In The Dark Beside You escrita por JotaBe


Capítulo 12
A Manhã Seguinte


Notas iniciais do capítulo

É, eu sumi por meses. Eu sei. Me perdoem. Lá fora é uma selva minha gente, não é fácil sobreviver no meio disso tudo não! UAEHUEHAUHEA Mas finalmente eu arranjei um tempo pra sumir desse mundo e me trancafiar dentro de inthedark, minha realidade alternativa pra fugir das bostas das pessoas e das merdas do dia a dia. Espero que vocês não tenham me abandonado e ainda lembrem de mim. Estou tendo um surto de criatividade essa semana, atualizarei as outras histórias assim que possível. Ta, eu sei, não confiem em mim, mas posso garantir que a próxima será I'll be waiting :D Quero pedir desculpas pela quebra de links da minha conta do 4shared onde estão todas as músicas de inthedark. A PORRA DA MINHA CONTA FOI TIRADA DO AR, vou concertar isso ainda essa semana e substituir todos os links. De qualquer maneira, o capitulo é curto, mas importante e caprichado... inthedark 1 está chegando ao fim minha gente D: ~terror psicológico~ aproveitem cada segundo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/147217/chapter/12

Sam Pov

Eu posso odiar cada aspecto do convívio que tenho com a minha família onde moro, mas devo admitir, sou fissurado pela arquitetura dessa casa. Sua imensidão, seus cantos escuros, secretos, ranger de madeiras que só se deixam ouvir no período da noite. A quantidade excessiva de cômodos faz com que eu me sinta confortável o suficiente, pois sei que as chances de encontrar com meu pai são mínimas.
Desde que Olivia havia sido internada, Dean passou a dormir em um dos quartos de hospedes. Costumávamos a dividir o quarto, já que esse lugar pode ser um pouco solitário às vezes, mas acredito que ele quis me poupar de sua expressão torturada com que acordava todos os dias.
Eu podia sentir seu desespero e sua confusão. Seus olhos estavam sempre concentrados em um ponto cego, como se sua própria mente fosse uma prisão que jamais conseguiria sair.
É, eu realmente o conheço bem demais... Ou minha personalidade é um reflexo da dele.
Eu me encontrava agora encarando o teto de maneira obsessiva, ouvindo meu relógio anunciar que os segundos passavam. Eram quase cinco da manhã, os lençóis ferviam entre minhas pernas e eu tinha a estranha sensação de que as paredes de meu quarto diminuíam, pouco a pouco, me sufocando. Eu pensava sobre tantas coisas ao mesmo tempo, que me descobri pensando em absolutamente nada.
Minha vontade era de bater minha cabeça contra algo com força o suficiente para que eu caísse inconsciente. Maldita insônia.
Madrugadas são altamente perigosas para pessoas com alto nível de carência. Existe algo de solitário e amedrontador nelas que sugam cada partícula de sua alma.
De uns dias pra cá, Dean tem estado cada vez mais distante e Allison ainda finge não me conhecer. Queria entender porque isso me irritava tanto. É repugnante a maneira com que os seres humanos lidam com as próprias merdas em suas cabeças. As pessoas perderam a habilidade de resolver seus problemas, ao invés disso os ignoram como se não existissem. É o que Allison tem feito. Perdi a conta de quantas vezes passei ao seu lado, ambos sentimos a tensão, o choque de realidade que ocorre quando duas pessoas tinham uma certa familiaridade e ela desvaneceu. O mais irritante? Ninguém faz nada a respeito.
Eu só ainda não sabia se estava preparado para aceitar que Allison era um caso perdido.
Voltei a encarar o relógio que marcava: 05h31min. Eu precisava de um copo de água, continuar na cama não seria nada produtivo.
Desci as escadas por onde o som da chuva ficava cada vez mais forte, junto com o balançar das folhas causado pela ventania violenta. A escuridão ajudou para que tudo se transformasse em um pequeno filme de terror. Isso me agradava.
