é mau, isso é mau... – meneou a cabeça com os braços cruzados no peito. – Parece que a tua perna direita ficou inútil. Nem precisa esforça-la. De qualquer jeito ela acabará sendo amputada.

– E daí, jiji? O que você tem haver com isso, hãm? – ela esbravejou ao ver alegria estampada no rosto sádico.

“Por acaso ele era algum maníaco?”, pensou irritada.

– Nada. Apenas queria alerta-la. – ele disse simplesmente. Fez um “Hm?” quando reparou a forma como estava sendo encarado, suspirou pesadamente e falou deixando-a completamente chocada: – Mesmo depois do que aconteceu, você continua a mesma.

– O que está dizendo? – a morena indagou meio perplexa. – Você nem me conhece.

Ele sorriu.

– Eu estive te observando durante todo esse tempo.

Kaya desfez o franzido do olhar.

– N-não pode ser... – e a historinha que a vovó costumava contar rodou na sua cabeça nos segundos de silêncio que se seguiram. Porém, ao mexer-se um pouco, deixou escapar um murmúrio de dor.

– Humm... Parece que a perna está sendo cerrada aos poucos. Sabe o que vai acontecer depois? – o shinigami atraiu a sua atenção novamente, fazendo Kaya desejar ter nascido surda. – O metal frio atravessará a sua pele, rebentará seus vasos sanguíneos e rasgará as fibras, uma por uma. Sabe quantas fibras compõem um músculo?

O pavor não a deixou responder. Ele então prosseguiu, sorrindo de satisfação ao ver a jovem digerir, boquiaberta, as suas palavras.

– Isso mesmo. Inúmeras – informou. – e você sentira a dor de cada uma delas. Mas o pior vem depois… – apertou mais o olhar malicioso. – Quando não houver mais carne pra cortar, ele irá cerrar seu osso e então...

– Ah, chega! Eu já entendi! – ela gritou chorosa. – Agora me tira daqui!

O Shinigami arqueou a sobrancelha.

– Os humanos mudam de ideia bem rápido, hein? E porque eu faria isso por você?

– Por que eu estou precisando e você é o cara que está mais próximo de mim.

– Você não me pareceu ser do tipo que se importa com os outros... Por que achou que eu seria?

Se por algum momento passara na cabeça dela de que aquele monstro, com aparência de um homem belo e jovem – apesar dos abundantes cabelos brancos – lhe ajudaria, então, tal pensamento se esvaíra com o cinismo do shinigami.

– Dá pra parar de fazer tanta pergunta? – ela bufou.

– Dá sim. Até porque – desviou o olhar do dela. – Um vazamento de combustível está acontecendo neste exato momento – fez uma expressão pensativa. – Nunca vi antes um humano explodir.

Ah, sim. Ele só podia ser mesmo um psicopata!

– Sabe, – ele continuou e a morena fulminou-o com o olhar marejado. Porém, as suas palavras a fizeram mudar o semblante para o de um completo assombro. – normalmente, você não seria capaz de me ver… Consegue adivinhar o porquê de estar podendo fazer isso agora, Kaya Takahashi?

A pequena olhou para o lado, vendo as gotas de gasolina formar um rio e o gás vazar de uma válvula e soprar furiosamente contra o chão.

Choque total. Estava condenada.

– Pelo amor de Deus moço me tira daqui! Eu prometo me comportar direito de agora em diante. Eu juro. – ela despejou numa rajada só, o coração bombeando a mil. E para completar, o grunhido de antes voltou a ressoar ensurdecedor, mostrando o quão próximo o dono daquela voz horripilante estava.

O shinigami olhou para trás, quando uma sombra gigante apareceu no final da rua.

– Bem na hora. – ele sorriu misterioso.

Kaya não soube descrever ao certo o que acontecera nos segundos que se seguiram. Só lembrava ter visto o corpo do desconhecido vir de encontro ao seu, e ao fechar os olhos com medo do tremor de terra, ter apenas ouvido um murmúrio incompreensível daquele que a segurava protetoramente, seguido do silenciar completo da cidade de Saporo.

Ainda tremia quando mexeu os olhos e os abriu lentamente, encontrando o peito largo, de respiração tranquila, que mostrava o kimono preto por baixo do manto branco. Ele era completamente diferente de todos os homens que conhecia. Nem sabia se podia realmente compara-lo a um, já que ele era de origem duvidosa, e suas palavras anteriores confirmavam isso.

– Ufa! Essa foi por pouco. – o shinigami colocou-a no chão. E vendo seu estado de choque, inclinou o tronco e acenou frente ao rosto pálido. – Ei, tem alguém ai?

Kaya levantou os olhos para o homem sorridente, completamente atordoada.

– O-o que foi que aconteceu?... Como foi que... Num segundo e...

– Ah, vamos… apenas esqueça isso. – pela primeira vez ele mostrava um sorriso simpático. E segurando no seu ombro, continuou: – Exceto a promessa que fez para mim.

Kaya até chegou a sorrir, mostrando humildade na cara suja de óleo. No entanto, ao vê-lo desviar o rosto e baixar a mão até a sua perna despida na saia minúscula que usava, em questão de segundos o vinco apareceu na sua testa e o sorriso morreu.

– Ei! O que pensa que está fazendo seu pervertido? – ela tapeou a mão ossuda, agitando-a depois, de dor.

Pensando bem, tinha tido apenas um falso alarme. A perna estava boa… um pouco ferida… Mas boa. Aquele ensopado que vira antes deveria ser o licor de frutas que tirara de casa, e isso fez com a morena ficasse puta da vida com o Shinigami.

– Huh? – ele se ergueu novamente, escorando as mãos nos quadris. – Queria apenas dar uma olhada na sua perna machucada. Não é como se eu fosse me interessar por um par de coxinhas quando tenho um belo par de pernas em casa.

E com cara de ofendido deu-lhe as costas e começou a caminhar no sentido contrário da rua de iluminação fraca.

É, aquilo foi bem constrangedor para a Kaya. Mas ela ainda tinha aquela dúvida cruel martelando na sua cabeça, e dando alguns passos vacilantes para frente, indagou meio receosa e envergonhada.

– Por acaso você é o meu anjo da guarda?

Ele parou e a fitou por cima do ombro.

– Huh?

O vendo varreu o lixo da avenida. O rosto dele mostrava o quão disparatada era a sua pergunta, mas mesmo assim ela não desistiu.

– Você ainda não me respondeu.

Bem, talvez ela tivesse ganhado alguma espécie de curiosidade, visto que ele, de alguma forma, sabia de coisas mínimas sobre ela. Mas dai, só porque ele a chamou pelo nome – descobrindo-o depois de dar uma olhada no tablier –, isso não lhe dava o direito de ir lhe apelidando com qualquer nome estranho.

Ainda com as sobrancelhas arqueadas, o shinigami suspirou pesadamente. E voltando a virar ligeiramente o rosto, disse:

– Gin... – Kaya fez um “huh?” e ele sorriu como se fossem amigos de longa data. – Esse é o meu nome.

“Admirada, vi partir num andar calmo e confiante, aquele que abriu os meus olhos e deu uma segunda chance a minha podre vida.

Claro que eu haveria de cumprir a promessa que fiz.

Agora, não me importava mais se anjos realmente existiam ou não...

Eu tinha o Gin!”








Fim



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