A música estava alta, muito alta, e luzes coloridas piscavam por todos os lados daquele jardim, porém ninguém dançava. Afinal era um festa de pessoas importantes e a maioria delas beiravam seus 30 ou 40 anos de idade.

A festa estava lotada, a maior parte das mulheres estavam sentadas ao redor de uma mesa e conversavam alegremente sobre roupas, seus filhos ou maquiagem, como o esperado. Já os homens estavam em pé, em algumas espécies de rodinhas, com uma bebida na mão e conversando sobre negócios, às vezes até conversavam um pouco sobre futebol e outros esportes.

Em um mesa mais afastada, encontravam-se Thomas e Rosalie. Ele trajava um smooking preto clássico e ela um vestido vermelho sangue, sem alças. Ele era de um tecido leve que dançava no ar a cada movimento que ela fazia. Calçava um uma sandália dourada e seus cabelos morenos estavam presos em um coque ligeiramente desarrumado.

- Só espero que Christopher venha arrumado - comentou Thomas bebericando seu champanhe.

- Fique tranquilo, ele virá apresentável. E se não vier, Lily dará um jeito - Rose acalmou o namorado e deu uma leve piscadela para ele.

Depois de alguns minutos, o casal avistou um homem alto, de smoking e cabelo arrumado, adentrando o jardim. Thomas quase negou-se a acreditar que aquele era seu irmão que há três dias estava um trapo que só Deus para ajudá-lo. Lílian, que estava na entrada de sua casa, quase caiu dura no chão quando viu que era o seu filho ali. Fazia tanto tempo que ela não o vira assim, com uma aparência tão boa. Porém era fácil de se notar que uma coisa ainda não havia mudado, a tristeza nos olhos de seu filho.

- Chris?! Não acredito! Seu irmão é um ser milagroso. Olhe só para você, está tão limpo e bonito. Mal parece aquele homem desleixado com aquela barba nojenta e olheiras gigantescas - disse ela abraçando Chris.

- Obrigado pela parte que me toca, mãe - ele ironizou revirando seus olhos. - Eu sei que estava horrível.

- Horrível, é apelido - Lily riu, fazendo o filho revirar os olhos novamente. - Seu pai quer te ver, querido.

- Tudo bem, vou falar com ele.

Deu um beijo na bochecha de sua mãe e saiu para encontrar seu pai. Jamescumprimentava um de seus amigos, quando viu seu filho vindo em sua direção.

- Não acredito! - disse surpreso e abraçou Christopher.

- Qual é? Vocês só sabem dizer isso? - debochou ele. - É bom te ver de novo, pai. O senhor queria falar alguma coisa comigo?

- Meu filho, o "senhor" está no céu. Posso ter meus 49 anos de idade, mas meu espírito tem apenas 18 - James soltou uma piscadinha. - Bom, seu irmão me contou com seu probleminha de dinheiro.

- Eu não tenho nenhum probleminha.

- Ah, claro - ironizou o homem mais velho. - Você está sem água em casa, Christopher!

- Eu não... Está bem, eu estou mesmo. Mas eu vou dar um jeito nisso.

- Como? Me diz como? - perguntou James descrente.

- Pai, aonde você quer chegar?

- Eu quero que você trabalhe na empresa, junto comigo e seu irmão - disse e Christopher começou a rir.

 - Próxima piada, por favor. Pai, você sabe que isso não é pra mim. Sabe o quanto eu estou sofrendo só de vestir esse terno hoje.

- Tudo bem, não precisa dar a resposta agora. Pense a respeito e depois me diga o que decidiu - sorriu.

- Não fique tão esperançoso assim, Sr. Walker. Sabe como eu sou...

- Teimoso? É, eu sei. Agora vá se divertir - James disse e saiu dali, deixando o filho só.

Christopher suspirou e foi procurar seu irmão. Andou pelo jardim, olhando por todos os lados, até que finalmente o encontrou sentado em uma das mesas com uma mulher ao seu lado, que supos ser sua nova namorada, Rosalie. Puxando sua gravata-borboleta com o objetivo que deixá-la mais frouxa, ele caminhou até lá. Quando estava já um pouco próximo, percebeu a presença de mais um figura loira ali.

Pelo fato dos cabelos longos, deduziu ser uma mulher. Ela estava de costas e usava um vestido azul marinho, que marcava sua belas curvas. Ele possuía uma única alça grossa e essa era cheio de detalhes volumosos que podiam parecer laços ou qualquer outra coisa que não era possível identificar. Calçava um sapato alto preto, que a deixava de um jeito mais atraente ainda. Não sabia muito bem quem era a mulher, mas não poderia negar que ela era linda. Talvez achasse isso pelo fato de parecer tanto Katherine. E só de imaginar ela ali, seu peito encheu-se de alegria, porém logo os flashes de tudo o que aconteceu passou por sua mente e ele logo esqueceu tudo aquilo.