Quando me direcionei ao filtro de água notei uma sombra ao seu lado, meu coração disparou e sem tempo para pensar acendi as luzes rapidamente. Não tive coragem de abrir meus olhos, só ouvi o barulho do copo de vidro encontrando o chão e se desfazendo em pedaços. O estrondo do copo fez com que eu soltasse um grito involuntário que provocou um grito em resposta vindo da sombra. Para minha surpresa o grito se provou ser feminino demais. Abri meus olhos e me deparei com Olivia, que vestia apenas uma camisa branca de meu irmão.
Finalmente recuperei meu fôlego e pude falar.
– O que diabos está fazendo aqui?
– Eu precisava de água – ela deu de ombros.
– Eu não estou me referindo à área da cozinha.
Ela soltou uma risada leve.
– Desculpe pelo copo.
Gargalhei e sentei no balcão da cozinha.
– Ele é inacreditável. Ele conseguiu.
– O que? – ela me encarou.
– Você.
– Quem?
– Dean, ele conseguiu você.
– Não seja ridículo – bufou – Ninguém me ‘’consegue’’.
– Dean aparentemente consegue – provoquei.
– Cale a boca, você está com ciúmes – ela sorriu.
Devo admitir, foram raras às vezes em que eu tinha visto Olivia sorrir, ainda mais com tanta sinceridade e leveza. Era algo agradável.
– Claro, morrendo de ciúmes – revirei meu olhos.
– Pensa que me engana? Sam estamos no meio da noite, temos aula em algumas horas e você está rastejando pela casa misteriosamente. Está se sentindo solitário? – seu tom era divertido e malicioso, mas ela sabia que estava coberta de razão.
Não respondi. Era confirmação o suficiente.
– Você também quer uma companhia feminina. Um toque aqui, outro ali, flerte, conversas cobertas de segundas intenções, primeiro beijo... Você quer uma namorada – ela zombou.
– Cale a boca ou eu faço você juntar os cacos de vidro com as próprias mãos – retruquei.
Ela riu.
– Sam ligue pra ela.
– Quem?
Ela me encarou com seriedade.
– Allison? Não, você está ficando louca.
– Você poderia usar a companhia. Ela também.
– Nós dois não...
– Uma amiga Sam! – ela interrompeu – Você se sentiria menos perdido. Só pense nisso.
Respirei fundo. Ela se aproximou e apoiou a mão em meu ombro.
– Engula esse maldito orgulho. Eu engoli – deu de ombros e se afastou.
Esperei até que ouvisse seus passos subindo as escadas. Encarei em silêncio a lista de contatos do meu celular, onde o primeiro nome era Allison.
Vamos lá Sam, você sabe o que quer. Nunca irá se perdoar se não souber como seriam as coisas se você tentasse.
Uma amiga. Você poderia usar a companhia.
Engolir meu próprio orgulho. Como diabos isso me deixaria feliz?


Olivia Pov

Eu não pude deixar de sorrir ao entrar mais uma vez naquele quarto. O cheiro do piso de madeira já tinha se lapidado em minha memória de maneira impertinente. Todos os mínimos detalhes, eu sabia que os levaria comigo pra sempre. Olhei ao meu redor absorvendo mais uma vez, tentando tornar real tudo o que havia acabado de acontecer. O sol ainda não havia nascido. Uma escuridão agradável me rodeava. A única fonte de luz vinha de um abajur escondido em um canto do quarto, ao lado de uma prateleira, lotada de livros, alguns antigos demais. O cômodo era gigantesco, mas a única coisa que o preenchia era um espelho e uma cama, com detalhes medievais. Quatro pessoas poderiam dormir nela, com espaço de sobra. Nessa noite só foram duas, que fizeram o espaço parecer pouco. Eu ainda podia sentir minha respiração acelerada, o calor excessivo, murmúrios silenciosos, a vontade de gritar por não ser capaz de parar o que estava acontecendo, por não querer parar. Por querer mais de algo que já era o máximo que podia ser. Insuportável, seria a palavra certa. Um desejo insuportável, que me absorveu por completo, durante os melhores vinte minutos da minha vida. Passei a mão pelos lençóis amarrotados, reprisando de novo e de novo cada movimento. Ouvi a água do chuveiro caindo no cômodo ao lado, respirei fundo, ele sairia a qualquer momento. Eu o culpava, o culpava pela minha felicidade extrema, eu não podia estar me sentindo tão bem. Tão satisfeita. Era completamente incoerente de minha parte e ainda sim, era impossível pensar em qualquer outra coisa, impossível não sentir todas as partículas do meu corpo relaxadas, era uma calmaria deliciosamente perigosa.
