E eis que Harry pegou-se pensando naquilo novamente. Dia, noite, noite e dia. Sempre, sempre o mesmo assunto. A mesma história, sempre o mesmo pensamento atordoando a sua vida. Já havia vencido tudo que a vida tinha colocado a sua frente, todos os obstáculos já conseguira superar; de tudo já havia experimentado, desde o sorriso mais sincero até as lágrimas que caíram sem permissão. Mas era impossível, impossível detê-lo.

A morte. Parecia até brincadeira, se visto dos olhos de alheios. Mas não, para o portador da cicatriz mais conhecida do mundo bruxo, não era um assunto para ser levado sem a devida atenção que merecia.

Decerto que, havia driblado ela por duas vezes, mas essas foram por puro esforço e sorte que ele sempre tivera. E havia visto também ela de perto.

Mas a morte era faceira, danada. Vem e leva com rapidez, com velocidade. Era só mais um cão de três cabeças que ele poderia enfrentar, não? Não, a morte era injusta. Atingia os mais velhos, mais fracos e mais abatidos. Então, isso, colocava o homem distante da sua realidade. Pensava na morte todo o dia e quando tentava afastar o pensamento, ele voltava. Apesar de sua esposa já ter dito que “não adianta viver com medo de morrer”, mas era impossível.

Lembrou-se então dos dias de ouro, em que nem da morte sabiam e temiam. Sorriu. Tempos bem vividos, tempos antigos que jamais voltariam. Pelo menos isso, não é?

Catou o jornal, leu, devagar. Quase não enxergava nada com nada, estava mesmo ficando velho. Quantos ele anos tinha? Beirava lá os sessenta e oito, quase setenta.

Morte essa, que não tardou a chegar, pegando o velho Harry Potter e levando-o junto dela, para quem sabe, a eternidade. Mas não, não havia problema nisso. Afinal, ele nunca teve mesmo medo de nada, certo?