Coeur Faible escrita por NRamiro


Capítulo 14
Parte 11.1




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Nós três estávamos em silêncio todo o percurso de volta ao Under Four Feet. Os passos eram largos e eu estava curiosa para saber o que havia acontecido enquanto Henrie estava na posse daqueles homens. Quando chegamos no estabelecimento, apressamo-nos e em questão de segundos estávamos dentro das entranhas da organização.

– O que aconteceu McMahon? – Perguntei-o.

– Você estava no lado de fora do bar fumando quando decidi tomar mais uma bebida. Tomei alguns goles e então Lilly apareceu. Ela forçava uma pequena arma contra minhas costas de um modo bem discreto e me conduziu para aquela sala onde me encontrou.

– O canivete – Mostrei-o a pequena faca. Ele concordou.

– Você chegou a entrar no café?

– Sim – Anthony foi quem respondeu. – E Francesca quase se fez de isca.

– Eles vão matá-la – Henrie anunciou. – A atendente.

– Não temos tempo para isso. Preciso conversar com Vector.

Olhei para os dois homens ao meu lado, o humano e o inccubus, e segui andando até a sala de Vector. Fazia tempos que não cruzava aqueles corredores. Na verdade nunca precisei passar por eles, minha sala era uma das primeiras e geralmente os trabalhos que eu recebia eram exercidos no mundo exterior.


“É tão legal aqui, pai!” A garotinha de cabelos loiros dizia. Seu dedo indicador apontava para todos os lados e os olhos verdes brilhavam.

“Você pode viver aqui no futuro, se quiser”

“Eu quero!” Pulou animada. “É muito caro?”

“Não, na verdade você recebe muitos privilégios”


Não havia nada muito interessante nos corredores agora. Eles apenas escondiam segredos e, de fato, dava privilégios.

– Vector – Pronunciei seu nome. Estava de frente para porta que eu sabia esconder sua sala. Esperei alguns segundos até ela se abrir e permitir minha entrada.

– Francesca, está precisando de mim?

Vector O’Hanoly estava sentado em sua cadeira e me analisava de frente. Apontou-me uma cadeira, insinuando que eu deveria me sentar. Apenas neguei com a cabeça.

– Aconteceu mais uma vez.

Expliquei os últimos acontecimentos com cautela e então esperei pela avaliação do homem. Vector batia seus dedos na mesa e olhava para baixo, aproveitei esse momento para reparar em seus traços. Ele não parecia envelhecer, continuava o mesmo homem das minhas lembranças de criança.

– Você e Henrie McMahon serão afastados, mas não retornarão às suas casas nas próximas 24h. Depois, cada qual acompanhado, poderão sair – Explicou-me. Concordei com um aceno de cabeça e retornei para o encontro do meu parceiro. Repeti as palavras de Vector e Henrie concordou com um murmúrio: “é o certo a se fazer”.

Na minha sala, e do meu parceiro também, estava tudo silencioso. Anthony estava de pé em frente ao quadro da succubus fazia alguns minutos, Henrie também estava de pé, porém quieto em um canto da sala. Quanto a mim, estava sentada observando os dois, mas também em silêncio.

A voz do inccubus fora a primeira a soar.

– Quanto a mim? Vou ficar sem minha babá?

– Cale a boca, Anthony – Girei os olhos. Estava demorando para sua postura voltar. – Você fica aqui e me deixa feliz por, finalmente, livrar-me de você.

– Você é muito ingrata, Francesca.

– Obrigada.

Anthony não parecia ferido por conta da minha postura em relação a ele, muito pelo contrário, ele se mantinha indiferente e depois de alguns minutos sorriu. Dei de ombros à sua indiferença e voltei aos meus pensamentos, estes que são com certeza mais importantes do que o inccubus.

Possuía dois problemas. O primeiro era meu afastamento – isso nunca tinha acontecido antes. Já fazia seis anos que havia começado meus trabalhos para a coeur. O segundo talvez era o que me atormentava mais: os homens misteriosos amigos de Lilly. Eles tinham planos para mim, ou talvez para Vector e a organização como um todo. Outro detalhe ainda me incomodava: O olhar trocado por Anthony e Lilly. Poderia ter sido apenas uma impressão, mas de qualquer maneira, preciso verificar isso com o próprio inccubus.






Passarem-se as 24h que deveríamos permanecer na organização. Não podia simplesmente sair agora, precisava esperar alguém vir nos avisar. Portanto continuei esperando, dessa vez mais ansiosa. Se eu estava mesmo sento afastada, poderia começar a colocar minha cabeça em ordem e tentar achar a primeira peça desse quebra-cabeça recente, tudo isso em minha casa.

– Francesca O’Hanoly e Henrie McMahon, por favor – Um homem disse. Ele estava na porta da minha sala e nos encarava com o olhar firme. Vestia uma calça preta e uma blusa branca. Por cima, um sobretudo da mesma cor de sua calça. Nos pés uma bota. Não o conhecia, mas com certeza era alguém vindo a pedido, ou ordem, de Vector. – Vocês estão liberados para começar a cumprir a suspensão. Serão avisados quando for de nossa necessidade os serviços de vocês.

Levantei-me juntamente ao meu parceiro. Nos olhamos uma última vez e saímos da sala, em poucos segundos, do Under Four Feet. Entrei em meu porsche e dei partida. Saudades.