Me coloquei imóvel a frente do espelho, observei cuidadosamente, tentando entender o que eu via ali. Ambos meus pulsos estavam enfaixados. Meus olhos, que ontem se encontravam sem vida nenhuma, agora estavam atentos. Eu me sentia elétrica. Eu sabia a mecânica das coisas, eu sei que são feitas pra funcionar exatamente desse jeito, os hormônios agitados, o corpo e a mente em um completo transe. Meramente uma reação química. Não era minha primeira experiência. Só que dessa vez existia algo a mais. Algo controlador e viciante. Eu queria de novo, eu não queria deixar esse quarto, essa cama, eu não queria ir a lugar algum. Eu tinha certeza de que era exatamente aqui onde eu deveria estar.
Ouvi a porta do banheiro se abrir, mas eu não consegui mexer um músculo. Permaneci ali, em silêncio, fechei meus olhos à medida que senti seus passos se aproximarem. Senti sua mão percorrer meus braços e subir até meu ombro, ele se encaixou contra meu corpo, seu peito completamente nu, tudo o que vestia era uma calça de moletom. Eu pude sentir sua respiração contra minha nuca. Mantive meus olhos cerrados. Minhas pernas bambearam quando ouvi sua voz.
– Em que está pensando? – sussurrou.
Demorei a encontrar uma resposta viável.
– Em tudo.
– Compartilhe – ele riu baixinho.
Senti meu corpo estremecer e ri também.
– No que aconteceu. Em como eu vim parar aqui, o que eu devo fazer depois. O que vai acontecer depois disso tudo... – suspirei.
Eu ainda estava confusa demais.
Ele me puxou delicadamente, fazendo com que eu olhasse pra ele. Eu estava evitando a todo custo fazer qualquer contato visual, ele me absorvia completamente e eu sabia como essa conversa terminaria. Do mesmo jeito que começou.
– Posso te pedir algo?
Assenti com a cabeça.
– Tudo o que você precisa saber é que aconteceu. Nem porque, nem como. O que você vai fazer depois? A gente descobre – ele deu de ombros - Pra ser bem sincero, eu só estou interessado no que vai acontecer agora.
Ele se aproximou, devagar, me testando, vendo até onde eu iria. Encostou seus lábios nos meus, mas não se moveu nenhum centímetro a mais.
– Você tem aula daqui exatamente meia hora – contestei.
Eu não entendia porque minha voz não conseguir sair em alto e bom tom, ela falhava aos poucos. O fato de estarmos tão próximos um do outro nos impedia de dizer qualquer palavra que não fosse aos sussurros. Fazia tudo parecer mais calmo, íntimo, assim era muito mais fácil ignorar tudo ao meu redor.
– Está me rejeitando? – ele provocou.
– Talvez – sorri.
– Você não faria isso.
– Apesar de quinze minutos serem mais do que o suficiente Winchester, Sam já está acordado há algum tempo e você deveria estar em outro lugar.
– Eu não tenho certeza, mas acho que estudamos no mesmo lugar – ele prendeu suas mãos em minha cintura.
– Eu ainda estou de licença. Férias psicológicas – murmurei.
– Eu acho que também mereço férias psicológicas, você me deu muito trabalho essa semana.
