In The Dark Beside You escrita por JotaBe


Capítulo 5
Sóbrio


Notas iniciais do capítulo

Olá :3
Acrescentei o link para duas músicas nesse capitulo. Vocês podem fazer o download dela direto do 4shared, ou simplesmente ouvir ela no player que esta logo acima do download. A primeira música não da pra acompanhar com a leitura, pois o tempo não coincide, mas é só pra vocês saberem qual música tocava. Tentem parar de ler para ouvir a música 1 inteira, é muito bonita. A Música 2 vocês podem deixar rolar até o final do pov da Olivia.



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Allison Pov

Olivia parecia um pouco aliviada. Aparentemente ficar longe de casa fazia bem para ela. Na realidade, faz bem para qualquer um. Minha vida ainda estava um borrão. Eu havia perdido quase todos os meus ‘’amigos’’ por ter decidido me afastar de Amber. Minha vida social praticamente não existia. Foi por isso que eu me senti surpresa ao receber uma ligação.
– Allison? – a voz soava um pouco famíliar.
– Sim?
– Hey! É a Elizabeth! – o entusiasmo era notável.
– Liz? Meu Deus, quanto tempo! Porque ligou? – perguntei realmente surpresa. Fazia meses que eu não conversava com ela... Desde que dormi com seu namorado. Inconscientemente bêbada e drogada. Para ser bem sincera, não esperava ouvir a voz dela nunca mais, pelo menos não direcionada a mim.
– Eu achava que vocês ainda estavam me ignorando – soltei uma risada nervosa.
– Pois é. Ignorar você é meio cansativo. Sabe o que mais é cansativo? Ser fantoche da Amber. A festa de boas vindas é esse final de semana e eu quero você lá. No salão de festas da escola, igual a todo ano. Pode convidar aquela sua amiga também...
– Você realmente me quer lá – a interrompi – Ou quer que eu vá porque acha que isso vai irritar a Amber?
Houve uma longa pausa.
– Um pouco dos dois. Por favor! Seria ótimo se você fosse.
– Não precisa pedir duas vezes, eu vou. Sinto falta dos escândalos e dramas adolescentes.
– Ótimo! – ela deu gritinhos de entusiasmo.
– Liz... Eu realmente sinto muito, por tudo.
– É. Te vejo na festa Al – o telefone ficou mudo.
Estranho. Senti um súbito medo.
Não... Pare de ser estúpida Allison. Você deve ir. Mostrar que está indo muito bem sem todos eles. Já te prejudicaram o suficiente, o que mais podem fazer? Eu realmente preciso perder o medo dessa gente. Eles são um bando de adolescentes babacas com sérios problemas familiares e psicológicos – não que eu seja muito diferente.
Pulei com a porta do banheiro se abrindo, eu tinha esquecido completamente que Olive estava em casa. Quando saiu do banheiro quase não a reconheci. Tinha o cabelo preso em um rabo de cavalo, uma toalha enrolada no corpo e sem nenhum vestígio de maquiagem. E ainda sim era estonteante. Era muito diferente sem os contornos de lápis preto em volta dos olhos e todos os acessórios. Ela não era mais sombria e misteriosa, agora parecia indefesa e quase angelical. Notei que em seu ombro direito havia uma tatuagem de uma borboleta.
– Allison! – estalou os dedos na minha frente – Da ultima vez que uma menina me olhou assim acabamos dando uns amassos no sofá.