Continuou paralizado ali, a medindo por inteira por várias e várias vezes, até ver que seu irmão notara sua presença e o encarou de forma estranha, como se mandasse ele sair dali o mais rápido possível. Confuso, Christopher não saiu do lugar e mandou olhares interrogativos para Thomy. Notou que a figura loura percebera o olhar de Thomas para alguma coisa atrás dela. Intrigada, virou-se para visualizar quem ele tanto olhara.

Foi uma mistura interessante, talvez saudade, tristeza, amor, rancor... Ninguém saberia explicar, porém foi tão impactante que ambos sentiram o chão desabar. Lá estavam eles, Katherine e Christopher se encarando depois de tanto tempo. Ele começou a sentir seu coração bater descompassadamente, e de fato surpreendeu-se, pois poucos segundos atrás pensara que não tinha mais coração e sim uma pedra de gelo. Era incrível como era só Kate aparecer, para que toda suas ideiasmalucas, todos seus xingamentos direcionados a ela desaparecerem. Christopher só queria abraçá-la, queria beijá-la, queria pegar ela pelo colo e levá-la para sua casa, para que a partir dali, eles pudessem construir uma vida juntos.

Mas o que ele realmente fez foi vê-la com os olhos marejados, como os seus estavam, levantando da cadeira e preparando-se para se aproximar dele, entãoChris fechou seus olhos e virou-se para trás, caminhando para fora daquela festa o mais rápido possível. Ouviu a voz harmoniosa da mulher o chamando, e com todas suas forças ignorou e continuou andando. Ela havia o machucado de uma forma totalmente rude, ela havia o engano dizendo que o amava, isso não daria para esquecer tão cedo.

Foi andando até a saída, mas parou quando viu um garçom passar segurando uma bandeja com várias taças de champanhe. Roubou uma e a bebeu em dois goles, recolocou a taça sobre a bandeja e deu dois tapinhas das costas de garçom, que estava um tanto confuso, e retomou o caminho.

- Fugindo de mim, Chris? - disse uma voz feminina ao seu lado que ele conhecia muito bem.

- Não tem mais ninguém pra você enganar, não Kate? - rebateu seco enquanto ainda caminhava até a saída.

- Ei, da pra parar de andar um segundo e me escutar? - Katherine segurou um dos braços do loiro na tentativa de pará-lo, o que funcionou.

- Hm...  - fingiu estar pensativo e fez a mulher revirar os olhos. - Não! Agora me deixe ir.

- Por favor, me escute, Christopher!

- Olha, primeiro você vem, aparece de repente na minha vida. Faz eu me apaixonar por você, faz eu brigar com meu irmão por você. Aí depois você começa a me ignorar, faz eu ficar que nem um louco tentando te convencer a falar comigo. De repente você me liga, diz que não me ama mais e manda eu te esquecer, diz pra eu continuar a minha vida longe de você. O problema é que... Katherine, você falou aquilo como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

Ele fechou seus olhos e respirou fundo, tentando controlar as lágrimas como sempre fazia, e continuou:

 - Depois de disso você some e me deixa totalmente acabado. E quando parece que estou bem novamente e que agora vou conseguir voltar a ser quem eu era antes, você volta. Mas que tipo de brincadeira é essa?!?!

Christopher explodiu chamando a atenção de algumas pessoas ao seu redor. Ele falava cada palavra mostrando o quão machucado ele estava com tudo aquilo, deixando Katherine totalmente paralisada na sua frente, com seus olhos retornando a encherem se lágrimas. Sem se importar deixou que algumas caíssem sobre seu rosto. Abaixou a cabeça e suspirou, sentindo uma imensa dor no peito, que poderia ser comparada a que Christopher também sentia naquele momento.

- Eu... Chris... Me perdoe... - disse ela com dificuldade, pois não sabia o que fazer, sinceramente estava perdida como nunca esteve antes.

- É só isso que você tem para dizer? "Me perdoe"?

- Sim, pois eu sei que o que eu for falar agora, vai ser só essas palavras que você irá acreditar.

- Quer saber, mal consigo acreditar nessas.

- O que está... - ouvia-se uma voz grossa falar. - Katherine? Christopher? - agora todos podiam ver o dono dela e era ninguém menos que James.

- Ela voltou para se desculpar, mas agora já vai embora, não vai? - disse Christopher um pouco rude, olhando para a mulher de vestido azul-marinho que mostrava-se estática.

- Você quer que eu vá? - aquilo realmente havia pego Chris de surpresa. Ele a encarou enquanto vasculhava toda sua mente na procura de uma resposta que não fosse "Mas é lógico que não".

- Eu... - olhou para os lados e viu que havia chamado a atenção de quase todas as pessoas presentes na festa. - Acho melhor você ir embora, Katherine - disse e respirou fundo, fechando seus olhos novamente. "Eu disse que era melhor você ir embora, não que eu queria que você fosse", pensou enquanto sentia seu coração doer novamente.