Eu consegui rir, mas mesmo assim balancei minha cabeça negativamente.
– Qual é, Olive. Isso não acontece todo dia. Seria tão ruim passar o dia todo trancada nesse quarto?
Nenhum pouco, pensei.
– Algo me diz que você adoraria passar pelos corredores da escola e dar bom dia para o Xavier – insinuei.
– Você lê mentes? – ele perguntou assustado.
Soltei uma gargalhada. Era tudo tão fácil com ele.
– Eu adoraria passar pelos corredores da escola de mãos dadas com você. Na frente de todo mundo.
– Uau, você é muito mais sádico do que eu pensava.
– Você não tem idéia – brincou.
Ele me encarou de maneira intensa por alguns segundos, em silêncio. Se aproximou e me beijou delicadamente, meus lábios formigavam. Sua delicadeza fazia com que eu quisesse o puxar pra mais perto, com força, sem calma alguma, deixando bem claro tudo o que eu pensava em fazer. Ele sabia disso.
Tomei algum tempo para controlar a minha respiração.
– Eu acho que passar o dia todo trancada nesse quarto não seria tão ruim assim.
Ele riu alto.
– Eu sabia.
Revirei meus olhos.
– Eu ainda posso mudar de idéia.
– Eu duvido – ele sorria imensamente, eu podia encará-lo por horas – Vou preparar nosso café da manhã, acha que consegue ficar bem sozinha? – o tom leve da brincadeira havia sumido.
– Não seja ridículo – evitei olhar pra ele.
Ele assentiu com a cabeça. Com um sorriso leve deixou o quarto.
Não, eu não sabia se ficaria bem sozinha. Não tinha certeza se poderia arriscar a ficar a sós com minha consciência. Consegui domesticar meus pensamentos a ponto de poder trancar todas as preocupações em um pequeno baú, dentro de minha cabeça, mas tudo isso era tão mais fácil com alguém do lado. Era quase que uma morfina, temporária, pra tudo que eu sentia. Culpa, dor, medo, entre muitas outras coisas.
Eu assisti minha família se despedaçar, aos poucos, desde meus sete anos de idade. Detesto olhar pra trás e ver o ponto em que essa história havia chegado. Eu me considerava órfã de agora em diante. Você perde tantas coisas durante sua vida... Com o tempo, amigos, amantes, memórias, inimigos desaparecem sem você notar. Você perde sua sagacidade, sua juventude, perde a cabeça, perde o juízo, mas ninguém espera perder a família. Família é raiz. Família é a explicação pra quem você é, da onde você veio. A sensação de pertencer a algum lugar quando lhe perguntam de quem você é filho. Poder cumprimentar as pessoas na rua e dizer: é amigo de meus pais. Perder a família é perder a identidade. Era isso que eu não tinha mais. Identidade. Eu não sabia meu próximo passo. Uma adolescente de dezessete anos que perdeu todas suas raízes em uma única semana turbulenta e perturbadora. O mais difícil foi descobrir que tudo tem um prazo de validade. As pessoas sabem disso, mas insistem em bater na tecla do pra sempre. Pra sempre não existe. E agora, o sonho de todo e qualquer adolescente do mundo, eu finalmente o vivia. Liberdade passou a ser meu sobrenome. O difícil era descobrir, liberdade pra que? Com tudo isso, é quase impossível olhar pra Dean e não pensar... Qual seria o prazo de validade dessa vez?