– Olive! Que horror! – gritei.
Ela riu. Até a risada dela tinha uma sonoridade linda. Existe uma linha tênue entre ser hétero e ser lésbica, e aparentemente essa linha era a Olivia.
– Não sabia que você tinha tatuagem. – apontei para o seu ombro.
– Fiz quando tinha 15 anos.
– É linda – sorri.
– Sério Allison, você está me assustando hoje.
Consegui rir.
– É que eu nunca tinha te visto assim... Natural.
– De novo Al. Assustador. Quem era no telefone?
– Elizabeth.
– Uau! Ela te perdoou rápido – Olive disse irônica.
– Ela não me perdoou. Ela só quer garantir que a festinha dela de o que falar. E se eu aparecer lá é missão comprida.
– Você não vai. Não é mesmo? – Olivia me olhou duvidosa.
– Claro que eu vou! – exclamei – E você vai comigo!
– HAHAHAHHAHAHAHA! – ela me olhou com seriedade – Não.
– Você poderia convidar o Dean para te acompanhar! Ou o professor Xavier! – comecei a ficar histérica.
– Allison! Eu não vou levar um professor!
– Falando nisso, o que está acontecendo com vocês dois? Ele gosta de você? Você gosta dele? Vocês já transaram? Meu Deus! Já, não é? Mas e o Dean?
Ela se aproximou de mim e cobriu minha boca com sua mão.
– Allison! Chega. – assenti com a cabeça e ela abaixou a mão.
– Desculpa. É que eu realmente sinto falta disso tudo. Faz tanto tempo que nada de interessante acontece.
– Então você deveria ir nessa festa! Tenho certeza que têm vários outros namorados de amigas suas disponíveis. Claro, se isso for sua definição de ‘’interessante’’ – ela disse sarcástica.
– Isso foi maldoso.
Olivia sempre conseguia fazer com que o assunto desviasse dela. Não dessa vez.
– Seus pais vão procurar por você, não vão?
Ela suspirou.
– Provavelmente.
– Olive, o que aconteceu? – perguntei desolada, querendo desesperadamente ajudar.
– Eu não consigo te contar Al. Sinto muito.
– Eu entendo – balancei a cabeça, quando na verdade me esforçava para entender e não tinha nenhum sucesso.
Ela apagou as luzes e deitou de costas virada para mim. Eu estava agitada demais para dormir, olhando para o teto, pensando no que dizer, deixei escapar:
– Significaria muito pra mim ter você na festa comigo.
Silêncio.
– Eu quero mostrar pra eles que não importa o que façam comigo, eu continuo forte. Continuo em pé. Igual á você Olive. Eu quero restaurar meu orgulho. Talvez eu convide Sam... Mas eu não sou forte Olive, eu preciso de você lá. Eu confio demais nas pessoas, esse é meu problema. Com você lá, eu não corro o risco de fazer alguma besteira.
Sem resposta.
– Vai ter open bar... – citei esperançosa.
– Meu Deus Allison! Eu vou! Se isso for fazer você calar a boca.
Sorri. Eu sabia que era por mim.
– Obrigada Olive.
– Agora durma logo. Você está me dando nos nervos.

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Dean Pov

Professor Xavier? Mas é claro que ela é o tipo de menina que dorme com professores. Quem eu estava querendo enganar? Amber estava certa no final das contas. Céus! Porque isso me perturba tanto? Eu não tenho nenhuma prova a não ser a palavra de Sam. De qualquer maneira, isso me enlouqueceu a noite toda. E eu esperava que hoje conseguisse por um ponto final nisso.
Não havia nenhum sinal de Sam na casa e eu ainda não falava com meu pai desde que havia dito que queria ele morto. Por isso me surpreendi com ele dirigindo a palavra a mim logo de manhã.
– Dean tem um minuto?
– Estou atrasado. – respondi bruscamente.
– Não vai tomar muito do seu tempo, eu prometo.
Relutante o acompanhei até o seu escritório, era uma sala isolada de todo o resto da casa, provavelmente o maior cômodo da casa também. Era escuro e inteirinho de madeira, as paredes eram tão altas que era difícil ver o seu limite, os livros eram incontáveis, a única coisa que mais chamava atenção era o pequeno sofá perpendicular com sua mesa. Já transei com algumas garotas nesse sofá. Se vingar de seu pai em seu próprio território era maravilhoso. E claro, em cima da mesinha ao lado do telefone, uma foto de minha mãe. Irônico. Era uma foto um pouco antiga, antes de a doença tomar conta dela. Deus, como ela era linda. Depois de um tempo, percebi que meu pai me observava. Sai de meu transe e o olhei com frieza.
