SASUKE

Ela estava deitada naquela cama de hospital. A pele alva sem cor alguma já, os cabelos despenteados e olheiras fundas nos olhos lavanda.

Ela era a imagem da fragilidade.

Hinata: S-sasuke-kun... – Ela deu um de seus sorrisos lindos. O sorriso que quebrou minha armadura na primeira vez que o vi. – Não me olhe assim... Juro que não vou desmaiar.

O preocupante era que ela parecia realmente próxima de desmaiar...

Era o que dois meses de quimioterapia faziam com ela. Tiravam o brilho do fundo dos olhos.

Mas jamais o sorriso lindo de seus lábios.

Sasuke: Vou falar com o médico... – Já não agüentava vê-la naquele estado. Tantas noites sem dormir. Tantos vômitos, tosse, dores pelo corpo... Machucava-me, matava-me por dentro. Cada dia que ela sofria, era um dia em que eu chegava mais perto do meu fim.

Sasuke: Dra. Senju, ela melhorou?

Tsunade: Oras, Sasuke... Sabe que pode me chamar de Tsunade. – Seu olhar era triste e cansado. – Não, ela não melhorou. Tudo o que podemos esperar é encontrar um doador.

Doador...

Já tinham me falado sobre doações de medula.

Complicadas, difíceis de se achar um compatível...

Todos na família dela já tinham sido testados. Nenhum era compatível.

Minhas esperanças tinham se esgotado, ela estava definhando. O único amor da minha vida, a pessoa pela qual eu acordava todos os dias, minha única família, estava deitada numa cama de hospital, morrendo sem que eu pudesse fazer mais nada.

Todo o dinheiro que eu tinha, as empresas, as casas, a herança, tudo. E nada pudera salvá-la.

NADA!

Eu estava sozinho naquela sala irritantemente branca, irritantemente limpa, irritantemente confortável. Eles estavam lá, as pessoas que ela amava, que eu também amava...

Mas nenhum deles era ela, e nunca seria. Quando ela se fosse eu faria o possível pra viver o mínimo de segundos que eu conseguisse.

Havia algo... Algo de muito insano em um mundo sem ela. Sem seu sorriso, sem aquela linda cor rosa que ela tinha quando ficava com vergonha, sem aqueles olhos lavanda tão misteriosos, tão perfeitos...

Grossas lágrimas começaram a descer pelo meu rosto. Estava chorando novamente. Comecei a soluçar alto, não conseguia respirar. Eu só queria estar perto dela, ficar perto dela sempre...

Naruto: Calma, cara... – Ele falou baixo preocupado enquanto colocava a mão no meu ombro.

Sasuke: CALMA? – Levantei-me e olhei para o meu amigo, sentindo a raiva tomar meu corpo. – A MULHER QUE EU AMO ESTÁ MORRENDO, NARUTO! MORRENDO! E EU ESTOU AQUI... E EU NÃO POSSO FAZER NADA! E-eu não... – Os soluços ficaram mais fortes e eu saí pela porta.

Tsunade: Sasuke! Espere! – Ela estava no corredor com uma pasta de exames.

Sasuke: O que foi, Dra. Senju? – ela tinha o rosto apreensivo.

Tsunade: O resultado de seus exames de compatibilidade saiu. E você é um doador...

O QUÊ?

FOI A MELHOR NOTÍCIA QUE ELA PODIA TER ME DADO!

Um sorriso brotou nos meus lábios, e morreu no instante que percebi que ela continuava apreensiva.

Tsunade: Mas... Você tem uma doença rara de medula. Caso doe... Bem, você terá 80% de probabilidade de morte.

Sasuke: Faça o transplante.

Tsunade: Olha aqui, Sasuke, eu sugiro que você pense bem. As chances são grandes e por isso eu não devo realizar o transplante... Eu só vim lhe dizer isso porque é minha obrigação.

Sasuke: Tsunade... – Ela se calou ao perceber que eu estava falando sério. – Se a Hinata se for... Coisa que... – Lágrimas voltavam a correr. – não vai demorar não é? Se ela não receber o transplante não demora muito... – Ela assentiu com a cabeça. – Então eu farei de tudo para morrer junto com ela. Entendeu?

Ela me olhava chocada.

Sasuke: Já tinha planejado isso... Um pouco de veneno – meneei com a cabeça – e eu estarei junto dela... Então você tem duas opções: aceitar a cirurgia e se eu morrer, estarei feliz apenas por ela estar viva, ou deixá-la sem a cirurgia, e matar duas pessoas...

Tsunade: Sasuke...

Sasuke: É isso. E nada vai mudar minha opinião.

Ele voltou pro quarto, com um fio de esperança. Se Tsunade aceitasse, por um milage, ele poderia salvá-la.

Hinata: S-s-sasuke-kun? – Tosse... Ela estava se esforçando demais.

Sasuke: Não, fale, meu amor... Está se cansando à toa. – Peguei em sua mão gelada.