Dean Pov

Dizer que eu tinha vivido a experiência mais incrível da minha vida era dizer pouco. A sensação de olhar para alguém e sentir vontade de chorar, vontade de chorar só de imaginar o que seria minha vida de agora em diante se ela não estivesse por perto. Parar para me perguntar como diabos eu havia chegado até aqui sem ela. Algo crescia dentro de mim. A certeza de que eu estava completamente fodido. Precisar de alguém não era considerado algo saudável. Eu precisava dela, com todas as minhas forças. Era ridículo, eu me sentia uma criança, uma garotinha apaixonada por ter essa sensação patética de que ela era a única. A sensação de que nós fomos feitos um para o outro e de que ela seria a mãe de meus filhos. Eu era um extremista, mas não podia sentir-me culpado por isso. A sensação de finalmente possuir algo que desejou por tanto tempo é indescritível, faz você esquecer toda a espera, faz você esquecer tudo que já aconteceu antes. Faz você começar do zero.
Eu sabia o quão ridículo tudo isso soava, até pra mim mesmo. Eu jamais acreditei em contos de fadas. Caramba, eu sou um cafajeste. Não sei o nome de nem metade das meninas que já compartilharam a cama comigo logo de manhã e aqui estava eu, condenado. Sorrindo igual um idiota, enquanto subia com uma bandeja de torradas e suco de laranja. Pensando em tudo que iríamos fazer juntos hoje.
Mas é claro que toda felicidade excessiva tem imã para tragédia. Assim que entrei em meu quarto, meu pai conversava com Olivia. Não era apenas a Olivia, era a minha Olivia, semi-nua, vestindo apenas minha camisa e meias, com o cabelo bagunçado e com uma feição nervosa.
– O que está acontecendo? – perguntei, deixando a bandeja no chão, me preparando de corpo e alma para um escândalo.
– Eu quem pergunto – ele sorriu cínico.
Respirei fundo.
Hoje não.
Para o primeiro dia ao meu lado, eu não podia deixar Olivia ver metade da pessoa de quem eu era quando estava com meu pai. Isso não era surpresa alguma para ele. Perdi a conta de quantas meninas ele já encontrou pela casa e as ignorou completamente, mas dessa vez ele sabia que era diferente. Por isso estava aqui. Para destruir qualquer vestígio de alegria que podia existir nessa casa. Ele me invejava, e não fazia esforço algum para esconder esse fato. Tentei permanecer calmo.
– Vejo que conheceu Olivia – murmurei – Ela é uma amiga, precisava de um lugar para ficar, eu me ofereci. Ela vai morar com a gente por algum tempo.
Olivia me encarava em pânico. Estava imóvel.
– Ela por uma caso é uma amiga paga? – ele insinuou, me fitava com veneno nos olhos.
Fechei minha mão em um punho.
Olivia está te observando, não faça besteira. Não faça besteira. Não faça besteira.
– Acho melhor você ir – controlei minha voz o máximo que pude, mas ainda sim foi afetada pela raiva que corria em meu sangue.
– Talvez seja melhor eu ir – Olivia me olhou intensamente – Eu não sou obrigada a ficar e a ouvir isso.
Me exaltei.
– Você não vai a lugar algum! Você vai ficar exatamente onde está – gritei.
Tarde demais para tentar conter meu lado explosivo, eu já havia a assustado. Ela voltou a se sentar, cuidadosamente, se contendo, me observando.
– Dean quero que fique bem claro que isso vai ter que acabar. Ela é a décima garota da semana com quem trombo por aqui. Tudo tem um limite – ele era calmo e calculista. O demônio.
– Décima? – ela perguntou – Décima? – seu tom ficava cada vez mais violento.
Aquilo era informação demais para ser absorvida. Ignorei-a e concentrei minhas forças nele.
– Você não quer fazer isso – ameacei-o – Não aqui. Não agora. Você já causou seu circo. Agora por favor, suma.
Ele assentiu com a cabeça.
– Quero-a fora daqui até o final do dia.
– Não é você quem decide isso! – gritei.
Ele deixou o quarto quando eu estava prestes a usar violência física como argumento. O sangue pulsava em minhas veias violentamente, controlar minha raiva nunca foi meu forte. Fechei a porta com um chute e comecei a lutar contra minha respiração acelerada.
Olivia, sentada, esperou tranquilamente até que meu ódio passasse. Finalmente se levantou, quebrando o silêncio.