– Você não tem o direito de expor uma foto dela, como se fosse sua amada esposa.
– Eu a amei Dean. Tanto quanto você.
Soltei uma risada de escárnio.
– Claro. Logo depois que ela adoeceu e virou um estorvo! – citei suas próprias palavras – E você está feliz que ela tenha morrido.
– Dean... Você tem que entender...
– Eu realmente não tenho tempo pra isso – o interrompi – O que você quer?
– Meus amigos e eu jogaremos Poker esse final de semana. Estaria interessado em me acompanhar?
– Porque não pede ao Sam que te acompanhe? – indaguei desconfiado.
– Você é melhor nisso. Você sabe lidar com o tipo de gente com quem eu lido todos os dias. Você é frio Dean e explosivo. Quero que meus amigos vejam que pelo menos um dos meus filhos vale alguma coisa.
O encarei incrédulo. Sem resposta.
– Você é parecido comigo. – ele disse com tom de jovialidade.
– Eu não sou nada igual a você! – cuspi as palavras.
Ele me fitou curioso.
– Está certo. Pense sobre o assunto. Estarei aguardando sua resposta.
Já tive uma dose grande o suficiente de ‘’papai’’ por uma única manhã. Eu me sentia sufocado quando permanecia perto dele por tempo demais. Apressei-me em sair de casa e pela primeira vez, foi um alivio cruzar os portões da escola e esquecer o quanto eu odiava aquele homem. Meu sangue fervia todas as vezes que tentávamos manter uma conversa, era como se algo dentro de mim estivesse prestes a explodir. Minha opinião sobre esse homem sempre foi e sempre será irredutível. Ele é um monstro. Me incomoda a idéia de que ele pensa que eu tenho algo de semelhante com ele.
Trombei com Sam no meio do caminho para a minha sala.
– Uau! Você não está com uma cara boa. – ele riu.
O bom humor de Sam me irritava profundamente.
– Não comece – pedi – E por que saiu antes de mim hoje de manhã?
– Achei que você não viria. – ele deu de ombros.
Assenti com a cabeça.
– Ouvi falar que vai ter uma festa de boas vindas esse final de semana – Sam sugeriu genuinamente – Quem você vai convidar?
– O que faz você pensar que eu vou comparecer? – perguntei cético.
– Porque eu estou te pedindo gentilmente. E porque eu já fui convidado por alguém – ele deu um sorrisinho insinuante.
– Quem?
– Uma tal de Elizabeth. Ela está na sua sala. É muito bonita. – ele respondeu exultante.
O observei com cautela. Sam parecia uma criança, sempre estava radiante e seu bom humor intacto, era difícil de entender como ele conseguia achar essas trivialidades da vida tão fascinantes. Mesmo depois de tudo que nos aconteceu, ele continua otimista. Eu me sentia um pouco intimidado com a maneira que ele me contava as coisas, ele demonstrava muita confiança em mim, era reconfortante, mas ao mesmo tempo assustador. Ele me vê como uma figura paterna. Eu sou desprovido de qualquer sentimento paternal. Isso me preocupa, por ele, não por mim. Eu já me acostumei a viver com minha própria amargura.
– Verei o que posso fazer – murmurei contragosto.
Passando pela frente da direção escolar avistei Olivia e algo que me fez decidir impulsivamente meu final de semana. Olivia conversava com professor Xavier, parecia agitada e irritada. Ela deu as costas para ele, quando ele a puxou pelo braço, olhando firmemente em seus olhos. Ela assentiu com a cabeça e se afastou com pressa.
Por mais impassível que eu fosse a tudo ao meu redor, essa cena tinha me feito contrariar minha própria personalidade. Algo tomou conta de mim, me fazendo infantil e irracional por apenas alguns segundos, me despedi de Sam e fiz a maior burrada da minha vida, com a pessoa mais próxima.
– O que vai fazer no final de semana?
Amber sorriu radiante.

