Um tec-tec insistente vinha de uma das janelas do chalé 1 quando Thalia deitou-se para dormir. O barulho ficou mais alto e um sussurro se misturou a ele. Thalia pensou que estivesse ouvindo coisas, mas achou melhor checar. Levantou se e foi até a janela. Ao aproximar se, percebeu que o sussurro era uma voz chamando-a. Thalia se apressou e abriu a janela para deparar-se com Luke.

– Porque demorou tanto? – queixou-se o garoto, entrando no quarto pela janela.

– O que você está fazendo? Sabe que horas são? – Thalia estava totalmente constrangida; usava uma das camisas de Luke que ela pegara há tempos atrás e servia-lhe como um vestido absurdamente curto, e nada além disso.

Luke reparou que a roupa de Thalia era curta, mas não notou que ela usava uma camisa sua para dormir, e esse era o principal motivo do constrangimento dela. Mas Luke não percebeu isso.

É exigir muito da percepção masculina.

– Ei, nem é assim tão tarde! – defendeu se Luke – Eu vim jogar.

Na última semana, Thalia e Luke trouxeram para dentro do acampamento uma TV, um vídeo game e joysticks, assim como jogos. Como o chalé de Hermes, além de não ser único de Luke, vivia cheio, eles instalaram tudo no chalé de Zeus, onde só Thalia entrava. Mas ela não imaginou que Luke apareceria no meio da noite para jogar.

– Onde eu estava com a cabeça quando concordei com isso? – queixou-se Thalia para si mesma em um sussurro.

Luke ligou a TV e escolheu um jogo. Enquanto carregava, ele sentou-se no chão, encostando-se à cama de Thalia. Ela sentou ao seu lado, mas na cama.

Thalia tinha certeza de que estava ficando vermelha, pois acabara de notar que suas pernas ficaram na altura da cabeça de Luke, que ainda mantinha os olhos na tela. Ela puxou o máximo que pode a blusa/vestido e cruzou as pernas, encolhendo-se. Luke lhe passou um dos joysticks e notou também que as pernas de Thalia estavam tão próximas aos seus olhos. Por um momento Luke pensou que suas pernas seriam consideradas pernas de sátiros comparadas as de Thalia. As dela eram brancas e lisinhas. Ele desviou o olhar rapidamente de volta a TV e os dois começaram a jogar.

Era um jogo antigo, com gráficos medievais, de tão pixada que era a imagem. O objetivo do jogo era derrotar o oponente mutilando-o. Thalia venceu Luke 5 vezes explodindo sua cabeça, antes que as vidas dele acabassem.

– Isso não é justo! – reclamou Luke e deu uma mordida na perna de Thalia, não resistindo.

Não foi uma mordida realmente forte, mas Thalia não ficou satisfeita. Então bateu na cabeça de Luke com a única coisa que tinha em mãos: o joystick.

– Aí! – gritou Luke.

– Desculpa – pediu Thalia, mas não parecia nem um pouco arrependida.

Eles se encararam por um momento, azul contra azul, testando a potencia de seus olhares. Por fim Luke desviou, deixando que Thalia ganhasse, e voltou ao jogo, dessa vez sozinho.

Thalia se afastou um pouco dele na cama. Ainda era bem visível a marca redonda dos dentes de Luke em sua perna branca. É, talvez eu devesse ter colocado um jeans quando ele apareceu, pensou Thalia.

Assim eles ficaram por algumas horas: Luke jogando e Thalia assistindo. Depois que o constrangimento da mordida passou, Thalia sentou-se ao seu lado no chão, dizendo a todo o momento que os golpes de Luke eram horríveis e que era por isso que ele nunca vencia.

– Ainda bem que você não luta mal assim na vida real, ou já estaria morto – provocou Thalia.

– Cala a boca – era a resposta automática de Luke, que não ouvia uma palavra do que Thalia dizia.

Notando que ele não lhe dava atenção, Thalia engatinhou até a TV, dessa vez sem se preocupar com o comprimento de sua roupa – afinal, Luke não a olhava mesmo – e desligou o aparelho, sentando-se ao seu lado e encarando Luke, divertida.

Inicialmente Luke pensou que havia faltado energia. Então ele notou o sorriso no rosto de Thalia.

– Você não fez isso – disse ele, em uma afirmação retórica.

Thalia abriu mais o sorriso, divertindo-se com a expressão de ódio e incredulidade que se formava no rosto de Luke. Sem pensar muito, ele soltou o joystick e se jogou na direção de Thalia, pronto para se vingar. Mas ela foi mais rápida e se arrastou para longe dele. Antes que pudesse se levantar, Luke alcançou seu calcanhar e a puxou, fazendo com que ela deitasse. Ele se arrastou e deitou-se sobre ela, prendendo seus braços com o peso de seu corpo, para que Thalia parasse de se debater.

Luke pretendia vingar-se em um ataque de cosquinha, mas ao encarar Thalia tão de perto, com o sorriso divertido no rosto e os intensos olhos azuis encarando-o, esperando por uma atitude, ele não resistiu:

– Eu te amo – disse Luke a Thalia.

Luke temia beijá-la após dizer aquilo. Não queria que parecesse que só usava daquelas palavras para conseguir ficar com ela. Thalia não era o tipo de garota com quem se faz isso. Eles se conheciam há 4 anos, mas só agora Luke percebeu que sentia muito mais por Thalia do que apenas amizade. Mas ele logo soube que aquilo só podia ser amor.

No começo o sorriso de Thalia foi se desfazendo, de surpresa. Luke pensou que colocara tudo a perder. Então Thalia levou suas mãos até o rosto de Luke, puxando-o para um beijo.

– Eu também te amo – respondeu Thalia.

Diferente de Luke, ela sempre soube o que sentia por ele. E agora eles ficariam juntos. Para sempre.

Será?