– Eu não vou ficar aqui mais nenhum segundo – começou a procurar uma troca de roupa em sua mala.
Ótimo. A última coisa que eu precisava.
Corri a seu encontro e segurei seu braço, fazendo-a olhar pra mim.
– Décima? – ela perguntou irônica – Acho melhor você ligar pra nona, talvez ela agüente essa babaquice melhor que eu. Eu não sou tão idiota Dean.
– Você sinceramente vai acreditar no que ele disse? Ao invés de acreditar em mim? – retruquei com firmeza.
– Você não ouviu? O cara me quer fora daqui! E em boa hora, porque eu já não tenho motivo nenhum pra ficar.
Eu já estava no meu limite.
– Isso é óbvio! É claro que você vai fugir. Como você sempre faz! Você não é capaz de ficar e enfrentar o que você tem? Como diabos eu vou poder ter um relacionamento com você se você não é capaz de lutar por mim? Eu preciso que você acredite em mim Olivia, mas se você continuar a agir feito uma criança mimada isso vai ser três vezes mais difícil. E você não quer lidar comigo nesse estado! – explodi.
– Você quer que eu lute por você? – ela perguntou irritada – Ótimo! Me de algo pelo que lutar, porque pela minha visão, você é um nada! Um babaca que caça garotas de bar em bar para se distrair porque está entediado no final de semana. Sinto muito, mas já lidei demais com esse tipo.
– Eu poderia muito bem revidar isso, e me sentir extremamente ofendido, mas alguém tem que ser o maduro nessa conversa e presumo que tenha que ser eu. De novo – tentei me acalmar – Eu já fui um nada. Já cacei garotas de bar em bar para me distrair, mas isso foi muito tempo atrás. Faz mas de um ano que isso não acontece – minha voz já estava mais calma.
– Você realmente acha que consegue me convencer a ficar aqui? – ela revidou.
– Cale a boca – revirei meus olhos – Você quer ouvir uma longa história ou vai desistir de tudo de novo? Fugir de tudo porque você tem medo de se envolver? Pensei que você fosse mais sensata que isso.
Ela respirou fundo, parou ali por alguns minutos antes de dizer qualquer coisa. Devagar, se sentou.
– É melhor que essa história seja convincente.
– Não prometo que você vá gostar mais de mim depois de ouvi-la.
– Qualquer coisa é melhor do que eu estou pensando agora. Acredite.
Suspirei, sentei de frente pra ela e clareei minha mente, tentando achar o ponto onde tudo começou.

Allison Pov

Eu já estava cansada de ter que apenas levantar da minha cama toda vez que o relógio despertava. Noites mal dormidas, carência, solidão, uma enorme mancha negra na minha reputação que me levaria no mínimo uns vinte anos participando de um convento pra me livrar dessa. Eu sinceramente não sabia por que eu ainda me dava o trabalho. Por que eu me dava o trabalho de me ajeitar na frente do espelho da melhor maneira possível se a maneira com que eu me sentia por dentro continuaria horrível e amarga. Atravessar o portão de uma escola, completamente sozinha, sentindo todos os olhos em mim, ouvindo os sussurros venenosos, maldade que já nem se preocupavam mais em esconder. Eu estava no modo automático. Levantar, rastejar pelas aulas, comer e dormir. Isso era cansativo, correr pelos dias esperando a hora em que algo vai mudar e tudo continua exatamente do mesmo jeito. Eu não conseguia entender. Eu já não tinha pagado por todos meus pecados o suficiente? Quem eu estava prejudicando pra falar a verdade? O fato de eu fazer striptease para a escola toda havia machucado alguém? Era desgastante ser tratada como criminosa por algo que fiz pra mim mesma. Eu tinha tanta dificuldade em entender, o que mudava na vida de todas as pessoas ao meu redor, o que eu deixava ou não de fazer. Metade dos alunos da escola só conheciam meu nome pelos meus erros. O que os faziam tão melhores que eu? O que os permitia me olhar dos pés a cabeça? Eu estava cansada de me sentir como uma intrusa, uma estranha, uma aberração entre pessoas que foram meus melhores amigos. Pessoas que me abraçavam logo de manhã, ansiavam pelas minhas respostas, me incluíam em seus planos. E da mesma maneira que me acolheram, puderam facilmente me exilar. É óbvio que isso iria acontecer. Não existe um lugar mágico onde todas as pessoas vivem em harmonia. Todas as manhãs eu me sentia dentro de uma selva, e eu havia me tornado a base da cadeia alimentar. O pior de tudo era não ter uma única pessoa com quem eu pudesse contar.