Sam Pov

Nunca gostei de festas, talvez porque eu não saiba dançar, mas eu sentia que devia isso a mim mesmo. O que poderia acontecer? Era só uma festa. E eu merecia um tempo de distração. Essa atuação de menino alegre já está me cansando, não vou conseguir manter essa fachada por muito tempo. Eu realmente estou procurando por um motivo para me sentir alegre. Elizabeth me surpreendeu, eu sinceramente não esperava ser convidado por alguém, principalmente por uma menina como ela. É um ano mais velha que eu e pra falar a verdade, nós nunca tínhamos conversado antes. Amber nos apresentou, eu pensei que mal poderia ter? O fato de ela ser mais velha deixava meu cérebro a fervilhar. E ela era maravilhosa, na verdade, não acredito que existam meninas que não sejam bonitas nessa escola. Todas parecem ter uma mente muito aberta e também parecem viver em constante guerra entre elas mesmas, é preciso muita coragem e muita determinação para sair convidando meninos para sair. Não é machismo, é que isso já é uma tarefa difícil para nós, imagine para uma garota. Mas para ser bem franco, para essas garotas, não parece existir uma ‘’tarefa difícil’’ sequer, aparentemente nada é impossível.
Enquanto esperava o sinal tocar, Allison veio confirmar minha afirmação.
– Sam? – ela disse com a voz mais doce do mundo.
Meu nome parecia derreter em sua boca. Era atraente o quão delicada e frágil ela parecia ser. Talvez frágil demais para mim...
– Presumo que tenha ouvido falar da festa esse final de semana. – ela disse tímida.
– Sim – sorri pra ela. Por favor, não me convide, por favor, não me convide.
Já tem companhia? – ela parecia esperançosa.
– É... – as palavras não saiam – Eu acho que...
Ela riu.
– Espero que você seja melhor para convidar as pessoas do que é para recusar.
Olhei pra ela me sentindo mal.
– Desculpe.
– Pare de ser patético. Não peça desculpas. Não é o fim do mundo, talvez na próxima vez.
– Com certeza. – sorri para ela e a observei se afastar. De fato, ela era linda. Eu queria me sentir atraído por ela, qualquer homem em sã consciência se sentiria atraído por ela. Mas existia certo bloqueio da minha parte, me frustrava de não saber o porquê. Talvez fosse mais fácil se Elizabeth não tivesse me convidado antes.
– Porque diabos você fez isso? – uma voz rouca e melodiosa surgiu atrás de mim.
Olhei assustado para a garota atrás de mim.
– Por um acaso você é gay? Você não gosta de garotas atraentes, engraçadas e inteligentes? – ela parecia transtornada, seu humor mudou da água pro vinho - Samuel, não é? Prazer, Olivia. – ela sorriu.
– Sam – a corrigi – Prazer bipolar. Digo Olivia.
– Haha, muito engraçado – ela levantou uma sobrancelha.
Tinha algo divertido sobre Olivia, ela parecia descontraída e tão segura de si, por mais estranha que ela fosse a principio, era confortável e interessante manter uma conversa com ela e observar todas suas reações imprevisíveis.
– Eu não gosto de você Sam. – ela sentou na janela onde eu estava encostado. Batendo ritmicamente seus coturnos contra a parede. Sua saia curta deixava amostra suas belíssimas pernas e usava uma blusa da banda HIM, tinha vários anéis nas mãos e algumas pulseiras. Por mais que seu estilo fosse de gosto duvidoso, ela era extremamente atraente e insinuante.
– Bem vinda ao clube – eu disse irônico.
– Vou te dar um conselho colega, todas as garotas nessa escola são uma merda de tão irritantes. A Allison? É a pior delas.
Soltei uma risada.
– Eu achei que você fosse defender sua amiga.
– Mas... – ela levantou um dedo – Ela é uma orgulhosa filha da puta. Se ela veio te convidar pra ir com ela, ela realmente deve gostar de você. E você perdeu sua chance por ter dito não.
– Você esta dizendo que eu não consigo ter ela depois disso? – perguntei em tom de desafio.
– Eu sei que não consegue. – ela disse presunçosa.
– Então eu espero que você compareça a festa e presencie minha vitória. Sua amiga é minha.
– Eu comparecerei. – ela disse solenemente – E presenciarei seu massacre.
Lembrei do interesse de Dean por essa garota e tentei dar o mesmo empurrãozinho.
– Eu sei alguém que você não pode ter. – olhei pra ela divertido.
– Quem? Seu querido irmão? – ela perguntou cética.
Fiz que sim com a cabeça, com um sorriso desafiador no rosto.

– Você é tão patético quanto ele – ela desceu da janela e se virou pra mim – Eu inventei esse jogo Sam, a única coisa que eu faço é observar os outros serem péssimos nele. E eu não quero o seu irmão, mas obrigado por oferecer – ela deu dois tapinhas no meu ombro e se afastou.
Dean estava certo, ela era irritante, presunçosa e infantil. E eu nunca resistia a um desafio.
Esse final de semana será ótimo.


