Bad Girl Fuckin Perfect escrita por Nikkmoon


Capítulo 5
Cap V: Luz na escudridão




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Cap V: Luz na escuridão


Acordei pela manhã com uma dor de cabeça assombrosa, os pontos na minha cabeça latejavam. Era horrível! Minha mãe os vira noite passada, e mais uma vez tive que mentir sobre meus muitos machucados e hematomas. Nunca tive coragem de contar o que acontecia na escola pra minha mãe, tinha medo de como ela reagiria. Ela já tinha muito com o que se preocupar, eu já era um problema... não queria criar mais outro.

Estava sentada na cama há alguns minutos, já estava atrasada para ir a escola... Sentia-me completamente frágil, com medo... Mesmo com tudo que acontecida nunca deixei de ir ao colégio, aguentava tudo todos os dias. Mas eu estava acabada demais, não sentia vontade de levantar da cama, e de lá não sairia tão cedo.


Levantei-me perto do horário que costumava voltar da escola, troquei de roupa, lavei o rosto e desci as escadas ate a cozinha. Esquentei o almoço que minha mãe deixara pronto. Eu não sentia fome, comi apenas porque não havia almoçado e nem jantado no dia anterior, muito menos tomado café àquela manhã. Arrumei tudo como de costume e fui para a sala, sentei-me no sofá e liguei a televisão apenas para ter algum som que preenchesse o silencio.

Fiquei sentada fitando minhas próprias mãos por longos minutos, ate que ouvi uma batida na porta. Meu coração nunca tinha batido tão rápido, um cala frio nunca havia percorrido minha espinha com tanta presa, meu corpo pulsou de medo. Eles não viriam ate a minha casa, viria? Recuei no sofá, não abriria a porta. Mas aquele som de alguém do outro lado esmurrando a superfície de madeira, aquele som penetrava por meus ouvidos. Poderia ser qualquer pessoa... Mas ninguém vinha a minha casa... Talvez algum dono de bar cobrando dividas do meu pai. Um homem enorme, revoltado e cuspindo ameaças seria muito melhor do que aqueles desgraçados. Levantei-me e fui ate porta. Sentia-me como um bezerro imbecil indo em direção ao abatedouro. Coloquei a mão na maçaneta e senti a porta vibrar mais uma vez com a batida. Fechei os olhos e destranquei a porta, esperando que qualquer coisa gosmenta me fosse arremessada contra o rosto, ou que socos ou ovos podres me atingissem, mas nada disso aconteceu. Senti duas mãos grandes apertarem o meu rosto, sem brutalidade ou força, mas que me forçaram a dar alguns passos para trás.

- Chica, por que demorou tanto para abrir a porta? – a voz potente e carregada de sotaque espantou completamente o meu medo, eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Abri os olhos apenas para ter certeza, ou me espantar mais – POR DIOS, o que é isso na sua testa?

Sorri ao ver seu rosto rechonchudo e suas mãos tateando meu rosto. A mulher vestida de vermelho, que entrara já gritando era Consuelo Vega, a ultima pessoa que esperava que viesse ate minha casa. Consuelo era uma das poucas amigas da minha mãe, e na verdade, minha única amiga. Mexicana, bem acima do peso, de rosto arredondado e pele morena; Consuelo tinha o maior sorriso que já vira. Ela vinha me visitar às vezes, mas apenas quando meu pai não estava. Morava há umas 20 quadras daqui, em um prédio velho e mal acabado. Consuelo beirava seus 60 anos, e estava nos Estados Unidos de forma ilegal há uns 20 anos. Viera para a Califórnia, sem saber falar inglês ou ter uma profissão determinada, atravessara a fronteira em busca de um emprego e dinheiro para mandar para sua mãe e seu filho pequeno (que agora já deve ser um homem com mulher e filhos) que continuaram no México. Mas a policia quase a pegou poucos dias depois que estava na Califórnia, e ela acabou vindo para o Mississipi. Consuelo trabalhava de babá e cozinheira em casas em um bairro mais rico, mas que não lhe rendiam dinheiro suficiente para voltar ao México.

Consuelo era grande, uma mulher de coração grande. Trajando aquele vestido vermelho que ia ate os tornozelos, parecia uma grande bola de natal, aquela que você coloca na frente da arvore porque é maior e mais brilhante. E sua pele realmente brilhava. Seus cabelos negros pareciam em pé, diante da preocupação que seus olhos negros fitavam meus pontos da testa.

- Vamos chica, o qué pasó? – ela gritou mais alto, soltando meu rosto e me fitando inda mais preocupada.

- Isso não foi nada, Consuelo – dei um sorriso amarelo, coloquei uma das mãos sobre o machucado e fui fechar a porta, virando-me de costas para ela, tentando fugir de seu olhar de preocupação. 

- Aqueles garotos continuam mexendo com você – ela afirmou bufando, balbuciou algumas palavras em espanhol, que eu poderia jurar que eram xingamentos, enquanto me levava pela mão ate a cozinha.