Olivia tinha preocupações de sobra, eu jamais seria capaz de perturbá-la com meus problemas insignificantes. Admito que esperar pelo dia em que essa cadeia alimentar iria se inverter estava me destruindo. No momento tudo que eu mais queria era sumir, começar do zero, mas eu provavelmente cometeria os mesmos erros. Pessoas são todas complexas demais, imperfeitas demais, eu poderia começar do zero quantas vezes fosse preciso. No final das contas eu acabaria me tornando uma nômade com uma ficha negra por todas as cidades em que passasse. Erros, o que seriam erros na verdade? Quem pode dizer o que é certo ou errado? E por quanto tempo eu seria julgada por pessoas que já fizeram coisas piores? Cansei de tentar dar sentido a coisas que não faziam sentido algum.
Meus monólogos matinais mantinham minha cabeça ocupada enquanto eu escovava meus dentes e encarava os círculos roxos que rodeavam meus olhos. Estremeci. Espelhos durante o período da manhã não eram saudáveis para o meu ego. Ajeitei meus cachos da melhor maneira possível. Olhei janela a fora e me desanimei com a chuva torrencial que não cessava.
Respirei fundo diante do espelho cinco vezes, eu tinha tempo de sobra. Odiava quando isso acontecia. Desci as escadas correndo, me sentindo reconfortada pelo silêncio e o vazio habitual de minha casa. Segundos antes de chegar até a porta, meu celular começou a vibrar, fazendo com que eu pulasse de susto.
Encarei o identificador de chamada por alguns minutos, descrente.
Sam Winchester.
Isso só pode ser brincadeira – pensei em voz alta.
Recusei a chamada. Não tive tempo de dar um passo sequer. O celular tocou mais uma vez.
– Eu não vou te atender – bufei irritada.
Recusei a chamada. Encarei o celular, desafiando-o. Segundos depois ele voltou a tocar. Aceitei no impulso, sentindo meu sangue ferver, preparada para descontar nele tudo o que estava me tirando do sério.
– O que você quer? – perguntei irritada.
– Bom dia pra você também – ele estava indecifrável.
– Eu não sei se você percebeu, mas eu não quero falar com você.
– Então não devia ter atendido ao telefone – desafiou.
– Ah é?

Desliguei a chamada. Isso era desumanamente irritante. Eu não estava no meu melhor dia.
O celular voltou a tocar. Mudei o perfil para o silencioso e segui com meu caminho.
Eu só não fazia idéia de que poderia ser surpreendida mais uma vez em um intervalo de quinze segundos. Assim que abri a porta, me deparei com um garoto de cabelos cor de mel, encharcado. Vestindo uma jaqueta bege de inverno, prestes a fazer uma ligação.
Não pude fazer nada a não ser rir.
– Você tem algum distúrbio psicológico? – perguntei pasma.
– Eu sabia que uma ligação não seria o suficiente – Sam passou a mão pelo cabelo, tirando o excesso da água.
– O que? – minha cabeça girava, eu não sabia por onde começar.
– Você é insuportável – ele deu de ombros – Uma garota mimada, fútil, que não pensa nas conseqüências de metade do que faz, acha que o mundo gira ao seu redor e às vezes pensa ter algo de especial, quando tudo que você é louca. Inconsistente, impulsiva e egoísta.