Olivia Pov

Esperava que eu tivesse conseguido convencer Sam de alguma maneira. Allison tagarelou sobre esse menino a manhã inteira, eu não agüentaria ver a expressão dela depois de ter sido recusada. Eu sei que ao me intrometer assim na vida dos outros coisas boas não acontecem, mas eu tenho esse pequeno problema - não tenho autocontrole. Eu faço primeiro e penso depois. Um dia eu vou ter que parar com isso.
O dia correu bem, as aulas foram a mesma coisa monótona de sempre. A Amber me encarando no canto da sala com seu bando, os meninos jogando canetas de propósito debaixo de minha carteira para tentar ver debaixo da minha saia... Mesma rotina de sempre. Dean não falou comigo, na verdade ele nem sequer olhou pra mim, sentamos um do lado do outro e não houve nem uma olhada de canto. Eu não me importo, não é como se eu quisesse que ele me olhasse... Eu só acho que uma parte de mim, esperava que ele continuasse insistindo em saber a minha história. No final das contas ele é igual a todos os outros, um curioso.
Eu estava um pouco histérica, já fazia dois dias desde que eu tinha tido aquela conversa com Xavier e o meu prazo era de três dias até que ele fizesse algo estúpido e acabasse indo até a delegacia denunciar meu pai. Eu ainda não sabia o que devia fazer. Eu queria correr até minha casa, arrancar minha irmã de lá e nunca mais voltar. Mas eu não tinha condições de sustenta - lá, o trabalho de enfermeira da minha mãe pagava pouco, mas era o suficiente pra por comida na mesa e pagar o aluguel. Lembrei do que a Allison havia me dito, ‘’Seus pais vão procurar por você’’.
Eu não quero voltar. Minha cabeça girava e doía por eu pensar com tanta força. Eu andava, mas não prestava atenção ao meu redor, estava absorta demais em meus pensamentos, foi quando trombei com ele, derrubando todas minhas coisas.
– Vai com calma! Está com pressa para ver alguém? – Dean perguntou casualmente.
Respirei fundo e contei mentalmente até dez, e então abaixei para pegar minhas coisas.
– Me deixa em paz Winchester – me levantei e quando dei as costas ele soltou algo que não devia ter dito.
– Talvez esteja com pressa para encontrar com um professor – ele insinuou.
Meu sangue ferveu, o encarei tentando me controlar.
– E o que você tem a ver com isso?
– Absolutamente nada. – ele deu de ombros – Você só me deixa confuso, é o Sam? É o Xavier? Meu Deus Olivia, você não sabe se controlar? Escolha um só. – ele fingia incredulidade.
– Espere um pouco, isso é uma cena distorcida de ciúmes? – perguntei irritada
– Não. É uma cena onde eu vejo que tudo que a Amber disse era verdade. Você não passa de uma biscate querendo chamar atenção.
Fechei minha mão em um punho. Respire fundo Olivia, se você fizer o nariz de mais um menino sangrar na escola você será expulsa.
– Eu cansei do seu distúrbio de personalidade múltipla! E se eu só estou querendo chamar atenção, parabéns pra mim, eu estou conseguindo, porque você vem me perseguindo a uma semana!
– Então prove pra mim o contrário. Prove pra mim que você não é tudo o que dizem de você, porque sua moral não está em alta nessa escola.
– Eu não preciso provar nada pra você, nem pra ninguém – eu disse amarga – Agora da licença que a biscate aqui tem mais coisas pra fazer – dei um sorriso cínico.
Eu praticamente corri dali, com um nó na garganta e a vontade excruciante de quebrar alguma coisa. Eu já passei do ponto onde eu me importava com o que as pessoas diziam, mas de fato era sufocante ver que todos eram tão mesquinhos a ponto de falar, falar e falar sem parar para pensar que minha vida já era difícil o suficiente sem eles por perto.
Corri para o meu refúgio que quase nunca era freqüentado a não ser em épocas em que a escola fazia teatros. Era um conservatório gigantesco, com milhões de cadeiras e um piano preto maravilhoso no palco, as paredes eram vermelhas e o teto oval era muito alto. Abri as portas e o silêncio ocupava todo o espaço existente, era aqui onde eu passei a maior parte do meu tempo livre no ano passado. Fazia tanto tempo... Foi aqui que Charles me ensinou a tocar o piano, foi aqui que ele me ouviu reclamar sobre minha família foi aqui que ele me ensinou a concentrar minha raiva e deixar o piano gritar por mim. Eu me sentia fora de meu próprio corpo quando tocava. Sentei em frente ao piano e o abri, havia camadas de pó em cima das teclas, ninguém freqüentava esse lugar, ninguém fazia a idéia da importância que ele tinha na minha vida.
Música 1– Play
Passei meus dedos de leve em cima das teclas, fazendo o som ecoar dentro do conservatório, deixando a marca de minha mão por onde tirava o pó. Fechei meus olhos me concentrando para não chorar. O som era alto, provavelmente chamaria atenção de alguém que passasse por perto, mas eu não me importava. Ainda com os olhos fechados, comecei a tocar. Aos poucos minha mente ficava mais leve e meus dedos dançavam por cima do piano, como se tivessem vida própria. Quanto mais intenso e mais alto as notas ficavam, mais meu corpo parecia tremer. Quando percebi meu rosto já estava encharcado com as lágrimas. Senti alguém sentar do meu lado e parar minhas mãos que tocavam o piano violentamente. Parei de tocar e olhei para o meu lado.