Consuelo era a única que sabia o que me acontecia na escola, não me lembro ao certo como aconteceu, mas acho que ela acabou descobrindo sozinha. Minha mãe sempre pedia para Consuelo vir me ver às vezes durante à tarde quando eu era mais nova, eu cresci e a intensidade das visitas diminuiu há quase zero. E acho que foi em uma dessas poucas visitas, há mais de um ano atrás que ela descobriu sobre minha “relação” com Matt. O que eu nunca entendi foi... Por que ela nunca contou para minha mãe?

- Ahora – sentou-me em uma das cadeiras, e puxou outra para ela mesma sentar – Cuéntame lo que pasó.

- O que? – arquei uma sobrancelha, diante do embaralhado de palavras que ela cuspira de uma vez e sem pausas. Fazia tempo que não ouvia palavras em espanhol, e ela falara rápido demais.

Quando Consuelo vinha com frequência me ver para arrumar minha comida, ou me ajudar com o que fosse, sempre me contava coisas sobre o México. Era seu jeito de matar a saudade do seu país, falando dele e me ensinando espanhol. Por isso meu pai a odiava. Ela sempre ia embora antes dele voltar, porque ele dizia que uma mulher asquerosa como ela não deveria ficar enchendo minha cabeça com cultura latina inútil.

- Você entendeu!

- Não entendi. Faz tanto tempo que você não vem me ver, e nem me dar aulas que já esqueci.

Vi os seios grandes dela dentro do decote subirem e descerem lentamente, em um longo e demorado suspiro.

- Vamos, diga o que aconteceu Emily – ela pediu pronunciando cada palavra lentamente, olhando diretamente nos meus olhos.

- Não foi nada, Consuelo. – tive que fugir novamente dos seus olhos negros, desviando deles e fitando a ponta da mesa.

- Nada? Nunca é nada! POR DIOS CHICA! – me encarou furiosa. – Você deve estar cheia de machucados por nada também? 

Olhei diretamente dentro dos seus olhos negros... Eu conseguia mentir pra todos os outros, menos para aqueles olhos negros.

- Foi a Lucy... Ela me achou no banheiro da escola... Me acertou um soco e antes de cair bati a cabeça.

- Sua madre me disse que estava doente, não pude vir vê-la antes e quando venho... Por Dios, depois de tanto tempo achei que tinham parado de te molestar – se levantou furiosa. 

- Eles não vão parar tão cedo.

- Y ustedes no haces nada?

Abaixei a cabeça.

- Mira – puxou-me pelo braço, colocando-me de pé a sua frente - És uma chica tan hermosa... Não pode deixar que façam isso com você pra sempre.

- E quer que eu faça o que?

- Mi Madre sempre me disse, “Se você não acreditar em si mesmo, ninguém vai fazer isso por você”.

Olhei Consuelo de cima a baixo. Seu corpo mais arredondado não se encaixava no padrão de beleza que nos era imposto, seu cabelo não era loiro e sedoso e, sem duvida, ela não tinha roupas ou perfumes de marca famosa. Vivia longe da família em um país diferente, mas mesmo assim... Consuelo era feliz. Tinha uma alegria toda sua, alto estima, acreditava nela... Eu gostaria de poder acreditar em mim, confiar e me sentir bem, mas simplesmente não conseguia. Eu nunca quis ser nada, eu nunca pensei em ser ninguém, mas naquele momento queria ser Consuelo Vega, apenas para poder conseguir confiar em mim.

- Emily, mostre pra eles que estão errados, que não podem simplesmente te maltratar desse jeito, menina! Ser fuerte! – ela ainda me segurava pelos braços, me chacoalhando a cada palavra dita. 

- Mas eu não sou forte, Consuelo. 

- Finja! Não vive fingindo que nada acontece? Finja ser forte também.

- Não é tão fácil assim...

- Basta de decir que no puede – me chacoalhou com mais força – Tem que acabar com eles antes que acabem com você, surpreenda. É uma menina tão bonita... – passou a mão pelo meu cabelo – Se eu tivesse um corpinho assim, e um cabelo lindo desse... Consuelo colocaria fuego nesta ciudad.

Dei um sorriso vendo ela fazer pose. Consuelo alem de tudo tinha luz própria, luz que me cegava na escuridão.

- Vamos garota, arrume esse cabelo, seja quem você quer ser.

- Mas se eu não souber quem eu sou, ou o que quero ser?

- Então invente, mas não deixe que ninguém mais te deixe para baixo! – abriu um largo sorriso – Me voy antes que su padre llega y empieza a molestrarme – beijou-me na testa, deu mais um sorriso e saiu pela porta dos fundos.

Vi Consuelo e seu vestido vermelho saírem e me deixarem sozinha, mas pela primeira vez não fiquei triste por vê-la ir embora. Pela primeira vez sentia-me realmente motivada. Ser forte... Mas o que realmente é ser forte? Não demonstrar o que sente, a dor e o sofrimento? Ou, não ignorá-los e sim tê-los e superá-los? Eu definitivamente não era forte, ou era? Eu nunca me impus, sempre aguentei tudo... isso fazia de mim forte ou uma covarde? “Se você não acreditar em si mesmo, ninguém vai fazer isso por você” Eu era forte, só precisava acreditar nisso... Surpreender a todos e a mim mesma... Ser forte para ter forças de me superar.


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Notas finais do capítulo

~Yoo
Gomen pelo erros e espero que tenham gostado. Comentarios?
Ate o proximo!!
Bjos!!



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