Encarei-o sem dizer uma única palavra. Ele continuou.
– Você não sabe lidar com rejeição. Você não é capaz de engolir seu orgulho pra pedir desculpas para alguém, e julga as pessoas como uma adolescente de doze anos.
Eu gaguejei por alguns segundos, aquilo era surreal.
– Você veio até aqui... Para jogar na minha cara todos os meus defeitos e o que? Assistir eu tentar suicídio logo após? – meu cérebro derreteria a qualquer instante.
Ele me fitou, parecendo exaltado.
– Você é fiel a sua personalidade. Você é versão perfeita do que é. Ninguém nunca vai conseguir mudar isso.
– E? – parte de mim ardia em curiosidade pra saber onde ele queria chegar com aquilo, eu não tive tempo para me sentir ofendida.
Afinal de contas, eu sou tudo isso.
– Eu também tenho meus defeitos – ele piscou – Cansei de lutar contra eles. Meu pai pensa que eu sou homossexual, eu mal me lembro do rosto de minha mãe e meu irmão está mais perdido que cego em tiroteio. Não tenho nenhum amigo porque tenho dificuldade em confiar nas pessoas e sim... Eu realmente devo ter algum distúrbio psicológico.
Ele parou para respirar.
– Você também deve ter. Nós somos perfeitos um pro outro.
Soltei uma gargalhada.
– Perfeitos um pro outro? Como um casal? – perguntei sarcástica.
– Não. Talvez. Você é sozinha. Eu sou sozinho. Podíamos tentar conviver – ele parecia confuso.
– O que você quer Sam?
– Uma amiga.
– Não é assim que você consegue uma ‘’amiga’’ – respondi com acidez.
– E como é?
– Você puxa conversa! Tenta se aproximar procurando gostos em comum! Você não persegue a pessoa até a porta da casa dela, debaixo de chuva, as sete horas da manhã e muito menos faz uma lista de todas as coisas ruins sobre ela!
– Eu já fiz – ele sorriu – Nós devíamos ir juntos pra escola. Não vou aceitar não como resposta.
– Você é um... Psicopata! – gritei.
– Se seus vizinhos ouvirem vão acabar acreditando – ele olhou em volta da vizinhança.
– Vá a merda.
Ele riu.
– É simples, ou você vem comigo, ou eu vou estar na porta da sua casa todos os dias de manhã, aumentando sua lista.
Eu ri alto.
– Alguém já te disse que você é doente?
– Você também pode fazer a minha lista – ele sorriu – Doente. Anotado. Você dirige.
Ele andou em direção ao meu carro, eu estava petrificada na porta de casa, observando aquele garoto gritar comigo para que eu me apresasse porque estava chovendo. Eu não fazia idéia do que havia acabado de acontecer. Mas eu tive que ser impulsiva, para não perder o costume, andei em direção ao carro sentindo uma mudança, pela primeira vez em muito tempo.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

ONDE VOCÊ PENSA QUE TA INDO SEM DEIXAR O MEU REVIEW? SOFRI FEITO UMA CONDENADA PRA FAZER ALGO QUE PRESTASSE PRA VOCÊ, PODE DAR MEIA VOLTA E FAZER UM REVIEW DE CINCO MIL PAGINAS PORQUE EU MEREÇO! OK? E ai? O que acharam? Comentem cada pedaço.É uma ordem. Tenham medo. Eu nem vou pedir mais desculpas pelo atraso, a vida enlouquece a gente tem hora. Mas eu sempre to aqui, atrasada ou não, nao esqueço de vocês. Espero o mesmo em troca. Quero dar um conselho da semana...coisa que aprendi da pior maneira, não perca o sono tá? Se as coisas estão uma bosta...pode ter certeza que tudo termina bem e se não terminar...Continue sendo você, que nada fica ruim pra sempre. Bom começo de semana. Amo vocês. JB



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "In The Dark Beside You" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.