- Era só isso que eu precisava ouvir - Katherine sorriu para ele, ou pelo menos tentou sorrir.

Estava triste, não havia como tentar não demonstrar isso em seu sorriso. Caminhou até Christopher, o envolveu em um abraço e disse enquanto deitava seu rosto sobre o ombro largo do homem:

 - Sei que te magoei, sei que fui idiota, sei que talvez você nunca me perdoe e sei também que você não sente mais nada por mim, a não ser ódio, claro. Mas você lembra das palavras que eu lhe disse? Se sim, quero que saiba que na verdade, eu queria o contrário de tudo aquilo. Não queria ter deixado você ir assim, tão fácil, não sabia o quanto isso futuramente me machucaria - desencostou seu rosto e levou seus olhos molhados pelas lágrimas até os do rapaz  - Chris, me perdoe por tudo. E... Eu sempre vou amar você - sussurrou e depositou um beijo em sua bochecha. Depois saiu dali, desaparecendo diante as pessoas que olhavam toda aquela cena totalmente chocadas e confusas.

- Filho! - chamou Lily correndo até Christopher e o abraçando.

- Ela estava mentindo, não estava? - disse ele um pouco perdido.

- Você acha que ela estava? - perguntou de volta o encarando de forma afetuosa.

- Eu... Hãn... - tentou dar uma resposta, porém não conseguia, estava confuso o bastante para conseguir uma opinião concreta sobre o que acabara de acontecer.

- Sei que está confuso, querido. Então pense sobre isso, você tem tempo, poisKate não sairá da cidade tão cedo, para sua sorte - sorriu e beijou a bochecha do rapaz, depois saiu dali da mesma forma que Katherine.

- Ou azar... - disse Christopher para si mesmo.

                                                     ---

- Você não ia embora? - perguntou Thomas vendo a mulher de vestido azul-marinho tomando talvez seu terceiro copo de champanhe.

- Não posso ficar aqui escondida, o olhando? - perguntou ela, após tomar um gole de sua bebida, olhando atentamente para Christopher, que estava sozinho em uma das mesas, aparentemente abatido e com uma taça na mão.

- Pelo o que eu sei, meu irmão não é tão bonito assim para ficar sendo mirado, principalmente por esses olhos tão apaixonados.

Thomy sorriu e juntou-se a ela, apoiando-se sobre a sacada do quarto de hóspedes, que antigamente era habitado por Katherine. Ela olhou para o loiro e sorriu tristemente, logo apoiando sua cabeça no ombro do rapaz. Que apenas encostou sua cabeça na dela.

- Eu me arrependo tanto por ter dito aquelas coisas para ele, por ter mentido daquela forma para ele. Só que eu estava nervosa, triste e cansada, que falei sem pensar. Aquela atitude foi tão infantil... - suspirou - Ele nunca vai me perdoar, não é?

- Kate, ele está magoado, entenda... - disse a mulher, que sentiu-se derrotada - Mas ele ainda te ama, como nunca. Ele se nega a dizer isso, quer se passar por um homem que não sofre por amor. Porém todos percebem que ele sofre sim e que seu coração clama por você, sua boba - sorriu gentilmente, depois abraçou sua cintura e beijou sua testa.

- Thomy? - Katherine olhou para ele diretamente, soltando-se de seus braços.

- Sim?

- Obrigada.

- Por...

- Por me perdoar, por ainda estar aqui ao meu lado, por seu meu amigo mesmo depois de tudo o que eu lhe fiz. Obrigada, muito obrigada, você é o melhor e você sabe disso - com os olhos já marejados novamente e um pequeno sorriso nos lábios, pulou nos braços de Thomas, para que eles pudessem se abraçar, e assim fizeram.

- Sempre fomos amigos, certo? Por que não continuar depois de nós... Bem... Você sabe. E reconheço que isso tudo não foi só culpa sua, foi minha e do Christopher também. Rosalie me fez perceber isso.

- Falando em Rosalie, ela é linda, Thomas. Eu adorei conhecê-la.

- Ela me fez mudar, Kate. Eu a amo demais, ela é incrível. E... Nós estamos noivos - ele sorriu e aguardou ansiosamente a reação de Katherine.

- Ah, não brinca?! Isso é ótimo, Thomy, meus parabéns! Dê os devidos parabéns para sua noiva, Rose, também, viu? - Kate disse um pouco mais entusiasmada.

- Por que não vamos fazer isso agora?

- Não, acho melhor eu ir embora. Não quero que Christopher me veja aqui ainda, não quero deixá-lo com raiva. Enfim, obrigada por tudo, Thomy e parabéns novamente. Até mais - depositou um beijo em sua bochecha e um pequeno abraço.

- Espere - segurou o braço de Katherine antes que ela saísse dali. - Você não irá desistir do Chris, não é?

- Nunca - afirmou e entrou no quarto, logo desaparecendo em meio da escuridão.