Capítulo 29 – A fuga

POV Off

Piper ficou estática, não conseguia pular, sempre teve medo de altura. Se tivesse falado antes Alec não teria desfeito o elevador improvisado de corda e pulado quando Cronos e seu exército haviam invadido o laboratório em que estavam. Agora a loira olhava para baixo vendo seus amigos a encorajarem a pular:

‒ Nós te seguramos Pipes, vamos!

Ela olhou para trás. Rick, o ciclope, lutava bravamente segurando o máximo que podia os monstros que entravam pela porta, a dando cobertura para fugir. Mas Piper não conseguia se mexer, se sentia pesada. E sempre fora um peso, para seu pai, fazendo que ele perdesse anos da sua vida para ter que cuidar do bebê que simplesmente aparecera na sua porta enviado por Atena. Ele sabia que a namorada era uma deusa e sabia que aquilo poderia acontecer, mas não estava preparado para ser pai. E agora Piper também era um peso para os amigos.

‒ Ora, ora ‒ disse a voz antiga de Cronos ‒ eu devia ter ouvido minha intuição quando achei que esse maldito ciclope iria me causar problemas. O Senhor do Tempo esticou as mãos e o pobre ciclope voou pela janela e antes de cair no chão o Titã o atingiu com um raio negro e Rick explodiu em pó dourado. Piper se sentiu culpada ‒ se tivesse pulado... Aquela foi a gota d’água e ela se jogou da janela, mas já era tarde. Seu corpo parou no tempo, ela não podia mais se mover. Seus olhos abaixaram, seus amigos olhavam pasmos para ela que usou todas as suas forças pra falar:

‒ C-Corram...

Cronos a puxou para trás, de encontro a si, mas a garota teve tempo de ver seus amigos correrem relutantes para longe do castelo de mármore.

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Nico e Beckendorf acertavam as árvores com suas espadas abrindo o caminho até a cidade enquanto os semideuses desciam o morro correndo. Percy ainda carregava Annabeth no colo, a menina chorava de dor pelos solavancos, mas ao mesmo tempo por que tinha visto seu único amigo no castelo se desintegrar e nem pode tentar ajudá-lo. Rick havia se sacrificado para salvá-la e ela nunca se esqueceria disso. Culpa daquele pequeno monstrinho que tinha carregado na barriga. Ele iria crescer mas... um instinto de mãe a invadiu:

‒ Percy, o bebê!... não podemos deixá-lo

‒ O quê?! ‒ perguntou incrédulo, parando de correr.

‒ Eu sei, mas se o deixarmos Cronos o levará para “o lado negro da força” ‒ Annabeth surpreendeu a si mesmo por conseguir fazer uma piada ‒ Se o levarmos podemos tentar deixá-lo do bem!

‒ Você quer voltar?, Annabeth...

‒ Poupem seus esforços ‒ disse o Senhor do Tempo se aproximando a cavalgadas, mas seus olhos eram azuis: ele voltara a ser Luke.

O filho de Hermes parecia estar lutando contra si mesmo, tentando manter o controlo sobre o próprio corpo. Trazia em seu colo o recém-nascido herdeiro envolvido de tecidos negros, ali ele parecia indefeso, quase como se não fosse filho do maior dos Titãs. Luke desceu do cavalo se aproximando de Silena e lhe entregando o “pacote” e depois se dirigindo a Annabeth.

‒ Também pensei nisso. Ele terá uma chance melhor com a mãe ‒ disse, sério ‒ Depois de gastar suas energias com o Ritual e capturar Piper, Cronos ficou fraco o suficiente para que eu conseguisse vir até aqui entregar essa... coisa.

Seu olhar na criança era de nojo ‒ mesmo que fosse o pai. O bebê observava tudo a sua volta com atenção com seus olhos lindos tricolores, ele parecia entender tudo e Luke não gostava dessa idéia. Na verdade estava aliviado por se livrar daquele “ser”, não apenas pelos motivos que dissera mas também por que tinha medo do que ele podia fazer quando começasse a crescer.

E seu filho parecia gostar de crescer. Ele agora já parecia ter pelo menos três meses e havia nascido a apenas alguns minutos. Até quando ele continuaria assim? Naquele ritmo...

Dentro de si Luke sentia Cronos consumindo pouco a pouco se autocontrole. Tinha que sair dali antes que isso acontecesse. Luke tinha enviado o exército para o lado oposto, assim os semideuses poderiam ter tempo de fugir, se Cronos tomasse o controle traria os monstros ali o mais rápido possível. O filho de Hermes então retornou ao seu cavalo:

‒ Melhor eu ir... Tomem cuidado, voltem para a cidade o mais rápido possível. E não se preocupem com Piper... vou cuidar dela. ‒ disse montando no animal ‒ Boa sorte.

