Tinha sido um show muito pervertido. Divertido, digo. Mas pervertido principalmente. Não tínhamos ensaiado muito, então tivemos que compensar os erros com fanservices... Isso sempre dava certo. E dessa vez teve pra todos os gostos. Reita e Aoi se bolinando e olhando como se arrancando pedaços um do outro, Uruha e Aoi tocando juntinhos rebolando e até se beijando, Reita e Uruha se abraçando e agarrando, Ruki se esfregando com tudo e qualquer coisa que encontrava pelo palco, principalmente seus companheiros de banda, beijando-os também, é claro. Até a mim eles não perdoaram, vindo tocar seus instrumentos ao meu lado e atrás de mim. E é claro que não perdi nenhuma oportunidade de sair de lá de trás da bateria pra pular nas costas de meus amigos pervertidos. As meninas ficavam satisfeitas, dando seus gritinhos histéricos que tanto gostamos e tocávamos as músicas o mais violentamente possível para agradar os meninos. Perfeito para uma casa de shows pequena.

Não que isso seja algo para se orgulhar, obviamente. Ao contrário, deveríamos era ficar com vergonha de ter ido a 2 festas seguidas nas vésperas do show, e ter que fazer quase uma suruba em cima do palco. Mas não posso negar que seja bem divertido. Eu, como líder da banda, acho que podemos nos dar ao luxo de relaxar de vez em quando. Mas só muito de vez em quando mesmo!

Eu bem que achei o Reita mais animadinho que de costume, principalmente com Uruha... Mas não achei que isso fosse incomodar tanto nosso vocalista.

– Porra Reita, nem eu exagerei tanto!! – gritava Ruki, com um tom bastante magoado. – Se estava tão necessitado, esperava pra depois do show!!

– Que isso, cara!! Você deu um chupão no Aoi, lambeu as coxas e sei lá mais o que do Uruha além da guitarra e vem brigar comigo por causa de uns esfregas?? Se enxerga!! – gritava Reita de volta, incrédulo com a reação do menor.

– Uns esfregas?? Vocês estavam se comendo em pleno palco, com direito e caras, bocas e até gemidos!! – enfatizou, visivelmente abalado.

– Caralho chibi, você fez coisa muito pior, pára de hipocrisia! – interveio Aoi, revoltado.

– Ah cala a boca seu puto, que você também só faltou botar esse pau nojento pra fora pro Reita chupar! – vociferou, gesticulando impacientemente na direção do moreno.

– Calma galera!!! – levantei e abri os braços enquanto o Ruki jogava com violência no chão o sapato de Aoi que voara instantaneamente ao rosto do baixinho após proferir aquela frase. – Tá certo que essa é uma reunião informal aqui em casa pra discutirmos o show... Mas porradaria e baixo nível também não ne?! Ruki, controle-se! Custa muito conversar civilizadamente??

Ele se deixou cair pesadamente no sofá ao lado de Uruha, que passou a mão amigavelmente em suas costas, tentando acalmá-lo. Reita também tentou fazer isso, mas sem sucesso. Ruki estava particularmente implicante com ele, e tudo era motivo pra reclamações.

Eu sinceramente acho que ninguém entendeu essa reação do loirinho, já que tínhamos todos nos divertido tanto... E também achei que essa reunião seria bem animada, por isso resolvi fazê-la em minha casa...

Minhas suspeitas acabaram por se tornar verdade no final das contas, pois após essa discussão sem sentido, Ruki recebeu uma ligação de seus pais e teve que ir embora. O clima entre nós tornou-se palpavelmente melhor e mais tranqüilo, bebíamos, comentávamos e ríamos muito dos acontecimentos da noite passada. Não houve mais nenhuma discussão, ninguém reclamou de ninguém, muito pelo contrário, ficamos foi fazendo piadas e zuando um com a cara do outro, cada vez mais bêbados. Aoi e Uruha até encenaram mais uma vez o beijo que deixaram as fans caladas no começo pra depois pirarem mais que o normal. O loiro tentou reproduzir também com Reita, talvez para um próximo show, mas não deu muito certo pois convenhamos, o baixista realmente não sabe rebolar.

E eu agradeci a Buda por Ruki não estar ali no momento, pois algo me dizia que ele ficaria violento vendo aquela cena, que Uruha, bêbado, com certeza faria na frente dele, sem a menor cerimônia, mesmo depois daquela discussão...

~

Não vou mentir: eu estava preocupado com Ruki por causa da reação braba daquela noite, principalmente porque ele não estava bêbado, nem começando a ficar. Não só como líder da banda, mas também como amigo. E essa minha preocupação tornou-se maior depois da ligação que recebi de Reita.

– Kai, você tá sozinho aí? Tô a 5 minutos da sua casa, abre o portão pra mim? – perguntava ofegante, pois estava fazendo seu Cooper vespertino.

Parecia ser algo inocente... Mas ele só vinha para essas bandas se estivesse pela casa de Uruha ou Ruki. Nunca para suas corridas, claro, e muito menos pedia pra entrar, por isso minha desconfiança. Dei minhas respostas afirmativas e fui esperá-lo no portão. Minha intuição dizia que ele queria conversar sobre Ruki, e eu acertei na mosca.

– Ele ficou me alfinetando o tempo todo! E nem cogitou a possibilidade de conversar comigo a respeito! Acredita nisso?? – dizia o loiro, incrédulo, sentado à mesa da cozinha com o copo de suco na mão.

Ele contou sobre como Ruki estava sendo chato, ligando pra ele pra falar grosserias e alfinetando sobre aquele show sempre que podia. Contou também que ele já estava sendo assim um tanto chato havia um tempinho.

– Pior que acredito... – respondi, tirando o queijo e o presunto da geladeira. – Eu pensei que ele só estivesse daquele jeito por pura crise de chatice mesmo – ele concordou com a cabeça. – Acho que esse show foi a gota d'água pra ele explodir desse jeito.

– Vim deixar ele em casa e nem me agradeceu... – continuou, cabisbaixo. – Kai, posso te pedir um favor? – falou de repente.

– Mas é claro, estou aqui pra isso. – e já esperava por isso também.

– Tem como amanhã você conversar com ele? Tenho medo disso atrapalhar o andamento das atividades...

– É, eu estava pensando mesmo em fazer isso. Não se preocupe, conversarei com ele antes do ensaio, aproveitando que sempre somos os primeiros a chegar. – prometi, pondo os sanduíches em cima da mesa.

– Ah, muito obrigado! Sabia que podia contar com você! – disse alegre, pegando um e levando à boca vorazmente.

– Ora, você sabe que pode contar sempre! Já eu não sei se posso contar com você ne, que só aparece aqui pra comer de graça, pois poderia muito bem ter pedido isso pelo telefone... não é?? – minha vez de alfinetar, comendo também.

– Lógico! – riu de boca cheia. – Quem manda morar num lugar que só tem restaurante caro por perto?? Minha única saída é você!

Rimos e terminamos de comer falando de outros assuntos. Mas a minha preocupação estava realmente grande e de novo algo me dizia que essa história ainda ia dar muita dor de cabeça pela frente...