Já haviam se passado 9 anos desde esse incidente, e agora estávamos em uma casa nova. Meu irmão faleceu alguns dias após escutar uma voz gritar “Morte, Distancie-se da menina”, até hoje não se sabe o que aconteceu com meu irmão. Hoje vive apenas eu e meu pai, e a voz.

Sempre ouvia algum barulho quando meu pai não estava em casa. Agora me contentava em achar que era algum gato ou o vizinho fazendo barulho ou uma criança cantando na rua. Não ligava mais. Fingia que não escutava.

- Ah, quase me esqueço de te avisar filha.

- O que pai?

- Meus patrões e um de seus filhos iram jantar aqui amanhã

Papai dificilmente levava amigos em casa, não sei por que. Nunca cheguei a perguntar e também acho que ele não responderia. E por que teria de ser diferente?

Em plena sexta-feira ter que ficar em casa. Justo na sexta-feira que seria o aniversário de Giullia, simplesmente a garota mais popular da escola e minha única amiga.

- Não posso ficar

- E por que não Alessandra?

- Não foi você que disse que eu tinha que fazer amigos? Então pai é a festa da única menina que conversa comigo e já tinha prometido que iria.

- Se não ficar por bem, irá ficar por mal.

- Aff pai. Eu fico, mas vai estar me devendo uma.

Fazer o que? Agora vou ter que ficar em casa com velhos discutindo sobre trabalho.

Não mereço isso. Ou mereço? O que fiz de errado?

- Um dos filhos deles ira vir.

- E daí pai?

- É menino e é um pouco mais velho que você pelo que fiquei sabendo.

- E é bonito? Não vou ficar em casa vendo pessoas feias, já chega os da escola.

- Talvez, só vai saber mesmo na sexta. E eles iram dormir aqui – papai completou.

- Ah pai, a casa ainda está uma bagunça por causa da mudança. Não tem como arrumar tudo até amanhã.

- Vamos arrumar tudo hoje. Ou melhor, arrumar não, colocar no sótão e quando tivermos vontade ou necessidade pegamos.

- Mesmo na necessidade não iria pegar lá.

A casa inteira era nova, nossas vidas ali eram novas. Apenas eu e meu pai.

Mudamos do Tennessee para Magdburg por causa do novo emprego do meu pai. No começo não gostei da idéia de mudar e ainda mais para outro país. Mas como não tinha amigos verdadeiros no Tennessee não iria sentir falta de nada.

- Vamos arrumar a casa logo. Levante do sofá antes que você caia dentro dele.

Acabei dormindo no sótão. É um lugar bem estranho de se dormir, mas com o excesso de sono, sair dali parecia o fim do mundo.

Senti certa hora da madrugada algo quente sobre mim. Deduzir ser um cobertor que meu pai sempre me cobria quando pequena que era muito quente.

Dizia ele, que sempre algo da infância me levaria de volta às raízes e me protegeria.

Com tanto sono, nem ousei a abrir um olho se quer. Aconcheguei-me no cobertor e dormi melhor ainda.

- Pai obrigado por me cobrir de noite lá no sótão, estava com frio e você me cobriu com o cobertor branco.

- Cobri? Quando lhe dei boa noite, logo fui para minha cama e dormi como uma pedra. Não te cobri de noite Alessandra.

- Não? Então o que aconteceu?

- Bem, você deve ter ficado com muito frio, abriu uma das caixas e achou o cobertor, se cobriu e agora não lembra por causa do sono.

- É, pode ser.