Deu um impulso e voltou ao castelo de mármore negro a galope. Nico e Beck voltaram a golpear as árvores e eles voltaram a descer, correndo. Percy carregando Annabeth; Silena, o bebê.

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‒ Rick... ‒ disse Annabeth. Ela estava sentada na cama simples do hotel. Segurava o filho no colo e olhava seu rosto enquanto dormia, ela tinha o amamentado ‒ a primeira vez que tinha feito aquilo. Quando teve Silena e Beckendorf os dois haviam crescido até os treze anos ‒ nem tivera a chance de “dar de mamar” a eles. Agora seu filho também crescia rapidamente, tinha que aproveitar enquanto ele era pequeno. Ele mamava de olhos abertos e seus olhos tricolores encontravam os cinzentos de Annabeth. Azul, cinza e dourado. Luke, Annabeth e Cronos. Todos no mesmo corpo. Só de imaginar, já dava medo, e ele parecia imanar poder. Ele tinha os deuses e os titãs como antecessores: a inteligência de Atena, a habilidade de Hermes e a superioridade de Cronos. Tudo no mesmo corpo. Luke havia feito a coisa certa ao entregá-lo à mãe. Se ele tivesse ficado com o pai todo esse poder seria usado para ajudá-lo a se reerguer. Ela não podia deixar isso acontecer, havia perdido um amigo tentando escapar. A morte de Rick não podia ser em vão, o ciclope se sacrificara para proteger Annabeth e o bebê. Queria se lembrar deste sacrifício ‒ Seu nome vai ser Rick... ‒ disse, uma lágrima escorrendo pelo rosto. Rick olhou para a mãe e sorriu, feliz com o novo nome.

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Luke voltou ao castelo galopando o mais rápido possível, desceu de seu cavalo e entrou perguntando por Piper. Ela estava na masmorra, chorando em um dos cantos do cubículo de pedra sobre pedra úmido com medo do que fariam com ela.

O filho de Hermes entrou na prisão, e recebeu urros de raiva dos inimigos de Cronos a seu redor ignorando-os e se aproximando, preocupado, da garota. Encostou a mão na grade da cela e ficou olhando a menina chorar por alguns segundos:

‒ PIpes? ‒ chamou Luke. Ela levantou o olhar e surpreendeu-se com a inesperada visita.

‒ O-o que vai fazer comigo? ‒ choramingou assustada.

Durante os dias que passara no castelo Annabeth havia contado a Luke sobre Piper. Uma filha de Atena que estava estudando com Percy na nova escola do moreno ‒ e que até chegou a pensar que estavam namorando. Ela tinha acabado descobrir seu lado divino e ainda não estava acostuma da ao novo mundo. Piper era sentimental e qualquer coisa diferente a assustava.

E, mesmo com a pouquíssima bagagem como semideusa, tinha sido chamada para a missão de resgate. Claro que com Percy tinha acontecido igualmente tantos anos atrás, mas, na época, a ocasião era outra ‒ ele era o único apto a fazer o serviço de parar a guerra entre Zeus e Poseidon.

Ah Percy, pensava Luke, mesmo com tudo isso, ele ainda havia deixado Piper para trás ‒ não que ele tivesse tido a chance de salvá-la. E agora Luke tinha que cuidar dela. Não a deixaria sozinha novamente. Percebeu então que a garota esperava um resposta e saiu de seu devaneio de alguns segundos:

‒ Nada ‒ falou calmo ‒ vou te ajudar sempre que puder. Primeiro, vou te tirar daqui.

Piper o olhou incrédula enquanto Luke ia até a mesa do carcereiro morto e pegava a chave mestra debaixo de algumas revistas. Voltou a cela da menina a abrindo.

A garota se levantou devagar e ficou encarnando o filho de Hermes por alguns segundos, hesitando em se aproximar.

‒ Não se preocupe, não vou te fazer nada. ‒ disse estendendo a mão para a garota, a incentivando.

Passo a passo Piper chegou mais perto e segurou a mão do semideus a sua frente. Luke segurou sua para que se sentisse segura, mas quando seus olhos se encontraram com os assustados e chorosos da garota ele se lembrou de outra filha Atena que tantos anos antes o havia olhando com a mesma expressão. Era incrível o quanto Piper lembrava Annabeth e era mais incrível ainda isso mexer com Luke como estava mexendo. Seu coração palpitava ao olhar aquele belo rosto.

‒ Por que está me ajudando? ‒ perguntou confusa

‒ Não posso simplesmente te deixar aqui nessa prisão. Você não tem nada a ver com essa richa de Cronos com Percy. Vou te tirar daqui, e te manter comigo Piper ‒ disse Luke. Ele se sentia obrigado a cuidar dela; ela era tão parecida com Annabeth. Tinha que deixá-la segura, ou pelo menos longe daquela prisão horrenda.

Piper, com medo, simplesmente assentiu aceitando ser levada para fora daquele lugar horroroso.