Encenemos esta comédia! Este espetáculo tão irônico cheio de gracejos e sorrisos falsos… Mas de que é feita a vida se não de infinitas falsidades? Palavras de consolo parecem facas de dois gumes. Emprestam-te o ombro para chorar, mas ferem teu orgulho depois ao contar tuas fraquezas para os outros.

Em quem se pode confiar?

Eles sorriem, mas apenas estão ansiosos para assistir o momento em que tu irás desmoronar. Na tua frente, quase todos são prestativos e amigáveis… Mas quem dirá se continuarão firmes nessa atitude?

E é inútil ter certeza.

Isso soa como amargura? Pode até ser. Mas pelo menos, esta narradora sabe bem do que fala. Também sabe que, por mais que isso seja degradante, a comédia deve continuar sendo encenada. O espetáculo não pode parar pela metade. Não, não pode. As cortinas não devem ser fechadas no começo e muito menos no meio. O artista deve ter forças para continuar sorrindo de maneira otimista no meio de tantas injustiças e falsidades. Pois é isso que um profissional faz: atuar, fingir, encenar. Ele não dá o prazer de que o vejam desmoronar. Não deixa que a comédia vire drama e nem que as coisas fujam do script.

Isso não é sinônimo de força e nem de sangue frio. É de necessidade. Eu, tu, ele, ela… Não seriam os mesmos diante desta peça? Uns meros artistas que precisam se manter firmes e rir diante tais terríveis fatos? Talvez sim, talvez não. Tudo é incerto!

Oh, mas veja isso! A platéia aplaude sem cessar! Gostaram de tua (ou será minha? Ou dele? Dela?) atuação. Isso dá forças para que continuemos a encenar e encenar. Afinal, o que é a vida se não uma comédia sem graça? Aplaudam e fechem as cortinas! O artista precisa de descanso. Em breve, ela tornará a se abrir e o forçará a atuar novamente, por isso dêem-lhe um repouso! O futuro nos palcos da vida promete ser… Que palavra posso usar?… Promete ser desgastantemente falso e sem graça.

Fim do primeiro (e talvez o único) ato ~