Segui o caminho até a minha casa com toda cautela possível. Sabia que com certeza havia alguém da Coeur acompanhando-me, mas o cuidado nunca seria demais.

Quando finalmente pude me trancar dentro de casa o cansaço pesou em meus ombros. Fazia quanto tempo que eu não dormia? Esse era o único ponto ruim do trabalho, a perda quase contínua de descanso. Mas não podia reclamar, as recompensas superavam esse ponto ruim. O poder aquisitivo quase sem limites que me era disponível, a liberdade de locomoção, o acesso ilimitado a informações – retirando as mais secretas da organização –, e por fim, o poder. Sentir-se grande, imponente, poderoso, talvez seja a maior recompensa.

Despi-me e deitei na cama.

– Eu vou te pegar, Lilly.





Não sei ao certo quanto tempo passei adormecida, mas fui acordada algumas horas depois pelo barulho estridente da campainha. Levantei-me e coloquei uma roupa, reparei que já era de manhã. Havia dormido um bocado, mas quem seria na campainha? Não era de receber visitas, nem as de Henrie eram muito freqüentes. Por isso surpreendi-me quando abri a porta.

– O que você está fazendo aqui?

– Senti saudades – Anthony respondeu e entrou pela casa sem receber um convite para fazê-lo. – Aqui está muito mais quente do que lá fora, obrigado.

– Repetindo, o que você está fazendo aqui? – Perguntei uma outra vez. Tentava me controlar ao máximo. Onde eu conseguiria achar uma adaga com cabelos de virgem neste momento?

– Fiquei entediado e não sabia o que fazer. Não foi difícil achar sua casa.

– Você deve sair daqui agora, Anthony.

– Vai me expulsar sem mesmo me oferecer um conhaque?

Olhei para o inccubus e suspirei. Mesmo com as últimas horas dormidas o meu corpo ainda se demonstrava cansado. Ter que lidar com Anthony agora era a última coisa que se passava pela minha cabeça, portanto decidi ceder. Fui até a adega e retirei de lá uma garrafa de conhaque. Abri o destilado e servi num copo de vidro que era relativamente pesado.

– Hm, obrigado – E tomou um gole.

Anthony era patético. Insolente e extremamente irritante. Eu podia passar horas determinando seus defeitos que pareciam me atingir diretamente, mas não estava com paciência suficiente para isso.

Assisti enquanto ele bebia o conhaque. Anthony olhava para todos os cantos, observando cada detalhe de minha casa. Quando acabou, estendeu-me o copo. Guardei o objeto de vidro na cozinha e quando voltei o inccubus permanecia sentado na minha sala.

– Como você foi se tornar isso? – Perguntei inconscientemente

– Alguém que você deve proteger?

– Sim.

– Longa história – Deixou seu corpo escorregar um pouco sobre o couro do sofá.

– Eu estou suspensa, portanto tenho muito tempo – Dei de ombros.

– Já que você insiste... Não posso negar um pedido da minha babá – Girei os olhos, mas não disse nada, apenas esperei que ele começasse a narração. – Bom, eu sempre gostei de festas. Sair à noite para pubs era o que eu mais fazia, não importava se eu tivesse companhia ou não. Numa dessas noites eu conheci uma garota. Nossa, ela era linda. Morena dos olhos da cor da pele. Como você deve suspeitar, sim ela era uma succubus e me fez o que sou agora. Depois de se “alimentar” de mim e praticamente me matar, fez-me passar pelo processo de incubação ao seu lado. Preferia ter morrido.

Escutei com atenção suas palavras. Após o seu relato, algo dentro de mim me fez odiá-lo um pouco menos.

– Um recém transformado revoltado. Isso explica bastante – Ironizei. Anthony apenas deu de ombros.

– Nós podemos sair transformando qualquer um por ai?

– Não.

– Por que ela me transformou? – Franzi o cenho com suas perguntas. Ele deveria ter recebido todas as instruções dentro da coeur.

– Sobrevivência. Vocês não vivem para sempre.

- Mas vivemos muito – Concordei levantando as mãos.

- Você conhece aquela mulher, Lilly é o nome dela, Anthony? – Joguei a pergunta para ele. Ele sabia de quem eu estava falando, pois vi em seu rosto um pouco de confusão.

- Eu não sei – Respondeu-me baixo. – Ela não me é estranha, mas não sei quem é.

Anthony parecia sincero com suas palavras. Olhei-o por alguns segundos procurando em seu rosto algum sinal de nervosismo, mas ele apenas deu de ombros e sorriu.

 Te contei a minha história. Agora é a sua vez.

– Contar a minha vida para você? – Perguntei com descrença.

– Sim, por que não?

– Anthony... Como você deve perceber, eu não sou de sair falando de mim por ai.

– Por que você é assim Francesa? – Curvou-se e me encarou. Não respondi no mesmo momento, esperei por alguns segundos enquanto avaliava as feições do inccubus.

– Fui criada assim. Agora, Anthony, seu tempo aqui acabou.

Dessa vez ele não protestou ou deu alguma resposta irônica, apenas se levantou e se retirou da minha casa. Permaneci algum tempo na sala, em silêncio, mas após alguns minutos decidi dormir mais um pouco. Quando acordasse colocaria meus pensamentos em ordem, melhor dizendo, começaria minha própria investigação sobre os homens de Salishmouthh.



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Notas finais do capítulo

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