Hinata: Não importa! Preciso te pedir uma coisa importante. – Seu rosto estava sério. – Quando... Quando eu não estiver mais aqui, quero que dê uma chance para a Sakura-chan...

Sasuke: Não fale bobagens, Hina!

Hinata: ESTOU FALANDO SÉRIO! – Lágrimas desciam pelo seu rosto. – Eu. Eu te amo. Não sei se essa frase explica tudo o que sinto por você... Você é o ar que eu respiro, minha vida, sem você... Eu simplesmente não existia antes de te conhecer. – Parecia que ela falava de mim, como eu era, o que ela significava pra mim... – E quando eu me for, quero que você fique com a Sakura. Quero que tenham...– ela falava com dor, com tristeza –quero que tenham filhos... Quero que seja feliz

Peguei em seu rosto e colei nossas testas, meu rosto sentindo sua respiração fraca mas ainda doce, meu nariz roçando no dela. Queria dizer a ela que se ela morresse, eu me matava...

Mas ela ia ficar mais preocupada ainda.

Sasuke: Se... Se você... Eu nunca mais fico com ninguém. Peço para a Hanabi me dar tudo que é seu, suas fotos, seus brinquedos de criança. Eu te amo tanto... Meu corpo não conseguiria tocar em outra mulher. Seu cheiro e sua pele me marcaram... Esse homem é só seu... Pra sempre. Não foi o que dissemos na igreja?

Hinata: Meu amor... – Senti seus lábios delicados nos meus. Um beijo cheio de amor, de entrega.

Sasuke: Nunca me peça... Jamais ficar com qualquer uma.

Senti sua mão estremecer. Logo os aparelhos começaram a apitar mais alto. Ela estava gemendo e tremendo de dor.

Sasuke: TSUNADE!

Enfermeiras entraram pela sala correndo com Tsunade. Sakura a acompanhava e injetaram sedativos em seu soro, logo ela estava dormindo. Eu assistia tudo aquilo como se estivesse preso ao chão.

Tsunade: Venha comigo lá fora, Sasuke. – Segui como um zumbi. – Vou fazer o transplante, certo? Mas você irá assumir os riscos... Todos eles.

Sasuke: Claro. Jamais colocaria a culpa em você.

Tsunade: Então amanhã iremos fazer esse transplante. Ela não aguentará mais que isso...

As horas que se passaram foram angustiantes... Me prepararam para a cirurgia, tal qual Hinata. Todos preocupados que ela piorasse até a hora. Estava sentado numa sala. Havia papel timbrado e uma caneta em cima de uma bancada, tive uma idéia. Escrevi uma carta para ela.

Tsunade: Está tudo pronto, Sasuke. Venha comigo.

Sasuke: Tsunade... Pode entregar isso a Hinata se eu... – Ela me olhou. Percebeu que eu já tinha me entregado, e não estava arrependido ou com medo.

Tsunade: Claro.



HINATA

Acordei sem as dores pelo corpo... Estranhei quando percebi que todas aquelas coisas não estavam mais presas à mim. Apertei o botão para chamar a enfermeira, e logo chegou Tsunade junto com ela.

Tsunade: Bom dia, Hinata. – Ela tinha um sorriso estranho no rosto. Como se estivesse me escondendo algo. – Vejo que está cada dia melhor...

Hinata: Como? Pensei que...

Tsunade: Depois que você foi sedada conseguimos um doador e fizemos o transplante imediatamente. Você dormiu por dois dias...

EU... EU ESTAVA CURADA?

Hinata: Eu vou ficar bem?

Tsunade: Claro! Estamos monitorando suas melhoras, e o prognóstico é incrível! A compatibilidade foi quase perfeita...

Hinata: Gostaria de agradecer à quem fez isso por mim... – Ela me olhou estranha novamente. – Mas onde está Sasuke? Quero vê-lo... Quero ficar com ele...

Tsunade: Hinata... Tenho más notícias... – Mas notícias? – O Sasuke foi o seu doador... Ele era incrivelmente compatível, mas ele tinha uma alteração hematológica. A transfusão foi invasiva demais pra ele... Ele não está respondendo bem.

Hinata: Como assim ‘não está respondendo bem’?

Tsunade: Tentamos tudo pra reverter a perda de medula... Ele está responsivo, mas preferimos deixá-lo inconsciente, porque ele está muito fraco...

Hinata: Como ele pode estar mal? Você está fazendo uma brincadeira de mau-gosto comigo, Tsunade... Traga o Sasuke aqui, por favor! – Estava com o rosto molhado de lágrimas.

Tsunade: Sinto muito Hinata... Ele me mandou lhe entregar isso caso a transfusão desse errado. – Ela me deu uma carta. – Vou te deixar um pouco sozinha para você se acalmar...

Ela saiu e eu fiquei deitada chorando, imóvel... As lágrimas caiam e eu nem conseguia piscar.

Depois de algum tempo me sentei segurando a carta.

Por fora do envelope tinha meu nome escrito com as letras dele... Letras que eu conhecia pelas cartas bobas de amor que costumávamos deixar pela casa.

Abri e comecei a ler...