– Sabia que iria te encontrar aqui – Charles sorriu – Você aprendeu perfeitamente bem.
– É a minha favorita – sussurrei.
– Eu odeio ter que dizer isso em voz alta, mas você só toca ela quando está querendo morrer. Coincidência? – ele me olhou com vestígios de um sorriso, esperando minha reação.
– Você me conhece – dei de ombros – Eu não quero morrer, mas com certeza quero algumas pessoas mortas.
Ele riu.
– Fazia tempo que não vinha aqui. Senti falta desse lugar. Posso? – ele perguntou apontando para o piano.
Música 2
– Você é o mestre – me afastei um pouco para observá-lo tocar. Suas mãos eram grandes e delicadas ao mesmo tempo e ele conseguia fazer qualquer canção soar maravilhosamente... Minha.
Foi a primeira música que ele havia me ensinado a tocar.
– E pra você estar aqui, algo realmente deve estar te incomodando.
Assenti com a cabeça. Ele ainda era meu Charles, eu podia dizer qualquer coisa pra ele. Ele entenderia e eu não tinha ninguém mais para desabafar. Senti tudo saindo de mim como uma avalanche.
– Eu não vou fingir que eu não sei as coisas que falam sobre mim! Porque eu sei. Eu sou a drogada, a problemática, a descontrolada... E eu nunca me importei com isso! Mas agora é como se todos tentassem destruir o restinho de dignidade que eu tenho, como se quisessem me ver no fundo do poço. Minha vida já é uma merda, ninguém percebe isso? Eu realmente preciso de um tempo! E eu ainda não sei o que vou fazer com a Lisa, eu preciso tirar ela de lá. Na realidade eu achei que você viria aqui pra falar do prazo que me deu, eu realmente preciso de mais tempo! E... A única pessoa que estava começando a se interessar por mim mesmo com todos os problemas que eu tenho agora me vê como todos os outros me vêem. Estou cansando! Minhas pernas já estão bambas e eu sinto que vou desabar a qualquer momento e eu juro pra você, eu não sei se vou conseguir levantar dessa vez. Eu me sinto fraca impotente e não quero nem começar a falar da raiva.
Ele riu.
– Respire fundo e conte até dez – ainda tocava serenamente – Lembra? Como eu te ensinei.
Suspirei.
– Dean é o nome dele não é?
– Como? – gaguejei.
Ele sorriu
– Você gosta dele. Eu entendo. Ele também parece estar interessado em você. Se ele conhecer metade da pessoa maravilhosa que eu conheço, que está sentada aqui do meu lado ele nunca mais vai acreditar em uma palavra que o dizem.
Olhei para ele ainda sem saber o que responder.
– Olive, você é muito mais que tudo isso. Você é excêntrica e divertida e não deixa o que os outros pensam de você atrapalhar a maneira como conduz sua vida. Isso é o que faz de você tão... Olivia! Claro que você tem seus problemas em conter sua raiva e seu gênio, mas isso todo mundo tem.
Olhei em seus olhos. Eu o amo tanto. Era possível? Eu sentia que o estava traindo por me importar tanto com o que Dean pensava.
– Eu não quero me interessar por ele. Eu não quero me importar. É mais fácil assim.
– Eu sei. Mas mesmo sem querer, aqui está você soltando fogo pelas ventas. Tenta ouvir menos aqui – ele colocou o dedo indicador em minha testa – e mais aqui – e depois em meu coração.
Soltei uma gargalhada.
– Você tem idéia do quanto isso foi brega?
– Consegui ouvir a risada que eu mais amo no mundo. – ele deu de ombros.
Ele me olhou intensamente.
– Eu sei que você vai dar um jeito. Mas eu quero que saiba que eu estou aqui sempre que precisar. E por favor, não sinta como se me devesse alguma coisa. Você precisa de garotos da sua idade. Quando você fizer 18 anos, quem sabe eu vá atrás de você pra gente se divertir um pouco – ele me olhou maliciosamente.
– Idiota – revirei meus olhos.
Eu conseguia ver o quanto doía pra ele dizer tudo aquilo.
– Eu sei o quanto você está confusa agora. Mas por enquanto, olhe pra mim como se fosse seu pai – ele fez uma careta - Não é o que eu quero, mas é o melhor para nós dois.
– Não! – dei um grito – Eu não tenho sonhos eróticos com meu pai – eu disse insinuante.
Ele fez uma cara de surpresa.
– Não faça isso comigo – ele fingiu seriedade.
Eu ri. Finalmente estava me sentindo mais leve, mais... Feliz.
Ele sorriu, percebeu que tinha conseguido, mais uma vez.
– Se precisar, sabe onde me achar – me deu um beijo na testa e deixou o conservatório.
Peguei minha mochila e sai a procura de Allison, finalmente me sentindo menos sufocada e com a cabeça clara pra enfrentar tudo que fosse possível.
Menos isso. No portão da escola, meu pai me esperava. Meu corpo todo congelou, eu não conseguia correr, não conseguia respirar, não sabia se gritava por Charles ou se simplesmente gritava. Ele me avistou e se aproximou, apertando meu braço.
– Procurei você por toda a parte meu bem – ele falava intensamente.
– Me solte – tentei ser discreta, olhando para todos os lados.
– Você vai voltar comigo. Sua mãe está muito preocupada.
– Desde quando você se importa com ela? – eu disse com acidez.
Ele apertou meu braço com mais força.
– Ou você vem comigo do jeito mais fácil, ou do jeito difícil.
Eu era teimosa demais para escolher o jeito mais fácil. Eu posso morrer, mas eu não voltaria pra casa com esse homem.


