Ao andar na rua me deparava com o cotidiano de São Paulo, pelo mundo ela é uma cidade grande maravilhosa mas para quem mora nela conhece o inferno que enfrentamos todos os dias, mas por uma intervenção divina todos os meus compromissos, inclusive a escola, não chegam a ser mais de seis quadras de casa. 

Ao chegar na psicóloga sempre tenho que ficar uns cinco ou dez minutos sentado lendo aquelas revistas chatas (do tamanho de um gibi) que ensinam mil e uma maneiras de perder tantos kilos em tantos dias, mas o que mais me interessa nessas revistas são as matérias de pessoas que sofreram de anorexia e outras doenças parecidas que contam os dias horríveis que passaram, nunca tive tempo de ler nenhuma porque sempre que chego ao meio delas a Paula (minha psicóloga) me chama para entrar na sala.

A sala de consulta da Paula é um dos lugares onde posso me sentar e me sentir leve como uma pena e desabafar tudo que tenho dentro de mim, ela me entoper de perguntas difíceis que me deixam louco e de vez em quando sem resposta. Sempre que saio do consultório de Paula, fico bem-humorado para o resto do dia não brigo com mais nínguem. 

Sempre que chego em casa tenho paz para o resto do dia até chegar as 6 horas: Minha mãe chega com a Lena, meu pai chega logo depois e João chega chutando tudo devido ao stress acumulado que tem em sua cabeça por causa do trabalho. Por causa de tudo isso que aproveito o máximo quando estou sozinho, não sou desses que anda pela casa nu ou de cueca, ou comete pecados solitários a torta e a direita nada disso ! Gosto de levar um copo de refrigerante e um pedaço de bolo para o quarto e aproveito lendo algum livro novo que adquiro todas as semanas (não é a toa que tenho uma estante gigante em meu quarto).

Resolvi dormir esta tarde e acordei faltando vinte e cinco minutos para a minha mãe chegar, lavei a louça rapidamente e sentei no computador terminar alguns trabalhos que estão acumulados.  Minha mãe chegou berrando com a Lena porque ela havia derrubado suco em seu uniforme, Lena por sua vez se defendia chorando e batendo na porta do meu quarto, eu gentilmente abri e ela disse:

-Me ajuda ! - disse ela chorando até pelos ouvidos.

Cheguei a conclusão que Lena pode até ser chata e aprontar comigo as vezes mais eu como irmão mais velho dela (já que João nunca está em casa quando acontecem essas coisas) resolvi ajudar levando ela na lavanderia. Ela foi super-educada comigo e obedeceu tudo direitinho, levei ela até a porta do quarto de minha mãe (que estava arrumando as pastas do trabalho) e disse a Lena:

-Peça desculpas e diga que nunca mais vai acontecer ! - Lena acenou com a cabeça e cumpriu o prometido, e lá estavam mãe e filha abraçadas quando meu pai chega.

Mais nada disso que estou escrevendo neste diário te interessa, o que te interessa é o porque do "pscicologicamente anormal", amanhã ao chegar da escola tenho uma festa a noite na casa de Marcelo, é aniversário dele, a classe inteira foi convidada e alguns das outras classes, e nessa festa sinto que vou ser diferente de todos porque Marcelo disse que todos teriam uma surpresa e que ninguém poderia recusá-la.