‘Hina,

Se você está lendo essa carta, é porque algo deu muito errado na cirurgia...

Eu te amo tanto, e sei como você me ama, portanto sei que você não vai acreditar quando a Tsunade, Sakura ou qualquer outro médico disser o quanto eu estou mal... E que muito provavelmente eu vou morrer...

Não chore, por favor...

Eu te imploro, não chore. Meu amor é maior que meu orgulho. Não quero que derrame uma lágrima pela minha morte.

Afinal eu só te dei o que sempre te pertenceu... Toda a essência do meu ser, meu sangue, meu eu...

Eu fiz o que sempre fiz, te dei minha vida. O teu amor que iluminou minha vida escura... A tua luz... Você merece a minha vida a teus pés. Esse coração que bate por você, que pode morrer pra te dar o meu amor. Para este amor que sinto e que sempre vou sentir, não existem despedidas, existe apenas a eternidade...

Não se desespere ou se culpe... Apenas te dei o que não existiria sem você.

Quando você começou a piorar, eu tomei uma decisão. Assim que você morresse, eu ia junto contigo...

Então posso apenas te dar isso que é seu, e morrer feliz, por estar perto de você mesmo quando eu não estiver mais aqui.

Engraçado como eu era o compatível... Sempre pensei em você como a minha alma gêmea... Como se você fosse a única que me entendesse, como se houvesse um encaixe perfeito entre nós...

Dê uma chance ao Naruto... Ele sempre gostou muito de ti...

Prometa que será feliz, meu anjo... Que será feliz mesmo sem mim... Diferente de mim você é luz, uma lutadora, você conseguirá ser feliz...

Pra sempre seu,

Sasuke.’


Eu não conseguia parar de chorar, apesar de seu pedido...

Eu o amava tanto que se soubesse o que ele pretendia, teria me matado rapidamente para não dar a oportunidade...

Um mundo sem ele?

Que mundo seria esse?

Eu só fui feliz, só me senti alguém quando o conheci, então tudo fez sentido...

Eu não podia ficar sem ele, nem mais um minuto.

Arranquei o fio que me prendia a um aparelho de monitoramento cardíaco, me levantei e me esgueirei até a portaria, descobri o número de sua sala e me encaminhei até lá.

Ele estava tão... Frágil.

Sua pele estava mais pálida do que nunca, seus belos cabelos estavam mais bagunçados... Seus olhos com olheiras fundas. Sua respiração difícil.

Fui até ele, e com delicadeza toquei sua mão. Como se soubesse que era eu, seu braço inteiro se arrepiou. Ele abriu os olhos e sorriu pra mim.

Sasuke: Você... está... bem.

Hinata: Não se esforce, por favor.

Sasuke: É tudo o que eu queria... Você bem...

Eu chorei e solucei forte... Eu não podia perdê-lo...

Hinata: Sasuke... Eu não sou forte... Se você for... Eu vou junto...

Ele arregalou os olhos. A boca formava um ‘o’ estranho, disforme. Depois apenas tocou meu rosto.

Hinata: EU TE AMO! Não me deixe viver uma vida sem você! Não nos separe... Fica comigo? Fica comigo por favor? – Eu soluçava forte.

Sasuke: Não posso te deixar morrer... Você não pode morrer...

Hinata: Eu li a sua carta... E sinto a mesma coisa... – Sorria em meio às lágrimas. – Não posso te perder... Luta meu amor... Eu sei que você consegue!

Ele me olhou profundamente...

Sasuke: Me beija...

( )

Sasuke: Me beija, Hina... Se eu te disser que o seu beijo é a única coisa que eu preciso pra ficar bem?

Hinata: Eu diria que é tudo que eu preciso... É tão louco... Mas te olhando... Eu sei que não está mentindo.

Sasuke: Então me beija. Me beija como eu preciso que me beije... – Ele sorriu. – Eu sei que estou horrível...

Hinata: Nunca diga isso... – Eu disse baixo.

E o beijei... Como se fosse a primeira e a última vez... Beijei como se ele realmente fosse viver por isso...



- Oito meses depois –

Sasuke: Nada disso! Eu não vou deixar você carregar esses livros pesados!

Hinata: Exagerado! – Revirou os olhos e beijou o moreno. – Assim você me mima!

Sasuke: É o meu trabalho... Além do mais a médica disse pra você pegar leve...

Hinata: Eu estou grávida, não morta!

A barriga de dois meses ainda não podia ser vista mesmo ela estando só de biquíni. O sol da praia beijava a pele alva da garota, seus cabelos jogados na cadeira enquanto ele apenas a admirava.

Ela lia os romances publicados por ele, seus preferidos, sentada numa grande cadeira de praia encostada em seu marido.

Sasuke: Eu sou o cara mais sortudo do mundo...

Hinata: Você quase deu sua vida pela minha... Acho que a sortuda aqui sou eu...

Eles se beijaram longamente naquela praia deserta...

Uma nova vida...

Hinata, Sasuke, o bebê...

Três novas vidas...