Dean Pov

Eu queria ser provado o contrário. Eu queria que ela tirasse todas as dúvidas que passavam pela minha cabeça, tudo que me impedia de tentar conhecê-la. Eu estava ao meu caminho do carro, queria fugir, me isolar em algum lugar por semanas. O que eu mais temia havia acontecido, meu pai tinha razão. Eu sou igual a ele. Eu deixei meus medos tomarem conta de mim, fui explosivo e frio sem nem imaginar como Olivia deveria estar se sentindo agora. Eram os meus piores defeitos. Eu sentia ódio de mim mesmo, mais ódio ainda por ser orgulhoso e não ter coragem de pedir desculpas. Eu gritei com ela, e a ofendi a troco de que? Isso não fazia sentido. Como eu poderia sentir tanto ódio e tanto interesse pela mesma pessoa?
Você está perdendo a cabeça Dean.
Era incrível, eu não acredito em destino, mas a vida parecia colocar essa menina na minha frente a cada passo que eu dava. Avistei-a de longe, com um homem alto e magro, que a segurava firmemente pelo braço, ela parecia aterrorizada. Quanto mais me aproximava, comecei a ouvir dizer com raiva.
– Me solte! Eu não vou voltar com você!
Apressei-me perto dela e gritei seu nome.
– Olivia!
Ela me olhou assustada e o homem soltou seu braço.
– Está tudo bem? – me enfiei entre os dois para que não houvesse mais contatos.
– Está tudo bem Dean! – ela me olhou com raiva, tentando dizer algo – Te vejo amanhã.
– E o senhor é? – perguntei, oferecendo minha mão para um cumprimento.
– Eu sou o pai dela rapaz. Sou eu quem deveria estar perguntando, quem diabos é você. – ele ralhou.
Não desisti.
– Olivia posso te oferecer uma carona pra casa?
– Dean! Vá embora, eu falo com você amanhã! - ela manteve o mesmo olhar nervoso.
– Minha filha não quer você aqui, você ainda não entendeu?
Eu não sabia o que fazer. Tinham pessoas demais ao nosso redor, eu não podia causar uma cena. Relutante a deixei ir.
– Você tem o meu número – sussurrei, pondo a mão em seu ombro.
Ela tirou minha mão violentamente.
– Vá embora – ela repetiu.
Eu entendia que ela ainda estava chateada, mas as coisas não pareciam estar bem entre eles. Dei-me por vencido e eles se afastaram. Eu não podia ignorar esse pressentimento horrível que tive quando vi aquele homem, calafrios percorreram meu corpo. E como se não bastasse, uma garota se aproximou de mim, um tanto quanto nervosa.
– Dean, não é mesmo? Meu nome é Allison. Por um acaso você não viu minha amiga? Olivia?
– Ela acabou de ir embora.
Ela deu um sorriso confuso.
– Ela disse que iria embora comigo.
– O pai dela veio busca-lá.
Ela me olhou assustada.
– O pai dela? O pai dela? – ela gritou histérica.
– Sim! Que língua você acha que eu estou falando? – perguntei sem paciência.
– Por favor, me diga que ela não foi com ele.
– Tudo bem. Ela não foi com ele – respondi calmo.
– Ela foi com ele ou não? – ela gritou.
– Ela foi com ele. Allison, o que você não está me contando? Deixe-me a par da situação, eu não sou adivinha.
– Ok! Isso é o fim! Eu vou ligar pra policia agora! Chega! – ela fez menção de se afastar, mas a puxei pelo braço e a fiz olhar pra mim.
– Policia? Allison!
– Eu não posso te contar absolutamente nada. Sinto muito Dean. Isso não é da sua conta.
– Ótimo! Eu me viro sozinho.
Como diabos eu iria me virar sozinho? Olivia não tinha ninguém próximo a ela o suficiente nessa escola que seria capaz de me ajudar... É claro. Professor Xavier. Como se não bastasse... Esse era um daqueles momentos em que eu era obrigado a engolir o meu orgulho e exigir algumas respostas. Não importava a quem eu perguntasse ninguém era capaz de me dizer o que estava acontecendo. Era uma questão de honra, eu estava envolvido demais para não me importar, envolvido demais para simplesmente ignorar o fato de que Olivia tinha sérios problemas.
Corri até a sala dos professores, torcendo para que o desgraçado estivesse lá. A porta fez um estrondo ao abrir.
Professor Xavier estava sentado corrigindo algumas provas. Calmamente ele levantou a cabeça e me fitou parecendo irritado.
– Seus pais não te ensinaram a bater antes de entrar, Dean?
– Olha ele sabe fazer piadas – bati minhas mãos contra a mesa – Eu não vim aqui pra brincar. Eu não sei o tipo de relacionamento que você tem com Olivia e nem estou interessado em saber, mas existe algo seriamente errado com essa garota e eu cansei de receber respostas evasivas! Eu quero a verdade!
Minha respiração estava alta e meu coração acelerado.
– Dean, você está perdendo o controle. Tente se acalmar.
Fechei meus olhos e respirei fundo. Meu problema em controlar minha raiva estava vindo a tona esses últimos dias.
– O que aconteceu com Olivia? – ele me perguntou parecendo perturbado.
– Eu não vim aqui para você bancar o amante preocupado pra cima de mim Xavier!
– Amante? – ele parecia indignado – E para começo de conversa, olhe o jeito que você está falando comigo! Eu exijo respeito!
– Você já perdeu todo o respeito que poderia ter de mim quando eu vi você correndo atrás de uma de suas alunas feito um cachorrinho! – minha voz se encontrava trêmula de raiva.
– Você realmente acha que esse seu showzinho vai fazer com que você consiga alguma coisa de mim? – ele estava reprimindo sua raiva e tentando controlar o tom de sua voz – Eu honestamente achei Dean que você era um pouquinho mais maduro que isso. Eu nem acredito que eu cheguei a pensar que você conseguiria tomar conta dela daqui pra frente! Agora vou ter que protegê-la de você também?
– Então é isso que você chama? Você acha que transar com ela significa ‘’tomar conta dela’’? – perguntei sarcástico – Protegê-la? Se ela precisa de qualquer tipo de proteção é de você! Quem sabe a diretoria da escola adoraria saber sua historinha de amor, ou quem sabe o estatuto da criança e do adolescente! – mantive a ironia em minha voz.
Percebi que nós dois gritávamos. Ele deu uma risada amarga.
– Eu não vou perder meu tempo tendo essa discussão com você Dean. Você está visivelmente fora de controle. Diga o que quiser para diretoria, pois não existe nada entre nós dois – sua voz agora estava calma - Se você quer a verdade a única pessoa que vai ser capaz de te oferecer a verdade será Olivia. Isso é, se ela quiser. E eu espero, para o seu bem, que você não a pressione.
Tentei me lembrar o motivo de ter entrado nessa sala.
– Tudo que eu preciso é saber onde ela mora.
Ele me olhou desconfiado.
– Está certo. Você é imaturo, mas não é louco o suficiente a ponto de fazer algo para machucá-la – ele puxou um papel e anotou o endereço.
O instinto natural de qualquer ser humano seria agradecer, mas eu não tinha forças para fazê-lo. Vi-me assustado por sentir tanto ódio por um único homem. Além de meu próprio pai, não creio que tenha odiado alguém tanto assim. A idéia dele com Olivia era como ácido em meu cérebro. Perturbava-me terrivelmente, cenas que eu tentava bloquear com toda força e que mesmo assim escapavam pela minha mente, dela em seus braços. Isso fazia com que eu quisesse usar violência física contra ele. Era um tipo de sentimento que jamais tinha me ocorrido.
Olhei pra ele com firmeza e deixei o local o mais rápido possível. Tudo que eu precisava agora era achar o endereço e depois disso eu não fazia idéia do que faria. Deixei Sam em casa, usando a desculpa de ter um encontro, ele provavelmente imaginou que eu sairia para beber de novo. Não parei em casa nem por um segundo, tudo que eu queria era achá-la e rápido. Ao encontrar o endereço me deparei com uma rua vazia e macabra. Não existia uma única alma pela vizinhança, o endereço era de um prédio verde com a tinta das paredes caindo aos pedaços. Era assustador. A noite estava fria e silenciosa, das janelas do pequeno apartamento - cujo número Charles me dera - algumas luzes se encontravam acesas. Desliguei o carro para me concentrar nos sons que saiam de dentro do apartamento. Esperei por alguns minutos, meu coração batia mais alto que meus pensamentos. Ouvi o choro de uma criança e uma voz que parecia ser a voz da Olivia, mas nada do que ela dizia era inteligível. Foi quando os gritos começaram.




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Notas finais do capítulo

REVIEW REVIEW REVIEW! Por favor, façam reviews. Realmente preciso saber o que vocês acham, só assim postarei outro capitulo.



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